“Nele
somos, nos movemos e existimos!” (At 17,28)
Passagem de ano, tempo favorável para rever a
vida e projetar-se para o futuro com realismo, humildade, fé, otimismo, esperança
e amor. Assim vive o discípulo de Jesus guiado pelo Espírito Santo. Não um
eterno retorno de Friedrich Nietzsche que desemboca no niilismo. Mas uma
permanente jornada no Caminho da Verdade e da Vida que vai por si mesma gerando
o homem novo segundo a estatura de Cristo e conduz infalivelmente à sua plena
realização pessoal, familiar e comunitária no Reino de Deus. Uma caminhada cíclica
e escatológica que aponta sempre para frente e para o alto!
Desta forma, o cristão é liberto da rotina
que mata. Embora saia ano e entre ano, datas vêm, vão e retornam, o discípulo
de Jesus vive, não vegeta, e nem é uma simples marionete nas mãos da ditadura
do mercado, das ideologias e das modas, mas protagonista na história e sujeito do
seu vir-a-ser. Isto se dá pelo fato do cristão, a exemplo do seu Mestre e
Senhor, viver a vida com profundidade, mergulhando nos acontecimentos e vendo
neles os sinais de Deus e dos tempos. O cristão não espera para viver quando
chegar lá, pois já vai colhendo as bênçãos no decorrer da caminhada. Jesus
deixou bem claro que a vida eterna, que se funda no conhecimento experiencial
de Deus, começa nesta terra e se prolonga por toda eternidade.
Para tanto, o discípulo de Jesus sabe que,
como sujeito da sua história, deve cooperar com a Graça de Deus, porque a Graça
sempre supõe a natureza (Santo Tomás de Aquino). Neste ponto a disciplina
pessoal é fundamental. “Apegue-se à disciplina e não a solte, porque a disciplina
é a sua vida” (Sab 11 ?). Aqui é muito importante estar bem consciente de que
não devemos ter tempo para poder ter disciplina, mas ter disciplina para poder
administrar o tempo e viver de bem com a vida. O mesmo que dizer: não
precisamos passar pela tempestade para poder ter harmonia, mas cultivar a
harmonia consigo, com os outros, com a natureza e com Deus para poder vencer as
dificuldades que normalmente aparecem na vida de qualquer pessoa. O Diabo só
vem para mentir, matar e destruir. Com certeza, uma das grandes tentações que
ele sempre coloca em volta da pessoa é a tentação da desorganização, perfeccionismo
e indisciplina. Mas muitos nem se dão conta, e caem.
A disciplina cristã aconselhada pela Palavra
de Deus deve ser encarada e vivida como um projeto de vida. Algo que ajude o
discípulo a se projetar para o ideal de Deus sobre cada criatura humana e sirva
de lembrete das coisas essenciais que ele sempre deve evitar ou cultivar no
decorrer da caminhada.
No discernimento da sua disciplina pessoal
anual, é importante o discípulo ter em mente aquilo que o Apóstolo Paulo pregou
aos atenienses, citando a frase de um poeta: “Em Deus somos, nos movemos e
existimos!” (At 17,28) Este é o ideal, ser uma pessoa que se move, que vive, que
existe e que vai crescendo e frutificando cada vez mais, em vez de ficar
empoeirado, atrofiado e simplesmente vegetando, sem frutos nem para si e nem
para os outros. Isto é frustração, é vitalinice, é morte. Mas, como lembra-nos o
Apóstolo Paulo, para se mover e existir, a pessoa deve SER em Deus, deve ter
uma ligação permanente com Deus. Ele é que é a força que nos move e a graça que
nos faz viver e existir. Sem ele nossa vida não é nada e volta ao nada. “O que
é que sou Jesus? Nada, nada, nada!”
Por isso, na disciplina pessoal, o discípulo
necessita garantir antes de tudo o seu tempo de oração, sobretudo a Meditação
Orante da Palavra de Deus e a Santa Missa diariamente, a adoração eucarística
semanal e a confissão mensal. Satanás ataca muito neste ponto. Por isso é
necessário sempre vigiar e apegar-se à disciplina, porque a “disciplina é a
nossa vida”. Além desses pontos da dimensão da espiritualidade, não esquecer o testemunho,
o apostolado e a eclesialidade.
Nada de psicose. Não vimemos para ter
disciplina, temos disciplina para viver. Quando encaro as atividades da minha
disciplina como fardo pesado a carregar, tudo perde o sentido e não faz bem.
Mas se a minha disciplina é a minha vida, se mergulho em cada ponto e saboreio
a presença e a Graça de Deus, tudo dá gosto, tem sentido e se enche de luz. Isto
quer dizer que o discípulo deve viver a sua disciplina com mistagogia,
mergulhando no mistério de Deus no dia a dia, porque é “Nele que somos, nos
movemos e existimos!”
Em tempo: Nesses dias de janeiro, vou
acompanhar cada DCA a partir da sua disciplina pessoal posta por escrito na
Agenda da Caminhada Discipular 2015. O mesmo devem fazer os Conselheiros em
relação aos Articuladores, estes em relação aos Discipuladores e estes, por sua
vez, em relação aos demais discípulos que estão na fase da Formação Permanente.
Graça e Paz!
Pe. Marcos Oliveira