Encontro de Aliança 12-01-15

“Nele somos, nos movemos e existimos!” (At 17,28)




Passagem de ano, tempo favorável para rever a vida e projetar-se para o futuro com realismo, humildade, fé, otimismo, esperança e amor. Assim vive o discípulo de Jesus guiado pelo Espírito Santo. Não um eterno retorno de Friedrich Nietzsche que desemboca no niilismo. Mas uma permanente jornada no Caminho da Verdade e da Vida que vai por si mesma gerando o homem novo segundo a estatura de Cristo e conduz infalivelmente à sua plena realização pessoal, familiar e comunitária no Reino de Deus. Uma caminhada cíclica e escatológica que aponta sempre para frente e para o alto!

Desta forma, o cristão é liberto da rotina que mata. Embora saia ano e entre ano, datas vêm, vão e retornam, o discípulo de Jesus vive, não vegeta, e nem é uma simples marionete nas mãos da ditadura do mercado, das ideologias e das modas, mas protagonista na história e sujeito do seu vir-a-ser. Isto se dá pelo fato do cristão, a exemplo do seu Mestre e Senhor, viver a vida com profundidade, mergulhando nos acontecimentos e vendo neles os sinais de Deus e dos tempos. O cristão não espera para viver quando chegar lá, pois já vai colhendo as bênçãos no decorrer da caminhada. Jesus deixou bem claro que a vida eterna, que se funda no conhecimento experiencial de Deus, começa nesta terra e se prolonga por toda eternidade.

Para tanto, o discípulo de Jesus sabe que, como sujeito da sua história, deve cooperar com a Graça de Deus, porque a Graça sempre supõe a natureza (Santo Tomás de Aquino). Neste ponto a disciplina pessoal é fundamental. “Apegue-se à disciplina e não a solte, porque a disciplina é a sua vida” (Sab 11 ?). Aqui é muito importante estar bem consciente de que não devemos ter tempo para poder ter disciplina, mas ter disciplina para poder administrar o tempo e viver de bem com a vida. O mesmo que dizer: não precisamos passar pela tempestade para poder ter harmonia, mas cultivar a harmonia consigo, com os outros, com a natureza e com Deus para poder vencer as dificuldades que normalmente aparecem na vida de qualquer pessoa. O Diabo só vem para mentir, matar e destruir. Com certeza, uma das grandes tentações que ele sempre coloca em volta da pessoa é a tentação da desorganização, perfeccionismo e indisciplina. Mas muitos nem se dão conta, e caem.

A disciplina cristã aconselhada pela Palavra de Deus deve ser encarada e vivida como um projeto de vida. Algo que ajude o discípulo a se projetar para o ideal de Deus sobre cada criatura humana e sirva de lembrete das coisas essenciais que ele sempre deve evitar ou cultivar no decorrer da caminhada.

No discernimento da sua disciplina pessoal anual, é importante o discípulo ter em mente aquilo que o Apóstolo Paulo pregou aos atenienses, citando a frase de um poeta: “Em Deus somos, nos movemos e existimos!” (At 17,28) Este é o ideal, ser uma pessoa que se move, que vive, que existe e que vai crescendo e frutificando cada vez mais, em vez de ficar empoeirado, atrofiado e simplesmente vegetando, sem frutos nem para si e nem para os outros. Isto é frustração, é vitalinice, é morte. Mas, como lembra-nos o Apóstolo Paulo, para se mover e existir, a pessoa deve SER em Deus, deve ter uma ligação permanente com Deus. Ele é que é a força que nos move e a graça que nos faz viver e existir. Sem ele nossa vida não é nada e volta ao nada. “O que é que sou Jesus? Nada, nada, nada!”

Por isso, na disciplina pessoal, o discípulo necessita garantir antes de tudo o seu tempo de oração, sobretudo a Meditação Orante da Palavra de Deus e a Santa Missa diariamente, a adoração eucarística semanal e a confissão mensal. Satanás ataca muito neste ponto. Por isso é necessário sempre vigiar e apegar-se à disciplina, porque a “disciplina é a nossa vida”. Além desses pontos da dimensão da espiritualidade, não esquecer o testemunho, o apostolado e a eclesialidade.

Nada de psicose. Não vimemos para ter disciplina, temos disciplina para viver. Quando encaro as atividades da minha disciplina como fardo pesado a carregar, tudo perde o sentido e não faz bem. Mas se a minha disciplina é a minha vida, se mergulho em cada ponto e saboreio a presença e a Graça de Deus, tudo dá gosto, tem sentido e se enche de luz. Isto quer dizer que o discípulo deve viver a sua disciplina com mistagogia, mergulhando no mistério de Deus no dia a dia, porque é “Nele que somos, nos movemos e existimos!”

Em tempo: Nesses dias de janeiro, vou acompanhar cada DCA a partir da sua disciplina pessoal posta por escrito na Agenda da Caminhada Discipular 2015. O mesmo devem fazer os Conselheiros em relação aos Articuladores, estes em relação aos Discipuladores e estes, por sua vez, em relação aos demais discípulos que estão na fase da Formação Permanente.

Graça e Paz!


Pe. Marcos Oliveira