Temário 3 - Dimensão da Espiritualidade (26 07 19)


Encontro Inicial
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Dimensão da
Espiritualidade






1º Encontro ____/ ____/ ____

Não basta ser bom

A oração nasce da vida e refontiza a vida na fonte do Criador. Por isso ela sempre deve ser entendida no plano do ser e dentro do horizonte da salvação. Isto significa que na oração Deus é glorificado e o homem é edificado e salvo. “Javé, tu és a esperança de Israel! Todos aqueles que te abandonam ficarão envergonhados; aqueles que se afastam de ti terão seus nomes inscritos na poeira, porque abandonaram Javé, a fonte de água viva” (Jr 15,13).

Existimos para ser

A criação foi a primeira obra de salvação que Deus realizou em nosso favor. Ele nos salvou do “nada” e nos chamou à existência para sermos plenamente realizados. Não fomos criados já prontos, como fantoches sem personalidade e identidade. Saímos das mãos do Criador com todas as possibilidades de crescimento e de multiplicação da espécie: “Crescei e multiplicai-vos!” (Gn 1,28)
Antes de tudo, CRES – CER. Ser plenamente humano, bom, perfeito, feliz e santo, esta é a vontade de Deus a nosso respeito. Até Jesus, por ter vindo ao mundo para nos dar o exemplo a seguir, ao assumir a nossa condição humana, teve que crescer em estatura, sabedoria e graça (Lc 2,52).
Existimos para ser... nascemos para crescer! Se já nascêssemos prontos, mesmo que formatados pelo próprio Deus como um robô, não teríamos como ser sujeitos da nossa história e, desta forma, nem falaríamos em dom de liberdade.
Jesus é o homem perfeito que revela o homem ao próprio homem. Ele é a “luz verdadeira que ilumina todo homem” (Jo 1,19). A oração, entendida como relacionamento vivo e pessoal com Deus, é caminho que conduz para a Verdade e a Vida, pois ajuda o homem a ser homem segundo o modelo de Cristo Jesus. Àquele que reza, Jesus diz: “Eu também o amarei e me manifestarei a ele” (Jo 14,21). Mais do que qualquer outra atividade, é a oração nos faz crescer na graça de Deus e nos desenvolve integralmente.

Existimos para o Ser

Se existimos para ser plenamente realizados, então existimos para o Ser, existimos para Deus. “Para nós existe um só Deus: o Pai. Dele tudo procede, e para ele é que existimos.” (1Cor 8,6)
Deus, presente nas criaturas, dando-lhes consistência e subsistência, mas sem se confundir com elas, é Aquele que dá o “ser” a tudo o que chamou à existência. Foi assim que Ele se revelou a Moisés: “Eu Sou aquele que sou” (Ex 3,14).
Ser de Deus, esta é a nossa vocação fundamental. Mas é necessário fugir da idolatria e não entrar em comunhão com os demônios (1Cor 10). A idolatria sempre resulta em escravidão, corrupção e morte. Pela oração, permanecemos em Deus, somos sempre seus, e nunca de Satanás. Isso, por si só, já é uma grande bênção de Deus na nossa vida. A oração nos mantém em comunhão com Deus e protegidos do Maligno.

Somos para existir

Existimos para ser... Somos para existir! Deus cria do “nada”, nossos pecados, o mundo e o Maligno fazem com que voltemos ao “nada”.
Sem a Graça de Deus somos nada, não podemos fazer nada de bom e fazemos da nossa vida um “nada” (1Cor 15,10). Devemos ser em Jesus para existir aqui e agora e viver com dignidade por toda eternidade. Era o mesmo que Jesus mesmo dizia: “Eu vivo e vós vivereis. Eu estou no Pai, vocês em mim e eu em vocês!” (Jo 14,19-20) É o mesmo que a Igreja nos leva a rezar em cada Santa Missa: “Por Cristo, com Cristo e em Cristo!”
A única maneira pela qual podemos ser e viver em Cristo, e Ele em nós, é através da oração. Pela oração ficamos ligados a Jesus como os ramos unidos ao tronco da videira (Jo 15). Quando você arranca um ramo de uma planta percebe uma aguazinha escorrendo. É a seiva cheia de vitaminas, sais minerais e tudo o mais que seja necessário para o ramo ser sempre verde, cheio de vida e frutos. Mesmo enfrentando adversidades, o ramo unido ao tronco da planta continua vivo porque a seiva lhe garante uma vitalidade interior. A vida vem desde dentro para fora. Algo semelhante acontece com a pessoa unida a Jesus através da oração. A espiritualidade é este viver unido a Cristo, direcionado para Deus e para os irmãos, e permanecer cheio da seiva da Água Viva da sua Graça. A oração é, por isso, o coração da espiritualidade. Não existe espiritualidade que resista sem a força da oração.
Deus nos chamou do nada à existência para sermos plenamente realizados. Foi para a felicidade que Deus nos criou. Somos seus. Não existimos para viver vegetativamente, mas para viver com dignidade a vida verdadeira de um filho de Deus. Deus nos chamou para o bem, para a bênção, para Ele. A oração é a única maneira pela qual podemos viver em Deus e tomarmos posse das bênçãos do céu, porque se somos filhos, também somos herdeiros.
“Se uma pessoa descer às origens do seu ser contingente, ali onde Deus a cria e recria sem cessar, faz realmente a experiência profunda da oração do coração. Descobre que, de fato, foi criada para adorar, louvar e dar graças a Deus, fazendo retornar para Deus o ser que d’Ele recebe a cada instante. Numa palavra, o homem foi feito para rezar (...) A oração faz que o homem descubra que não tem o seu centro em si mesmo, mas que foi feito para Outro, (para Deus), que não existe senão em relação com Ele. Neste sentido, a oração cria o homem incessantemente, dando sentido à sua existência: tende para Deus. Conheço homens e mulheres nos quais o fato de terem feito a experiência da verdadeira oração, provocou um enorme suspiro de libertação. Reconheceram que um Outro estava na origem da sua existência e a sua oração passou a ser um ato de abandono à sua ação criadora. Como se acordassem de uma longa opressão, como se emergissem de uma profunda ausência, como se, em qualquer parte, no fundo de si mesmos, uma crispação, um bloqueio, tivessem cedido, despontando-lhes no coração um alegre louvor” (Jean Lafrance).

Não basta ser bom

No contexto da modernidade, marcada pelo relativismo e pelo secularismo, quando Deus é colocado no escanteio até mesmo por muitos que dizem ter fé, é importante sempre lembrar que se Deus mesmo não construir a casa, em vão trabalharão seus construtores. “Maldito o homem que confia no homem e que busca apoio na carne, e cujo coração se afasta de Javé. Cura-me, Javé, e eu ficarei curado; salva-me, e eu serei salvo, porque tu és o meu louvor!” (Jr 17,5.14)
Todo homem e o homem todo, na totalidade do seu ser pluridimensional – corpo, alma e espírito (1Ts 5,23), por natureza é bom e querido por Deus. Assim Deus o criou, com o selo da sua qualidade, pois Deus é Bom e viu e constatou que tudo que havia criado era muito bom. O homem saiu das mãos do Criador com selo de qualidade. A bondade original do homem era já uma participação na bondade e santidade do próprio Deus. “Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus ele o criou; e os criou homem e mulher.” (Gn 1,27) O homem, “corpore et anima unus” (uno de corpo e alma), vivia saudável, integrado e em harmonia consigo mesmo, com os outros, com a natureza e com Deus. Era um verdadeiro paraíso a existência humana sobre a face da terra. Tudo expressão do amor e da providência de Deus.
Mas, não basta ser bom. É isto o que constatamos pela experiência da vida e pela revelação bíblica. Nossos primeiros pais, simbolizados na Bíblia em Adão e Eva, eram realmente muito bons (Gn 1,31). Porém, desde que viraram as costas para o Criador através do pecado do orgulho e da desobediência, fizeram mal uso da sua liberdade, erraram o alvo da sua felicidade, caíram e danificaram a sua natureza, ficaram míopes, ignorantes e feridos. Isto significa que não existe homem bom que permaneça tão bom sem oração e espiritualidade. Fora da amizade com Deus o homem bom vai se corrompendo. É a Bondade de Deus que mantém a bondade do homem. Por isso Jesus enfatizava que sem a Graça de Deus fazemos da nossa vida um nada e não podemos fazer nada de bom. Precisamos permanecer unidos a Ele como os ramos estão unidos ao tronco da videira.
No pecado original, o homem preferiu a si mesmo a Deus, e com isso menosprezou a Deus: optou por si mesmo contra Deus, contrariando as exigências de seu estado de criatura e consequentemente de seu próprio bem. Constituído em estado de santidade, o homem estava destinado a ser plenamente “divinizado” por Deus na glória. Pela sedução do Diabo, quis “ser como Deus”, mas “sem Deus, e antepondo-se a Deus, e não segundo Deus” (CIC, 398). “O que nos é manifestado pela Revelação Divina concorda com a própria experiência. Pois o homem, olhando para seu coração, descobre-se também inclinado ao mal e mergulhado em múltiplos males que não podem provir do seu Criador, que é bom. Recusando-se muitas vezes a reconhecer Deus como seu princípio, o homem destruiu a devida ordem em relação ao fim último e, ao mesmo tempo, toda a sua harmonia consigo mesmo, com os outros homens e com as coisas criadas” (GS 13,1).
Rousseua dirá que o "homem nasce bom, é a sociedade que o corrompe." Existe uma parcela de verdade nesta afirmação. De fato, recebemos do meio social muitas influências boas, mas muitas influências ruins também. O homem não é produto do meio, mas sabemos por experiência como as coisas que nos rodeiam acabam nos influenciando, seja para o bem, seja para o mal. Porém, o que corrompe mesmo o homem não são só as influências negativas da sociedade, mas antes e acima de tudo, as três forças do mal que normalmente se entrelaçam num duro combate contra a felicidade do homem:

1)    As paixões carnais desordenadas que sufocam as virtudes e geram os vícios (concupiscência);
2)    As influências negativas do mundo e
3)    Satanás e seus demônios.

O pecado original continua muito atual. Por isso devemos ser humildes e renunciar todo tipo de orgulho, porque quanto mais alto o coqueiro, maior é a queda. “Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o Reiuno dos céus”. O orgulho consiste em prescindir de Deus, viver por conta própria, como se não precisássemos da Graça de Deus. Confiar mais nas obras do que na fé, mais nas nossas próprias forças do que na providência de Deus. Este é o orgulho que cega e leva à desobediência. Grande é a queda. Desastrosas são as consequências. Não nos iludamos. Sem Deus somos nada e fazemos da nossa vida um nada!
É necessário muito discernimento para identificar cada uma das três forças do mal nas diversas circunstâncias da vida e enfrentá-las com fé e a ajuda determinante da Graça de Deus. Se não vencemos o mal, é o mal que nos escraviza. Ou vencemos e vivemos, ou perdemos e morremos!
Satanás é o homicida desde o princípio e só vem para mentir, matar e destruir. Sua grande tática é nos convencer que podemos ser como Deus, mas “sem Deus, e antepondo-se a Deus, e não segundo Deus” (São Máximo). O primeiro e principal discernimento deve ser esta consciência profunda, fruto da humildade, que é o contrário do orgulho do pecado original: Não basta ser bom. O homem precisa da Graça de Deus. Por isso sempre deve orar, meditar a sua Palavra e acolher a sua Graça. Sem isto, o homem bom não se sustenta e mais cedo ou mais tarde sucumbe diante dos males e tentações que aparecem normalmente na vida de qualquer pessoa.
Satanás sabe da importância desta convicção: Não basta sem bom. Precisamos ser bons em Deus! Por isso, na cegueira do seu ódio contra Deus e o homem, faz de tudo para que este perca esta consciência, seja orgulhoso, confie somente na sua bondade e capacidades, e negligencie a sua vida espiritual, não tendo tempo nem para Deus e nem para a oração e nem para a sua Igreja. Adão e Eva eram muito bons, mas, seduzidos pelo Mentiroso, viraram as costas para o seu Criador. Quantas pessoas boas sucumbiram por falta de oração. Quantas pessoas confiaram em si mesmas e não buscaram a graça de Deus pelos caminhos que Ele Deus mesmo indicou. Por falta de oração, muitos atrofiaram espiritualmente e se perderam existencialmente. Se sem a Graça de Deus não podemos sequer fazer nada de bom, quanto mais permanecermos bons. Precisamos levar a sério esta exortação de Jesus, pois se trata de vida ou morte, salvação ou condenação, realização ou frustração. Satanás nos rodeia como leão que ruge, procurando a quem devorar. Resistimos a Ele firmes na fé. O justo vive da fé. Esta é a nossa vitória: a nossa fé! E a oração é a sua linguagem e a sua respiração!
A Espiritualidade, que é vida toda vivida na Graça de Deus, é a primeira e principal dimensão do ser humano e a oração é o seu coração.  Nesta perspectiva, Afonso Maria de Ligório, Santo e Doutor da Igreja, não tinha medo de afirmar que quem não reza já está condenado, tendo em vista a importância fundamental da oração para uma pessoa viver em comunhão com Deus: “A oração é necessária não só por necessidade de preceito, mas ainda por necessidade de meio. Isto quer dizer: quem não reza é impossível que se salve. No momento em que deixamos de nos recomendar a Deus, o demônio nos vencerá” (Lc 18,1; 1Ts 5,17).

20:30h – Caminhada Discipular (Avisos, encaminhamentos)
No contexto da modernidade, marcada pelo relativismo e pelo secularismo, quando Deus é colocado no escanteio até mesmo por muitos que dizem ter fé, é importante sempre lembrar que se Deus mesmo não construir a casa, em vão trabalharão seus construtores. “Maldito o homem que confia no homem e que busca apoio na carne, e cujo coração se afasta de Javé. Cura-me, Javé, e eu ficarei curado; salva-me, e eu serei salvo, porque tu és o meu louvor!” (Jr 17,5.14) Escola, trabalho, esporte  e lazer são importantes. Mas não suficientes. O homem tem sede de eternidade e só Deus pode saciá-lo.
É a voz da experiência que fala: Não basta ser bom! Precisamos orar sem cessar e viver na Graça de Deus! Para tanto, a fim de que não nos desviemos para orações paganizadas fermentadas por crendices e superstições do jeito que o Diabo gosta, tivemos o cuidado de estudar no temário anterior a essência da oração cristã para orarmos ao Pai no Espírito Santo do jeito que Jesus rezava. É esta oração de Jesus que alimenta a nossa espiritualidade e refontiza a nossa vida.
Quando fazemos a nossa parte, oramos como Jesus rezava, tudo de bom é acrescentado na nossa vida pessoal, familiar e comunitária. Por isso, urge colocar em prática tudo o que aprendemos sobre a verdadeira oração cristã no decorrer da caminhada.
Em Deus somos mais que vencedores. “Em Deus somos, nos movemos e existimos!” É esta a graça da oração.













2º Encontro ____/ ____/ ____

A Oração do Senhor

Ao longo das nossas reflexões vamos percebendo que a oração cristã não é um “palavrório” na presença de Deus, mas antes e acima de tudo, um relacionamento livre, consciente e amoroso com Ele. Desta forma, a oração favorece a experiência de Deus. Como todo relacionamento entre duas pessoas, a oração não é tanto para ser explicada, mas vivida. Só se cresce num relacionamento quando se vive este relacionamento. O Deus Vivo precisa ser vivido. Neste Temário do DJC continuaremos ministrando mais explicações sobre a oração e espiritualidade. Porém, nosso intento é que a teoria sempre conduza para a prática. Orando, o discípulo aprenda a orar cada vez mais e cresça na amizade com Deus. Para tanto, deve cultivar o desejo de rezar, reservar tempo para a oração e orar com todo amor e sinceridade, mesmo quando para isto tenha que rezar contra a própria vontade e lutar contra as distrações, barulhos, cansaços e tentações.
A oração cristã faz parte do combate espiritual do cristão. Mas é necessário desde já lembrar que, se de um lado, a vida de oração exige desejo sincero, perseverança e dedicação, como a disciplina de reservar um tempo diário para a mesma – e respeitar este tempo mesmo quando estivermos cansados ou muito ocupados – de outro lado, ela não é nada de concentração mental e nem sentimentalismo. Quem vai rezar desta maneira apenas se cansa e não se relaciona com o Deus da Vida.
Quando formos rezar, rezemos do jeito que Jesus rezava, Procurar um ambiente favorável e colocar o nosso ser inteiro em postura de oração. Então, conscientes, colocamo-nos na presença de Deus como filhos, o louvamos em Nome de Jesus e suplicamos a graça do Espírito Santo. Logo em seguida, abrimos a Bíblia e vamos lendo a sua Palavra com fé, atenção e devoção.  Devemos ir deixando a Palavra de Deus ir tocando o nosso ser e falando para o nosso coração. Tornamo-nos ouvintes da sua Palavra que é viva e eficaz. Movidos pelo Espírito Santo, dialogamos com Deus a partir da sua Palavra, vamos contemplando-O e permitindo que a nossa vida inteira seja inundada e iluminada pela sua Presença e Bondade. Podemos concluir rezando o Pai Nosso, a Ave Maria e agradecendo a sua Dádiva. Depois voltamos para o nosso dia a dia, quando iremos continuar caminhando como discípulos de Jesus, levando na mente e no coração tudo o que Deus nos concedeu e nos ensinou.
Nada de concentração mental. Nada de sentimentalismos. Simplesmente nos colocamos como filhos na presença de Deus e dialogamos com Ele a partir da sua Palavra. Deus mesmo vai conduzindo e tudo de bom vai sendo acrescentado. Se Ele derrama luzes na nossa mente, ótimo, acolhemos e agradecemos. Se Ele suscita sentimentos no nosso coração, ótimo, acolhemos e agradecemos também. O certo é que, toda vez que nos colocamos na presença de Deus em oração, Ele se faz Presença também e agracia a nossa vida, mesmo quando não compreendemos mentalmente ou não sentimos nada de “anormal”. “Para mim, a oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da alegria.” (Sta. Terezinha do Menino Jesus)
A grande graça da oração é a bênção de Deus na nossa vida. Ele refontiza a nossa vida e restaura o nosso ser. Deus é Bom e nos criou bons. Mas o pecado nos danificou e deixou muitas consequências negativas que vão sendo transmitidas de pai para filho, de geração em geração. Porém, quando nos ligamos ao Deus Bendito da Aliança através da oração, Ele vai nos abençoando, restaurando, reintegrando a nossa personalidade e refontizando a nossa vida. Desta forma, pela oração, Deus vai nos salvando e nos remodelando à sua imagem e semelhança para que voltemos a ser tão bons assim como éramos antes do pecado original. A esta obra de Deus na nossa vida a teologia dá o nome de deificação. Deus vem à nossa humanidade para então nos deificar, pois Ele não nos criou para sermos parecidos com o Maldito, mas para sermos sua imagem e semelhança e vivermos com dignidade, como seus filhos e em comunhão com Ele. “A vida de oração desta forma consiste em estar habitualmente na presença do Deus três vezes Santo e em comunhão com Ele. Esta comunhão de vida é sempre possível, porque, pelo Batismo, nos tornamos um mesmo ser com Cristo (Rm 6,5)”. (CIC 2565)
A humildade é fundamental para a vida de oração. Devemos saber e aceitar que não basta ser bom, que precisamos da Graça de Deus e por isso devemos sempre estar unidos a Ele através da oração. Adão e Eva eram bons. Porém, movidos pelo orgulho, deixaram de rezar, viraram as costas para Deus, o Diabo os seduziu e a morte e o mal entraram na história da humanidade. Não existe homem bom que se sustente apenas com as suas próprias forças. Não existe pessoa sobre a face da terra que possa se salvar sozinha. Por isso, Santo Afonso Maria de Ligório dizia que quem não reza já está condenado. São Paulo, por sua vez, testemunhava: “É pela Graça de Deus que eu sou o que sou!” A oração cristã não é um palavreado paganizado. É um relacionamento de amizade livre, consciente e amoroso com o Deus Bendito da Aliança, mediante o qual Ele é glorificado e nós somos abençoados. Guardemos no coração este resumo: A oração cristã não é um palavreado paganizado. É um relacionamento de amizade livre, consciente e amoroso com o Deus Bendito da Aliança, mediante o qual Ele é glorificado e nós somos abençoados!

Rezar como Jesus rezava

Um bom exemplo edifica mais que mil palavras. E quando este exemplo vem do Senhor Jesus, ele é muito mais valioso ainda. Por isso, se queremos rezar bem, rezemos como Jesus rezava. Para nos dar o exemplo a seguir, Jesus era um homem orante e em permanente comunhão com o Pai. Nos Evangelhos vemos muitas vezes Jesus em oração, e como a oração era a fonte da sua vida e da sua missão. Olhando para o Mestre, Santo Agostinho dizia que a “oração é a elevação da alma a Deus ou pedido a Deus dos bens convenientes”. Numa outra oportunidade também poderemos fazer o mesmo que Santo Agostinho fez e meditar todas as passagens do Evangelho que nos mostram na intimidade de Jesus com Deus. No momento nos limitamos a enumerar algumas dessas muitas passagens bíblicas: Mt 14,23; Jo 11,41-42; Mt 6,6; Mt 26,36; Jo 17,20; Mt 26,39; Mt 5,16; Mt 6,12; Mt 9,18; Mt 9,28; Mt 11,1; Mc 1,35 e Hb 5,7.
Olhando o exemplo de Jesus, um certo dia, um dos seus discípulos pediu: “Senhor, ensina-nos a rezar, como João ensinou os discípulos dele” (Lc 11,1). Então Jesus ensinou a oração do Pai Nosso. (Lc 11,2-13) Mas é importante salientar que, nesta oração do Senhor, muito mais do que uma fórmula para ser decorada, embora seja importante decorá-la também (decore, saber de coração), ela possui o espírito da oração cristã e o modo como devemos nos colocar na presença de Deus e nos relacionar com ele. A oração do Pai Nosso possui, desta forma, a mística da oração de Jesus, que deve ser a mesma mística da oração de todos cristãos.

“Pai nosso que está nos céus, santificado seja o vosso nome...”
Quando formos rezar, Jesus nos ensina que, antes de tudo, devemos nos colocar na presença de Deus e ter a ousadia de chamá-lo de Pai.  Ousadia, porque naquela época era proibido alguém chamar Deus de Pai. Mas Jesus quebrou esta barreira e revelou a verdadeira imagem de Deus. Realmente, Deus é Pai e nós somos os seus filhos amados. É como filhos de Deus que devemos viver, é como filhos de Deus que devemos rezar e nos relacionar com Ele. Do jeito que vivemos é que devemos rezar. E do jeito que rezamos é que devemos viver. Por isso, rezemos como filhos de Deus e viveremos como filhos de Deus. Sem esquecer que não Pai meu, mas Pai nosso... Sinal de que somos irmãos e devemos viver como irmãos!
Mas na presença de Deus, não esqueçamos que Deus é Deus e nós somos criaturas. Apesar de estar muito próximo de nós, Deus não deixa de ser Deus. É um Deus que está no céu, que é Santo e nós somos pobres pecadores. Por isso nós santificamos o seu nome, não pronunciamos o seu nome em vão, o adoramos, bendizemos e glorificamos. Ele nos acolhe na sua presença porque é Misericordioso. Mas sabemos que somos indignos e como João Batista, nem mereceríamos desamarrar as correias das suas sandálias. “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e serei salvo!” Esta humildade na presença de Deus é própria da oração genuinamente cristã. A mesma humildade de Maria de Nazaré: “O Senhor fez em mim maravilhas, Santo é o seu nome. Ele derruba os orgulhosos e eleva os humildes!”

“Venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa Vontade, assim na terra como no céu...”
O cristão anseia pelo Reino de Deus, o Reino da Salvação, o Reino de paz, justiça e alegria no Espírito Santo. Numa Palavra, Ele deseja Deus por Deus mesmo, e não por aquilo que ele pode oferecer em termos de vantagens ou coisas materiais. Por isso, logo após acatar a Presença de Deus com reverência, o cristão pede para Deus reinar na sua vida e então tudo de bom lhe acrescentado, sempre segundo a vontade de Deus. Satanás pode interferir na oração e desviá-la para crendices e superstições. Mas aonde Deus reina, Ele é expulso e não pode entrar novamente. Colocando-se sob a Vontade de Deus, o cristão se abandona nas suas mãos e vai procurando viver de acordo com esta Vontade da Divina Majestade, que sempre é a melhor para a nossa verdadeira felicidade. Ele crê que tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus e se entrega verdadeiramente nas mãos de Deus.
Relembremos a frase de Santo Agostinho, que resume a mística e o sentido da oração cristã: “A oração é a elevação da alma a Deus ou pedido a Deus dos bens convenientes.” Na primeira parte da oração ensinada pelo Senhor Jesus temos “a elevação da alma a Deus”. Já na segunda parte temos “o pedido a Deus dos bens convenientes”. Porque, na verdade, sem a graça de Deus não somos nada e fazemos da nossa vida um nada. O Deus que nos criou é o único capaz de nos fazer continuar existindo. É a Ele que devemos pedir os bens convenientes.

“O Pão nosso de cada dia nos dai hoje...”
Seja o pão espiritual, a sua Palavra e a Eucaristia, seja o pão material, os alimentos, remédios, saúde, moradia, segurança, trabalho, educação. Sem ganância, sem acúmulo desnecessário, sem luxo. O cristão pede a Deus uma vida com dignidade para si e para os outros. Ele pede o pão de cada dia, o necessário para viver com dignidade a cada dia. Porque aonde existe acúmulo desnecessário de uns, falta o pão necessário na mesa dos outros. Satanás tenta para o poder, o ter e o prazer de forma egoística e individualista. Deus deseja que vivamos com dignidade e em comunidade, numa sociedade justa, fraterna e igualitária.

“Perdoai as nossas ofensas, assim como prometemos a perdoar a quem nos ofendeu...”
Conscientes da nossa pecaminosidade, de que nem sempre acertamos o alvo da verdadeira felicidade e do amor, devemos suplicar o perdão do Pai Celeste que sempre está de braços abertos para acolher o filho arrependido que volta para casa. Mas existe uma condição para receber o perdão: perdoar a quem nos ofendeu. Perdoar gratuitamente e sem impor condições. Perdoar 70 x 7, ou seja, toda vez que se fizer necessário perdoar. O ressentimento e o ódio matam a pessoa por dentro. A vingança apenas perpetua o mal. O perdão é o amor em ação. Não existe atitude mais cristã e humana que perdoar. Um dos gestos mais bonitos de Jesus na cruz: “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem!” Perdoar não é esquecer. Perdoar é amar, decidir não guardar ódio e nem alimentar rancor e vingança. E se aquele irmão um dia precisar da minha caridade, estarei disposto a ajudá-lo e não a enterrá-lo cada vez mais. Isto é o perdão. Deus nos perdoa desta forma. E espera que façamos o mesmo. Porque somente desta forma o ódio é destruído, Satanás é derrotado e a paz reinará sobre toda humanidade.

“E não nos deixeis cair em tentação...”
Sabemos que somos fracos e as forças do mal das nossas próprias fraquezas, das influências negativas do mundo e dos demônios sempre nos rodeiam como leão a rugir, procurando a quem devorar. Somos tentados e atribulados por todos os lados. Quando pedimos para não nos deixar cair em tentação, isto já manifesta o desejo sincero de se manter de pé no caminho da Verdade e da Vida. Deus olha o nosso desejo e vem em nosso socorro. Quem sempre pede para não cair em tentação, sobretudo na hora que a tentação está acontecendo, não cairá, pois estende a mão para Aquele que tudo pode e esta mão lhe sustentará.  Importante recorrer à intercessão e proteção de Nossa Senhora. Ele foi a mãe que Jesus nos concedeu. Nós também somos os seus filhos. E qual é mãe que não está pronta para defender os seus filhos diante do perigo? “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!”

“Mas livrai-nos do mal!”
O último pedido que Jesus coloca na nossa boca na oração do Pai Nosso é o pedido da proteção contra o mal e da libertação do mal, caso este já esteja presente na nossa vida. O mal aqui é tudo que vai contra o projeto de Deus e a nossa vida. Tudo mesmo: doenças, medo, fobias, traumas, complexos, vícios, perseguições, tempestades, brigas, contendas, depressões e Satanás e seus demônios. Em nome de Jesus, peçamos ao Pai Celeste a proteção e a libertação. Ele nos reveste do Poder do Alto, o Espírito santo. Nele somos livres e santificados. Nele somos mais que vencedores!
 
Nos encontros a seguir vamos aprofundar a mística da oração e as suas diferentes formas. Mas no Pai Nosso, fruto do exemplo e da explicação do nosso Mestre e Senhor, já encontramos o resumo de toda oração genuinamente cristã. “As palavras do Pai Nosso são instruções para a oração interior, representam orientações fundamentais do nosso ser, querem formar-nos segundo a imagem do Filho. O significado do Pai Nosso vai mais além de uma comunicação de palavras de oração. Ele quer formar o nosso ser, exercitar-nos no modo de pensar sobre Jesus (Fl 2,5)” (Cardeal Joseph Ratzinger)














3º Encontro ____/ ____/ ____

Meditação Orante
da Palavra de Deus

1Jo 1,1-4

   O que os profetas, sábios, evangelistas e apóstolos ouviram,viram contemplaram e apalparam com suas mãos, a revelação de Deus que culminou na pessoa de Jesus de Nazaré, o Verbo da Vida (1Jo 1,1), eles primeiro transmitiram oralmente e depois colocaram por escrito  em forma de hinos, salmos, poesias, narrativas, exortações, profecias, parábolas e epístolas. Fizeram tudo isso para que a nossa alegria seja completa (1 Jo 1,4). Assim, a Bíblia Sagrada foi sendo formada ao longo dos séculos até chegar até nós nos dias de hoje.
   A Bíblia Sagrada não é um livro de ciência. Seu objetivo não é ensinar geometria, astronomia, filosofia, biologia, história, geografia, medicina nem qualquer outro tipo de ciência. As ciências também são importantes e cada uma tem seus pesquisadores, escritores, livros e metodologias próprias. Na Bíblia, como vimos acima, encontramos as partilhas daquilo que os escritores sagrados, viram, ouviram, contemplaram e apalparam do Verbo da Vida, ou seja, da revelação divina em Nosso Senhor Jesus Cristo.
   Ouvir, ver, contemplar e apalpar são termos que sugerem experiências, vivências. Os escritores sagrados primeiro tiveram uma forte experiência de Deus na sua história pessoal, familiar e comunitária e só depois comunicaram esta experiência aos outros. Não falam do que ouviram falar. Partilham do que experimentaram e encheu a sua alma de luz, paz, alegria e salvação, como, aliás, já sugeria o Salmista: “Provem e vejam como Javé é bom. Feliz o homem que nele se abriga” (Sl 34,9)
   Uma coisa é conhecer alguém por ouvir falar dele. Outra coisa, bem melhor, mais autêntica e mais profunda, é conhecer convivendo com a pessoa. Por isso, Jesus convidava para estar com Ele e permanecer no seu amor, como Ele próprio permanecia no amor do Pai (Jo 4,38: Jo 15). Os escritores sagrados conviveram com Deus e O conheceram mediante uma experiência mística da salvação. A Bíblia Sagrada, com todos os seus hinos, histórias e textos diversos é, portanto, um grande testemunho de fé da presença e ação de Deus no meio do seu povo (Jo 1; Jo 21,24). Seu grande objetivo é nos apresentar Jesus Salvador, o Messias de Deus, para que tenhamos a vida em seu Nome (Jo 20,30s)
   Cada livro se propõe a uma missão e teve seu jeito próprio de ser escrito. A Bíblia não é diferente. Quando nos esquecemos da especificidade da Bíblia Sagrada tendemos a interpretá-la mal ou até mesmo a relegá-la ao lixo, como se fosse um livro inútil e sem importância. Um livro de biologia deve ser lido e entendido como um livro de biologia. Do mesmo jeito, os livros de romance, fábulas, matemática, filosofia, e assim por diante. Devemos portanto, acolher, ler e interpretar a Bíblia como um grande testemunho de fé de várias pessoas, todos escritos com muita autenticidade e oração ao longo de vários séculos (Lc 1,1-3).

   Cada livro conduz a algo. O de filosofia, às diversas filosofias, logicamente. O de matemática, exatamente ao conhecimento dos números e seus pormenores. O livro de astronomia, ao conhecimento científico do universo, e assim por diante. Algo semelhante acontece com a Bíblia. Escrita com muita simplicidade, oração, amor e zelo, por muitas mãos humanas, ela não quer explicar o céu, mas guiar para o céu. As Sagradas Escrituras “ têm o poder de lhes comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Jesus Cristo” (2Tm 3,15). Isto por si só já faz da Bíblia o principal de todos os livros espalhados sobre a face da terra,e por isso a chamamos de “Sagrada”.
   Sabedoria é um dom do Espírito Santo que tem a ver mais com sabor do que com saber. A Bíblia tem o poder de comunicar esta sabedoria para que cada pessoa, ao meditá-la em oração, possa provar e ver como o Senhor é bom e como é feliz quem nele se abriga (Sl 34,9). Fazendo essa experiência de Deus pela meditação da sua Palavra, a pessoa entra no ciclo virtuoso da Graça, pois é levada sobrenaturalmente a desejar cada vez mais o leite puro da Palavra Divina, como uma criança recém-nascida, vai rejeitando todo tipo de maldade, mentira, hipocrisia, inveja e maledicência e crescendo na Salvação, justamente por que provou que o Senhor é bom (1Pd 2,1-3).
   Este poder salvífico da Bíblia  Sagrada está no fato de ela toda ter sido inspirada pelo Espírito Santo (2Tm 3,16) e a Palavra que ela contém, a Mensagem que ela comunica é, na verdade, Jesus Cristo, o Verbo da Vida.
   Como sabemos, a “ Palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes; ela penetra até o ponto onde a alma e o espírito se encontram, e até onde as juntas e as medulas se tocam; ela sonda os sentimentos e pensamentos mais íntimos” (Hb 4,12). Do mesmo modo que a chuva não volta para o céu sem antes regar a terra, tornando-a fecunda e fazendo-a germinar, assim acontece com a Palavra de Deus, ela não volta para a boca do Pai Celeste sem ter realizado a missão para a qual foi enviada (Is 55,10-11). Esta Palavra de Deus, que é Palavra de Salvação, é Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo (Jo 1,1), se fez homem no ventre da Virgem Maria, armou sua tenda no meio da humanidade, manifestou a sua glória cheia de graça e de verdade (Jo 1,14) e deu poder de se tornarem filhos de Deus a todos que a acolheram e acreditaram no seu Nome: Jesus ( Jo1,12; 1Pd 1,23-25).
   A Palavra de Deus se fez homem no seio da Virgem Maria e se fez livro na Bíblia Sagrada, sempre por obra do Espírito Santo, tem nome: JESUS CRISTO. Por isso, já dizia São Jerônimo: “Desconhecer as escrituras é desconhecer a Cristo”.  Jesus é o centro e o conteúdo das Sagradas Escrituras. Mesmo que numa passagem não esteja escrito o seu Nome, tudo está direcionado ou em referência a Ele. Numa frase, é Ele o autor e o consumador da fé (Hb 12,2). O Antigo Testamento anuncia o Cristo que virá. O Novo Testamento fala da sua vida e missão. Por isso, na Bíblia não encontramos uma letra morta, mas Espírito e Vida. Foi o próprio Jesus quem disse: “As escrituras dão testemunho de mim” (Jo 5,39).
“O que vimos e ouvimos vo-lo anunciamos para que estejais também em comunhão conosco” – informa-nos o Apóstolo João – e enfatiza: “E a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo” (1Jo 1,3-4). Quando a Bíblia é lida e meditada em oração, a pessoa participa da mesma experiência dos escritores sagrados e entra em comunhão com o Pai e com Jesus Cristo, na Graça do Espírito que a inspirou.
Na Meditação Orante da Palavra de Deus o nosso coração fica cheio de fervor  e Jesus Ressuscitado deixa de ser alguém distante e passa a caminhar com a gente, orientando os nossos passos no caminho da salvação (Lc 24,13-35).
Mais ainda: o Espírito Santo gera Jesus dentro de nós através da Meditação da Bíblia. Toda gestação é um processo. A de Jesus em nós culmina na Eucaristia. Portanto, Meditação da Bíblia e vivência da Eucaristia não se contrapõem nem se excluem. Muito pelo contrário, a Meditação da Bíblia conduz para a Eucaristia, e em todo este processo temos muito a aprender com a Virgem Maria.
Só vive a graça da Eucaristia com profundidade quem foi preparado na prática da Meditação Orante da Palavra de Deus. Os discípulos de Emaús reconheceram Jesus “ao partir o Pão”, mas só depois que haviam meditado as Sagradas Escrituras durante “a caminhada”. A Meditação da Bíblia é a nossa esperança. A Palavra de Deus – Jesus é a nossa salvação!
No corre-corre do dia-a-dia, perseverar na oração é muito difícil. A experiência tem mostrado que a meditação diária da Bíblia é um auxílio divino para nos manter em sintonia com Deus em meio aos cansaços, provações, tentações, aridez e tibieza. Como boa semente, a Palavra de Deus vai germinando, frutificando e alimentando sem que às vezes nem nos  apercebamos. Ela é viva e eficaz. Jesus faz e sabe como faz! A Meditação da Bíblia torna-se mesmo o sustentáculo de outras formas de oração. Por esse motivo, colocamos a Meditação da Bíblia como a primeira grande forma de oração e a incentivarmos insistentemente dentro do Discipulado de Jesus Cristo. Como rezava o salmista: “Vou meditar os teus preceitos e considerar os teus caminhos. Eu me declino com a tua vontade e não esqueço  da tua palavra” (Sl 119,15-16)

20:30h – Caminhada Discipular (Avisos, encaminhamentos)











4º Encontro ____/ ____/ ____

A oração da fé

Hb 11,1.12,1-4

Começamos pela simplicidade como a Bíblia foi escrita ao longo dos séculos, na trama da história humana e por mãos humanas; falamos do seu grande objetivo como livro de espiritualidade e testemunhos de fé, que é conduzir ao céu, e não explicar o céu; consideramos o seu poder salvífico pelo fato de toda ela ter sido inspirada pelo Espírito Santo e a Palavra que ela contém é Jesus Cristo Salvador, o Verbo da Vida e também nos referimos à íntima ligação existente entre a Meditação Orante da Palavra de Deus e a Eucaristia.
   Da simplicidade como foi escrita até o seu precioso conteúdo, Jesus - Palavra de Deus, percebemos que a Bíblia é bem próxima de nós, mas sem deixar de ser “Sagrada”. Por isso devemos tratá-la com zelo e acolher sua Mensagem com reverência e devoção. De fato, a “Igreja sempre venerou as divinas Escrituras da mesma forma como o próprio Corpo do Senhor” (DV 21)
   Tudo isto está em sintonia com o que o próprio Deus revelou acerca do amor e zelo com os quais o seu povo deveria fazer e conservar a Arca da Aliança, sinal da sua presença e da sua fidelidade. “Aí me encontrarei com você; e, de cima da placa, do meio dos querubins que estão sobre a arca da aliança, direi a você tudo o que deve ordenar aos filhos de Israel”(Ex 24,10-22). Em continuidade com esta grande Tradição Apostólica, espera-se que na sede de cada Discipulado Local, haja sempre um lugar especial onde a Bíblia Sagrada possa permanecer entronizada para veneração dos fiéis.
   “Coloquem essas minhas palavras no seu coração e na sua alma” (Dt 11,18). Em quem medita a Palavra de Deus a Verdade e a Vida sempre prevalecerão. Esta pessoa não viverá nem de idolatrias que sempre escravizam e matam; nem de acordo com as ventanias da sociedade, como uma biruta, pra lá e pra cá; nem pela opinião de outros, mesmo que estes sejam pessoas boas e admiráveis, mas não são deuses. Não podemos viver de ideologias, mas da Revelação Divina. É preciso que cada pessoa faça a sua Meditação Orante para que a Verdade da Bíblia torne-se Revelação e a Vida que é Jesus refontize sempre o seu viver.
   Quem medita a Palavra de Deus (interpretando-a no Espírito, dentro da sã Tradição Apostólica e auxílio do Magistério Eclesiástico) possuirá convicções de fé inabaláveis e princípios ético-evangélicos que orientarão o seu agir em todas as circunstâncias; vivenciará mistagogicamente o amor de Deus e a sua esperança será firmada nas promessas divinas. Dia após dia adentrará no manancial da sabedoria e, no tribunal da sua consciência, concordará que Deus sempre tem razão em tudo o que diz e faz. Por Graça de Deus, será uma pessoa de fé. Não de uma fé cega ou meras crendices. Mas de uma fé robusta e carismática, capaz de dialogar com a razão e dar-lhe respostas que jamais poderiam ser dadas se não fosse por Revelação Divina.
   A Meditação Orante da Palavra de Deus conduz à obediência da fé (Rm 1,5), à vida nova, como exortavam os Apóstolos: “Vocês nasceram de novo, não de uma semente mortal, mas imortal, por meio da Palavra de Deus, que é viva e que permanece” (1Pd 1,23). “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim. E esta vida que agora vivo, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e por mim se entregou” (Gl 2,20).
   Obedecer na fé significa submeter-se livremente à Palavra de Deus ouvida (CIC 144) e seguir seus movimentos dentro da nossa alma. Sendo a fé dom do Espírito Santo, é Ele mesmo quem comanda a nossa vida e a nossa oração conforme lhe apraz. O Deus Bom e Fiel não abandona o crente que pede a fé, nela edifica a sua existência (Jd 20) e por ela se deixa orientar.
   Não se obedece a fé só de intenção, mas de modo concreto, a ela se submetendo mesmo quando as circunstâncias não sejam favoráveis e mesmo quando não tenhamos total compreensão da realidade. Às vezes obedecer a fé exige de nós a coragem de sair da barca das nossas próprias seguranças e andar sobre as águas confiantes em Cristo Jesus que nos diz: “Coragem! Não tenha medo. Sou eu” (Mt 14,22ss).
   Podemos compreender mais facilmente o que seja obedecer a fé recordando o  exemplo de Abraão: “Esperando contra toda espécie, Abraão acreditou e tornou-se o pai de muitas nações, conforme foi dito a ele: ‘Assim será a sua descendência’. Ele não fraquejou na fé, embora já estivesse vendo o próprio corpo sem vigor – ele tinha quase cem anos – e o ventre de Sara já estivesse amortecido. Diante da promessa divina, ele não duvidou, mas foi fortalecido pela fé e deu glória a Deus. Ele estava plenamente convencido de que Deus podia realizar o que havia prometido” (Rm 4, 18-21).
   Obedecer à fé consiste nisso: acreditar na Palavra de Deus, esperar contra toda esperança, não fraquejar, ter paciência, não duvidar, estar plenamente convencido do poder e do amor de Deus, acolher as moções interiores, abandonar-se à vontade do Deus Bom, Providente e Fiel. “A fé é um modo de já possuir aquilo que se espera, é um meio de conhecer realidades que não se vêem” (Hb 11,1).
   Quando  perseveramos em meio a crises, dificuldades, e verdadeiras tempestades, mantendo os olhos fixos em Jesus, autor e consumador da fé (Hb 12,1-2), sobrenaturalmente  vamos orando, vencendo, superando e ressuscitando. Quando olhamos para trás, percebemos que se não fosse pela fé centrada em Jesus, e a graça de oração que ela suscitou, jamais teríamos saído do lamaçal de morte e trevas no qual nos encontrávamos.
   A fé é o fundamento da oração. Quando obedecemos a fé, e na fé nos colocamos em oração, mantemos os olhos fixos em Jesus e Ele se torna Acontecimento Salvífico na nossa vida pessoal, familiar e comunitária. Por isso, o Apóstolo Paulo já nos exortava: “Para que vocês não se cansem e não percam o ânimo, pensem atentamente em Jesus” (Hb 12,3). Tudo aquilo que nos ajuda a “pensar atentamente em Jesus” (Bíblia, imagem de Cristo, de sua Mãe ou de seus Santos, terço, camisa cristã, cd religioso, etc.) é um auxílio tanto à fé como à oração.
   Os planetas giram em torno do sol. Nós giramos em volta de Cristo e dele recebemos luz, força e vitalidade pela graça da oração da fé. Naquele tempo, enquanto caminhava no meio da multidão, uma mulher que sofria de hemorragia há doze anos “foi por trás, e tocou a barra da roupa de Jesus, porque pensava: ‘Ainda que eu toque só na roupa dele, ficarei curada’. Jesus virou-se, e ao vê-la disse: ‘Coragem, filha! Sua fé curou você!” (Mt 9,20-22). É isto o que significa ter fé: acreditar no poder e no amor de Deus. É isto o que significa obedecer à fé: estender  a mão e tocar o manto de Cristo. Ou em outras circunstâncias, abrir o coração, ou clamar, ou erguer os braços, ou curvar os joelhos, ou simplesmente silenciar, ou chorar... Tocar no manto de Cristo foi o que a fé sugeriu àquela mulher em meio às circunstâncias que ela estava atravessando. Ela simplesmente obedeceu e de Cristo recebeu a confirmação: “Coragem, Filha! Sua fé curou você!”
   Jesus Cristo “é o mesmo ontem, hoje e sempre” (Hb 13,8). Não só aquela mulher homorroísa do meio da multidão teve um encontro pessoal com Ele. Muitos outros também foram alcançados pelo seu amor salvífico que cura, unge e liberta, como por exemplo, Abraão, Sara, Isaac, Jacó e Moisés (Hb 11); os doentes de Genesaré (Mt 15,34-36), o cego de Jericó (Lc 18,35-43) e os participantes das bodas de Caná. Foi aí que a sua Mãe disse: “Façam o que Jesus mandar” (Jo 2,1-11). Maria sabia do quês estava falando, pois por toda a sua vida realizou “da maneira mais perfeita a obediência da fé” (CIC 148).
   A oração é a linguagem da fé. Portanto: Se a fé for uma crendice, uma supertição, a oração será paganizada. Se a fé for uma simples idéia, uma ideologia, a oração será medrosa. Se a fé for mentirosa, a oração será hipócrita, de “boca pra fora”. Se for pouca a nossa fé, pequenino também será o poder da nossa oração. Se colocarmos a nossa fé em nós mesmos, será grande a frustração. Mas, se a nossa fé for posta no único e verdadeiro Deus revelado por Jesus, a nossa oração será ungida e poderosa.
   Não podemos ser homens de fé inconsciente (2Tm 3,8). O maligno procura nos enfraquecer e nos enganar através da falsa fé, crendices, superstições, fábulas e vícios semelhantes (2Tm 4,2-4). Orai e Vigiai! Por detrás de muitas coisas aparentemente inocentes que ocupam a nossa mente, atuam verdadeiras forças ocultas de Satanás que nos afastam da sabedoria de Deus. Não existe nada melhor para o inimigo que arrancar de nós a arma da fé que é a garantia da nossa vitória (Ef 6,15; 1Jo 5,4). Além da Meditação da Bíblia, é necessário o conhecimento da Doutrina da Igreja, que é “coluna e sustentáculo da verdade” (1Tm 3,15). “A salvação vem exclusivamente de Deus, mas, por recebermos a vida de fé por meio da Igreja, esta última é nossa mão. Por ser mãe, a Igreja é também a educadora de nossa fé” (CIC 169).









5º Encontro ____/ ____/ ____

Oração do coração

Mt 6,5-6

A fé, alimentada pela Palavra de Deus, é o fundamento da oração, e a oração, a sua respiração. A oração é alma da vida cristã, pois toda ela é uma vida na fé. A fé precisa respirar na oração e a oração precisa se sustentar na fé.
   Antes de tudo, a oração cristã é um encontro com Deus. Encontro este, que desabrocha em diálogo e vivência do amor. Encontro amoroso no qual Deus é glorificado e o homem salvo, revigorado, iluminado, fortalecido e restaurado. Os Padres do Oriente falam de pleroforia, ou seja, de “uma experiência de plenitude, de felicidade e de alegria que cumula o coração, o espírito e o próprio corpo. É na oração, efetivamente, que se curam todas as feridas do pecado e que se restaura a integridade da nossa natureza de homens”.
   Oração, é simplesmente colocar-se na presença do Deus Amor, amá-Lo e deixar-se amar por Ele. Orar é amar. Não se trata de forçar sentimentos ou provocar determinadas emoções. Nem tampouco se cansar na concentração ou fixar-se num racionalismo frio, desconfiado e calculista. É colocar-se com confiança de filho, em Cristo, no Espírito e manifestar-se como tal diante do Pai, com o simples fervor em cada palavra, gesto, ritual, ou mesmo silêncio.
   Oração é dar tempo a Deus e vivenciar cada instante desse tempo como um Kairós. É o momento em que Deus entra na nossa história; arma a sua tenda, é derramado no nosso coração e manifesta-se como Deus Bendito da Aliança. Aquele que É e que nos deifica. Aquele que nos chama do nada à existência para vivermos com dignidade.
   Orar é amar a Deus e deixar-se amar por Ele: “Eis que eu mesmo, a seduzirei, conduzi-la-ei ao coração” (Os 2,16). A oração cristã é essencialmente um diálogo amoroso de coração a coração. Um dia os discípulos pediram: “Senhor, ensina-nos a orar”. E Jesus lhes ensinou o segredo da sua oração: “Quando você for rezar, entre no seu quarto e reze ao seu Pai”. Jesus está se referindo não tanto ao quarto da nossa casa, onde podemos entrar, fechar a porta, e se colocar na presença de Deus. Ele está falando do nosso quarto interior, ou seja, do nosso coração.
   Jesus está ensinando que a oração verdadeiramente cristã não é uma abstração intelectual, quando ficamos divagando, especulando e formulando belos esquemas de reflexão. A oração também não é uma rica demonstração de palavras bonitas com uma linguagem gramaticalmente correta... Embora palavras, símbolos e gestos do corpo tenham a sua importância, pois nos ajudam a manter os olhos fixos em Jesus, autor e consumador da nossa fé (Hb 12), a oração é antes e acima de tudo, um diálogo amoroso com Deus dentro do nosso coração. O amor não é para ser explicado, mas vivenciado. A oração não está na ordem da explicação e da reflexão, mas da experiência mística de Deus que nos cumula de paz, alegria e salvação. Na oração, provamos e vemos com Deus é Bom (Sl 34,9) e podemos testemunhar: “O que vimos e ouvimos com nossos olhos, o que contemplamos e o que nossas mãos apalparam, nós agora anunciamos a vocês. A nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus” (1Jo 1).
    Porque Jesus insistia tanto na oração do coração? Ele sabia que dentro do nosso coração, desde quando fomos batizados, o Espírito Santo já está presente e intercedendo em nosso favor com gemidos inefáveis (Rm 8,26-27). Ora, se rezo de coração, então a minha prece se unirá à intercessão do Espírito Santo, que já está orando dentro do meu coração, formarão uma só oração cheia de unção e de poder!
   Por isso que é tão importante orar como Jesus orava. A graça da oração – DE ORAÇÃO, NO ESPÍRITO SANTO – refontiza toda a minha vida. A graça da oração jorrará de dentro de mim como rios de água viva. Por onde a água viva passa, ela lava, santifica e purifica de todos os pecados e imundícies. A limpeza traz suavidade e claridade. A paz se estabelece e a luz refulge resplandecente sobre trevas e maldições. Basta ver o deserto todo seco debaixo de um sol escaldante. Por onde o rio passa tudo fica verdinho e cheio de vida. Assim acontece na vida: por onde o rio de água viva da graça da oração passa tudo vai ficando cheio do verde da fé, da esperança e do amor. Por onde o rio de água viva passa a vida vai germinando e muitos frutos de salvação vão sendo colhidos tanto na vida da pessoa que reza como na vida daqueles que estão ao seu redor.
   É preciso rezar de coração como Jesus rezava, pois é aí, no coração, que o Espírito Santo já está intercedendo em nosso favor com gemidos inefáveis. Se rezo de coração, acabarei sempre rezando no Espírito e, por outro lado, permitindo que a prece do Espírito envolva toda a minha oração. O Espírito Santo é o favor de Deus que vem em socorro da minha oração.
   Parece simples, e sempre deveria ser, mas às vezes é muito difícil fazer o caminho até chegar ao nosso próprio coração. Fomos feridos pelo pecado original. Somos fracos. Existe o barulho do mundo que atrapalha este mergulho oracional. Temos vergonha, às vezes ficamos encabulados ou temos preguiça de rezar. Carregamos ignorância e também somos tentados pelo Maligno...
   Mas é preciso chegar ao coração para orar no Espírito Santo... Então, devemos fazer uso de todos os recursos. Antes de tudo, tudo o que fizemos exteriormente deverá nos ajudar a mergulhar interiormente. O erro dos hipócritas e que faziam belas demonstrações de oração em público, mas nada era de coração. Era só para aparecer. Por isso que a oração deles era sem unção e sem frutos. Porém, se tudo o que você fizer exteriormente for buscando mergulhar interiormente, isto não é hipocrisisia. Deus sabe da sua intenção, do seu esforço em fazer a sua parte e já vem em seu auxílio com a graça da oração.
   Por exemplo, quando você estiver orando com seus irmãos não fique encabulado. Vá colocando todos os seus gestos e palavras no coração sem se preocupar com a opinião dos outros. Entre dentro de você mesmo e se coloque na presença de Deus. Ele sabe da sua intenção e lha dará a recompensa. Na hora de cantar, cante com o coração, e o seu cântico, inevitavelmente, acabará sendo cântico do coração que se unirá à intercessão do Espírito e o Espírito assumirá a sua canção como sendo dele. Na hora de escutar a leitura bíblica, escute com o coração, como sendo Palavra de Deus para você. Na hora de rezar com as suas próprias palavras, vá rezando com o coração e assim por diante. Na hora de bater palmas, de levantar as mãos, de se ajoelhar, faça tudo isso de coração... Tudo o que fizer exteriormente, leve para o seu interior, e deste modo, inevitavelmente, você mergulhará na graça da oração e Deus realizará a sua obra na sua vida. Levar ao coração o que a mente pensa, o corpo gesticula e a boca pronuncia!
   Às vezes acontece da pessoa estar com preguiça de vir para o Siloé, tem até de lutar contra sua vontade carnal que gostaria de ficar assistindo novela; às vezes a pessoa  está cheia de preocupações e muito cansada e, quando começa a rezar de coração, à medida que vai cantando, meditando, louvando e suplicando, tudo vai sendo transformado, o Espírito Santo vai operando e a graça da oração vai pacificando o seu ser, vai enchendo de amor, curando, libertando e encharcando com o amor de Deus. A pessoa toda quebrada e ferida é reintegrada e curada em Deus; a pessoa vazia fica cheia de unção quando reza de coração no Espírito de Jesus.
   Orar é amar e o amor pressupõe liberdade. Oração não é questão de vontade, mas de fé e de decisão livre e consciente. Não devemos rezar só quando temos vontade, mas por que temos fé em Deus e na mesma fé decidimos estar com Ele. Ele merece nossa atenção e temos consciência que precisamos estar sempre na sua companhia. Como somos fracos e ignorantes, Satanás pode muito bem interferir na nossa vontade e direcioná-la sempre para o que lhe agrada, e nunca para o que agrada a Deus. Quem não reza mesmo contra a sua própria vontade carnal nunca adquire a virtude da oração e facilmente decai nos vícios, no ateísmo e na idolatria.
   Quando decidimos orar mesmo contra a nossa vontade carnal, aí é que temos fé de verdade e somos realmente livres, pois estamos vencendo as nossas próprias fraquezas interiores, as influências negativas do mundo e as tentações de Satanás. Mesmo quando não queremos na carne, mas se rezarmos de coração, já estamos adorando ao Bom Deus Criador e Ele com certeza já está considerando a nossa oração. Desta forma, orando de coração na decisão da fé, já estamos buscando o Reino de Deus e tudo mais nos será acrescentado!

Coloque-se na Presença de Deus. Adore, louve e agradeça.
Simplesmente, abandone-se ao seu amor. Entregue-se completamente a Ele como o barro nas mãos do oleiro, dimensão por dimensão.
O Salmista rezava: “Restaura-nos ó Senhor, e seremos salvos!” Rezemos com Ele, entregando-nos em suas mãos benditas como barro nas maãos do oleiro... Esta é a nossa parte. A obra é de Deus. E a sua obra nunca fica pela metade.







6º Encontro ____/ ____/ ____

Oração no
Espírito Santo

Rm 8,14-27

   A oração é a alma do Discipulado de Jesus Cristo: o coração da espiritualidade, a fonte de luz para o testemunho, a força do apostolado e a grande motivadora da eclesialidade.
   Tendo nos revelado que Deus é Pai, Jesus sempre enfatizou que a oração cristã é essencialmente filial e pneumatológica. Devemos entrar no “quarto” interior do nosso coração (MT 6,5-13) e rezar no Espírito Santo como filhos porque “o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5) e todos os que são guiados pelo Espírito Santo de Deus são filhos de Deus. De fato, não recebemos um Espírito de escravos para recair no medo, mas recebemos um Espírito de filhos adotivos, por meio do qual clamamos: Abba! Pai! O próprio Espírito assegura ao nosso espírito que somos filhos de Deus. E se somos filhos, somos também herdeiros (Rm 8,14-17; Gl 4,6-7).
   Só podemos viver verdadeiramente a vida de um filho de Deus mediante a oração no Espírito Santo. Como somos fracos e pecadores, não sabemos nem orar como convém. Por isso o Espírito Santo vem em auxílio da nossa fraqueza e intercede por nós com gemidos inefáveis de acordo com a vontade de Deus (Rm 8,26-27).
   Após a ascensão de Jesus, que prometera enviar o Poder do Alto (At 1,8), Nossa Senhora e os discípulos perseveraram unânimes em oração no cenáculo de Jerusalém (At 1,14). No dia de Pentecostes, “ficaram repletos do Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem” (At 2,4).
   Na efusão solene de Pentecostes aconteceu o milagre da xenoglosia. Em Jerusalém moravam judeus devotos de todas as nações do Mundo. Quando ouviram o barulho no cenáculo, todos foram para lá e ficaram confusos, pois cada um ouvia os discípulos falarem na sua própria língua materna (At 2,5-6). De outro lado, simultaneamente, aconteceu o fenômeno da glossolalia, mais conhecido como dom de línguas. O Espírito Santo se manifestava nos discípulos através de gemidos inefáveis, sussurros e sons inarticulados. Eles oravam mais ou menos como os antigos profetas (Nm 11,25-29; 1Sm 10,5-6;10-13; 19,20-24; 1Rs 22,10).
   À vista de todos pareciam estar embriagados com vinho doce (At 2,13). Na verdade, estavam embriagados. Uma embriaguez de júbilo e plenitude do Espírito Santo, conforme explicação dada por Pedro: “Estes homens não estão embriagados, como pensais, pois esta é apenas a terceira hora do dia. O que está acontecendo é o que foi dito por intermédio do profeta: Sucederá nos últimos dias, diz Deus, que derramarei do meu Espírito sobre toda carne. Vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões e vossos velhos sonharão. Sim, sobre meus servos e minhas servas derramarei do meu Espírito” (At 2,15-18). A partir daquele dia, e daquela maneira, o Espírito de Deus estava realizando uma obra maravilhosa na vida de cada um e, através deles, em toda Igreja de Jesus.
   De Pentecostes em diante, a oração em línguas torna-se muito comum nas comunidades cristãs primitivas (At 10,46; 11,15; 19,6). Os cristãos não ignoravam os carismas do Espírito Santo (1Cor 12,1) e existia um ambiente favorável onde todos os aspiravam e os acolhiam (1Cor 14,1). As comunidades eram terra boa onde os carismas eram semeados, germinavam e frutificavam. A oração no Espírito Santo não era reprimida, mas incentivada. A única regra era que tudo fosse feito com decoro e com ordem, para o proveito de todos (1Cor 14,39-40).
   São Paulo testemunhava: “Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos” (1Cor  12,7). “Aquele que fala em línguas não fala aos homens, mas a Deus. Ninguém o entende, pois ele, em espírito, diz coisas incompreensíveis. Eu desejo que todos vocês falem em línguas. Se rezo em línguas, o meu espírito está em oração. Agradeço a Deus por falar em línguas (1Cor 14).
   A oração pneumatológica em línguas é da ordem da experiência, não do entendimento conceitual; é da ordem do ser, não da emoção; embora o dom de línguas envolva, e muito, a nossa emoção. Tal qual fonte de água viva, oração em línguas inunda todo nosso ser e até mesmo o ambiente da oração comunitária, deixando muitos frutos de paz, alegria e comunhão.
   Por caminhos que só o Espírito Santo conhece, o dom de línguas é uma graça especial que a razão não pode compreender, mas o coração pode experimentar. Aqui vale o dito popular: “A boca fala do que o coração está cheio”. O dom de línguas é manifestação do Espírito Santo presente e orante no nosso coração. O que nos resta é se colocar em oração e cooperar, emprestar-lhe a língua e as cordas vocais e deixar que sua oração desabroche do nosso coração indo até o coração do Pai, em Nome de Jesus. “E aquele que sonda os corações sabe quais são os desejos do Espírito, pois o Espírito intercede pelos cristãos de acordo com a vontade de Deus” (Rm 8,27).
   A glossolalia não é a única forma de orar no Espírito Santo e nem todos possuem este carisma. O Espírito Santo é absolutamente livre e distribui os seus dons conforme lhe apraz (1Cor 12,11). Na Igreja, Deus dispôs cada um conforme a sua vontade (1Cor 12,18). Mas, justamente por ser um carisma, o dom de línguas é uma graça especial e possui a sua importância própria na oração pessoal e comunitária. Por isso deve ser acolhido não só pela pessoa que o recebeu, mas por toda comunidade da qual faz parte.
   Quando recebi o dom de línguas, ou melhor, quando tive total consciência dessa graça, estava em oração na Igreja Matriz de Pacoti, minha terra natal. Tomei posse do mesmo e nunca mais deixei de cultivá-lo. Naquele momento, minha boca ficou como que adormecida e com um ligeiro tremor que senti ser expressão espontânea de temor a Deus. Do mais profundo de mim mesmo, de um lugar que sei remontar às minhas origens e que me liga ao meu Criador, fluíam gemidos inefáveis, não inteligíveis e não pronunciáveis, mas que eram refontizadores, amorosos, curativos e que alegravam e pacificavam o meu ser. Ao mesmo tempo em que a Graça Divina me vencia, também não tirava a minha liberdade nem a minha consciência. Cheguei a esta conclusão: permaneci sendo eu, mas vencido pelo amor de Deus. E isto fazia com que, nesta escravidão de amor em Deus, cada vez mais era consciente, iluminado e livre. Quanto mais eu cedia àqueles gemidos inefáveis do Espírito de Deus unido ao meu espírito em oração, mais a Graça me seduzia e me preenchia totalmente.
   Dois dias depois, aquela oração ininterrupta ficou se movimentando dentro do meu ser. Minha sensação, mas mais do que sensação, minha experiência mística, era a de um verdadeiro vulcão despertado. Quando tudo voltou a acontecer de um modo mais profundo ainda, a oração em línguas continuou a significar para mim um mergulho profundo em Deus, um verdadeiro reavivamento, um afervoramento, um chamado incessante a ser mais coerente com minha vocação e missão. Mas, sobretudo, a oração em línguas significou para mim uma feliz vitória de Deus em minha vida que me fazia lembrar sempre o profeta Jeremias: “Seduziste-me, Senhor. Eu me deixei seduzir. Numa luta desigual, dominaste-me, Senhor. E foi tua a vitória” (Jr 20,7).








7º Encontro ____/ ____/ ____

Glorificai a Deus com vosso corpo

1Cor 6,12-20

“É o coração que reza. Se ele está longe de Deus, a expressão da oração é vã.” Porque a oração é um encontro amoroso do coração do homem com o coração de Deus, na unção do Espírito Santo, as formas exteriores são menos importantes que a sua vivência interior. E tudo que se faz exteriormente, deve ser expressão de uma autêntica vivência interior do encontro amoroso com Deus, senão a oração será de “boca pra fora”, infrutífera, ilusória e paganizada.
   Gestos, palavras, cânticos, ritos, fórmulas, fenômenos extraordinários como línguas estranhas, visões, locuções, profecias ou o simples silêncio não são mais importantes do que a oração interior do coração ungido pelo Espírito Santo.
   Mas as expressões da oração também são importantes: elas ajudam a crescer na verdadeira oração interior. E é verdade que toda oração precisa ser comunicada aos irmãos, sobretudo quando se trata de uma oração comunitária. Quando as expressões do corpo seguem a intenção do coração, tanto a oração interior como a sua expressão são ungidas pelo Espírito Santo, para a maior glória de Deus e bem de toda comunidade.
   Precisamos orar sem cessar. “É preciso se lembrar de Deus com mais freqüência do que se respira” (São Gregório Nazianzeno). Mas não se pode orar “sempre”, se não reza em certos momentos, por decisão própria. São os tempos fortes da oração cristã, em intensidade e duração. Cada fiel responde ao Senhor segundo a determinação de seu coração e as expressões pessoais de sua oração. Entretanto, a tradição cristã conservou três expressões principais da vida de oração: a oração vocal, a meditação e a oração contemplativa. Uma característica fundamental lhes é comum: o recolhimento do coração (CIC 2697s).
   Porém, freqüentemente, acontece o corpo declarar verdadeira guerra à oração da alma. Deveras, ele também gostaria de rezar, mas a pessoa não o permite ou não o faz por onde rezar. E o corpo a incomoda, impedindo-a de orar profundamente, com distrações, perturbações, preocupações, pensamentos variados, sono repentino, tensões musculares, etc.
   Às vezes queremos separar o corpo da alma como se isto fosse possível. O homem é antropologicamente falando, uma unidade pluridimensional inseparável. Corpo sem alma é cadáver. Alma sem corpo é ilusão. Portanto, oração sem alma é morta, cadavérica. Oração sem corpo é ilusória, irreal. Devemos estar presentes à oração de corpo e alma. Primeiro o corpo, a alma o acompanhará. Aqui é que entra a importância do envolvimento do corpo e dos gestos em nossa vida de oração.
   Cada gesto do corpo deve corresponder a uma atitude interior da alma. Deve haver esta sintonia: gesto exterior com atitude interior para que não se fique só na superfície, na chamada oração “de boca pra fora”. Porém, se sob o pretexto de que o mais importante é orar com a alma, e por isso não envolvo o corpo, a alma também não consegue mergulhar, “fica vagando” e cai facilmente em tentação.
   Evitar dois exageros: orar só com os gestos sem ligá-los a uma motivação interior (Is 29,13); orar só com a alma sem envolver, ou até mesmo repugnar, os diferentes membros e sentidos do corpo. Cair num desses exageros significa dividir-se, desintegrar-se. Dividido, o homem não pode ir muito adiante na espiritualidade. É inútil querer explicar o significado de cada gesto do corpo. Eles são conaturais ao homem. Cada gesto é compreendido na experiência pessoal e dentro da tradição cristã.
   Na Bíblia, o homem de oração tinha o anseio profundo de viver na intimidade divina. Para tanto, começava preparando um

ambiente favorável
e se colocando em
postura de oração,

ou seja, colocando o corpo para rezar.
    
Moisés sempre subia a montanha e contemplava a glória de Deus (Ex 24,12ss). Na tenda, falava com o Senhor face a face, como se fala a um amigo (Ex 33,11). Na presença do Altíssimo, caiu de joelhos por terra e O adorou. Depois disse: “Javé, se eu gozo do teu favor, continua em nosso meio, mesmo que este povo seja cabeça dura. Perdoa nossas faltas e pecados, e recebe-nos como tua herança (Ex 34,8). O rosto de Moisés resplandecia na oração (Ex 34,35).
   Os salmistas, mestres da oração, rezavam com muita simplicidade e vivacidade. Oravam em alta voz (3,5; 142,6); e agradeciam de coração (9,2); cantavam, prostavam-se (13,6; 138, 1-2); repousavam com segurança em Deus (16,9); escutavam a Deus no coração (27,8); dançavam (31,8); provavam e viam como Deus é bom (34,9); batiam palmas e aclamavam com gritos de alegria (47,2); tocavam com maestria (47,8); elevaram a prece e levantavam as mãos (76,3; 141 1-2); entravam com louvor na presença de Deus (95,2; 100,1-5); oravam de corpo e alma (103,1-22); oravam das profundidades do ser (130,1); lamentavam-se com sinceridade (142,3); utilizavam a imaginação na meditação orante da Palavra de Deus (119); envolviam-se totalmente no louvor (145; 149; 150).
   JESUS, O Mestre, também subia a montanha para orar (Mt 11,25-27); manifestava seus sentimentos, ternura e compaixão na oração (Mt 14,14; Jo 11,32-36); celebrava com rituais e gestos compenetrados ( Lc 22,14-20); utilizava gestos, símbolos e elementos diversos na realização de milagres, sinais e prodígios (Mt 14,18; Lc 6,13; Jo 9,6).
   Na história do cristianismo vamos perceber que houve uma continuidade nesta integração entre alma e corpo na oração. Os primeiros cristãos tinham os mesmos sentimentos e eram assíduos na oração, com Maria, a mãe de Jesus. Todos eles estavam reunidos em oração quando o Espírito Santo foi derramado no dia de Pentecostes. “Todos ficaram repletos do Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem” (At 2,4). A oração no Espírito envolvia de tal forma o seu ser que aos olhos do povo pareciam estar embriagados com vinho doce (At 2,13). Mas, na verdade, era o Vinho Novo do Espírito de Jesus que cura, salva e liberta os que oram de coração. Louvavam a Deus e a cada dia o Senhor acrescentava à comunidade outras pessoas que iam aceitando a salvação (At 3,47).
   O Apóstolo Paulo também orava de corpo e alma. Por volta do ano 42 fez uma experiência espiritual que marcou profundamente toda a sua experiência cristã. Foi arrebatado até o paraíso celeste e ouviu palavras inefáveis (2Cor 12). Não poucas vezes orou em línguas, recebeu revelações, profetizou e, acima de tudo, experimentou o amor de Deus. Desejando o mesmo para os outros, dizia: “Inspirados pela graça, cantem a Deus, de todo coração, salmos, hinos e cânticos espirituais. E tudo o que vocês fizerem através de palavras ou ações, o façam em nome do Senhor Jesus, dando graças a Deus por meio dele” (Col 3,16-17).
   O Evangelista João pregava e praticava o que experimentava na oração  (1Jo 1; 4,7-21; 5,13-15). Foi a ele que Jesus se manifestou na Ilha de Patmos e concedeu a bela profecia do Apocalipse.
   Orar de qualquer jeito é o mesmo que não orar verdadeiramente:
- Se vou rezar, e me deito, na verdade quero dormir, não é verdade?
- Vou à Missa e fico à porta: na verdade, quis ir à praça;
- Vou ao grupo e não me integro aos gestos comuns que o Espírito está suscitando através dos ministros de louvor e de oração: não estou no grupo.

   Quando estamos num grupo de irmãos, em Jesus, somos um só corpo, um só coração e uma só alma. Daí ser tão importante que todos orem envolvendo o corpo, pacificando-o através das músicas, dos gestos e rituais comunitários. Desta forma, não só estou fazendo por onde mergulhar em oração, mas também estou cooperando para que o grupo todo faça esta experiência de Deus. Nunca esqueçamos que a obra de Deus sempre conta com a nossa participação!









8º Encontro ____/ ____/ ____

Ao Senhor teu Deus adorarás!

Ex 3,1-15


                Moisés era daqueles homens de oração que a Bíblia classifica como humilde e da confiança de Deus. Falava com Ele face a face, às claras e sem enigmas (Nm 12, 1-7). Um dia estava pastoreando o rebanho no Monte Sinai. O Senhor lhe apareceu numa sarça que ardia em fogo, mas sem consumir-se. Apesar de sermos como humilde sarça rasteira, a chama viva do amor de Deus de nós se apodera para nos purificar, curar, animar e deificar, mas sem nos destruir.
                Do meio da sarça Deus chama Moisés e manda que tire as sandálias. O lugar onde Deus se manifesta é terreno sagrado e nem nossas falsas seguranças nem nada de impuro deve atrapalhar nosso encontro pessoal com Ele. Apresenta-se, então, como se faz a um amigo, e informa sua intenção: “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacó. Vi a opressão do meu povo no Egito e desci para libertá-lo”.
                Por ser Deus um nome comum, ante a pergunta de Moisés, comunica-lhe o seu nome próprio: “Eu sou aquele que sou”, e acrescenta: “Este é o meu nome para sempre: assim me chamareis de geração em geração”. No nome está a pessoa. Por isso, mais que um nome, é uma revelação:

- O “Eu Sou aquele que Sou” (na língua portuguesa se traduz por JAVÉ) é o SER ABSOLUTO. Ele É e existe por seu próprio poder, bem como é a fonte de subsistência de todo ser criado no céu, na terra e no mar. “Assim diz Javé, o seu redentor, que formou você desde o ventre de sua mãe: Eu sou Javé, que faço tudo: sozinho, eu estendi o céu e firmei a terra. Quem estava comigo? (Is 44,24)

- Javé não é um Deus soberano entre outros deuses menores, como apregoava o henoteísmo. Só Ele É o Único e Verdadeiro Deus. “Assim diz Javé, o Rei de Israel, seu redentor, Javé dos exércitos: Eu sou o primeiro, eu sou o último; fora de mim não existe outro Deus” (Is 44,6).

                Javé Libertador, este é o nosso Deus! “Deus de compaixão e piedade, lento para a cólera e cheio de amor e fidelidade” (Ex 34,6). Esta é a boa nova que motivará o êxodo, a saída da escravidão do Egito para a terra prometida, a saída da idolatria para a adoração do Deus Vivo, rumo à plena e definitiva páscoa em Cristo Jesus.
                O humilde Moisés cobriu o rosto, temendo olhar para Javé. Não era medo que paralisa e atrofia, pois Deus não causa medo. Mas sentimento de respeito e acatamento reverencial de tão Ilustre Visita. “Eu não sou digno Senhor de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e serei salvo”.
                O Temor de Deus é verdadeiro dom do Espírito Santo no coração humilde. Gera a submissão do homem ao Criador e conduz para a oração de adoração que liberta e conserva a vida. Desde Moisés, passando pelos profetas e sábios, até Maria, Jesus e os Apóstolos, a oração de adoração, alicerçada na fé monoteísta, será muito valorizada e praticada na Bíblia.
                Ainda no Monte Sinai, do meio da sarça ardente, Javé Deus disse expressamente a Moisés que, quando o povo saísse da escravidão do Egito, todos deveriam adorá-Lo. Por isso, várias vezes quando Moisés teve de falar com as autoridades egípcias e com os próprios israelitas, sobre o motivo pelo qual deviam sair do Egito, ele informava que era para poderem adorar a Deus.
                Deviam sair para adorar a Deus... Isto tudo é muito significativo. Tratava-se de salvar o povo da escravidão. Foi por escutar os seus clamores e ver os seus sofrimentos que Javé Deus desceu para libertá-los. Porém, depois de libertado, o povo deveria ser um povo adorador, para permanecer livre e não retornasse à casa da servidão. Percebemos nitidamente que a adoração do Deus Único e Verdadeiro tem a ver com liberdade e vida com dignidade. Já a idolatria sempre resulta em escravidão e morte.
                Na raiz da idolatria existe o endeusamento consciente ou inconsciente daquilo que não é Deus, sejam objetos, pessoas, ideologias, dinheiro, bens materiais ou espíritos imundos. O idólatra sempre vira as costas para o Deus da Vida e seu projeto de salvação e passa a viver na mentira que conduz à morte. Não podemos esquecer que o começo da escravidão do povo de Israel no Egito deu-se quando os irmãos de José o venderam por apenas vinte moedas de prata. Uma clara manifestação da inveja, maldade e adoração do dinheiro (Gn 37).
                “A invenção dos ídolos foi o começo da prostituição e a descoberta deles introduziu a corrupção na vida... Não bastou esses homens errar no conhecimento de Deus. Eles vivem também na grande guerra da ignorância. Celebram iniciações onde matam crianças ou realizam mistérios ocultos, ou ainda fazem banquetes orgiásticos com rituais estranhos... Por toda parte há uma grande confusão, sangue e crime, roubo e fraude, corrupção e deslealdade, revolta e perjúrio, perseguição contra os bons e esquecimento da gratidão, impureza das almas e perversão sexual... A adoração de ídolos sem nome é princípio, causa e fim de todo mal” (Sb 14,12ss).
                Só Deus merece a nossa adoração (Mt 4,10). Ela deve ser a primeira atitude do homem diante do seu Criador e Salvador. “Moisés caiu de joelhos por terra e adorou” (Ex 34,8).
                No Pai Nosso mais que uma fórmula para ser decorada, Jesus nos ensinou o modo como devemos nos colocar na presença do Pai Celeste. Rezamos: “Pai nosso que estás no céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu”. O Deus Criador é Pai e, portanto, a nossa primeira atitude diante d’Ele deve ser de filho e de adorador, reconhecendo e respeitando com reverência sua transcendência e santidade, buscando o seu reinado de salvação em primeiro lugar e nos abandonando à sua vontade que, com certeza, sempre corresponde à nossa verdadeira felicidade. A oração de adoração, mais do que por palavras, se manifesta muito em atitudes de profundo e respeitoso silêncio, reconhecimento, submissão e abandono filial ao Bom Deus.
                À mulher samaritana, Jesus disse: “Deus é espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e em verdade” (Jo 4,24). Na oração de adoração às vezes não se diz nada, às vezes está até cansado ou doente. Mas está ali, “em espírito e em verdade”, presente de corpo e alma diante do Deus Único e Verdadeiro, amando-O acima de todas as coisas, com acatamento reverencial, respeitoso silêncio, submissão absoluta e abandono que dizem tudo. Isto é o suficiente!
                A verdadeira adoração culmina na entrega da nossa vida ao “Eu Sou aquele que Sou” para permanecermos n’Ele e vivermos única e exclusivamente por Ele e para Ele. Por isso, diferente da idolatria, a adoração liberta e conserva a vida. Deus sem nós é Deus. Nós sem Deus somos nada. Precisamos mesmo adorar sempre. “Não aconteça que seu coração fique cheio de orgulho, e você se esqueça de Javé, seu Deus, que o tirou da casa da escravidão... Se você esquecer completamente Javé seu Deus, seguindo, servindo e adorando outros deuses, vocês morrerão” (Dt 8,14ss).












9º Encontro ____/ ____/ ____

Louvai o Senhor!

Sl 100

A oração de adoração nos coloca cheios de respeito, amor, temor, submissão e reverência diante do Bom Deus. Mais do que com palavras, trata-se de “simplesmente” estar na presença de Javé, reconhecê-LO e acatá-LO com reverência, abandonarmo-nos incondicionalmente em suas mãos de Pai Providente e Fiel. A adoração favorece uma forte consciência da presença sagrada de Deus, consciência esta necessária para uma saudável vida de oração como relacionamento pessoal com Ele.
                Na respeitosa reverência, submissão e abandono da vida a Deus, o adorador sente-se impelido a viver em comunhão com Ele, agradecê-LO, servi-LO, bendizer o seu Santo Nome, glorificá-LO em tudo que Ele É e realiza. “Vós sois grande, Senhor, e altamente digno de louvor: grande é o vosso poder, e a vossa sabedoria não tem medida... A despeito de tudo, o homem, pequena parcela da vossa criação, quer louvar-vos. Vós mesmos o incitais a isto, fazendo com que ele encontre suas delícias no vosso louvor, porque nos fizestes para vós e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em vós” (Santo Agostinho).
                Semelhante a adoração, o louvor que normalmente lhe sucede também é centrado em Deus e livre de interesses mesquinhos. Na adoração renunciamos os ídolos por causa de Javé-Deus. No louvor, tiramos a atenção de nós mesmos e a fixamos unicamente no Senhor. Porém, enquanto a adoração é caracterizada mais pelo colocar-se respeitosamente na presença de Deus e submeter-se absolutamente à sua vontade, o louvor, pela sua própria índole, é exultação, glorificação, enaltecimento, elogio, valorização, manifestação de alegria e expressão de estima por tudo que Deus É e por suas maravilhas de salvação (Ef 1,1-14).
                Saber que Deus é Deus e que está sempre com a gente, cheio de amor, fidelidade, ternura e compaixão, ter consciência desta Presença e experimentá-la, eis a razão que nos faz ficar maravilhados, cheios de júbilo e louvá-Lo, na mesma linha do que o Anjo Gabriel disse a Maria: “Rejubila-Te! Alegra-Te! O Senhor está contigo!” (Lc 1,28). Ao que Ela cantou em alta voz: “Minha alma proclama a grandeza do Senhor, meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador” (Lc 1,46s).
                Assim sendo, o louvor que nasce de um coração adorador cheio de júbilo só pode manifestar-se como verdadeira festa que glorifica o Nome do senhor com cânticos inspirados, palavras, danças, instrumentos musicais, aplausos, recitação de salmos, etc. (Ef 5,19; Col 3,16). No meio dos louvores Deus habita (Sl 22,4).
                O louvor deve impregnar nossa vida de oração para que ela não seja desviada erroneamente para algo de psicótico, com a marca da tristeza, do pessimismo, da derrota, da murmuração e do medo de Deus. A permanente oração  de louvor nos livra daquele jansenismo triste que nos faz enxergar a vida cristã como um fardo pesado a ser carregado mais por obrigação de costume adquirido do que como projeto divino que conduz à vida eterna, a qual começa já nesta terra e se prolonga por toda eternidade. Como sabemos, um cristão triste é um triste cristão. Por isso o Apóstolo Paulo exortava com vivacidade: “Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito: alegrai-vos!” (Fil 4,4).

Aleluia!
Cantem para Javé um cântico novo!
Cantem seu louvor
Na assembléia dos fieis!
Alegre-se Israel com o seu Criador,
Os filhos de Sião festejam o seu Rei!
Louvem o seu nome com danças,
Toquem para ele a cítara e o tambor!
Sim! Porque Javé ama o seu povo,
E enfeita os pobres com vitória.
Que os fieis festejem a glória dele,
Em filas, cantem jubilosos! (Sl 149)

                Embora a oração de louvor tenda a ser expressa sempre com júbilo e alegria, como toda oração cristã, ela só tem sentido se brotar realmente das profundezas do nosso ser. “Bendiga a Javé, ó minha alma, e todo o meu ser ao seu nome santo! Bendiga a Javé, ó minha alma, e não esqueça nenhum dos seus benefícios” (Sl 103,1-5). O valor de um louvor não está na variedade de gestos, músicas ou palavras, mas na mística interior. Porém, relembramos que louvor não é reflexão, nem contemplação, nem meditação.
                Em nossa vida de oração pessoal ou comunitária, jamais nos esqueçamos de reservar um bom tempo para o louvor de Deus. A Igreja nos ensina que o louvor é a forma de oração que reconhece o mais imediatamente possível que Deus é Deus! Canta-O pelo que Ele É. Participa da bem-aventurança dos corações puros que o amam na fé antes de o verem na Glória. O louvor integra as outras formas de oração e as leva Àquele que é sua fonte e termo filial: “O único Deus, o Pai, de quem tudo procede e para quem nós somos feitos” (1Cor 8,6). (CIC 2639).
                O nosso Deus merece harmonioso louvor (Sl 147,1). Harmonioso pressupõe não de qualquer jeito, mas com o melhor que temos a oferecer, mesmo quando isto nos custe certo sacrifício. O ministério de música deve dar o melhor de si. Também o dirigente, o ministro de oração, todos os demais servidores e cada fiel da assembléia... O melhor do tempo, as palavras mais carinhosas do coração, etc.
                Na oração de louvor a Deus:

- Louvai o seu Santo Nome (Sl 34,4)
- Louvai-O pelo que Ele É em si mesmo (Sl 145)
- Louvai-O pelo modo como se manifesta na natureza (Eclo 43, 1-33), na vida (Eclo 50,22-24; Sl 103, 1-5) e nos acontecimentos da história (Lc 1,46-55; Lc 1,67-79; Ef 1,3-14).

                A adoração molda em nós um estilo de vida cristã e é a mística subjacente à própria obediência aos preceitos divinos desde a criação do mundo. Por isso, o louvor que a acompanha também inclui as obras da nossa vida como um todo, não só nos momentos explícitos de oração. De fato, pertencemos ao Senhor. Portanto, não só devemos louvar a Deus. Nossa vida toda deve ser um louvor a Deus. É este o culto autêntico do qual nos falava o Apóstolo Paulo: “Exorto-vos, portanto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito” (Rm 12,1-2). Louvai ao Senhor com aplausos, com júbilo, com dança e tambor... Louvai ao Senhor com a vida do dia-a-dia! Isto tudo nos livra da vaidade (louvor a si mesmo) e da hipocrisisia (oração dissociada da vida)!









10º Encontro ____/ ____/ ____

Bênção Divina: a quem pede, Deus concede!

1Jo 5,13-15

“A bênção exprime o movimento do fundo da oração; é o encontro de Deus e do homem; nela o dom de Deus e a acolhida do homem se chamam e se unem. A oração de bênção é a resposta do homem os dons de Deus: uma vez que Deus abençoa, o coração do homem pode bendizer Aquele que é fonte de toda bênção.
   Duas formas fundamentais exprimem esse movimento da bênção: ora ela sobre, levada no Espírito Santo por Cristo ao Pai (nós o bendizemos por nos ter abençoado) (Ef 1,3-14; 2Cor 1,3-7; 1Pd 1,3-9); Ora ela implora a graça do Espírito Santo, que, por Cristo, desce de junto do Pai (é ele que nos abençoa) (2Cor 13,13; Rm 15,5-6.13; Ef 6,23-24)” (CIC 2626s).
   Deus existe... A própria razão enxerga esta verdade da fé. A fé em Deus é racional. Ele é bom e é natural que abençoe...
   É sempre assim o que a fé bíblica nos ensina: o Deus que prova para nos fazer crescer, também providencia. Ele é sumamente Bom e Fiel, nunca nos abandona e a sua bênção é a provisão que Ele tem reservado para nós no seu sagrado coração, a fim de que vivamos com dignidade a vida verdadeira para a qual Ele nos criou. Por isso, podemos rezar com o salmista: “O Senhor é o meu pastor e nada me faltará!” (Sl 23,1).
   Em Fanuel, Jacó, sabedor da promessa de Deus, tomou posse desta bênção num misterioso combate espiritual. Mas antes de abençoá-lo, o Senhor feriu seu egoísmo e o seu orgulho na coxa, pois só aos humildes que se abaixam diante da sua poderosa mão é que Ele levanta e concede a sua graça (Gn 32,23-33; 1Pd 5,6).
   Da plenitude de Cristo todos nós recebemos “graça por graça”, “bênção sobre bênção” (Jo 1,16), porque Ele é o Emanuel, “Deus Conosco” (Mt 1,23). “Nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade e nele fostes levados à plenitude” (Col 2,9). “Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo: Ele nos abençoou com toda bênção espiritual em Cristo” (Ef 1,3).
   Crer que Deus está conosco, é Justo, Providente e Fiel significa acreditar que Ele é Bom e Fonte de todo Bem. Realmente, “toda dádiva boa e todo dom perfeito descem do céu, do Pai dos astros” (Tg 1,17). Mediante a fé que se transforma em oração, todos são convidados a provar e ver como Ele é Bom (Sl 34,9), a fazer a experiência da sua bondade, “pois para isto fostes chamados: para serem herdeiros da bênção” (1Pd 3,9).
   A herança que o Bom Deus tem reservado para         cada um de nós no seu Sagrado Coração é a sua bênção.

A Bênção Divina é:

- A manifestação da bondade e do amor de Deus. A bênção de Deus é viva e eficaz, pois realiza aquilo que enuncia. Quando Deus pronuncia uma bênção ela traz dentro de si todo amor do seu bondoso coração e faz com que venha à existência aquilo que já foi concedido. Na criação Deus pronunciou palavras de bênção e tudo de bom foi surgindo do nada: “Haja luz, e houve luz...” (Gn 1,3).

- É proteção (Nm 6,24).

- É piedade, é misericórdia (Nm 6,25).

- É paz (shalom), é vida em abundância (Nm 26; Jo 10,10).

- É auxílio, socorro e favor: “Se o Senhor não constrói a casa, em vão trabalham os pedreiros. Se o Senhor não guarda a cidade, em vão vigiam as sentinelas” (Sl 126,1).

- A própria mão de Deus sobre nós (Ne 1,10).

- A presença de Deus em nosso meio na pessoa de Jesus de Nazaré, o Emanuel, Deus Conosco (Mt 1,23).

- É dada aos que temem (Sl 128): “No temor do Senhor o justo encontra apoio sólido; seus filhos nele encontrarão abrigo. O temor do Senhor é fonte de vida para escapar aos laços da morte” (Pv 14,26-27).

- É dada aos humildes e aos que confiam no seu poder: “Deus resiste aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes. Abaixem-se diante da poderosa mão de Deus, a fim de que no momento certo ele os levante. Coloquem nas mãos de Deus qualquer preocupação, pois é ele quem cuida de vocês” (2Pd 5,5-6; Pr 3,34).

Na oração do Pai Nosso Jesus nos ensina a como nos colocar na presença do Pai Celeste e o que pedi-lo de todo coração. Mais do que para ser decorada, a oração do Pai Nosso possui o estilo da oração verdadeiramente cristã e o modo pelo qual, com amor filial, tomar posse da plenitude da bênção divina: o pão de cada dia, o perdão dos pecados, segurança nas tentações e libertação de Satanás e suas obras.
   Oremos com fé. A quem pede, Deus concede! O Catecismo da Igreja Católica ensina (2613):
Três parábolas principais sobre a oração nos são transmitidas por São Lucas.
A primeira, “o amigo importuno” (Lc 11,5-13), convida a uma oração persistente: “Batei e se vos abrirá” Àquele que assim ora, o Pai do céu “dará tudo o que precisa”, sobretudo o Espírito Santo, que contém todos os dons.
A segunda “a viúva importuna” (Lc 18,1-8), focaliza uma das qualidades da oração: é preciso rezar sempre sem esmorecimento, com a paciência da fé. “Mas, quando vier o Filho do homem, acaso encontrará fé na terra?”
A terceira parábola, “o fariseu e o publicano” (Lc 18,9-14), refere-se à humildade do coração que reza. “Meu Deus, tem piedade de mim, pecador”. Essa oração a Igreja constantemente torna sua: “Kyrie eleison!”
  
Persistência, perseverança, fervor e humildade são atitudes de fé que devemos ter diante do trono da Majestade Divina. Quem assim se comporta, realmente está desejoso e disponível a receber as suas bênçãos, visto que Ele não joga sua graça no lixo. Não é de estranhar que quem reza pouco ou de modo frio não receba as graças desejadas. Quem reza mal ou pouco demais se compara a Caim que ofertou frutos podres e foram imediatamente rejeitados pelo Criador. Deus não gosta de sobejo e nem é mendigo. Temos que ser como Abel; dedicar-lhe orações generosas, de coração. Estas sim, subirão como incenso aos céus e tocarão o seu coração. As comportas serão abertas e as bênçãos serão derramadas.
   “O vocabulário referente à suplica tem muitas matizes no Novo Testamento: pedir, implorar, suplicar com insistência, invocar, clamar, gritar e mesmo “lutar na oração” (Rm 15,30; Cl 4,12). (CIC 2629). Deus tem muito a nos conceder e deseja que O peçamos de um modo correto, uma vez que continuamos peregrinando na face da terra no cumprimento da nossa missão e fomos destinados a ser “herdeiros da bênção”. “Deus é generoso e dá sem impor condições. Todavia, é preciso pedir com fé, sem duvidar, porque aquele que duvida é como a onda no mar, que o vento leva de um lado para o outro.“Quem é assim, não pense que vai receber alguma coisa do Senhor, pois é indeciso e instável em tudo o que faz” (Tg 1,55ss).
   “Dirigimo-nos a Deus com a confiança de que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos escutará. E se sabemos que nos escuta quando lhe pedimos, sabemos que contamos com o que pedimos” (1Jo 5,14). A vontade de Deus sempre corresponde à nossa verdadeira felicidade. Tudo isso nos ensina a orar com fé na Providência Divina e determinação, na certeza de que Deus nos ouve e não nos abandonará. Por experiência própria, eu testemunho na minha vida e de outras pessoas as bênçãos que foram alcançadas depois que oramos com fé e determinação. Não poucas vezes Deus nos concede muito mais do que pedimos, pois Ele “é generoso e dá sem impor condições”.
   Jabes orou com fé e recebeu o que pediu a Deus. “Peço que me abençoes, aumentando minhas terras, protegendo-me com tua mão, afastando de mim o mal e pondo fim à minha dor” (1Cr 4,9-10). Acrescentemos sempre a esta oração de Jabes: “Em Nome de Jesus!”. “Até agora nada pedistes em meu Nome. Pedi e recebereis, e vossa alegria será completa” (Jo 16,24).

XXX

   Quando pedimos ao Bom Deus em favor de outra pessoa, esta oração se chama intercessão.
   “Interceder, pedir em favor de outro, desde Abraão, é próprio de um coração que está em consonância com a misericórdia de Deus. No tempo da Igreja, a intercessão cristã participa da de Cristo; é a expressão da comunhão dos santos. Na intercessão, aquele que ora “não procura seus próprios interesses, mas pensa, sobretudo nos dos outros” (Fl 2,4) e reza mesmo por aqueles que lhe fazem mal” (At 7,60; Lc 23,28.34). (CIC 2635).











11º Encontro ____/ ____/ ____

Salvos na esperança!

Rm 8,18-27; ou Tg 1,2-4

A salvação é a grande graça de Deus para o homem, visto que ele não pode se salvar sozinho. (Ef 2,8ss) Mas, em que consiste esta salvação? Da mesma forma que o mal não é uma abstração, mas uma doença que atrofia e mata o homem a partir das entranhas do seu ser, a salvação nem é algo só para a alma, é para o homem todo, e nem é algo só para depois, só para a eternidade. Salvação é dom de Deus para que o homem todo seja redimido do pecado e volte a ser completamente saudável, a ter a saúde do corpo, da alma e do espírito, assim como era antes do pecado original. Por isso, ao vir a este mundo, o Enviado por Deus para salvar o homem recebeu o nome de Jesus, Ieshuá (Mt 1,21), porque Ele veio para salvar o homem do pecado e das consequências do pecado. Ao falar da sua missão, Jesus dizia que veio a este mundo não para condená-lo, mas para salvá-lo. Ele veio para destruir as obras dos demônios e para que todos tenham vida.
Desta forma, na palavra salvação estão incluídas todas as bênçãos de Deus para o homem ter saúde e vida em plenitude: conversão, remissão dos pecados, justificação, libertação dos demônios, batismo no Espírito, santificação, cura das enfermidades, renovação interior, paz, alegria e prosperidade. Da plenitude de Cristo todos nós recebemos bênçãos sobre bênçãos. (Jo 1; Ef 1)
Deus nos salva na nossa história. Por isso a graça da salvação não deve ser compreendida como um fato isolado na nossa vida, mas como um grande processo de santificação, cura e libertação, com passado, presente e futuro: fui salvo, estou sendo salvo e vou ser salvo cada vez mais, até ser completamente realizado no Reino dos Céus por toda eternidade. O Deus que nos criou sozinho decidiu não nos salvar sozinho. Ele precisa da nossa participação, o que só é possível ao longo do tempo. Ao nos salvar, na verdade, Jesus nos coloca em um processo de salvação que começa com a conversão e a fé, passa pelo perdão dos pecados e o batismo no Espírito Santo, e tem por fim a nossa plena realização humana e cristã não só neste mundo, mas por toda eternidade. Em todo este processo, Deus espera de nós a fé, a humildade e o acatamento da sua vontade, a qual sempre é o melhor para a nossa verdadeira felicidade.

Salvação e bênção

Para Deus nada é impossível e tudo é possível para aquele que crê. Mas quem acredita no Deus do Impossível jamais pode querer estar sobre Ele ou buscá-lo egoisticamente mais pelo que Ele pode nos oferecer do que por Ele mesmo. Isso seria paganismo, e nada de cristianismo. Nas nossas orações, antes de tudo, sempre devemos “pedir Deus a Deus”, como nos ensina São Francisco de Assis.
A graça da salvação inclui todas as bênçãos de Deus para o homem, mas Ele é livre em dispor os seus bens conforme lhe apraz, sempre de acordo com a sua vontade e com o seu projeto de salvação. Confiar em Deus é, antes e acima de tudo, confiar na sua vontade e a Ele se abandonar como um filho nos braços do Pai. Aqui está o princípio da verdadeira paz: Abandonar-se à vontade de Deus. Sobre isso, Jesus nos ensinou a rezar: “Pai nosso, que estais nos céus, santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu.” (Mt 6,9-13)
O Deus que criou o universo e que tem o nosso nome tatuado na palma da sua mão, tem um Projeto de Salvação que ele vai realizando ao longo da história com a nossa participação. Desta forma, ao suplicarmos as suas bênçãos com fé e devoção, também sempre devemos nos colocar em sintonia com este Projeto e esperar na sua Divina Providência, crendo que tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus. (Rm 8,28) “Escrevo tudo isso para que vocês, que acreditam no nome do Filho de Deus, estejam certos de que têm Vida eterna. Ao nos dirigirmos a Deus, podemos ter esta confiança: quando pedimos alguma coisa (bênção) conforme o seu projeto, ele nos ouve. E, se sabemos que ele nos ouve em tudo o que lhe pedimos, estamos certos de que já obtivemos o que lhe havíamos pedido.” (1Jo 5,13-15) De modo que para receber é necessário saber pedir. (Tg 4,1-10)

Perseverar no Caminho da Salvação

Considerando que a salvação é o projeto de Deus para o homem todo e para todos os homens, que requer a nossa conversão, a nossa fé e a nossa cooperação de modo permanente na luta contra o mal, precisamos perseverar no Caminho da Verdade e da Vida, crendo firmemente na promessa de Deus, porque somente aquele que perseverar até o fim é que será salvo. (Mt 24,13; Tg 1,4))
A esperança é a “a fé multiplicada pelo tempo”. No decorrer da caminhada, da qual o Deus que decidiu não nos salvar sozinho não abre mão, o homem é tentado a se afastar da fé e voltar para a terra da escravidão. A esperança é a virtude que Deus nos concede para seguirmos adiante no projeto da nossa salvação pessoal, familiar e comunitária, pois não teríamos força suficiente para chegar até o fim e alcançar a vitória. “Pela esperança, o homem colabora ativamente (com Deus), esperançoso, ao passo que o desespero ou a sua variante, a resignação, pode paralisar”. (Schokel)
É caminhando e orando com esperança que a gente se coloca sob a vontade de Deus e dentro do seu projeto de salvação, confiando na sua Palavra, esperando na sua promessa e cooperando com Ele para que a mesma seja realizada. “Sede zelosos e diligentes, fervorosos de espírito, servindo sempre ao Senhor, alegres por causa da esperança, fortes nas tribulações, perseverantes na oração!” (Rm 12,12)
Bento XVI, na Encíclica Spe Salvi, sobre o sentido da Esperança Cristã, ensinava: “É na esperança que fomos salvos: diz São Paulo aos Romanos e a nós também (Rm 8,24). A ‘redenção’, a salvação, segundo a fé cristã, não é um simples dado de facto. A redenção é-nos oferecida no sentido que nos foi dada a esperança, uma esperança fidedigna, graças à qual podemos enfrentar o nosso tempo presente: o presente, ainda que custoso, pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho.”
Esta compreensão de que somos salvos na esperança nos ajuda a fugir do infantilismo e do paganismo na oração, pois entendemos que mesmo quando Deus não nos concede uma determinada bênção que suplicamos, Ele nos abençoa de muitas outras maneiras e está operando o grande projeto da nossa salvação da forma que mais lhe apraz. Isto é ter fé cristã verdadeira. Uma fé que se multiplica pelo tempo e não esvanece. Um fé esperançosa e perseverante. Sempre confiando, sempre esperando e sempre cooperando com Aquele que sempre quer o nosso bem e da humanidade inteira, muito além do que possamos compreender ou imaginar. Por isso que muitas vezes não sabemos nem rezar como convém e o Espírito Santo vem em nosso socorro e ora em nós com gemidos inefáveis. Porque o Espírito conhece Deus e ora em nós conforme a vontade e o projeto de Deus. (Rm 8,26ss) A oração em línguas é uma grande oração da esperança e que nos coloca sob a vontade de Deus e dentro do seu projeto de salvação. Por isso ela edifica tanto a pessoa que ora e toda comunidade, sempre para além do que podemos compreender ou imaginar!












12º Encontro ____/ ____/ ____

Oração de Bênção

Ef 1,3-14; ou Tg 4,1-10

A oração cristã não é um “palavreado” mesquinho e paganizado com o intuito de simplesmente arrancar de Deus o que Ele tem a nos oferecer ou aplacar a sua ira e o seu castigo. Não foi assim que Jesus nos ensinou a rezar. O fim da oração é o próprio Deus e a nossa plena realização humana e cristã. Como ensinava Santo Antônio de Pádua, o primeiro passo da oração é “pedir Deus a Deus”.
Graça de Deus e natureza humana (vontade, consciência, sentimento, liberdade) estão sempre em íntima relação e cooperação. A oração não é uma atividade a mais na vida cristã, mas o próprio coração da espiritualidade. É um relacionamento livre e consciente com o Deus Bendito da Aliança. Oração é uma mística comunhão de amor entre Criador e criatura. Compreender a oração desta forma nos ajuda a orar como Jesus orava e a viver como Jesus vivia, pois se vive como se ora e ora como se vive. De partida, devemos nos livrar definitivamente de dois desvios da oração verdadeiramente cristã: o infantilismo e o paganismo.

Deus é Bom

Deus é Bom, esta é a grande conclusão de todos aqueles que fizeram a experiência do seu amor, poder, ternura e compaixão. A Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse, é um grande testemunho da bondade de Deus para com a humanidade inteira e de que Ele é o próprio Bem por excelência, o Sumo Bem. O Salmista rezava: “Provai e vede como o Senhor é Bom, feliz o homem que nele se abriga!”
Todo bem vem única e exclusivamente de Deus; tudo o que vem de Deus é bom e a manifestação da sua bondade é bênção sobre bênção. Por isso, da plenitude de Cristo, a plena manifestação do amor de Deus, recebemos bênção sobre bênção e um amor que corresponde ao seu amor (Jo 1,16). Nele, o Pai Celeste nos abençoou com bênção espiritual de toda sorte desde quando nos criou e nos predestinou para sermos seus filhos conforme a benevolência da sua vontade (Ef 1,3-14).
Oração de Bênção

Desta forma, na espiritualidade cristã a “bênção exprime o movimento de fundo da oração; é o encontro de Deus e do homem; nela o dom de Deus e a acolhida do homem se chamam e se unem. A oração de bênção é a resposta do homem aos dons de Deus: uma vez que Deus abençoa, o coração do homem pode bendizer Aquele que é a fonte de toda bênção. Duas formas fundamentais exprimem esse movimento da bênção: ora ela sobe, levada no Espírito Santo por Cristo ao Pai (nós O bendizemos por nos ter abençoado) (Ef 1,3-14; 2Cor 1,3-7; 1Pd 1,3-9); ora ela implora a graça do Espírito Santo, que, por Cristo, desce de junto do Pai (é Ele que nos abençoa) (2Cor 13,13; Rm 15,5-6.13; Ef 6,23-24).” (CIC, 2626s)
A grande Graça da oração é a Bênção de Deus. E a maior bênção é Deus mesmo. Nós O bendizemos, louvamos, adoramos e agradecemos.  E n’Ele somos salvos, amados, vivificados, perdoados, curados e protegidos.  É neste sentido, na perspectiva da glória de Deus e da nossa plena realização, para que tenhamos vida, e vida em abundância, que a verdadeira oração cristã é sempre uma oração de bênção.
“Cresçam para a salvação, pois já provaram que o Senhor é bom”, exortava o Apóstolo Pedro na sua primeira carta aos cristãos (1Pd 2,2). A oração cristã sempre deve ser posta dentro deste horizonte da bondade de Deus e na perspectiva da salvação, no plano do Ser... Oração de Bênção não se limita a pedir as bênçãos de Deus. Inclui estes pedidos, mas vai sempre além. O principal é ser plenamente realizado e viver com dignidade a vida verdadeira de um filho de Deus, pois foi para isto que formos predestinados, a ser o louvor da sua glória!
Compreender a oração cristã sob a égide da bênção e no plano do ser nos livra das tentações, do infantilismo e do paganismo. Fomos criados para Deus e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em Deus (Santo Agostinho). Somos filhos e herdeiros diante do Pai. O mais importante é Deus mesmo, o seu amor, o seu carinho e a sua ternura. Sabemos que não estamos sozinhos e nele podemos confiar. Ele nos alimenta e refontiza a nossa vida. Fazemos os nossos pedidos, apresentamos as nossas necessidades. Pedimos a sua bênção. Uma vez que Ele nos ama e nunca nos abandona, o resto não tem pressa. Buscamos o seu reinado de salvação na nossa vida e, no seu tempo, conforme a sua vontade, tudo de bom nos será acrescentado.  A sua vontade é sempre o melhor para a nossa felicidade.
Estar com Deus já é uma grande bênção de Deus. “Não sou digno Senhor que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e serei salvo”. Antes de tudo, “pedimos Deus a Deus”. Acima de tudo, queremos Deus mesmo, não só aquilo que Ele tem a nos oferecer. Esta mentalidade cristã acerca da oração nos ajuda a ter um relacionamento sadio com Aquele que é o Tudo, a Fonte e o Sentido da nossa vida. A oração cristã nos faz não só ter a bênção de Deus, mas viver na bênção de Deus e ser uma bênção de Deus. Por isso o primeiro movimento da oração de bênção é o bendizer a Deus. Num segundo momento, é Ele quem nos abençoa. Devemos cultivar o hábito cristão de antes de só pedir, louvar e agradecer. Deus é glorificado e o homem é edificado! “Bendito seja o Deus e pai de nosso Senhor Jesus Cristo: Ele nos abençoou com toda bênção espiritual, no céu, em Cristo.” (Ef 1,3)

Bênção e vida em plenitude

“Ser bom”, devemos entender tanto no campo da ética e da missão: ser virtuoso, fazer o bem, ser um canal da bênção de Deus para a humanidade (Gn 12,3). Mas também devemos ‘entender este “ser bom” no sentido originário de ser saudável, no sentido de viver com saúde, na paz e na felicidade, assim como o homem vivia antes do mal e a morte terem entrado na história através do pecado original. Ser bom é ter qualidade de vida, é viver com dignidade como filho e filha de Deus.
Esta é a nossa confiança filial: Deus é Bom e Deus nos quer o bem. Deus nos criou bons e Deus nos quer bons e saudáveis novamente. A bênção é a bondade de Deus em nosso favor. Ela nos salva do pecado e devolve a nossa saúde por um processo de cura (destruição do verme e eliminação da doença) e libertação (expulsão de todos os males, vícios e demônios).
A bênção é o poder e o amor do Deus Bendito da Aliança agindo na nossa vida. A cura e a libertação é o processo e a operação (a graça operando). A salvação e a saúde são o resultado (voltamos a ser bons, saudáveis e felizes da vida). Mas a oração filial e confiante é a condição fundamental, pois Deus sempre respeita a nossa liberdade e exige a nossa cooperação. “O Deus que nos criou sozinho decidiu não nos salvar sozinho” (Santo Agostinho). A oração é cooperação e o consentimento da nossa liberdade à ação de Deus. Quem estende a mão, é porque antes já abriu o coração. Deus não costuma jogar a sua graça no lixo. “Nosso Pai sabe do que precisamos, antes de lho pedirmos (Mt 6,8), mas espera nosso pedido porque a dignidade de seus filhos está precisamente em sua liberdade” (CIC 2736).
Além de havermos de pedir os favores de Deus com confiança filial, devemos também suplicar com coração indiviso.
“Não possuís porque não pedis. Pedis, mas não recebeis, porque pedis mal, com o fim de gastardes nos vossos prazeres” (Tg 4,2-3).  Se pedimos com um coração dividido, “adúltero”, Deus não nos pode ouvir, porque deseja o nosso bem, nossa vida. “Ou julgais que é em vão que a Escritura diz: Ele reclama com ciúme o espírito que pôs dentro de nós (Tg 4,5)?” Nosso Deus é “ciumento” de nós, o que é o sinal de seu amor.
Entremos no desejo de seu Espírito e seremos ouvidos: “Não te aflijais se não recebes imediatamente de Deus o que pedes: pois Ele quer fazer-te um bem ainda maior por tua perseverança em permanecer com Ele na oração. Ele quer que nosso desejo seja provado na oração. Assim Ele nos prepara para receber aquilo que Ele está pronto a nos dar” (Santo Agostinho).
A revelação da oração na economia da salvação nos ensina que a fé se apóia na ação de Deus na história. A confiança filial é suscitada por sua ação por excelência: a Paixão e a Ressurreição de seu Filho. A oração cristã é a cooperação com sua Providência., com seu plano de amor para os homens.
Em São Paulo, esta confiança é audaciosa (Rm 10,12-13), fundada na oração do Espírito em nós e no amor fiel do Pai, que nos deu seu Filho único (Rm 8,26-39). A transformação do coração que reza é a primeira resposta a nosso pedido.
A oração de Jesus faz da oração cristã uma súplica eficaz. É Ele o seu modelo. Jesus reza em nós e conosco. Já que o coração do Filho não busca senão o que agrada ao Pai, como haveria (o coração dos filhos adotivos) de apegar-se mais aos dons do que ao Doador?
Jesus também reza por nós, em nosso lugar e em nosso favor. Todos os nossos pedidos foram recolhidos uma vez por todas em seu Grito na Cruz e ouvidos pelo Pai em sua Ressurreição, e por isso Ele não deixa de interceder por nós junto ao Pai (Hb 5,7; 7,25; 9,24). Se nossa  oração está resolutamente unida à de Jesus na confiança e na audácia filial, obteremos tudo o que pedimos em seu nome; bem mais do que pequenos favores, receberemos o próprio Espírito Santo, que possui todos os dons. (CIC 2737s)

Sinais da bênção

A bênção divina é um processo porque fazer o bem, muito mais do que dar algo, é interagir com a pessoa. O que Deus quer mesmo é ter o homem consigo, da mesma forma como uma mãe gosta de ter o filho ao seu lado. Não se trata de escravidão, mas de verdadeiro relacionamento de amizade fundamentado no amor e na gratuidade. A cultura mercantilista não entende esta linguagem do amor. Mas esta é a linguagem de Deus em tudo que Ele é (uma Comunidade de Amor, Pai, Filho e Espírito Santo) e em tudo o que Ele faz.
O Deus que poderia ter criado o mundo numa fração de segundo, preferiu fazê-lo processualmente ao longo de seis dias, e no sétimo dia descansou. E o homem, destinatário final da sua bênção, foi o último a ser criado. Sinal de que todo o universo foi feito como um grande lar para a sua felicidade. Se Deus tivesse feito tudo junto e de uma só vez, não teria dado este sinal do seu grande amor pela humanidade, amor este acima de todos os outros amores que Ele também dispensa para com os outros seres da natureza. Ao contemplar este sinal do amor de Deus na bênção da criação, o Salmista vai rezar: “Javé, Senhor nosso, como é poderoso o teu nome em toda terra. Quando contemplo o céu, obra de teus dedos, a lua e as estrelas que fixastes... O que é o homem, para dele te lembrares? O ser humano, para que o visites? Tu o fizeste pouco menos do que um deus, e o coroaste de glória e esplendor. Tu o fizeste reinar sobre as obras de tuas mãos, e sob os pés dele tudo colocastes. Javé, Senhor nosso, como é poderoso o teu nome em toda terra” (Sl 8). Quem reza deste jeito é porque entendeu o sinal do amor de Deus na bênção da criação, tomou posse e cresceu na amizade com o Criador.
Também vemos nas obras que Jesus realizou esta linguagem do amor de Deus que interage com o homem ao abençoá-lo, respeita a sua liberdade, pede a sua cooperação e lhe chama para a comunhão.
Os cidadãos da Decápole diziam: “Jesus faz bem todas as coisas” (Mc 7,37). O Apóstolo Pedro testemunhava que por onde Jesus passou, “Ele só fez o bem”. Jesus só fazia o bem e Jesus fazia bem todas as coisas, mas sempre de um modo processual, como vemos, por exemplo, na cura do mudo da Galiléia (Mc 7,31) e do cego da piscina de Siloé (Jo 9), no diálogo com a Samaritana (Jo 4) e na cura do cego de Betsaida (Mc 8,22).
No primeiro caso, a cura do mudo, Jesus proclama o “Efatá”, ou seja, a necessidade de se abrir para a graça de cura.
No último caso, a cura em Betsaida, após adentrar na cultura do pobre cego (cuspiu nos olhos dele), Jesus colocou as mãos sobre ele uma primeira vez e perguntou: “Você está vendo alguma coisa?” O homem levantou os olhos e disse: “Estou vendo homens, parecem árvores que andam”. Então Jesus pôs de novo as mãos sobre os olhos dele, e ele enxergou claramente. “Ficou curado e enxergava todas as coisas com nitidez, mesmo de longe”. Deus faz a sua obra com a nossa cooperação (Efatá) e processualmente , sempre na perspectiva da nossa salvação integral. Precisamos cooperar neste processo através da fé e da oração. Por isso, é importante confiar em Deus em primeiro lugar, abrir-se interiormente, tomar consciência dos primeiros sinais da sua bênção (vejo homens como árvores), tomar posse, continuar confiando e continuar cooperando. Então, a bênção vai evoluindo, até ser completamente realizada (o homem ficou completamente curado e enxergava todas as coisas com nitidez).
Jesus é Salvador, não curandeiro. Vemos acima que, no mesmo tempo que os olhos do homem eram curados, o homem todo também estava sendo curado, ele estava saindo realmente das trevas para a luz, da morte para a vida, e não só da cegueira para a visão. É isto o que interessa a Deus: A nossa salvação completa, não só a cura de um órgão do corpo. Sua bênção de cura é mais que milagre, é sinal do seu amor e do seu poder. Mais também é um forte apelo para a nossa conversão e um chamado para a vida em comunhão com Ele.
Tomando consciência e posse dos primeiros sinais da bênção de Deus, deixemo-nos moldar completamente pelo seu amor, para vivermos uma vida nova. Isto é importante porque este é o jeito e o propósito de Deus ao nos abençoar desde os tempos da criação. De modo que, quando não tomamos consciência dos primeiros sinais da sua bênção e do seu amor, desperdiçamos a graça e também nos distanciamos dele e do seu projeto.  Jesus impôs as mãos por duas vezes. Se aquele cego não tivesse tomado consciência de que ver os homens de forma embaça, de modo que pareciam como árvores, já era o começo da bênção, não teria tomado posse da mesma, não teria continuado a cooperar com Jesus Salvador, que estava interagindo com ele e portanto, não teria sido completamente curado e salvo











13º Encontro ____/ ____/ ____

A bênção da cura da culpa dos pecados

Rm 8,1-39; ou Sl 51; ou Jo 20,21-23


Fomos criados à “imagem e semelhança de Deus”. Portanto, somos bons por natureza. Porém, esta nossa natureza humana foi ferida pelo pecado e passou a ter uma tendência para o mal que destrói a vida e afasta do Criador: “Pela desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores” (Rm 5,19).
Podemos dizer com Apóstolo Paulo: “Muitas vezes deixo de fazer o bem que quero e acabo fazendo o mal que não quero”. Esta nossa inclinação para o mal, que é chamada de concupiscência, é um conjunto de instintos egoístas que nos fazem pecar e atrapalham bastante a nossa comunhão com Deus: FORNICAÇÃO, IMPUREZA, LIBERTINAGEM, IDOLATRIA, FEITIÇARIA, ÓDIO, DISCÓRDIA, CIÚME, RIVALIDADE, SECTARISMO, INVEJA, BEBEDEIRA, ORGIAS e outras coisas semelhantes(Gl 5,19ss).
Quanto mais pecamos, mais compactuamos com essas forças malignas e delas nos tornamos dependentes (viciados). É preciso, pois, realizar um verdadeiro combate espiritual: “E a esperança não engana, pois o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”(Rm 5,5).
Todos os males que nos afligem possuem a sua origem, direta ou indiretamente, no pecado. É preciso curar esta doença que nos atormenta, “pois o salário do pecado é a morte”(Rm 6,23).
Só Deus pode perdoar e curar a alma da doença do pecado. E Jesus transmitiu esse ministério da reconciliação aos apóstolos e seus sucessores, a fim de que continuassem perdoando os cristãos em seu nome: “Os pecados daqueles que vocês perdoarem, serão perdoados. Os pecados daqueles que vocês não perdoarem, não serão perdoados”(Jo 20,23).
A celebração do perdão de Deus através do ministério do Sacerdote é o Sacramento da Reconciliação ou Confissão.
No Salmo 51 encontramos os passos fundamentais da nossa caminhada de pecador em busca do perdão do Deus Bendito da Aliança:

1º Passo: RECONHECIMENTO DA INCLINAÇÃO PARA O MAL. “Eis que eu nasci na culpa, e minha mãe já me concebeu pecador”(v.7). Toda pessoa humana possui uma natureza ferida pelo pecado e por isso, é inclinada para o mal. “Muitas vezes deixo de fazer o bem que quero e acabo fazendo o mal que não quero”. Deve-se desejar e pedir a cura de todas as forças pecaminosas que devem ser arrancadas do mais profundo do nosso ser;

2º Passo: CONFIANÇA NO AMOR DE DEUS. “Tende piedade de mim, ó Deus, por teu amor! Por tua grande compaixão, apaga a minha culpa!”(v.1). O reconhecimento do amor de Deus impulsiona o pecador a viver uma vida nova(conversão). Jesus é a plena manifestação do amor de Deus, pois ele derramou o seu sangue na cruz para a remissão dos nossos pecados;

3º Passo: CONTRIÇÃO DO CORAÇÃO. “Meu sacrifício é um espírito contrito. Um coração contrito e esmagado tu não o desprezas.”(v.19). A contrição consiste “numa dor da alma e detestação do pecado cometido, com a resolução de não mais pecar no futuro.” Contrição é arrependimento que gera vida nova. Não é remorso que cai no desespero mas não transforma em nada os nossos objetivos, vícios e atitudes pecaminosas. Embora o mundo possa influenciar a Satanás faça tentações, o homem deve assumir e chorar a culpa do seu pecado e não ficar sempre se lastimando como se fosse uma eterna vítima;

4º Passo: CONFISSÃO DOS PECADOS. “Porque eu reconheço a minha culpa, e o meu pecado está sempre na minha frente; pequei contra tu, somente contra ti, praticando o que é mau aos teus olhos. Tu és justo, portanto, ao falar, e, no julgamento, serás o inocente”(vv.5s). Além de reconhecer a culpa dos pecados, o homem se humilha e confessa cada fraqueza diante de Deus. Sobretudo quando se trata de pecado mortal, a confissão favorece que o coração se abra novamente para a comunhão com Deus, visto que estava fechado no seu próprio egoísmo. A confissão facilita a conversão, pois é um modo de jogar para fora a doença que estava contaminando por dentro. Diante do sacerdote, o penitente confessa os seus pecados, sabendo que ele representa a misericórdia de Deus e da Igreja e que recebeu do próprio Jesus a faculdade de absolvê-los em seu nome. Para tomar conhecimento dos pecados e perdoá-los, o padre precisa que o penitente confesse-os. Como ensinava Santo Agostinho: “Quem confessa os próprios pecados está agindo em harmonia com Deus. Deus acusa teus pecados; se tu também os acusas, tu te associas a Deus. O homem e o pecador são por assim dizer duas realidades: quando ouves falar do homem, foi Deus quem o fez; quando ouves falar do pecador, é o próprio homem quem o fez. Destróis o que fizestes para que Deus salve o que ele fez... Quando começas a detestar o que fizestes, é então que tuas boas obras começam, porque acusas tuas más obras. A confissão das más obras é o começo das boas obras. Contribuis para a verdade e consegues chegar à luz”;

5º Passo: SÚPLICA DA VIDA NOVA. “Ó Deus, cria em mim um coração puro, e renova no meu peito um espírito firme. Não me rejeites para longe da tua face, não retires de mim teu santo espírito. Devolve-me o júbilo da tua salvação, e que um espírito generoso me sustente.”(vv.12-14). A ressurreição dentre os mortos, a vitória do espírito sobre a carne, a derrota de Satanás, a purificação do mundo, a alegria da salvação... tudo isso é a súplica do pecador arrependido. E Deus, que escuta os clamores do nosso coração é todo-poderoso e cheio de misericórdia para nos recriar para uma vida nova em Cristo Jesus;

6º Passo: REPARAÇÃO. “Vou ensinar teus caminhos aos culpados, e os pecadores voltarão para ti.”(v.15). “O salário do pecado é a morte!”. Os nossos pecados sempre deixam consequências negativas na vida do próprio pecados e dos seus semelhantes, e foi justamente isso o que ofendeu a Deus. Por isso, uma vez arrependido e perdoado por Deus, o homem deve procurar reparar os danos causados pelos seus pecados, fazendo justamente o contrário: transformando o vício em virtude, a maldição em bênção, o ódio em amor, a mentira em verdade... Deste modo, contribuirá na construção do Reino de Deus, o paraíso celeste que ele havia perdido pelo pecado, mas que reconquistou graças a Jesus Cristo.

É uma ofensa grave atribuir a Deus o sofrimento da humanidade, porque Ele “não fez a morte nem tem prazer em destruir os viventes”(Sb 1,13). “A morte é o salário do pecado”(Rm 6,23). A verdade é que sempre sofremos as consequências negativas, seja dos nossos próprios pecados, seja dos pecados de outras pessoas que acabaram afetando a nossa vida, por exemplo, alguém que nos levantou um falso testemunho.

Por detrás de cada pecado sempre existe a fraqueza humana, a influência do mundo e a tentação de Satanás. Quando compactuamos com o mal a nossa alma fica culpada diante de Deus. Temos culpa no erro cometido e deveríamos pagar o preço dos danos acarretados...
Mas Jesus Cristo veio justamente para nos redimir dos pecados e reconciliar-nos com o Pai Celeste. Ele pagou um alto preço pela nossa salvação, o preço da sua própria vida: “Por meio do sangue de Cristo é que fomos libertos e nele nossas faltas foram perdoadas, conforme a riqueza da sua graça”(Ef 1,7).

20:30h – Caminhada Discipular (Avisos, encaminhamentos)
Importante fazer o exame de consciência diariamente e pedir o perdão de Deus. Necessário sempre se confessar, ao menos uma vez por ano e toda vez que cometer pecado mortal.









14º Encontro ____/ ____/ ____

Restauração:
a bênção da cura
das consequências do pecado

Jr 18,1-6

Queremos viver na bênção e ser uma bênção. É este o propósito de Deus a nosso respeito. Foi para isso que Ele nos criou. Por isso, recapitulemos um pouco tudo o que refletimos até aqui e depois vamos dar continuidade a toda esta obra de cura e libertação que Ele mesmo está realizando na nossa vida.
- Não basta ser bom. O homem precisa ser bom em Deus para permanecer bom, saudável e feliz. A oração é o modo pelo qual permanecemos em comunhão com Deus. Por isso ela é necessária para a salvação, para a pessoa ser plenamente realizada.
- A bênção é o movimento de fundo da oração cristã. Bendizemos a Deus e Ele nos abençoa. A oração sempre deve ser entendida e vivida sob a égide da bênção e no plano do ser.
- A bênção é o poder e o amor do Bom Deus agindo na nossa vida. A cura e a libertação é o processo e a operação (a graça operando). A salvação e a saúde são o resultado. Somos restaurados. Voltamos a ser bons, saudáveis e felizes da vida, assim como éramos antes do pecado original. Mas a oração filial e confiante é a condição, pois Deus sempre respeita a nossa liberdade e exige a nossa cooperação. “O Deus que nos criou sozinho decidiu não nos salvar sozinho” (Santo Agostinho). No final, tudo é graça, até a graça da oração.
- É necessário descer às raízes e enfrentar a fonte do mal que atormenta a humanidade. Porque do Bom Deus só vem o bem, então todo mal que sofremos na nossa vida pessoal, familiar e comunitária é consequência do pecado, seja dos nossos próprios pecados, seja dos pecados de outras pessoas.

É uma ofensa muito grave atribuir a Deus o sofrimento da humanidade, porque Ele “não fez a morte nem tem prazer em destruir os viventes” (Sb 1,13). “A morte é o salário do pecado” (Rm 6,23). A verdade é que sempre sofremos as consequências negativas, seja dos nossos próprios pecados, seja dos pecados de outras pessoas que acabam prejudicando a nossa vida. O pecado e suas consequências nefastas desfiguram a nossa imagem e semelhança com Deus.
Por detrás de cada pecado sempre existe a fraqueza humana, a influência do mundo e a tentação de Satanás. Quando compactuamos com o mal, tornamo-nos culpados e ingratos diante de Deus, pois erramos o alvo da nossa verdadeira felicidade, fugimos da sua Presença e fazemos mal uso da nossa liberdade. Temos culpa no pecado cometido e deveríamos pagar cada centavo dos danos acarretados, seja na nossa própria vida, seja na vida das outras pessoas e na natureza em geral, mas...
Mas a misericórdia de Deus é infinita. Jesus Cristo veio para nos redimir dos pecados e nos tornar justos diante do Pai Celeste. Ele pagou um alto preço pela nossa salvação, o preço do seu Sangue derramado na Cruz. “Por meio do Sangue de Cristo é que fomos libertos e nele nossas faltas foram perdoadas, conforme a riqueza da sua graça” (Ef 1,7). Bendito seja Deus!
Jesus nos justificou na Cruz. Fomos salvos. Pelo arrependimento a culpa dos pecados é perdoada. Porém, após o perdão, precisamos ser curados e libertos de todas as consequências negativas do pecado, pois, como lembrávamos, “o salário do pecado é a morte”. Por exemplo: se uma pessoa deu uma facada em alguém, após o arrependimento e a confissão da culpa, o seu pecado é perdoado. Porém, mesmo após o perdão, os envolvidos na situação deverão buscar também a cura e a libertação das consequências da facada. A restauração deve ser completa. Começa pelo perdão da culpa, mas deve continuar pela cura e libertação das consequências do pecado. A obra de Deus nunca fica pela metade. Isto significa que Jesus Cristo, o Restaurador do homem, não só liberta da escravidão do pecado, mas também salva do lamaçal da morte. O “dom de Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo, é vida eterna” (Rm 6,23) que começa nesta terra e se prolonga por toda eternidade.
O homem é chamado na antropologia de unidade pluridimensional. Ou seja. Existe uma unidade de personalidade, mas com várias dimensões. O ser humano é pessoa. O seu dedo não é um pedaço de você. O seu dedo é você. Existe uma unidade que integra toda personalidade, da ponta do cabelo à ponta do pé. E esta unidade pessoal possui várias dimensões que formam um todo inseparável, um sujeito com liberdade e responsabilidade. Por isso, o pecado sempre afeta a pessoa por inteiro, de modo que, após a culpa do pecado ser perdoada, a restauração do sujeito também deve ser por inteiro, em todas as suas dimensões. Desta forma, a salvação que Cristo Jesus veio realizar é plena e universal. Ele veio salvar e restaurar todos os homens e o homem todo. “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância!” (Jo 10,10)
Deus deseja que a sua bênção alcance a pessoa por inteiro, em cada uma das cinco dimensões da sua existência, pois uma dimensão depende da outra para ser completamente salva e restaurada.

Dimensão Espiritual: O espírito (com “e” minúsculo) corresponde àquela abertura transcendental do ser humano para Deus. Fomos criados para viver em comunhão com Deus, mas o Maligno sempre procura nos separar dele. Por isso ele recebe o nome de Diabo, aquele que divide.

Dimensão Corporal: O corpo é a exteriorização da nossa identidade no tempo e no espaço. Como o espírito é a dimensão que mais nos específica entre as outras criaturas (somente o homem foi criado á imagem e semelhança de Deus), dizemos que o corpo é exteriorização do espírito na história. O nosso corpo também é a “máquina biológica” com a qual vivemos aqui na terra, convivemos com os outros e realizamos a nossa missão. Diversos tipos de doenças podem lhe causar dores, sofrimentos e adversidades.
Dimensão Afetiva: Somos seres de afetos, sentimentos, emoções e sexualidade. São verdadeiros dons de Deus para a nossa felicidade. Mas as feridas interiores fragmentam a nossa alma, infernizam o nosso inconsciente, tiram-nos a paz e geram angústias e tristezas, traumas e complexos. Os problemas emocionais favorecem novos pecados, erros e vícios.

Dimensão Intelectual: O Senhor também nos concedeu o dom da razão, da aprendizagem e da consciência. Porém, feridos pelo pecado original e influenciados pelas trevas do mundo, temos ignorâncias e orgulhos que nos empurram para a cegueira, ateísmo, prepotência e libertinagem.

Dimensão Social: O homem é pessoa, ser de comunicação. É impossível viver sozinho. O outro sempre faz parte da nossa vida. Com os outros formamos família, Igreja, sociedade. O isolamento vira psicose e loucura. Levados pelo egoísmo ou pela decepção, caímos no individualismo, na exploração, na ganância, na violência e nos guetos.

Quando Jesus proclama em alto e bom som: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância!” – Ele está se referindo a esta salvação universal e integral que Ele veio realizar, de todos os homens e do homem todo, ou seja, em todas as suas dimensões. Desta forma, Ele chama para si a missão messiânica que Deus lhe confiou como Salvador e Restaurador da humanidade. Missão esta que Isaías já havia profetizado (Is 61,1-4) e que Ele identificou como sendo a sua na sinagoga de Nazaré: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Nova aos pobres, enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano da graça do Senhor!” (Lc 4,14-21)

Deus Oleiro

Esfacelados pelo pecado e pelas consequências dos pecados, parecemos aquele vaso quebrado da visão profética de Jeremias (Jr 18,1-6). Deus concedeu tal visão ao profeta justamente para que Israel pudesse compreender e experimentar através de um símbolo que realmente a sua situação era similar à de um vaso quebrado. Ás vezes, e não poucas vezes, somos um vaso quebrado, mas não nos damos conta da situação e nem sabemos realmente a causa da nossa dor e do nosso sofrimento.
Deus revela não só que nos causa dor, mas que também Ele é a Solução. Ele é o nosso Criador e também o nosso Restaurador. Se nos entregamos a Ele, com toda a nossa vida, com todas as dimensões da nossa existência, como o barro nas mãos do oleiro, Ele não nos descarta e joga no lixo. Ele nos refaz na água viva da sua graça e faz de nós um vaso novo, inclusive, da melhor forma, muito melhor do que o primeiro. Tudo isso é poder de Deus. Tudo isso é misericórdia e amor de um Deus Oleiro, de um Deus Salvador e Restaurador.

20:30h – Caminhada Discipular (Avisos, encaminhamentos)
Habitue-se sempre a ir à Casa do Oleiro: Sacrário e DJC.








15º Encontro ____/ ____/ ____

A bênção da cura
espiritual

1Pd 5,5-11; ou Sl 63; ou Mt 4,1-11

O homem é chamado a viver em comunhão com Deus, com autodomínio, livre: “É para a liberdade que Cristo nos libertou”(Gl 5,1). Nele comungamos da ‘verdade que nos torna livres’(cf. Jo 8,32). O Espírito Santo nos foi dado e, como ensina o apóstolo, ‘onde se acha o Espírito do Senhor, aí está a liberdade’(2Cor 3,17)” (CIC, 1741).
Para esta vida em comunhão com Deus fomos criados “à sua imagem e semelhança”. Temos um espírito, ou seja, uma dimensão espiritual que corresponde à nossa busca de Deus. Sentimos a sua presença e vamos ao seu encontro como que por um instinto religioso do nosso coração: “Ó Deus, tu és o meu Deus, por ti madrugo. Minha alma tem sede de ti, minha carne te deseja com ardor, como terra seca, esgotada e sem água. Teu amor vale mais do que a vida: meus lábios te louvarão”(Sl 63,2.4).
Mas esta nossa vida livre e feliz em Deus pode ser prejudicada pelo Diabo, que faz de tudo para se apoderar da nossa liberdade e atrofiar a espiritualidade. “A nossa luta, de fato, não é contra homens de carne e osso, mas contra os principados e as autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos do mal, que habitam as regiões celestes”(Ef 6,12).
Em 1215 a Igreja já definia esta verdade de fé: o “diabo e demais demônios, por Deus certamente foram criados bons por natureza; mas eles, por si mesmos, se fizeram maus. O homem, contudo, pecou por sugestão do diabo”(DS 800).
Acrescenta o Papa Paulo VI: “O mal não é somente uma deficiência, senão uma eficiência, um ser vivo, espiritual, pervertido e perversor. Terrível realidade. Misteriosa e pavorosa”
Não podemos ficar indiferentes diante do inimigo. O Diabo ou Satanás é o príncipe deste mundo(Jo 12,31), assassino e pai da mentira(Jo 8,44), um grande incentivador das nossas próprias fraquezas. Até Jesus Cristo foi tentado por ele, mas não caiu na armadilha(Mt 4,1-11).
Na verdade, o Maligno já foi derrotado por Jesus(Mt 12,22-30). Por isso, não “pode atingir-nos no profundo a não ser que nos deixemos apanhar” por ele(Paulo Milcent). “Existe um mistério do mal, que não provém só do nosso próprio coração; sem cessar estamos esbarrando nele; ficamos expostos a sua agressões...’ Mas ‘Satanás já está derrotado. Já não tem outro poder a não ser o poder que nós lhe concedemos”(do livro francês Le foi des catholiques).
Quem está com Deus não pode ser atingido pelo Maligno(1Jo 5,18). Como ensinava Santa Teresa de Ávila: “Não compreendo estes nossos medos: é o demônio, é o demônio!...? – quando poderíamos dizer: Deus! Deus! – e, assim, fazê-lo tremer... Sabemos que ele não se pode mexer se Deus não lhe permitir”.
É preciso, portanto, ser sóbrio e vigilante para que Satanás não desvirtue a nossa liberdade e nos escravize nas suas obras: “Sejam sóbrios e fiquem de prontidão! Pois o diabo, que é o inimigo de vocês, os rodeia como um leão que ruge, procurando a quem devorar. Resistam ao diabo, permanecendo firmes na fé”(1Pd 5,8,9).
Satanás é o nosso inimigo oculto, que age com sutileza através das suas obras, as quais só são totalmente desmascaradas pela fé. Por isso, o Apóstolo Pedro nos exortou: “RESISTAM AO DIABO, PERMANECENDO FIMES NA FÉ”(1Pd 5,8). Tudo... tudo mesmo que se opõe ao projeto de Deus revelado e realizado por Jesus Cristo é uma obra diabólica que escraviza e conduz para a morte, e por isso deve ser renunciada em nome de Jesus!!!
Orientados pela fé e em nome de Jesus, devemos renunciar a Satanás e a todas as suas obras, pois quem come dos frutos do Maligno fica contaminado pela sua maldição. Eis alguns exemplos:

- Idolatria: adoração de alguma realidade que não seja o Deus único e verdadeiro revelado por Jesus Cristo: nós mesmos, o dinheiro, uma outra pessoa que admiramos, obras de arte, criaturas da natureza, etc. Não esqueçamos: Amai a Deus sobre todas as coisas!

- Ocultismo: rituais de sacrifício humano, nova era, presságio, astrologia(horóscopo, cartas de baralho, búzios), adivinhação, magia, encantamentos, consultas a espíritos ou adivinhos, invocação dos mortos(Dt 18, 9-12). Por detrás dessas atividades existem espíritos malignos que seduzem e afastam da vida em Deus.

- Crendices/Falsas doutrinas: prática religiosa sem a mística da verdadeira fé cristã, heresias, ensinamentos dos falsos mestres, seitas (2Tm 3,1 – 4,5; 2Pd 2,1-22).

- Imoralidades/vícios: depravação, libertinagem sexual, instintos egoístas, paixões carnais... (1Cor 5 – 6; Gl 5).

O cristão não é do mundo, mas está no mundo e Satanás é o príncipe deste mundo. Por isso, do mesmo modo como Jesus enfrentou e venceu as tentações do Maligno(Mt 4,1-11), o cristão também será um vitorioso, desde que se revista da armadura de Deus para o combate(Ef 6,10-17).
Deus não tenta ninguém, mas permite as tentações de Satanás, pois o cristão tem o dever de contribuir na derrota do mal, vencendo-o pelo bem, na graça do Espírito Santo(Rm 12,12-21).
Jesus Cristo nos ensinou que quando nos dirigimos a Deus (ORAÇÃO) e quando nos libertamos dos nossos próprios instintos egoístas (JEJUM), até mesmo os demônios mais poderosos são exorcizados (Mc 9,29)!











16º Encontro ____/ ____/ ____

A bênção da cura corporal

Ecle 38,1-15; Sl 23; Lc 8,43-48

O corpo, o nosso corpo humano criado bom por Deus, também sofre as consequências do pecado presente nas diversas formas de doenças que afligem a vida humana. Mas, na sua missão salvífica, Jesus assumiu a nossa dimensão corporal e carregou sobre si as nossas enfermidades(Mt 8,17).
Em Cafarnaum, diante da intercessão humilde e confiante do oficial romano, Jesus salvou um homem que estava à beira da morte. Na cidade de Naim, ao ver uma pobre viúva chorando a perda do seu único filho, teve compaixão e ordenou que o jovem morto se levantasse. “O morto sentou-se, e começou a falar”. Todos ficaram admirados e diziam: “Um grande profeta apareceu entre nós, e Deus veio visitar o seu povo”(Lc 7,1-17).
Com a vinda de Cristo, Deus veio morar definitivamente com a gente. E Jesus passou a participar das alegrias e das esperanças, mas também das dores e tristezas de toda a humanidade. Por isso, “Jesus andava por toda a Galiléia, ensinando em suas sinagogas, pregando a boa notícia do Reino, e curando todo tipo de doença e enfermidade do povo”(Mt 4,23).
Se as doenças eram consequências da queda da humanidade no pecado de Adão – o que gerou a expulsão do Paraíso – então, as curas e milagres realizados por Jesus, eram sinais de que o Reinado de Deus já havia começado com a sua presença.
Sim, o tempo da salvação já começou com Jesus Cristo. As curas e os milagres operados por Ele são sinais e provas dessa salvação. Por isso, quando João Batista mandou perguntar a Jesus se Ele era mesmo o Salvador prometido por Deus ou deveriam ainda esperar por outro, naquela mesma hora Jesus curou muitas pessoas de suas doenças, males e espíritos maus, e fez muitos cegos recuperar a vista. Depois respondeu: “Voltem, e contem a João o que vocês viram e ouviram: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, e a Boa Notícia é anunciada aos pobres”(Lc 7,22).
Jesus é a plena manifestação do Poder e da Misericórdia de Deus, ontem, hoje e sempre! A nós, os seus discípulos, concedeu o poder de ministrar gratuitamente a oração de cura do corpo em seu nome: “Curem os doentes, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios. Vocês receberam de graça, dêem também de graça!”(Mt 10,8).
Na oração de cura, não temos bem o que fazer, somente a suplicar e interceder na unção do Espírito Santo, porque é Jesus quem faz a bênção da cura acontecer.
É claro que não devemos cair no fanatismo, sabendo que o médico e a medicina também são instrumentos de Deus(Eclo 38,1-15).

Como ministrar uma ORAÇÃO CRISTÃ DE CURA FÍSICA?

Não há uma receita formal, pois toda oração cristã deve brotar do coração ungido pelo Espírito Santo. Eis algumas indicações bíblicas:

- INVOCAR O REINADO DE SALVAÇÃO: Antes de tudo, para nós mesmos ou para as pessoas por quem estamos orando, devemos buscar o Reinado de Deus e tudo mais será acrescentado segundo a vontade do próprio Deus(Lc 12,31). Ele é sábio em tudo que faz e a sua vontade sempre é para a nossa mais perfeita felicidade. Se o deixarmos reinar em nossa vida, todos os acréscimos serão bênçãos para a nossa salvação, tanto na terra como no céu. Não sejamos como pagãos que se interessam mais pelos “acréscimos” e esquecem-se completamente do reinado de salvação de Deus na sua vida. Quem assim age pode facilmente ser iludido pelo Maligno com falsas curas!

- MANIFESTAR CONFIANÇA TOTAL EM DEUS: Em segundo lugar, jamais podemos perder de vista que o Senhor é o nosso Pastor e nada nos faltará(Sl 23,1). Em momento algum Ele nos abandona, mas caminha muito perto de nós, concedendo-nos a graça da felicidade e da paz, mesmo em meio às maiores adversidades da vida: “Embora eu caminhe por um vale tenebroso, nenhum mal eu temerei, pois junto a mim estás; teu bastão e teu cajado me deixam tranquilo. Sim, felicidade e amor me acompanham todos os dias da minha vida”(Sl 23,4.6).

- SUPLICAR COM FÉ E AGRADECER: Por fim, como nos deixa entrever o Apóstolo João, a oração de cura deve ser movida pela fé e ministrada em nome de Jesus, denominando claramente qual a cura que precisamos: “Ao nos dirigirmos a Deus, podemos ter esta confiança: quando pedimos alguma coisa conforme o seu projeto, ele nos ouve. E, se sabemos que ele nos ouve em tudo o que lhe pedimos, estamos certos de que já obtivemos o que lhe havíamos pedido”(1Jo 5,14-15).

A oração de cura é concluída com gratidão, pois é certo que Deus já está derramando bênçãos sobre bênçãos. Trata-se de tomar posse da bênção concedida e testemunhá-la publicamente!
O mesmo Jesus que “andava por toda a Galiléia, ensinando em suas sinagogas, pregando a boa notícia do Reino, e curando todo tipo de doença e enfermidade do povo”(Mt 4,23) está vivo e atuante no Sacramento da Eucaristia, o Pão da Vida(Jo 6,51). Dele sai uma força de salvação que cura a todos os que se aproximam com fé e humildade, como aconteceu com aquela mulher hemorroísa do Evangelho: “Quem me tocou? Senti uma força saindo de mim! – Fui eu, Senhor, que neste instante fui curada pela tua graça. – Sua fé curou você. Vá em paz!”(ver Lc 8,43ss).

Zele pela higiene e saúde do seu corpo. Valorize o seu corpo, pois ele é Templo do Espírito Santo. Viva com dignidade e auto-estima, você é um filho de Deus. Você deve reproduzir no seu corpo a beleza do Criador, não a feiura de Satanás! Zele pela sua casa, local de trabalho, etc










17º Encontro ____/ ____/ ____

A bênção da cura
interior

Eclo 28,1-26; ou Sl 139; ou Mt 11,25-30

Em sentido metafórico, o coração representa a nossa dimensão interior, o “eu” mais profundo, o centro de comando da nossa vontade, dos nossos sentimentos, afetos, emoções e, também, da nossa sexualidade. Por isso é que se diz que “o amor de Deus se infunde em nosso coração pelo dom do Espírito Santo”(Rm 5,5). Ou seja, no mais profundo do nosso ser, Deus nos ama e age através do seu Espírito para nos fazer capazes de amar e ser amados.
Fomos feitos para o Amor. Porém, verdadeiras pancadas, como emoções negativas, traumas e decepções nos machucaram e feriram interiormente, bloqueando a vivência desse amor.
Às vezes bem temos total consciência dessas feridas do coração e muito menos sabemos como surgiram. Porém, elas existem e, quando menos esperamos, despontam em forma de angústias, tristezas, ansiedade, depressão, desejo de morrer, etc.
Essas feridas interiores também provocam ódios, raivas, revoltas, vinganças, invejas, ciúmes, amarguras, medos, impaciência, pessimismo, hipersensibilidade... As chagas do coração atrapalham bastante a nossa realização humana e cristã. Provocam barreiras para a ação da Graça de Deus, influenciam a vontade, descontrolam as emoções e os sentimentos, desvirtuam a vivência correta da sexualidade, incentivam os vícios, tiram a nossa harmonia, geram o desamor e a falta de paz interior.
Já foi até comprovado cientificamente que muitas doenças que nos afetam são originadas dentro de nós mesmos, como febres, dores de cabeça, problemas de coluna, de estômago e de circulação do sangue. Como diz a Palavra de Deus: “Não se deixe dominar pela tristeza, nem se aflija com preocupações. A alegria do coração é vida para o homem, e a satisfação lhe prolonga a vida. Anime-se, console o coração e afaste a melancolia para longe. Pois a melancolia já arruinou muita gente, e não serve para nada. Inveja e ira encurtam os anos. E a preocupação faz envelhecer antes do tempo. Coração alegre favorece o bom apetite e faz sentir o gosto da comida”(Eclo 30,21-25).
Tudo isso nos convence que é preciso restituir a saúde interior curando as feridas do coração. A paz que nós tanto desejamos só é possível mediante a Graça do nosso Salvador, Jesus Cristo. Ele nos convida para viver a Graça e a Paz no aconchego do seu coração: “Venham a mim todos vocês que estão cansados de carregar o peso do seu fardo, e eu lhes darei descanso. Carreguem a minha carga e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração,e vocês encontrarão descanso para suas vidas. Porque a minha carga é suave e o meu fardo é leve”(Mt 11,28-30).
Jesus é Onisciente e conhece o mais profundo de nós mesmos. É Onipotente e derrama o poder da sua Graça que nos salva. Porque também é Onipresente, Jesus é o Senhor do tempo e vai em casa fase da nossa vida curando todas as feridas do coração: “Sim! Pois tu formastes meus rins, tu me teceste no seio materno. Eu te agradeço por tão grande prodígio, e me maravilho com as tuas maravilhas! Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração! Prova-me, e conhece os meus sentimentos!”(Sl 139,13-14.23).
Abramos o nosso coração para Jesus e permitamos que ele passe curando toda a nossa vida desde a gestação no ventre da nossa mãe, passando pela infância, adolescência e juventude até chegar fase de adultos, porque ele é o mesmo ontem, hoje e sempre.
Ao mesmo tempo que nos abrimos para o amor curativo de Jesus, devemos ir perdoando a nós mesmos ou às pessoas que nos fizeram algum tipo de mal, quer tenham tido essa intenção ou não. “Se um homem guarda rancor contra outro, como poderá pedir que Deus o cure? Lembre-se dos mandamentos, e não guarde rancor contra o seu próximo. Lembre-se da aliança com o Altíssimo, e não leve em conta a ofensa que fizeram a você(Eclo 28,3.7). É o amor de Jesus quem nos cura, mas o perdão é justamente a nossa abertura para este amor!
Quando àqueles acontecimentos dolorosos que nos feriram interiormente, como a morte de um ente querido ou algum acidente, deixemos qualquer blasfêmia contra Deus de lado, pois ele nunca nos abandonou: “Javé, tu me envolves por detrás e pela frente, e sobre mim colocas a tua mão. Para onde irei, longe do teu sopro? Para onde fugirei, longe da tua presença? Se subo ao céu, tu aí estás. Se me deito no abismo, aí te encontro. Mesmo as trevas não são trevas para ti, e a noite é clara como o dia”(Sl 139, 5.7-8.12).
Entreguemos os acontecimentos dolorosos também a Jesus, porque ele não é só o Senhor do tempo, mas também o Senhor das situações, das tempestades e tira bens até mesmo dos males que nos aconteceram!

20:30h – Caminhada Discipular (Avisos, encaminhamentos)
A cura interior é processual e não tem nada a ver com auto-compaixão. Seja corajoso, não covarde, e sempre assuma a sua parte de culpa. Perdoe sempre. Diariamente coloque-se na presença de Deus, peça para Ele lhe encher com o seu amor e lhe curar de todo sentimento e pensamento negativo, de todo trauma e complexo. 










18º Encontro ____/ ____/ ____

A bênção da cura
intelectual

Rm 1,18-32; ou Sl 119; ou Jo 8,31-46)


É grande e misterioso o poder do cérebro. No entanto, pó maior que seja a nossa capacidade cerebral, permanecemos criaturas em relação ao nosso único Senhor e Criador, o Deus do Universo, cuja sabedoria ultrapassa todo conhecimento da humanidade.
“Penso, logo existo”. Você pensa isto? Esta máxima filosófica de René Descartes exprime o teor da mentalidade moderna. Ele queria afirmar que o homem, unicamente através da razão, é capaz de tudo. E isso não é verdade. Quando vivemos nesta ilusão racionalista caímos em contradição...
É lógico que criatura alguma nunca poderá ser mais que o seu Criador. O homem de hoje, ao se definir simplesmente “racional”, caiu na contradição performativa de proclamar-se independente de Deus, de querer “matar” Deus e presumir-se absolutamente livre para ser e fazer o que bem quiser(embriaguez de autonomia). A história mostra, porém, que sem Deus não somos nada. Sem Deus não podemos fazer nada de bom(Jo 15,5)!
O nosso orgulho, ignorância e auto-suficiência tendem a cair na ilusão, na escravidão, no “nada”. E Satanás, como sempre, tira proveito da nossa fraqueza, pois deseja que sejamos um “nada”. Já nos inícios da história da humanidade Adão e Eva fizeram mau uso do seu intelecto, distanciaram-se de Deus e o mal entrou na obra da criação.
Hoje o homem também “quer ser mais do que Deus”. Por conta disso, apesar dos avanços tecnológicos, a humanidade ainda corre o risco de uma guerra nuclear, pessoas morrem de fome, o planeta poderá ser destruído, milhões empurram a vida no “nada” das drogas, da falta de sentido, do ódio, etc.
A ciência, por mais que tenha a sua importância, não foi capaz de responder as grandes questões da humanidade. O recente mapeamento do corpo humano deixou mais perguntas que respostas. O homem continua sendo um mistério para ele mesmo. Doenças como a AIDS e o câncer permanecem incuráveis. A angústia e a depressão, mais do que nunca, tiram a paz de milhões de pessoas e, apenas da revolução da informática, famílias inteiras são destruídas pelo desamor e falta de diálogo.
No tempo do predomínio da “razão”, assistimos uma crescente baixaria cultural quando os próprios princípios morais cedem lugar ao individualismo, à violência, à libertinagem sexual e ao cúmulo da idolatria do dinheiro, do poder e do prazer. Vivemos numa verdadeira selva de pedras onde o “o homem é o lobo do homem”.
Como dizia o Apóstolo Paulo: “Os homens, portanto, não têm desculpa, porque, embora conhecendo a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças. Pelo contrário, perderam-se em raciocínios vazios, e sua mente ficou obscurecida. Pretendendo ser sábios, tornaram-se tolos, trocando a glória do Deus imortal por estátuas de homem mortal, de pássaros, animais e répteis. Foi por isso que Deus os entregou, conforme os desejos do coração deles, à impureza com que desonram seus próprios corpos. Eles trocaram a verdade de Deus pela mentira e adoraram e serviram à criatura em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amém. Por isso, Deus entregou os homens a paixões vergonhosas: suas mulheres mudaram a relação natural em relação contra a natureza. Os homens fizeram o mesmo: deixaram a relação natural com a mulher e arderam de paixão uns com os outros, cometendo atos torpes entre si, recebendo dessa maneira em si próprios a paga pela sua aberração. Os homens desprezaram o conhecimento de Deus; por isso, Deus os abandonou ao sabor de uma mente incapaz de julgar. Desse modo, eles fazem o que não deveriam fazer: estão cheios de todo tipo e injustiça, perversidade, avidez e malícia; cheios de inveja, homicídio, rixas, fraudes e malvadezas; são difamadores, caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, soberbos, fanfarrões, engenhosos do mal, rebeldes para com os pais, insensatos, desleais, gente sem coração e sem misericórdia. E apesar de conhecerem o julgamento de Deus, que considera digno de morte quem pratica tais coisas, eles não só as cometem, mas também aprovam quem se comporta assim (Rm 1,20-32).
Falamos, agimos, decidimos, vivemos de acordo com os pensamentos que formulamos. Portanto, precisamos conhecer e ser formados na Verdade: “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”(Jo 8,32).
A Igreja ensina: “Em Jesus Cristo, a verdade de Deus se manifestou plenamente. “Cheio de graça e verdade”(Jo 1,14), ele é a “luz do mundo”(Jo 8,12), é a Verdade. “Para que aquele que crê em mim não permaneça nas trevas”(Jo 12,46). O discípulo de Jesus “permanece na sua palavra” para conhecer “a verdade que liberta”(Jo 8,32) e santifica. Seguir Jesus é viver do “Espírito da verdade”(Jo 14,17) que o Pai envia em seu nome e conduz “à verdade plena”(Jo 16,13). Jesus ensina a seus discípulos o amor incondicional da verdade: “seja o vosso ‘sim’, sim e o vosso ‘não’ , não”(Mt 5,37). O discípulo de Cristo aceita “viver na verdade”, isto é, na simplicidade de uma vida conforme o exemplo do Senhor permanecendo na sua verdade. “Se dissermos que estamos em comunhão com ele e andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade”(1Jo 1,6) (Catecismo da Igreja Católica, nn. 2466.2470).
Muitos cristãos vivem mais segundo a mentalidade do mundo do que de acordo com a Verdade do Evangelho. Por conta disso, são facilmente seduzidos por falsos profetas, ideologias e modismos que aparecem na sociedade. Embora muitas vezes tenham a intenção de fazer o bem, acabam não percorrendo o único Caminho que conduz ao Sumo Bem, pois somente Jesus Cristo é a Verdade e a Vida(Jo 14,6). Não podemos abrir mão de nenhuma verdade do Evangelho!
Dadas essas considerações, concluímos que precisamos suplicar a Jesus a cura intelectual, a fim de que a nossa mente, purificada de todo pensamento errôneo e diabólico, seja colocada a serviço de Deus e do seu projeto de salvação. “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará” (Jo 8,32).

Seja simples e humilde. Renuncie todo tipo de orgulho, autossuficiência e prepotência. Sempre pare pra meditar a Verdade e a Realidade e verás que Deus sempre tem razão em tudo o que diz e faz. Peça ao Espírito Santo o dom da fé e a iluminação da razão. Faça bom uso da razão e do bom senso. Procure o sentido profundo da Palavra de Deus e verás que a Bíblia Sagrada é um grande testemunho posto por escrito por consignação do Espírito Santo ao longo da história. E que a Doutrina da Igreja Católica é completa e toda fundamentada na Palavra de Deus. Continue a Caminhada Discipular e de Temário em Temário você vai crescer cada vez mais na vivência e no entendimento da Doutrina Cristã.











19º Encontro ____/ ____/ ____

A bênção da cura
social

Gn 1,26-31; ou Sl 8; ou Mt 25,31-46

O PLANO SOCIAL DE DEUS:

Então Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele domine os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos s répteis que rastejam sobre a terra”. E Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus ele o criou; E os criou homem e mulher. E Deus os abençoou e lhes disse: “sejam fecundos, multipliquem-se, encham e submetam a terra... E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo era muito bom”(Gn 1,26-28).

AO CRIAR O SER HUMANO...

- Deus o criou “à sua imagem e semelhança”, ou seja, livre, consciente e capaz de dialogar com ele. Nenhuma outra criatura possui o mesmo valor de uma pessoa, seja ela criança, jovem ou adulto. Tudo que anula ou fere a dignidade humana é imoral e vai contra a vontade de Deus. A pessoa humana “é e deve ser o princípio, sujeito e fim de todas as instituições sociais”(GS 25).

- Deus dotou a única natureza humana com dois sexos complementares: mulher e homem. Aos olhos de Deus, ninguém é mais que ninguém. Todos são iguais na dignidade, embora existam diferentes personalidades. A vocação para conviver com o outro faz parte da natureza humana. O ser humano é essencialmente um ser social: reconhece-se como indivíduo/sujeito na intersubjetividade, realiza-se com o outro, precisa do outro, é importante para o outro.

- Deus derramou a sua bênção a fim de que, homem e mulher, unidos no amor, realizem-se como pessoas e sejam fecundos e procriadores. A coluna do casal humano, abençoado por Deus e alicerçado no amor, é a base da primeira comunidade humana: a família. Por sua vez, esta família, a qual é chamada a ser santuário da vida, é o alicerce da grande sociedade humana espalhada por todo o planeta.

- Deus também concedeu autoridade ao ser humano para dominar, cultivar, administrar e preservar a obra da criação, no rumo da plena realização do seu projeto de salvação. Pela interferência pessoal e coletiva do homem na natureza, a história entrou em desenvolvimento, o homem cresceu culturalmente e estruturas sociais foram construídas.

Tudo o que Deus criou é muito bom... Porém, desobedecendo a Deus, o homem pecou e permitiu que o mal entrasse na história da humanidade. Desse modo, acabou criando “estruturas de morte” que permanecem gerando a dor e o sofrimento nos diversos níveis da existência humana. O medo de Deus, a desestruturação do casal Adão e Eva, a intriga de Caim, o assassinato de Abel, as dores do parto, a mentira, a vingança, a escravidão no Egito são apenas alguns exemplos bíblicos que nos mostram que o homem pecador acabou destruindo o “Paraíso do Éden”, transformando-o num mundo de doenças, “imundícies” e “castigos”.
Ainda hoje a sociedade e as relações humanas são marcadas pelas consequências negativas do pecado, pois os pecados pessoais acabam gerando “estruturas de pecado” ou “pecado social”. Hoje, com exceções, a dignidade humana é desrespeitada, as relações entre homem e mulheres são desvirtuadas, as famílias padecem por falta de diálogo e amor, há um individualismo exacerbado, as amizades são interesseiras, as instituições sociais, políticas e econômicas não visam a realização humana...
Na sua missão salvífica, Jesus também cura a dimensão social da nossa existência, em todos os seus níveis e implicações... De modo que a salvação não pode ser almejada numa perspectiva intimista, individualista e separada do conjunto de relações fraternas, amigas, conjugais, familiares, sociais, culturais, políticas e econômicas que constituem o todo da existência de uma pessoa. A pessoa humana é única, ela é parte constitutiva do conjunto da humanidade. A nossa vida é simultaneamente pessoal e comunitária.
Também, não devemos permanecer acomodados à espera de uma salvação social “caída do céu”. No processo de libertação do pecado e de todas as suas consequências, temos a missão de fazer a nossa parte, convertendo o nosso coração e lutando em favor da vida, contra todas as estruturas de morte.
O primeiro cenário social foi o “Paraíso do Éden”, quando o homem vivia em harmonia com Deus, com o próximo e com a natureza. Hoje, temos o dever de, com a bênção de Deus, ajudar na “destruição” do mundo, com todas as suas imundícies, edificando o “Paraíso” do Reino de Deus, quando viveremos na mais perfeita paz, felicidade e fraternidade.
Este Reino de Deus começa no nosso coração e vai tomando forma e corpo na história, com a nossa cooperação, até se prolongar por toda eternidade após a segunda vinda gloriosa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele vai colher todo “material” produzido pelo nosso amor e sacrifício, toda nossa luta contra o pecado e suas consequências, toda obra de caridade em benefício dos pequeninos(Mt 25,31-46) e então haverão novos céus e nova terra, como profetiza o Apocalipse.
  
20:30h – Caminhada Discipular (Avisos, encaminhamentos)
Pela graça de Deus e com nossos esforços tudo pode ir sendo transformado no decorrer da caminhada. Faça a sua parte e peça a Deus a cura dos seus relacionamentos. Sempre peça também a libertação de toda maldição hereditária, que acabam interferindo no hoje da sua história pessoal, familiar e comunitária.







20º Encontro ____/ ____/ ____

Ascese

O Reavivamento no Espírito Santo é fundamental. O conhecimento mistagógico da Verdade também. Mas o cristão também precisa de ascese para crescer e ser plenamente realizado na sua vida e missão.
O homem foi criado por Deus para o amor e a felicidade na santidade. Ele não o teria criado se não fosse para esta finalidade. Mas, ferido pelo pecado original, o homem é concupiscente e não poucas vezes deixa de fazer o bem que quer e acaba por praticar o mal que não quer (Rm 7,19). Até o Apóstolo Paulo experimentava esta confusão nas entranhas do seu ser: o homem é chamado para o alto mas ao mesmo tempo sente-se empurrado para baixo. Por isso, mesmo após o batismo e a conversão, o homem deve continuar se exercitando e subindo a montanha da sua plena realização de passo em passo com a ajuda determinante do Espírito Santo.
A verdade é que carregamos o tesouro da vida nova em vaso de barro (2Cor 4,7). O conteúdo é bom, precioso e santo. Mas o vaso, que somos nós, é de barro. Esta é a realidade da qual não podemos fugir enquanto peregrinarmos sobre a face da terra. Por isso temos que zelar pela graça recebida, vigiar diariamente e ter muito cuidado, pois o nosso ser é frágil. O modo pelo qual zelamos pela nossa vida espiritual e vamos subindo rumo a nossa plena realização humana e cristã é a ascese.
Nossos pecados são perdoados por Jesus. Somos completamente dependentes da Graça de Deus. Temos plena consciência de que é Ele quem faz em nós “o querer e o fazer”. De tal forma que sem a Graça de Deus somos nada, não podemos fazer nada de bom e fazemos da nossa vida um nada. Por isso, a própria ascese, a determinação e os passos concretos para crescermos como pessoa e sermos plenamente realizados na vocação para a qual Ele mesmo nos chamou, também é graça de Deus. Desta forma, tudo é Graça. Mas a ênfase da ascese está naquilo que eu posso e devo fazer como se tudo dependesse de mim, e que Deus não abre mão, pois Ele mesmo, que tudo pode fazer sozinho, decidiu não nos salvar sozinho. Deus sempre espera a minha boa vontade, conta com a minha cooperação e confia nas minhas potencialidades. Ele não faz aquilo que eu mesmo devo e posso fazer, pois ao final redundaria no meu próprio atrofiamento humano e espiritual. Ser filho de Deus em Jesus é uma graça, mas viver como filhos é uma responsabilidade nossa da qual Ele é o primeiro a não abrir mão.
Em vista de uma coroa perecível, os atletas treinam e fazem enormes sacrifícios. Também nós, discípulos de Jesus, devemos nos esforçar para ganhar a coroa da vida eterna. (1Cor 9,24-27; 1Tim 4,7) Para se manterem na moda as pessoas usam roupas apertadíssimas. Outros colocam metal na orelha, no umbigo e até mesmo na língua. As pessoas se sacrificam para comprar um carro, passar em concursos, fazer uma viagem, assistir o jogo de futebol. Isto sem falar das academias de ginástica que são lotadas de gente para manter o corpo sarado e bombado. Tudo na vida exige decisão, boa vontade e sacrifícios. Caso queiramos realmente passar da morte para a vida, e permanecer na vida nova, viver com dignidade, ser pessoas maduras e equilibradas, é claro que também devemos ter determinação e dar passos concretos.
A Graça de Deus é fundamental. Mas a ascese é uma necessidade. Sem ela, não temos como vencer e sermos pessoas plenamente realizadas na graça de Deus. Lembramos que a oração de cura interior é importante também. Mas às vezes as pessoas se tornam muito melindrosas e covardes, sempre colocando a culpa dos seus defeitos e problemas em acontecimentos passados ou em outras pessoas. Não se arrependem da sua própria culpa e nem enfrentam suas misérias com decisão, coragem e passos concretos. A ascese não tira a importância da oração de cura interior. Mas ela vem lembrar-nos a importância do sacrifício da cruz para realmente chegarmos à manhã da ressurreição. A ascese cristã inclui a oração de cura interior e a verdadeira oração de cura interior inclui a ascese.

Mortificação
 
“Façam morrer aquilo que em vocês pertence à terra: fornicação, impureza, paixão, desejos maus e a cobiça de possuir, que é uma idolatria.” (Col 3,5) “Se vocês vivem segundo os instintos egoístas, vocês morrerão; mas se com ajuda do Espírito fazem morrer as obras do corpo, vocês viverão.” (Rm 8,13). Este “fazer morrer o que gera a morte em mim com ajuda do Espírito Santo” é o passo fundamental da ascese cristã, o passo da mortificação. Assumir a cruz da renúncia, sobretudo a renúncia de si mesmo, e seguir Jesus com fé, fidelidade, obediência e prontidão: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. Com efeito, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida?” (Mt 16,24)
A mortificação é, numa palavra, um combate determinado e permanente contra as sequelas do pecado original que insistem em querer nos escravizar e destruir. Para o homem novo viver, o homem velho precisa morrer, e morrer cada vez mais para que o homem novo cresça e se fortaleça cada vez mais. “Portanto, em nome do Senhor, digo e recomendo a vocês: não vivam como os pagãos, cuja mente é vazia. A inteligência deles se tornou cega, e eles vivem muito longe da vida de Deus, porque o endurecimento do coração deles é que os mantém na ignorância. Vocês devem deixar de viver como viviam antes, como homem velho que se corrompe com paixões enganadoras. É preciso que vocês se renovem pela transformação espiritual da inteligência, e se revistam do homem novo, criado segundo Deus na justiça e santidade que vem da verdade.” (Ef 4,17ss)
Vemos nas palavras acima que a mortificação começa pela “renovação espiritual da inteligência”, o que pressupõe a morte das ignorâncias e pensamentos errados. O homem é um ser racional. Ele vive de acordo com o que pensa e enxerga mais com o que tem na mente do que com os olhos. Por isso que tem gente que vê, mas não enxerga. Tem gente que não enxerga um palmo depois do nariz. Porque lhes falta o conhecimento da Verdade, porque a “inteligência deles se tornou cega”. Era o que São Paulo já dizia em Colossenses 3,1-4: “Se vocês foram ressuscitados com Cristo, procurem as coisas do alto. Pensem nas coisas do alto (naquilo que é bom e virtuoso), e não nas coisas da terra (baixarias)”.
Mas a mortificação vai além da morte das ignorâncias e pensamentos ruins. Concretamente, diz Paulo, precisamos abandonar tudo aquilo que vai contra o projeto de Deus: “ira, raiva, maldade, maledicência e palavras obscenas” e vestir-se “de sentimentos de compaixão, bondade, humildade, mansidão, paciência”. E conclui: “Suportem-se uns aos outros e se perdoem mutuamente. E acima de tudo, vistam-se com o amor, que é o laço da perfeição.” (Col 3,8ss)
Mortificação é, portanto, um espírito de renúncia e atitude de permanente combate do mal que quer me aprisionar e destruir, seja este proveniente das minhas próprias entranhas, influências negativas do mundo ou de Satanás. Quanto mais renunciamos e combatemos o que não condiz com o projeto de Deus, mais nos fortalecemos espiritualmente e cada vez mais vamos amadurecendo como pessoa humana. É assim que se dispa do homem velho e se reveste do homem novo.
A obediência à Palavra de Deus e à Igreja, a disciplina pessoal, a fidelidade aos compromissos assumidos, a perseverança na caminhada discipular, a pontualidade, os bons comportamentos, a obediência aos discipuladores e acompanhantes, a paciência no meio das tribulações, o amor para com Deus e o próximo, o desprezo por aquilo que puxa para baixo e a busca do equilíbrio nos relacionamentos humanos são exemplos de mortificações que nunca devem cair no esquecimento. Não precisamos inventar nada para se mortificar. Basta assumir a cruz da vida e da missão com fidelidade. Mas certos de que o caminho da cruz é o único que conduz à ressurreição.

Penitências

Ascese não é masoquismo. Não é inventar sofrimento pelo sofrimento. Isto não tem sentido e é doentio. Os exercícios ascéticos não são fins, mas meios. O fim da ascese é a nossa santidade e a nossa maturidade, ou seja, a nossa plena realização humana na graça de Deus, para que tenhamos vida, e vida em abundância. Através dos exercícios ascéticos cooperamos de modo concreto com a obra de Deus na nossa vida. Além da determinação de matar o homem velho corrompido pelo pecado original e o espírito de renúncia a tudo aquilo que não condiz com a nossa dignidade (mortificação), a ascese comporta os vários tipos de penitências. Estas devem ser compreendidas e praticadas sempre em vista do nosso verdadeiro bem e de acordo com a realidade da vida de cada pessoa.
As penitências são assumidas livremente por amor a Jesus e pelo desejo sincero de ordenar a vida e corresponder à sua vontade. São formas concretas de chorar pelos pecados cometidos, repará-los e se fortalecer para não cometê-los mais. Elas nos ajudam a sair da intenção para a cooperação efetiva e específica com a graça de Deus. Através das penitências também podemos interceder por outras pessoas. Além disso, elas nos ajudam a ser solidários com a dor de Jesus, da Igreja e de todos os sofredores do mundo (Col 1,24ss). Por tudo isso, porque nos ajudam a sermos verdadeiros cristãos rumo a nossa plena realização, as penitências são muito agradáveis a Deus e à Igreja.
Na mortificação há um espírito de repressão da concupiscência, renúncia e combate do mal. Nas penitências, esta atitude fundamental da mortificação permanece mais, além disso, assumem-se determinadas práticas, que exigem determinados sacrifícios, em vista de determinados fins. A mortificação tem um fim mais generalizado: a vida em plenitude, a maturidade, a santidade. As penitências são sacrifícios pontuais e com fins específicos: expulsão de demônios, reparação de pecados cometidos, libertação de vícios, fortalecimento da boa vontade, superação de determinados defeitos de personalidade e paixões desordenadas, limpeza de imundícies interiores, recebimento de graças etc
As penitências principais, porque agregam outras em torno de si, são o jejum, a esmola e a oração (Mt 6,1ss). 

Jejum

A finalidade específica do jejum é a libertação de tudo aquilo que nos aprisiona, como os instintos egoístas, pecados, vícios, pensamentos e sentimentos negativos, energias negativas do mundo e os demônios.
Na prática, o jejum é um modo concreto de dizer para si mesmo e para Deus, a partir das entranhas do ser e com todo o ser, que não se quer viver só da matéria e para a matéria, que não se quer viver escravo e dependente de forças externas, sejam elas quais forem, inclusive os próprios demônios. Ao jejuar a pessoa sai da intenção e entra no combate. O seu corpo pede algo, mas a pessoa diz não, e diz não de modo efetivo, educando e subordinando o corpo à vontade de Deus.
Através do jejum, a pessoa cresce no auto-domínio, direciona a sua vida para as coisas do alto e ordena a sua existência segundo o Evangelho. E se a opressão e a desordem vêm dos demônios, estes também são enfraquecidos e expulsos.
O jejum é uma auto-afirmação de que se quer viver em plenitude e uma prece a Deus para ser libertado de tudo aquilo que acorrenta a vida humana.  Por isso Jesus dizia que alguns demônios, sobretudo aqueles que fazem uso das nossas fraquezas e vícios, só são vencidos com jejum e oração, porque o jejum já é em si mesmo, uma oração muito forte e poderosa. A prece do jejum nunca é de “boca para fora”, porque sempre nasce das entranhas do ser.
Concupiscente, o homem quer mais e mais, e nunca se satisfaz. Este é o caminho do egoísmo, da ganância e da idolatria do ter, do poder e do prazer, que tanto mal faz à própria pessoa e à sociedade em geral. Por isso, a essência do jejum é a privação de alimentos ou a abstenção de algo que é muito prazeroso ao corpo e aos sentidos. Quando se limita a quantidade de alimentos ou se abstém de alguns com o firme propósito de cortar o mal pela raiz, com o tempo, isso resulta em libertação e crescimento humano e espiritual.
Que nunca se deixe de fazer o jejum e a abstenção de alimentos, pois o mal da gula é um pecado capital que traz muitos outros consigo. Mas mesmo assim, é importante também jejuar e abster-se de outras coisas que também escravizam, como por exemplo, festas, jogos, programas, conversas informais e bebidas.

Esmola

Concupiscente, o homem tende a se fechar em si mesmo e esquecer o próximo. Daqui nasce a injustiça, a miséria de muitos e a estruturas de morte espalhadas na sociedade. A penitência da esmola ajuda o homem a ir de encontro ao irmão e fazer o bem sem olhar a quem, com uma mão amiga de modo que a outra não a veja.
Na sua essência a esmola é caridade, o amor em ação.
Na esmola estão incluídas as sete obras de misericórdia corporais (Dar de comer a quem tem fome; Dar de beber a quem tem sede; Vestir os nus; Dar abrigo aos peregrinos; Assistir aos enfermos; Visitar os presos; Enterrar os mortos) e as sete obras de misericórdia espirituais (instruir/evangelizar; aconselhar, consolar, confortar, perdoar, suportar com paciência e rogar pelos vivos e pelos mortos).
Dentro do contexto da modernidade, devemos continuar fazendo o bem sem olhar a quem. Porém, devemos discernir se é o bem mesmo que estamos fazendo ou apenas estamos ajudando a enraizar problemas sociais já existentes. Por isso, nem sempre é salutar dar uma esmola a uma criança na rua ou simplesmente entregar comida a alguém que bate à nossa porta. Além disso, dar esmola também significa saber votar com consciência, lutar pelos direitos humanos, defender a vida e o meio ambiente, exigir melhorias para a sociedade etc O cristão sempre tem uma visão que consegue enxergar para além do aqui e agora e a pensar no verdadeiro bem da humanidade. Uma boa intenção sem o devido discernimento nem sempre resulta em um verdadeiro bem para os verdadeiros necessitados.

Oração

Oração é relacionamento vivo, amoroso e consciente com Deus. Por isso, a princípio, ela não deve ser tida como uma penitência, porque Deus não é ruim e nem causa medo.
Porém, considerando que muitas vezes vivemos como se Deus não existisse, ou adoramos falsos deuses, ou temos preguiça de rezar (tibieza e aridez), e tudo isso concorre para a nossa própria desgraça, então, às vezes, temos que orar mesmo contra a nossa própria vontade e reservar tempo para a oração mesmo em meio às muitas ocupações e dificuldades da vida.
Rezar contra a própria vontade porque nem sempre nossa vontade está de acordo com a vontade de Deus. Ir á missa mesmo quando não se deseja. Isto é penitência que nos ajuda a colocar Deus em primeiro lugar e no centro da nossa existência. A oração não depende da minha vontade, mas da minha determinação. Quando determino que vou rezar e sou fiel à oração, a minha alma se dilata e o meu coração se abre para a Graça. A carne é vencida e Deus mesmo, pelo consentimento que lhe dei ao decidir rezar, entra na minha vida e faz a sua obra.
Não existe liberdade maior do que esta de decidir sobre a própria vontade. Quem mantém uma vida de oração com certeza também sabe viver com sobriedade e está caminhando rumo à verdadeira felicidade. A penitência da oração, neste sentido, é muito agradável a Deus e muito benéfica para o cristão.

Vigília de Oração

As Vigílias de Oração, como nome já diz, são sempre durante a noite, pela madrugada adentro. São exercícios ascéticos muito importantes para combater o homem velho, vencer determinados males e alcançar as graças divinas no decorrer da Caminhada Discipular.
“Eu amo os que me amam, os que madrugam por mim me encontram”, diz o Senhor (Pv 8,17). Quem vai madrugada adentro assistindo televisão, mesmo cochilando, quer o conteúdo da televisão... Quem atravessa a noite numa fila para pegar um lugar bem próximo do palco do cantor, é porque é fã deste cantor... De modo similar, Deus vê que a intenção de quem se coloca em Vigília de Oração é o encontro com Ele e a conformidade com a sua vontade. O estar na Vigília, por si só, já é oração, e oração com todo corpo, alma e vontade!
Os espíritos malignos e as outras forças do mal sempre entram em ação quando vamos dar passos importantes. Mais do que nunca, orar e vigiar! Por isso as vigílias se encaixam muito bem antes de grandes momentos da nossa vida e da nossa missão, quando precisamos nos adequar totalmente à vontade de Deus, ser fortalecidos na fé, receber a unção do Espírito Santo e a proteção contra Satanás e seus demônios.
No Evangelho, por várias vezes, vemos Jesus passando a noite toda em oração, sobretudo antes de tomar grandes decisões ou dos momentos mais importantes da sua vida (Lc 6,12; 10,21; 22,39). Que o exemplo do nosso Mestre sempre nos encoraje e motive a sempre subir a montanha para Vigília de Oração!
Um cuidado: nunca desvirtuar uma vigília. Elas são sempre vigílias para oração de louvor, adoração e súplica. Porque às vezes o pessoal inventa muita coisa e rezar que é bom, nada!

Retiro de Espiritualidade

O Evangelho nos informa que Jesus também “se retirava a lugares solitários para orar” (Lc 5,16). Despedia as multidões, dava um tempo para si mesmo e subia sozinho à montanha para orar (Mt 14,23). Ainda de madrugada, dirigia-se a um lugar despovoado para orar (Mc 1,35).
O Retiro de Espiritualidade, como nome já diz, é caracterizado pelo se retirar do meio do corre-corre do mundo e das atividades diárias para um lugar deserto, calmo e despovoado, para estar a sós com Deus. Torna-se uma ocasião favorável para a oração profunda, meditação da Bíblia, revisão da vida e discernimento espiritual.
A nota dominante do Retiro de Espiritualidade é o silêncio. Apenas as orações comunitárias e a pregação da Palavra de Deus ecoam de tempos em tempos pré-estabelecidos no programa. No silêncio, cada retirante vai refletindo, meditando e discernindo a sua vida na presença de Deus.
É importante não desvirtuar o Retiro de Espiritualidade. Não confundir com congresso, curso de formação ou outros tipos de eventos.

Adoração ao Santíssimo

Jesus, o Sol da Justiça, nos cura com os seus raios (Mal 3,20; Lc 1,78). É simples. Basta nos expormos ao sol para que Ele nos aqueça... A Adoração ao Santíssimo não é nem falar demais e nem se concentrar demais. É visitar ao Senhor como a um amigo, de coração a coração. Olhar para Ele e Ele olha para nós. Seu olhar cura com amor e comunica a graça. Quanto mais silêncio, melhor! Quanto mais tempo, melhor. Uma dica: Ao menos 60 minutos por semana.

xxx

Os protestantes acusam erroneamente a Igreja Católica de que ela tira o primado da graça quando ensina aos fiéis o valor da ascese e das boas obras.  Porém, como vimos, temos consciência de que só Jesus é a fonte da nossa salvação e de que nossos pecados foram redimidos pelo seu Sacrifício no Calvário. Porém, a Graça de Deus não exclui, muito pelo contrário, exige a nossa cooperação para que sejamos santos e maduros. Os exercícios ascéticos da mortificação e da penitência são necessários para darmos passos concretos na morte permanente do homem velho e no pleno desenvolvimento integral do homem novo. A Palavra de Deus e a Igreja nunca condenam a ascese porque ela brota da sabedoria da cruz, “loucura para aqueles que se perdem. Mas, para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus.” (1Cor 1,18)
Para concluir, vale lembrar que o caminho da ascese não é o caminho da tristeza e da amargura. Um cristão triste é um triste cristão! Se soubermos colocar o justo equilíbrio, haveremos de ter uma vida normal no meio do mundo, mas sem ser do mundo. O desejo de Deus é que saibamos viver de bem com a vida, com equilíbrio, harmonia, pureza e sobriedade. Morra o homem velho. Viva o homem novo que sabe trabalhar, namorar, se divertir, rezar, conviver com os irmãos. O homem novo que de passo em passo vai crescendo em santidade e maturidade, para viver com dignidade e ser plenamente realizado com a ajuda determinante do Espírito Santo. É isto a felicidade. O caminho da ascese é o caminho da verdadeira felicidade. O contrário é ilusão, fruto daquele que só vem para mentir, matar e destruir.
Como em tudo na vida, o discernimento é muito importante na ascese cristã. Por isso, não é bom exagerar nas penitências, como se o mais importante fosse uma atrás da outra, sem encaixá-las com o conjunto da Caminhada Discipular e a totalidade da vida humana, que também tem outras exigências e responsabilidades. Um médico ou um motorista, por exemplo. Ele devem ter muito cuidado na hora de trabalhar no hospital ou na estrada, sob o risco de sérios prejuízos para si mesmos ou para a vida de outras pessoas. Uma vigília de oração antes do seu expediente de trabalho não seria nada agradável a Deus. O Inimigo faz de tudo para atrapalhar, de modo que ele pode muito bem incentivar para uma vigília de oração no lugar errado e na hora errada. O discernimento é a bússola da Caminhada!