Temário 4 - Dimensão do Testemunho (26 07 19)

1º Encontro ____/ ____/ ____

As bem-aventuranças

Mt 5,1-12

No chamado Sermão da Montanha (Mt 5 – 7), com o um novo Moisés, dentro da mais pura tradição profética e sapiencial, com autoridade própria, Jesus sobe ao monte e prega o Evangelho do Reino de Deus e o caminho que a ele conduz. Deste modo, não abole a Lei e o Profetas, mas penetra-lhes o espírito e leva-as ao seu pleno cumprimento, superando, assim, a casuística e os desvios dos escribas e fariseus. “Quem considera com piedade e discernimento o Sermão proferido por Nosso Senhor Jesus Cristo na Montanha, tal qual lemos no Evangelho de São Mateus, nele há de encontrar, estou certo, com os mais altos valores morais, um programa acabado da vida cristã. Não ousamos garanti-lo de maneira infundada, mas baseando-nos nas palavras mesmas do próprio Senhor” (Santo Agostinho).
Na primeira parte do Sermão da Montanha (Mt 5,1-12) encontramos as oito bem-aventuranças. Jesus, na sua pedagogia do amor e de estímulo à bondade original do homem, preferiu apontar caminhos de felicidade em vez de estipular mandamentos. Porém, isto não significa que as oito bem-aventuranças não sejam imperativos da fé cristã. Elas possuem altíssimos valores morais que, quando enraizados no coração e postos em prática, haverão de se transformar em virtudes que conduzem o discípulo pelo caminho da vida em plenitude.
As bem-aventuranças são caminhos de felicidade, e portanto, de santificação e humanização. Elas conduzem ao Reino de Deus, a um estado de vida de amor e comunhão com o Criador. Por isso, existe uma promessa de Jesus para cada bem-aventurança que se refere diretamente ao próprio Reino ou a alguma característica deste Reino de Salvação. 

1ª Bem-aventurança: Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu. (Mt 5,3)
Para Jesus, ser pobre em espírito é uma alegria, e nos convida para esta pobreza. Não ser pobre de espírito, mas pobre em espírito. Porque uma pessoa pode ser pobre de bens materiais e também ser pobre de espírito, que é uma pobreza muito pior. Ser pobre em espírito é ter consciência da própria miséria e limitação. É uma predisposição para ser enriquecido pela graça de Deus. Como mendigo, devemos nos colocar diante do trono de Deus e implorar as suas bênçãos e graças. Isto nos faz vencer a auto-suficiência, o orgulho e a prepotência. Se não posso querer ser mais que meu irmão, quanto mais querer viver sem Deus ou acima de Deus.
A bem-aventurança da pobreza em espírito se contrapõe frontalmente com  o pecado original, que foi o orgulho do homem prescindir da vontade de Deus e sua graça. Por isso ela é a primeira bem-aventurança, porque é o oposto da primeira praga, o orgulho e a desobediência. Da mesma forma que o pecado original causou a perda do paraíso, a pobreza em espírito abre as portas para o Reino do Céu. Vemos que a recompensa para a primeira bem-aventurança é diretamente o reino de Deus.
Nesta primeira bem-aventurança estão incluídas a fé, a oração e a humildade. Logicamente, quem é pobre em espírito também é desapegado dos bens materiais e das pessoas, porque ninguém pode servir a Deus e ao dinheiro. Não cai na idolatria nem de nada e nem de ninguém.

2ª bem-aventurança: Felizes os que choram, porque serão consolados. (Mt 5,4)
O choro manifesta as aflições que o discípulo pode atravessar por conta das privações de algumas “alegrias temporais”. De fato, o Reino de Deus exige renúncias e sacrifícios. Às vezes temos que renunciar coisas intrinsecamente más, como a vingança, o fuxico, o roubo e a baixaria. Mas às vezes, tendo em vista a nossa missão, renunciamos coisas em si mesmas boas: privacidade, lazer, descanso, aconchego familiar etc  Pensemos numa mãe que não pode ir passear com as amigas porque tem que ficar ao lado do filho doente. O missionário que perde muito da sua privacidade por conta do seu ministério junto a serviço do povo. No nosso “ser de barro” choramos essas renúncias. Porém, se já aqui na terra vamos recebendo o cêntuplo de diferentes formas, quanto mais seremos recompensados no Reino do Céu quando formos plenamente consolados pelo Espírito Santo.
Neste exato momento, estou cansado junto ao meu computador, porque em meio às atividades de pároco e acompanhante do DJC, estou horas e horas redigindo este Temário de formação. Mas ao mesmo tempo, estou em paz e feliz. E isto não vem de uma recompensa material, pois não ganho dinheiro com este trabalho, mas simplesmente em saber que estou ajudando a edificar pessoas. Isto é um consolo que enche a minha alma de paz e esperança. Na verdade, digo com São Paulo: “Não existe alegria maior do que a alegria de servir!”
O Espírito Santo é Aquele que consola, enche os nossos vazios e dá sentido para todas nossas renúncias e sacrifícios que geram vida nova, unidos ao sacrifício redentor de Cristo Jesus na Cruz do Calvário. Nesta segunda bem-aventurança está incluída a esperança que faz perseverar em meio aos cansaços, choros, perseguições, aflições e crises.

3ª bem-aventurança: Felizes os mansos, porque possuirão a terra. (Mt 5,5)
Os mansos não são os bestas, os alienados e ingênuos da situação. Eles têm consciência do seu valor, da sua dignidade e dos seus direitos e com senso crítico e discernimento espiritual sabem como se organizar e reverter a situação de exploração à qual foram submetidos.
Oprimidos, marginalizados e despossuídos dos seus direitos e bens, os mansos não fazem o jogo dos opressores. Não partem para a violência e para a vingança, pois violência só aumenta violência e vingança só perpetua o mal. Por isso são chamados de mansos. Com muita sabedoria, paciência e determinação, vão se organizando e interferindo na cultura e na política, vão conscientizando e fermentando a sociedade, vão tomando posse do poder e dando novo rumo para a cidade e para a nação.  É desta forma que os mansos possuirão a terra: com mansidão! “Quem corre cansa, quem anda alcança!”
O grande aliado dos mansos é o próprio Deus. Ele vê os seus sofrimentos, escuta os seus gritos e desce para libertá-los (Ex 3). O bem sempre vence o mal. A luz sempre vence as trevas. A morte sempre vence a vida!

4ª bem-aventurança: Felizes os que têm forme sede de justiça, porque serão saciados. (Mt 5,6)
Na Bíblia, justiça é viver dentro dos parâmetros da Palavra de Deus. Justo é quem se ajusta ao plano do Criador. Fome e sede significa “desejo intenso”. Aquele que deseja intensamente viver de acordo com a Palavra de Deus será saciado, será plenamente realizado como pessoa humana na graça de Deus. 

5ª bem-aventurança: Felizes os que são misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. (Mt 5,7)
“A misericórdia ou piedade é um dos atributos máximos de Deus” (Ex 34,6). Felizes aqueles que se assemelham a Deus em tão alto grau de santidade! São lentos para a cólera e cheios de compaixão e bondade. São capazes de perceber a miséria do próximo e, como o bom samaritano, parar e auxiliá-lo na sua necessidade espiritual ou material. A misericórdia gera a solidariedade.
A misericórdia é o amor que rebaixa para erguer o caído e se compromete com a felicidade do outro. Com a mesma medida também será medido: receberá misericórdia no tribunal da justiça divina!

6ª bem-aventurança: Felizes os puros de coração, porque verão a Deus. (Mt 5,8)
As bem-aventuranças são um conjunto harmonioso, assim como todo o restante da Revelação Divina.  Quando pensamos que uma tira determinados passos que devemos dar na vida, a outra vem nos lembrar da necessidade dos mesmos. Quando se pensa que a misericórdia esconde a sujeira, Jesus logo lembra que precisamos ser puros para podermos comtemplar o rosto de Deus. Isto porque sujeira é sempre sujeira. Precisamos realmente nos limpar para podermos enxergar, para podermos viver na luz.
 O homem deve ser puro para poder entrar no Reino de Deus. Os puros não só se purificam da lama e do pecado na água viva da Graça de Deus, mas procuram ter os mesmos pensamentos e sentimentos de Cristo Jesus para poder enxergar com a mentalidade de Jesus.
Na pureza estão incluídas as virtudes da sinceridade (sem falsidade), da castidade (vivência correta da sexualidade), da sobriedade (equilíbrio e posse de si mesmo) e da sabedoria (luz que ilumina a nossa mente e o nosso coração).

7ª bem-aventurança: Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. (Mt 5,9)
Paz é vida em plenitude (shalom). Quem promove a paz promove e defende a vida humana desde a sua concepção até o seu término natural. Também zela pela natureza, pelo meio ambiente e pela concórdia na família e na sociedade em geral. Ser promotor da paz implica não agir contra a mesma através de fuxicos, fofoca, falso testemunho, violência e injustiças, porque a paz social nasce da justiça. 
O promotor da paz é um aliado de Jesus, o “Príncipe da Paz” (Is 9). Merecidamente recebe o nome de filho de Deus!

8ª bem-aventurança: Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu. (Mt 5,10)
Se você tem o desejo sincero de ser justo e santo em Jesus, de viver a vida conforme a Palavra de Deus, então já pode se considerar feliz, pois necessariamente vai dar passos nessa direção e com toda certeza será saciado. Porém, pode acontecer que, em um determinando contexto, a causa da justiça levante verdadeiras perseguições e calúnias. Então o discípulo deve se alegrar mais ainda e perseverar, porque o reinado de Deus lhe pertence. Por isso Jesus enfatizava esta última bem-aventurança, tendo em vista os momentos difíceis que seus discípulos iriam atravessar: “Felizes vós quando vos injuriarem e vos perseguirem e vos caluniarem de tudo por minha causa. Ficai contentes e alegres, pois vosso prêmio no céu é abundante. Da mesma forma perseguiram aos profetas que vos precederam!” (Mt 5,11-12)

Vejamos bem:
- Ser pobre em espírito (primeira bem-aventurança) significa ter uma abertura fundamental para todas as graças de Deus e sua vontade. O pobre em espírito é o necessitado e humilde que estende a mão, pede a graça e deseja viver de acordo com a vontade do Soberano doador da Graça. Esta abertura fundamental é o começo de tudo. Deus só faz a sua obra naqueles que são humildes, porque sem humildade Ele mesmo é posto fora, Ele mesmo é expulso.

- Perseverar no projeto de Deus, na justiça e santidade, mesmo em meio a calúnias e perseguições (última bem-aventurança) é sinal evidente de que foi feita uma opção fundamental por Jesus e seu Evangelho. Quem faz esta opção fundamental busca antes de tudo o Reinado de Deus na sua vida, então tudo de bom lhe é acrescentado. Quem faz esta opção fundamental, coloca-se no caminho do Reino. Mesmo que tropece ou desanime, levanta-se e continua a caminhar e, com certeza, sustentado pela Misericórdia Divina, um dia chegará. 
Deus vê antes de tudo esta abertura do coração e esta opção, pois elas são fundamentais. São as condições para Ele entrar e agir na vida do discípulo de Jesus.  A primeira e a última bem-aventurança são, portanto, as duas bem-aventuranças principais. Elas contêm as outras seis bem-aventuranças e garantem de forma direta a entrada no Reino de Deus, pois somente elas duas têm como promessa direta o próprio Reino de Deus.
Ser pobre em espírito e optar pela justiça e santidade é, portanto, o caminho que todo discípulo de Jesus deve iniciar e perseverar, é o caminho do Reino de Deus. Aquele que inicia este caminho sabe desde o início, no seu coração de pobre, que “é Deus que realiza na sua vida tanto o querer como o fazer, conforme o seu desígnio benevolente, para que seja filho de Deus sem defeito” (Fil 2,12s). Por isso jamais deixará de rezar e estar unido à videira, por que sem a Graça de Jesus ele é nada e faz da sua vida um nada (Jo 15,8).

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“Alegrai-vos no Senhor, eu repito, alegrai-vos!” (São Paulo). O discípulo de Jesus já deve ser um bem aventurado, uma pessoa realmente feliz no caminho do Reino, assim como será por toda eternidade. Este é o testemunho da alegria, tão importante para este mundo muitas vezes frio e triste. “Um cristão triste é um triste cristão!” Feliz, não porque não encontrará dificuldade e mesmo incompreensões, calúnias e perseguições. Jesus não mente, Jesus não engana ninguém. O seu discurso é muito claro e objetivo: “Quem quiser me seguir, tome a sua cruz e siga-me!”
Mas aquele que não engana também não abandona. O discípulo deve ser feliz porque Jesus promete que enviará o seu Espírito de Poder para que sejam suas testemunhas até os confins da terra (At 1,8). O seu Espírito o cumulará da verdadeira paz e da verdadeira felicidade. A Bem-aventurada Maria de Nazaré, que tinha consciência da sua missão de co-Redentora da humanidade e uma espada de dor também ia lhe transpassar a alma, cantava: “Minha alma glorifica o Senhor, meu Espírito exulta em deus, meu Salvador!” Que ela seja nossa feliz companhia e intercessora no seguimento de Jesus rumo ao Reino definitivo de Deus.









2º Encontro ____/ ____/ ____

Sal da terra
e luz do mundo

Mt 5,13-16

O testemunho não é um apêndice, mas uma dimensão da vida cristã-batismal porque é impossível ser discípulo de Jesus na esfera privada e contradizê-lo no espaço público. Aquele que se envergonha e renega Cristo Jesus na frente dos homens também será renegado por Ele na frente do Pai Celeste. Jesus deixa isto bem claro para que sejamos cristãos de verdade e não apenas de aparência. O cristão ou é sal na terra e luz no mundo ou não é verdadeiro cristão.  Quando prometeu o Espírito Santo Jesus dizia que era para sermos suas testemunhas até os confins do mundo (At 1,8). Haveríamos de estar no mundo, mas sem ser do mundo, para fermentá-lo e fazendo com que o Reino de Deus fosse se expandindo sobre a face da terra.
O testemunho começa com a consciência de sermos filhos de Deus nascidos no batismo e viver uma vida digna do Evangelho de Cristo, conformando nossos pensamentos, palavras e ações aos “sentimentos de Cristo Jesus” (Fl 2,5) e seguindo seus exemplos (Jo 13,12-16). “Cristão, reconhece a tua dignidade. Por participares agora da natureza divina, não te degeneres, retornando à decadência de tua vida passada. Lembra-te da Cabeça a que pertences e do Corpo de que és membro. Lembra-te de que foste arrancado do poder das trevas e transferido para a luz e o Reino de Deus” (São Leão Magno).
Realmente, não basta saber de Deus (teologia); não basta falar com Deus (oração). É necessário deixar a experiência espiritual expressar-se não apenas em linguagem religiosa (ritos, fórmulas, símbolos, devoções), mas também em atitudes de fé, em frutos de amor, em testemunho e apostolado. A fé deve se tornar valor na nossa vida, a oração verdadeira sempre se desdobra em ação. Enquanto que o testemunho se caracteriza mais pelo SER DISCÍPULO, o apostolado tem em vista o FAZER DISCÍPULOS. Antes de tudo, o Espírito Santo nos faz SER CRISTÃOS para que possamos VIVER COMO CRISTÃOS.
Na Bíblia o homem de fé é chamado a ser testemunha de Deus (Sl 89,37s; Is 43,10-12; 55,4), a ser testemunha de Jesus Cristo (At 1,8; 22,15; 1Cor 15,15). Por testemunho referimo-nos não tanto ao anúncio explícito do evangelho, mas à presença cristã, pessoal ou coletiva no dia a dia do trabalho, do lazer, da família, da escola, da sociedade em geral, como o fermento na massa. O testemunho cristão, mesmo quando quase imperceptível fermenta e transforma o mundo. Por isso Jesus dizia aos seus discípulos: “Vocês estão no mundo, mas vocês não são do mundo!”
O cristão é testemunha Jesus quando na convicção da fé e sustentado pela Graça do Espírito Santo, persevera no caminho da salvação e a todos transmite a luz da fé através do seu exemplo, podendo por isso ser perseguido (Lc 21,13-14; Ap 1,9) e até mesmo martirizado (At 22,20). Nesta perspectiva, o testemunho é sinal de autêntica espiritualidade e é uma grande caridade, pois através do nosso comportamento muitas pessoas também poderão se tornar discípulas de Jesus. No contexto da modernidade, quando o secularismo gerou toda uma onda de ateísmo e paganismo, o testemunho dos cristãos é fundamental para a conversão, pois muitas pessoas deixam de acreditar em Deus ou enveredam por caminhos errôneos porque aqueles que dizem acreditar em Jesus não vivem de acordo com o que acreditam, se é que acreditam de verdade.
Jesus disse: “Vocês são a luz do mundo. Que a luz de vocês brilhe diante dos homens, para que eles vejam as boas obras que vocês fazem e louvem o Pai de vocês que está no céu” (Mt 5,14.16). Seria muito egoísmo da nossa parte esconder tudo de bom que o Senhor realizou na nossa vida. Por isso, a fim de que outros possam conhecer o Deus Único e Verdadeiro, Jesus nos orienta a deixar que a nossa luz brilhe diante dos homens. Ninguém acende uma lâmpada para colocar debaixo da mesa. Do mesmo modo, aquilo que temos de bom, o nosso desenvolvimento, o nosso crescimento na vida cristã, as bênçãos recebidas, tudo deve ser testemunhado, ou seja, tudo deve ser posto às claras a fim de que os outros também possam permitir que o Senhor reine na sua vida.
Não testemunhamos para o nosso próprio interesse. O testemunho é uma obra de caridade. Devemos ser pequenas setas que apontam para Deus, do mesmo modo que São João Batista encaminhava as pessoas para Jesus com muita humildade. Testemunhamos nossa fé com a nossa vida para a maior glória de Deus e bem das pessoas, e não para a nossa própria glória.




Humildade e simplicidade

A humildade é o tronco de todas as virtudes e a simplicidade é a sua roupagem. Sem ela ninguém cresce. Porém, precisamos diferenciar humildade de relaxamento, sujeira, feiura e complexo de inferioridade.
O Batismo é um banho que lava e purifica associando a pessoa a Cristo e ao mesmo tempo ao seu Corpo Místico, a Igreja. Por isso, logo de início, o que caracteriza um cristão em meio aos outros é o fato de ser de Cristo e da Igreja, não de Satanás e do mundo. No mundo, em Nome de Cristo, o batizado deve ser plenamente cristão, ser sal da terra e luz do mundo, essa é a sua missão. Não é o mundo que deve mundanizar a Igreja. Pelo testemunho dos seus membros, é a Igreja que deve fermentar o mundo com a santidade de Cristo e os valores do Evangelho, a fim de que o Reino de Deus cresça e haja “novos céus e nova terra”.
Porém, este dever luminoso dos cristãos não deve levar ao farisaísmo e à vaidade. A vaidade é enganosa. É como cebola de cabeça, tem muitas cascas. O cristão poderia ser sal da terra e luz do mundo para aparecer, e isto deixaria de ser um testemunho evangélico e não passaria de pura hipocrisia. O cristão poderia demonstrar ser humilde para aparecer humilde, e isto já deixaria de ser humildade. A vaidade tem uma casca que encobre a outra casca até não sobrar mais nada. Por isso, o testemunho é marcado pelo ser sem querer aparecer. O cristão autêntico não precisa de placa de propaganda na testa. Simplesmente, em meio às mais diversas circunstâncias da vida, dentro ou fora da Igreja, ser cristão, ser de Deus, ser autêntico no dia a dia, e nada mais. O resto é por conta de Deus que faz realmente ser o que somos. Como dizia o Apóstolo Paulo, com muita consciência e simplicidade, “sejam meus imitadores assim como eu o sou de Cristo Jesus. Pela graça de Deus sou o que sou, e a graça de Deus em mim não foi em vão!”
Jesus ensina no Evangelho que temos o dever de testemunhar nossa vida nova na graça de Deus, pois ninguém acende uma lâmpada para colocar debaixo da mesa, enquanto toda casa permanece na escuridão. Pelo modo como vivemos, falamos e nos comportamos, por aquilo que fazemos ou deixamos de fazer, temos o dever de ser sal da terra e luz do mundo. Sal para dar o gosto de Deus na vida das pessoas com quem convivemos. Luz para que as sombras da morte e as trevas do pecado, do erro, da mentira e ignorância sejam dissipadas pela Verdade. Mas tal testemunho seja exercido de tal forma, sobre o pedestal da humildade e sinceridade, que no final Deus seja glorificado e as pessoas edificadas, não aquele que testemunha. É isto. O testemunho tem a marca da glorificação de Deus, a largueza do amor ao próximo e o rosto da simplicidade.
Os fariseus do tempo de Jesus chegaram ao cúmulo do orgulho e da prepotência. Pensavam que eram salvos pelos seus méritos como fiéis cumpridores das obras da Lei e ao mesmo tempo consideravam-se melhores do que todos os outros cidadãos. Tinham a boca cheia e diziam em alto e bom som: “Já somos salvos!” O cristão tem consciência da obra de Deus na sua vida e é muito agradecido por isso. Sabe que deve viver a vida nova de filho de Deus e dar testemunho da mesma, pois a lâmpada não foi feita para ficar debaixo da mesa. Porém, tudo com muita humildade, sobriedade e simplicidade. Se Jesus não veio nem para ficar acusando e nem condenando, muito menos nós devemos nos arvorar em juízes dos outros, uma vez que somos muito menos que o nosso Mestre e Senhor. Aquele que tem prazer em condenar e acusar, em vez de estar próximo de Jesus, está muito fermentado é pelo Diabo, cujo nome significa Condenador e Acusador.
A esse respeito Jesus falava de dois homens que foram rezar no Templo. Um era fariseu e o outro era publicano. O publicano rezava com humildade e suplicava piedade e misericórdia a Deus. O fariseu se exaltava e esqueceu até de glorificar a Deus. O primeiro foi justificado, enquanto o outro enrolou-se cada vez mais nas cascas da sua vaidade com cara de santidade. A vaidade é tão perigosa que até quando vamos rezar podemos nos cultuar, em vez de cultuar a Deus. Por isso, muito cuidado para não confundir testemunho de santidade com vaidade. O remédio é sempre muita humildade e simplicidade, oração e vigilância, mais “ser” do que “parecer ser”, mais essência do que aparência.
A simplicidade, o amor, a sinceridade e a humildade são as bases do verdadeiro testemunho cristão. Se de um lado devemos testemunhar, de outro, nada de vanglória, acusação e condenação. Eis o equilíbrio de uma vida virtuosa no meio do mundo de hoje. Isto é possível quando procuramos ser cristãos de verdade e vamos vivendo a nossa vida nova com muita convicção e profundidade. Por isso Jesus dizia: “Que a vossa luz brilhe, de tal modo que os homens glorifiquem o Pai Celeste”.
A consciência profunda de que tudo é graça de Deus desde a nossa conversão e de que apesar de salvos, precisamos estar sempre orando e vigiando para não cairmos em pecado grave e perdê-la gera em nós a simplicidade e a humildade próprias da verdadeira santidade. Fazemos a nossa parte, mais na verdade, tudo é obra da graça de Deus. Já não somos o que éramos, mas também ainda não somos o que devemos ser. O cristão já é santo, mas ao mesmo tempo, ainda é um santo a caminho. Este tempo que todos estamos vivendo é marcado pela tensão escatológica do “já” e do “ainda não”. É um tempo de salvação, de combate e de peregrinação. “A honra, a glória e a salvação pertencem ao que está sentado no trono e ao Cordeiro! Amém!” (Ap  ). Por isso o Apóstolo Paulo, ao mesmo tempo que convidava as pessoas para imitá-lo, e como somos edificados pelos bons exemplos das boas pessoas, também dizia que tudo na sua vida era obra da graça de Deus e que ele mesmo ainda estava a caminho. O tesouro que encontrara em Cristo ele não trocava por nada. Tudo mais passou a ser considerado esterco diante da Graça que encontro em Cristo Jesus. Mas ao mesmo tempo, sem olhar para trás, olhava para frente, rumo à vida plena em Cristo Jesus, correndo para alcançar a meta, tendo em vista que já tinha sido alcançado pela Graça de Deus. (Fil)








3º Encontro ____/ ____/ ____

A moral cristã

Mt 5,17-20

Para sermos plenamente realizados, desde os tempos de Moisés Deus prescreveu os 10 Mandamentos, o Decálogo (Dt 5). Eles podem ser agrupados da seguinte forma:

Deveres para com Deus:

1º - Amar a Deus sobre todas as coisas.
2º - Não pronunciar o Nome de Deus em vão.
3º - Guardar o Dia do Senhor.

Deveres para com o próximo e consigo mesmo:

4º - Honrar pai e mãe.
5º - Não matar.
6º - Não pecar contra a castidade.
7º - Não roubar.
8º - Não dar falso testemunho.
9º - Não desejar a mulher do próximo.
10 - Não cobiçar as coisas alheias. 

“Não pensem que eu vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim abolir, mas dar-lhes pleno cumprimento”, disse Jesus aos seus discípulos (Mt 5,17). No mesmo espírito das bem-aventuranças, para tornar possível o pleno cumprimento da Lei de Deus, com autoridade própria, Jesus ministrou uma nova interpretação da mesma.
Para Jesus, mais do que uma legislação, o Decálogo tem a ver com o nosso dever moral e com a nossa condição de filhos de Deus. A perspectiva nova do ensinamento de Jesus supera o casuísmo dos escribas e fariseus e centraliza a observância da Lei de Deus no coração de cada pessoa. Por isso Ele resumiu os Dez Mandamentos no Duplo Mandamento do Amor, que é, por assim dizer, o maior de todos os Mandamentos: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo!” Sob a luz de Cristo, Santo Agostinho dizia: “Ama e faze o que quiseres!” A lei mata, o Espírito é que dá a vida. Devemos adentrar no espírito da Lei de Deus, que é o amor, e obedecê-la, ou melhor, vivê-la, a partir de dentro do coração, que é o centro da nossa pessoa, da nossa vida, dos nossos sentimentos e decisões.  Quem ama de verdade nunca deseja o mal do próximo.
A moral cristã, que aponta o modo de ser, de viver e agir de cada cristão no seguimento de Jesus, é pautada pelo Decálogo e centralizada no Amor. Os Dez Mandamentos da Lei de Deus favorecem a verdadeira liberdade e formam a consciência cristã da pessoa. Ajudam a frear os vícios que escravizam na morte e cultivam as virtudes que libertam para a vida. Promovem a paz interior e a paz universal, pois estão em harmonia com a ética e a lei natural. Desta forma, são imperativos morais universais para todas as criaturas humanas.
Em suma, os Dez Mandamentos nos ajudam a viver com dignidade a nossa condição humana, em harmonia com Deus, com o próximo e com a natureza, assim como viviam os nossos primeiros pais antes do pecado original. Livres e conscientes, devemos obedecer aos Mandamentos de Deus, pois somente neste caminho seremos plenamente realizados tanto individualmente como coletivamente. “Portanto, quem violar o mínimo desses preceitos e ensinar os outros a fazê-lo, será considerado mínimo no reino de Deus. Pois eu vos digo: se a vossa justiça não superar a dos letrados e fariseus, não entrareis no reino de Deus.” (Mt 5,19-20)
Jesus supera o caso-por-caso (casuísmo legalista) dos escribas e fariseus, que deformava a própria compreensão e a prática da Lei, porque para Ele, criado à imagem e semelhança de Deus, o ser humano é essencialmente um ser racional, moral e espiritual. Deus se relaciona com o homem no horizonte da liberdade e escreveu as suas leis na sua consciência a fim de que possa dialogar com ele, discernir e ser responsável pelas suas decisões. A liberdade do homem não é absoluta, pois ele tem leis naturais a obedecer. Mas é justamente quando vive de acordo com essas leis do amor de Deus, que é realmente livre e verdadeiramente realizado. O homem livre é, portanto, um homem teônomo. Nem heterenomia e nem autonomia, mas teonomia.
Para Jesus, somos a nossa história. Não no sentido de que somos produtos do meio em que crescemos, embora tenhamos recebido influências dos mais variados tipos na família, na escola, na Igreja e em outros ambientes da sociedade. Pela liberdade sempre podemos ir além dessas influências, transcender as circunstâncias momentâneas, fazer escolhas e renúncias, redirecionar a nossa vida. Sendo verdadeiramente livre, embora influenciado, o homem nunca é produto do meio social ou da natureza. O cachorro é determinado. O peixe também o é. Por isso eles não têm liberdade propriamente dita. O homem é livre. Isto é uma grande graça, mas ao mesmo tempo uma grande responsabilidade. Pela liberdade podemos transcender as circunstâncias e influências. Por isso somos responsáveis pela nossa vida, pelo que fazemos ou deixamos de fazer, por nossas escolhas e por nossas renúncias, por nossas vitórias e derrotas. Diante de nós está a água e o fogo, a vida e a morte, o bem e o mal. Teremos o que estendermos mão, seremos aquilo que escolhermos ser (Eclo).
Para Jesus, pela consciência sabemos naturalmente o que é o bem e o mal, porque o Criador escreveu na nossa mente os princípios éticos universais que norteiam o nosso agir e nos julgam por si mesmos no exato momento em que não procedemos de acordo com os fins para os quais fomos criados. A liberdade é o horizonte no qual a consciência floresce. Por sua vez, a consciência possui as suas leis que julgam a própria liberdade quando esta se transforma em libertinagem.
O homem é um ser livre e consciente. Nisto consiste a sua dignidade, daqui despontam os princípios éticos universais e aqui está a base dos direitos humanos fundamentais e inalienáveis de toda pessoa humana. Desta forma, os Mandamentos de Deus englobam o conjunto da realidade e têm por finalidade a defesa da vida humana e o reino definitivo de Deus. A observância dos mesmos deve ser interiorizada, deve começar no coração, pois o homem foi criado livre e consciente para viver com dignidade no amor.












4º Encontro ____/ ____/ ____

A defesa da vida

Mt 5,21-26


Na moral de Jesus, o ponto de partida é o valor da vida humana. Por isso, o primeiro mandamento da Lei de Deus que ele abordou no Sermão da Montanha foi o “Não Matarás” (Mt 5,21). Ao ensinar seus discípulos sobre este mandamento, vemos Jesus não se fixando na letra da Lei, mas adentrando com profundidade o seu espírito e ensinando a observá-la com toda radicalidade. Jesus supera o casuísmo da letra morta porque a realidade não é um monte de casos isolados.
A defesa do meio ambiente e dos animais, as políticas públicas e a própria economia, tudo deve ter em vista o bem de todos os homens e do homem todo. É por isso que se fala na moral cristã de uma hierarquia de valores. Primeiro a ética, depois a política e em terceiro lugar a economia. Porque quando a economia fica em primeiro lugar, o homem passa a servir ao dinheiro, em vez do dinheiro servir ao homem. “Onde está a tua riqueza, aí estará o teu coração... Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”, disse Jesus no Sermão da Montanha (Mt 6,21.24). Para o cristão, não existe problema nenhum em obedecer esta hierarquia de valores, porque só existe uma Verdade, como só existe uma realidade. Porque não há contradição entre fé e razão. Porque tudo o que é autenticamente ético é evangélico. Porque tudo que se faz em prol da vida humana está de acordo com o projeto do Reino de Deus (Jo 10,10).
Vemos, pois que o ser humano possui uma dignidade especial inegável e inalienável, de modo que não conseguimos sequer negar a dignidade do outro semelhante a nós sem cair em contradição performativa. Quando uma pessoa despeja todo seu ódio em outra pessoa, no fundo da sua consciência sabe que está denegrindo a dignidade de alguém que é seu semelhante. Se eu não valorizo o que é igual a mim, então, eu mesmo estou me desvalorizando. Se por vergonha, um brasileiro não valoriza outro brasileiro quando está no meio de estrangeiros, então ele mesmo se desvaloriza. É a mesma lógica. De outra forma, para dizer a alguém que ele é inferior a mim, tenho que me comunicar com ele. No ato da comunicação, pressuponho que ele é sujeito de linguagem, ou seja, que tem raciocínio e entendimento. Negar, pois, que ele é pessoa é contradição, porque como vou dialogar com algo que não é pessoa? Se o outro não é pessoa, no mínimo eu sou idiota, porque somente um imbecil perderia tempo em conversar com algo que não é capaz de comunicação, que não é uma pessoa humana. Portanto, ao negar a dignidade humana da pessoa com quem me comunico, acabo também negando a minha própria dignidade. Ao desvalorizar o outro semelhante a mim, também me desvalorizo. Dessas premissas ninguém pode fugir, a não ser pela via da contradição performativa, porque contra fatos não há argumentos.
O apreço de Deus pela dignidade humana se manifesta no Evangelho quando Jesus radicaliza o mandamento de não matar e diz que todo aquele que chama um irmão de tolo ou idiota merece ser jogado no fogo do inferno (Mt 5,22). Porque uma pena tão grande para um pecado que à primeira vista nos parece ser tão simples? Jesus é radical porque chamar o outro de tolo ou idiota é o mesmo que negar a sua dignidade humana, aniquilá-lo enquanto criatura, renegá-lo como filho de Deus e por isso não merecedor de amor, justiça e misericórdia. Se para mim o outro é um tolo, um imbecil, um idiota, então não é um ser racional e espiritual, não é tão humano como eu, é inferior a mim. Desta forma não merece ser cidadão, não precisa ser necessariamente livre, pode ser escravizado, explorado e até mesmo assassinado. O tolo é menos do que eu... A raça idiota é menos do que a minha... Pode ser escravizada, pode ser exterminada, pode ser dizimada. Na história, esta mentalidade eugenista, que considera o outro inferior, se manifestou muito cruelmente na escravidão dos negros e nos tempos do nazismo alemão, quando milhões de judeus foram simplesmente assinados nos campos de concentração.
O reconhecimento da dignidade humana é o fundamento dos direitos humanos e garantia para a paz mundial e o verdadeiro desenvolvimento mundial. Por isso, Jesus não perde tempo quando se trata em afirmar a igual dignidade de toda pessoa humana, desde a sua concepção no ventre materno. Por isso, se para ele chamar alguém de idiota já é o começo de tratá-lo como ser inferior, então ele logo recrimina fortemente este pecado e como pena dá a fogo do inferno, a condenação eterna. É um pecado gravíssimo não reconhecer o valor de toda pessoa humana. Um pecado que pode fomentar grandes desgraças sociais, como aconteceu no tempo da escravidão, na matança de judeus na Alemanha nazista e hoje, na prática do aborto e em iniciativas públicas que muitas vezes simplesmente querem embelezar o centro da cidade empurrando o que chamam de sujeira da pobreza para a marginalidade. A criança no ventre da mãe é tão pessoa humana como nós que já nascemos. Também ela é portadora de direitos humanos fundamentais que não podem ser atropelados de nenhuma maneira. O ser humano em gestação também não deve ser chamado de idiota e merece ter a sua vida respeitada e protegida acima de tudo. De igual forma, os mais pobres também são pessoas humanas, porque a dignidade de uma pessoa não é afirmada pelo ter, mas pelo ser. Se é pessoa humana e pronto, independentemente de raça, classe, credo ou nação.
Como cristãos que somos, sobretudo nestes tempos em que o erro é colocado como certo e o certo é rotulado como algo errado e atrasado, sobretudo quando reina uma cegueira e muitos já não reconhecem a igual dignidade de toda criaturas humanas, quando os homens estão fazendo muitas leis contrárias à Lei de Deus, precisamos zelar pela dignidade do outro e defendê-la. Não podemos compactuar com a cultura da morte e da imoralidade. O mal social começa e vai sendo fermentado nos pequenos deslizes e desvios individuais. A ética é a salvaguarda da civilização humana. A crise da ética gera a crise social e empurra a humanidade para o buraco. Se o Maligno só vem para matar, mentir e destruir, então ele age muito fortemente na inversão dos valores, fazendo o erro ser posto como certo, e o certo ser considerado como algo errado e atrasado. No campo da ética, precisamos ter muita oração e vigilância, discernimento e reflexão.










5º Encontro ____/ ____/ ____

Fidelidade conjugal

Mt 5,27-30

“Não pensem que eu vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim abolir, mas dar-lhes pleno cumprimento”, disse Jesus aos seus discípulos no chamado Sermão da Montanha (Mt 5,17). Após falar sobre a dignidade da pessoa e o valor da vida humana, Jesus, o homem ético por excelência, ensina aos seus discípulos sobre a dignidade do casal e a importância do casamento. Da dignidade da pessoa nascem os direitos humanos fundamentais. Da dignidade do casal também despontam os direitos da família. Observar a Lei de Deus significa respeitar e promover esses direitos. Isto é ético. Isto é evangélico!
Acerca do casamento, o ponto de partida do ensino de Jesus sempre é a vontade do Criador. Em outra oportunidade (Mt 19,1-9), quando os fariseus lhe perguntaram se era permitido ou não o homem se divorciar da sua mulher, Jesus respondeu que a lei do divórcio foi promulgada por Moisés por causa da dureza do coração deles, mas desde os inícios foi Deus mesmo que uniu e abençoou o casal humano e por isso não se deve separar o que Deus mesmo uniu.
 No início de tudo, vemos, portanto, que o casamento é iniciativa de Deus. Ele mesmo une o casal humano e ninguém deve separar o que Ele une. Hoje se faz necessário lembrar que este casal humano unido por Deus é homem e mulher. Só existe casamento verdadeiro entre um homem e uma mulher.
Casamento é quando um casal, apesar das suas diferenças individuais, tornam-se capazes de se complementar e de se completar, como acontece entre uma casa e um botão: encaixam-se,  ajustam-se. Entre os sacramentos, o casamento é o mais simbólico. É a união de duas partes diferentes, mais que unidas, formam algo igual, de tal forma que já não são dois, mais uma só carne, uma só realidade, um só casal unido no amor, na vida, na sexualidade, na afetividade.
Para que haja esta unidade conjugal, este casal humano, é necessário que ambos decidam se unir com total liberdade e consciência. Não pode haver nenhuma pressão externa, mesmo que seja de boa vontade, como por exemplo, aquela exercida por alguns pais que querem por fim da força que seu filho se case ou não se case com esta ou aquela pessoa. Deve haver total consciência no que se refere ao futuro cônjuge e também no que se refere aos direitos e deveres inerentes ao matrimônio. Sem esta liberdade e esta consciência não há como existir um casamento válido aos olhos de Deus, da Igreja e da sociedade. Uma vez livres e conscientes, quando homem e mulher decidem se unir em casamento (não em amizade), Deus, que respeita sempre a nossa dignidade, acolhe a decisão dos dois, une e abençoa. Por isso, o casamento começa pelo desejo de Deus, foi quem criou a complementariedade dos dois sexos, passa pela decisão livre e consciente dos noivos e é concluído com a ratificação e a benção de Deus. No rito do matrimônio, após assistir com as testemunhas o SIM dos noivos de um para o outro, o sacerdote ratifica aquela aliança de amor e abençoa em nome de Deus dizendo: “O Deus de Abraão, de Isaac e Jacó acolha e abençoe este compromisso que vocês fizeram. Ninguém separe o que Deus uniu!”. Pronto. De hora em diante, nasceu um novo casal cristão. Só faltam as núpcias para que o casamento seja completamente concluído. Mas isto, é claro, vai se dá na privacidade e na intimidade da lua de mel, no altar do leito nupcial.
 Privacidade e intimidade, esta deve ser a atmosfera na qual os nubentes devem começar e continuar toda a sua vida conjugal. São dois adultos que se casaram, não duas crianças. Deus é tão sábio que diz: o homem deixa pai e mãe e se une à sua mulher, de modo que já não são dois, mas uma só carne, uma nova família. Ninguém deve ficar se metendo. E tampouco os cônjuges devem ficar levando para fora do leito aquilo que é sagrado do seu casamento: o seu amor, a sua privacidade e a sua intimidade. É ali que devem se amar, rezar, dialogar, discernir e decidir a sua vida e a sua missão familiar. Como é bonito e como é bem feito tudo o que Deus faz! Amém! Aleluia!  Por isso o casamento deve ser antecedido por um bom namoro e por um bom noivado. Porque a vida não é loteria. Ninguém pode apostar a sua vida no jogo do bicho, se não o bicho pega.
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Logo nos inícios da história da humanidade, o Bom Deus Criador instituiu a família e envolveu-a com a sua bênção como lugar favorável para a vivência do amor conjugal (homem e mulher) e para a geração e criação dos filhos, os frutos saudáveis desse amor. A família é a extensão do ventre da mãe. Desde os inícios o ser humano é gerado no aconchego da família e daí sairá para cumprir a sua missão na sociedade.
A família é a base de toda or-
ganização social e o casal, dentro dela, fincado no amor e abençoado por Deus, é a coluna que lhe sustenta e lhe dá estabilidade. Na vivência do seu amor conjugal e no cumprimento da sua missão familiar, os cônjuges são felizes, favorecem a felicidade dos filhos e cooperam desta forma com o projeto salvífico de Deus para a humanidade. A família, instituída diretamente por Deus, é Santuário da Vida e foi consagrada definitivamente quando o Verbo se fez carne e habitou entre nós. Pois Jesus não só veio a este mundo, mas nasceu e cresceu dentro da realidade concreta da Sagrada Família de Nazaré. Fazendo resplandecer o valor dos pais, a Bíblia diz que Jesus era obediente a José e Maria e na companhia deles, e sob a orientação e proteção deles, crescia em estatura, sabedoria e graça diante do Pai Celeste e dos homens (Lc 2,21).
O casamento entre um cristão e uma cristã é um sacramento porque sinaliza o amor de Cristo e a sua Igreja, santifica os esposos e concede as graças de Deus tanto para o casal como por extensão para toda sua família e também para toda sociedade (1Cor 7). Sacramento, o matrimônio é um sinal eficaz da graça de Deus para a vida de todos os envolvidos. Na celebração do matrimônio, sob a graça do Espírito Santo, nasce não só um novo casal cristão, mas também uma nova família cristã.
Como todo sacramento, o ma-
trimônio é dom de Deus para a felicidade e salvação dos seus filhos, mas também é responsabilidade, porque devemos cooperar com Ele para que o seu projeto seja realizado.
No que se refere ao matrimônio, existem duas pragas que lhe corroem e acabam gerando muitas consequencias negativas para todos os envolvidos, a curto, médio e longo prazos. Isso mesmo, quando vamos ver o valor e a necessidade do matrimônio do jeito que foi pensado e instituído por Deus, devemos pensar não só no aqui e agora de determinado casal, mas nas consequências dele para toda família, para toda sociedade e até mesmo para toda humanidade, a curto, médio e longo prazos. Devemos olhar e enxergar o matrimônio na gestação do bem de toda humanidade com aquele mesmo olhar como vemos a importância de zelar pelo meio ambiente agora. Sabemos que devemos cuidar do planeta agora, porque se não fizermos isso, não tanto nós, mas as gerações seguintes dos nossos filhos, netos e bisnetos vão sofrer sérias consequencias por falta de água, falta de florestas e clima muito quente que vai gerar tremendos distúrbios naturais. A nossa consciência aponta para o dever de zelar pelo planeta terra agora, tanto porque o planeta deve ser respeitado como porque as futuras gerações já têm o direito de viver mesmo antes de nascerem. De modo semelhante, se não zelamos pela integridade do matrimônio agora, o casal e os filhos atuais já vão sofrer as consequencias. Mas também toda sociedade vai ficar desestabilizada nos próximos anos. Porque sem matrimônio não há família. E sem família, toda sociedade entre em colapso.
Hoje, o planeta terra já está sofrendo as consequencias dos desmando que nós e as gerações passadas já fizemos. A situação só tende a piorar se nada for feito. Hoje, já vemos também a sociedade em crise, violência, as drogas pululando em todo canto, gangues, jovens mimados e desorientados, libertinagem e o erro sendo posto como certo. A situação só tende a piorar se nada for feito agora para defender a família e proteger o matrimônio do jeito que Deus pensou e instituiu, não do jeito que os homens na sua ignorância estão pensando e instituindo. Se é difícil cuidar dos filhos dentro de uma família, quanto mais sem a família. Se a sociedade alicerçada na família muitas vezes passa por crises morais, espirituais, culturais e econômicas, quanto mais uma sociedade forjada sem estrutura nenhuma na sua base, por conta da falta de casais estabilizados e de famílias realmente estruturadas. Muita gente vê, mas não quer enxergar!
 As duas pragas que tentam destruir o matrimônio e a família desde os inícios são as mesmas de hoje: o adultério e o divórcio. Mas hoje assiste-se uma terceira praga ganhando força na forma de leis civis: o reconhecimento de uniões de pessoas do mesmo sexo como casamento.
Se pessoas do mesmo sexo querem se juntar, não podemos proibir. Mas o estado reconhecer tais uniões como casamento é denegrir a essência do próprio casamento instituído por Deus e que realmente se ajusta à realidade da própria natureza. Casamento tem por fim a felicidade do casal, a perpetuação da espécie humana e o bem dos filhos. Como um casal homossexual pode se casar se sequer vão poder se complementar conforme rege a natureza? Como poderão perpetuar a espécie humana se sequer poderão engravidar? E os filhos, não têm o direito de um pai e de uma mãe? Há, mais existem casais héteros que não podem ter filhos etc Mais isto é outra conversa, e não um atentado contra a natureza e contra a própria dignidade do matrimônio. Quando se atenta contra a dignidade do casamento a partir dos fins para os quais ele foi instituído, na verdade se quer destruir a instituição família a partir das suas bases. O que querem não é bem legalizar os direitos dos homossexuais. Poderiam fazer isto de outra forma. O que querem mesmo é destruir o matrimônio e a família. Na fúria dos pecados contra a família existem muitos males e castigos para a humanidade, a curto, médio e longo prazos. O arrependimento e a restauração se fazem necessários, urgentemente!   
Como nasce puro um novo casal cristão unido em matrimônio sob as bênçãos de Deus! Ninguém se pertence. Pertencemos ao Criador (1Cor 6,12-20). Alguém só pode se dar para um outro alguém após Deus mesmo fazer esta doação recíproca de um para o outro. Não basta se juntar. Não basta casar no civil. Não podemos roubar o direito de Deus. Por isso, o que faz um casamento não é só a união livre e consciente do casal entre si, mas também a união que Deus estabeleceu entre os dois. O casamento é há três: o homem, a mulher e Deus. Os dois fazem aliança um com o outro e ao mesmo tempo os dois fazem aliança com Deus. E tudo na graça do amor. Deus é Amor! Deus também empenha a sua palavra e o seu SIM. Ele diz: “Sim, já que vocês querem se casar, eu respeito a vossa dignidade e consagro (separo) um para o outro, os dois para a família, e toda família para mim, porque Eu Sou o Senhor, o vosso Deus!”
O adultério na vida de um casal é como água na gasolina de um carro: estraga o motor, entope, não permite o bom funcionamento, suja o que nasceu com qualidade. Como o projeto salvífico de Deus passa pela família, Deus instituiu o sacramento do matrimônio para ser puro e santo na vivência do amor conjugal monogâmico (um só homem para uma só mulher), sem poligamia e e sem infidelidade por menor que seja, até o simples olhar malicioso para o corpo de quem quer que seja. “Quem olhar para o corpo da mulher pensando em desejá-la, já comete adultério”, disse Jesus no santo Evangelho. Mas a mulher que também não sabe se vestir e tenta o homem, também está cometendo adultério.
Jesus não nos quer psicóticos, com a mão nos olhos em todo instante, porque tem poste pela frente e a gente taca a cabeça na testa. O que ele deseja mesmo é que a gente não fermente o sentimento e o pensamento que leva ao ato. Por isso, caso aconteça, no ato, desvia-se o olhar, retira-se a mão, reorienta-se para o amor do cônjuge no coração e se pede perdão no silêncio da própria consciência. Tem que ser assim, pois tudo começa no pequeno deslize. Não pode ter areia nem um pouquinho, porque depois vem tempestade, e tempestade de areia. Os sentimentos e pensamentos fermentados vão se descontrolando, a atenção própria para o cônjuge vai se acabando e tudo pode ir desmoronando. Por isso, para Jesus, “o desejo consentido que induz ao ato” já é adultério, já é contaminação, já é pecado que deve ser evitado desde os inícios.









6º Encontro ____/ ____/ ____

A defesa da família

Mt 5,31-32

Na segunda parte desta perícope (Mt 5,27-32) Jesus se refere mais ao divórcio.
O divórcio destrói a coluna da família, separa o casal e tudo se desestabiliza (1Cor 7). Na novela tudo é colorido. O autor une e desune casais, cria problemas e gera soluções conforme a sua imaginação. E tem gente que vai nesta fantasia. Mais na vida, a realidade é em preto e branco: brigas, decepções, frustrações... Quem faz ao menos uma amizade para não dá certo? Quanto mais um casamento. Quem partilha algo da sua vida com alguém que não ama? Quanto mais a partilha da própria vida. E a educação dos filhos? O aconchego de todos na privacidade do lar? E os encaminhamentos que toda família necessita? O patrimônio adquirido que é necessário para o sustento e a vida com dignidade de todos? A hora da doença, como fica? Os vícios, a violência, o abandono, o pula-pula afetivo... ??? Casamento tem a ver com tudo isso. Com o bem permanente do casal e da prole, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando e respeitando todos os dias da vida conjugal e familiar. Há quem diga que isto é só um ideal, mas que não é possível de ser praticado, sobretudo hoje em dia. Mas é no rumo do ideal proposto por Deus que vamos dando passos e consolidando a realidade para que seja de acordo com o projeto de vida do Criador. Sem ideal, não se tem rumo. Sem rumo ninguém dá passo e nada é construído. Hoje é mais difícil? Mas, porque é mais difícil? Porque fomos criando uma cultura que não valoriza a beleza da virgindade e do namoro respeitoso. Uma cultura que não valoriza a importância do noivado, a importância do matrimônio e a dignidade da família alicerçada no amor e envolvida pela presença de Deus. Uma cultura pagã faz de tudo para destruir o que vem de Jesus. Quanto maior o paganismo, mais facilidade para ação dos demônios e mais estragos para toda humanidade. Mais como cristãos, no cordial respeito que devemos ter para com todos, devemos fazer a nossa parte, acreditar no amor, acreditar no matrimônio e acreditar na família. Pois o que está em jogo não é só uma questão de costumes, mais a paz e a vida de toda humanidade,a curto, médio e longo prazos.
A cultura do descartável favorece a cultura do divórcio. Um copinho descartável você joga no lixo. Mas o outro nunca pode ser um descartável. Crise, todo mundo atravessa: o papa, o bispo, o padre, e também todo casal e toda pessoa humana. Aliás, crise também é crisol, local onde o ouro é purificado. Após a crise, a fé fica mais forte. Depois da crise, o amor fica mais forte ainda. Por isso, nada de divórcio. Hoje em dia, por qualquer besteira, logo se fala em divórcio “o amor virou consórcio, compromisso de ninguém”. Então o pessoal fica pulando de galho em galho, uma experiência frustrante atrás da outra, os filhos são as principais vítimas e todo mundo acaba sendo prejudicado. Por isso, para Jesus e a Igreja, nada de divórcio, a não ser quando algum cônjuge ou algum filho sofra perigo de morte e quando se trata de um caso de união ilegítima (pornéia). Fora isso, o bom mesmo é que os cônjuges conversem, dialoguem, se perdoem e voltem um para o outro, porque o amor que os uniu, se foi mesmo cultivado no namoro e no noivado, não foi uma ilusão.
O amor não se acaba, desde que seja alimentado pela ternura: um beijo, uma flor, a consideração, o respeito, o zelo... O divórcio não é bem quando se vai ao cartório para desfazer o casamento civil. O divórcio começa na falta de ternura, quando se deixa de namorar. Por isso, “maridos, amem suas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela. Cada um de vocês ame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher respeite o seu marido” (Ef 5,25.33).
As uniões ilegítimas, que podem gerar a declaração de nulidade de um casamento por parte da Igreja, se dá quando não houve real liberdade e consciência por parte de um dos cônjuges ou quando determinadas leis eclesiásticas não foram devidamente obedecidas. Mais estes são casos que devem ser levados ao Tribunal Eclesiástico da Diocese para receber os devidos encaminhamentos. 

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O mandamento “Não cometerás adultério” lança luzes sobre o modo como os casais devem se relacionar desde o namoro, desde o primeiro olhar, cultivando o verdadeiro amor e não se limitando ao prazer. “Se teu olho direito te leva a pecar (a errar o alvo do verdadeiro amor), arranca-o e atira-o para longe. É melhor perder um membro do que ser jogado inteiro no forno. Se tua mão direita te leva a pecar (a abusar do corpo do outro), corta-a e a tira-a para longe...” (Mt 5,29). O prazer só é prazeroso mesmo quando é vivido com amor e ternura desde os inícios. Quem ama nunca atropela e nunca pensa primeiro em si, mas no bem do outro. Fora isso, gera um relacionamento egoísta e doentio com muitas consequências negativas para a vida de todas as pessoas envolvidas e para a humanidade em geral.
Muitos casais tinham a vocação para um relacionamento amoroso sério, duradouro e respeitoso. Muitos casais foram realmente chamados para o matrimônio. Mas muitas vezes isso não se tornou uma realidade ou o casamento ruiu, porque se acelerou o prazer e não se cultivou o amor. O amor conjugal é dom de Deus, é Ele quem forma o casal, é Ele quem favorece o encaixamento das “almas gêmeas”. Mas exige por outro lado o namoro, a ternura, o diálogo, o respeito, o conhecimento, a oração e o cultivo por parte dos dois. Quando não se cultiva o amor conjugal verdadeiro, é claro que ele não tem como crescer e produzir frutos que permaneçam. Neste mundo egoísta e hedonista em que vivemos, como cristãos que somos, por mais difícil que seja, precisamos zelar pelo amor verdadeiro, acreditar nele e respeitá-lo. Para tanto, precisamos cortar a própria carne, fazer a nossa parte e o nosso sacrifício, viver a castidade. “Cortar o olho... cortar a mão...” É difícil, mas não é impossível. É difícil, mas é necessário, porque a humanidade precisa do matrimônio e da família, e, queiramos ou não, tudo começa e passa pela vivência correta do amor conjugal, DESDE O NAMORO.
O duplo mandamento contra o adultério e do divórcio tem em vista o bem do casal, da família e da sociedade em geral. Não pecar contra o casamento é não pecar contra o bem da humanidade. O salário do pecado é a morte. Violência, drogas, depressões, gangues, fome, miséria, satanismo, aborto, libertinagem são problemas que vão impossibilitando a vida em sociedade. Mas a raiz de tudo isso, em grande parte, é por conta da desestruturação da família tradicional instituída por Deus.
Lá no começo, a desestruturação da família vem da troca do namoro pelo ficar, da fidelidade pelo adultério, da manutenção do casamento pelo divórcio. Mas no início de tudo mesmo, a desgraça começa na atitude interior do desejo pecaminoso que conduz ao ato pecaminoso e este vai gerando a morte em cadeia. Por isso, cada pessoa deve fazer a sua parte para viver a castidade, ou seja, para viver de um modo correto a sua sexualidade e a sua afetividade. De modo que este duplo mandamento da fidelidade e da indissolubilidade matrimonial é para todos, não só para os casados, mas antes, também para os casais de namorados, eis a radicalidade de Cristo Jesus.

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Quanto aos casais que vivem juntos, sem o sacramento do matrimônio, nada de casar só por casar ou para dar satisfação a alguém. No projeto de Deus, ele quer fazer parte da nossa vida, inclusive quando se trata da realidade da vida de uma casal. Nossos primeiros pais simbolizados em Adão e Eva não só se juntaram. A Bíblia fala que Deus abençoou a união dos dois. Não basta um casal só se juntar. O que faz o casamento não é só a união. A união livre e consciente é necessária, é tanto que se não houver liberdade e consciência por parte dos cônjuges o matrimonio é inválido. O que faz o casamento é a união do casal, mas também a bênção de Deus para este casal. E a benção de Deus própria para um casal cristão é dada no dia do casamento na Igreja. Por isso, não basta só se juntar. Os cristãos devem casar na Igreja, pois isto está dentro do plano de Deus. Mesmo assim, casais que já vivem juntos sem o matrimônio, não casem só por casar. Continuem caminhando, participando da Igreja, namorando e dialogando. Mas não deixem a vontade de Deus cair no esquecimento. Com humildade e obediência vão dialogando e dando passos até chegar lá, livres e conscientes. Porém, nunca esqueçam que um dia devem chegar ao altar, pois quem dá passos de verdade, um dia chega lá.
Quanto aos casais já que vivem juntos, mais não podem casar na Igreja por este ou aquele motivo, façam o melhor que podem. Procurem viver como cristãos e criar a família dentro do Evangelho e da doutrina da Igreja da melhor forma que puderem. Na Bíblia, Nossa Senhora diz que Deus eleva os humildes e derruba os orgulhosos. No caso desses casais, orgulhoso é o casal que diz que Deus e a Igreja estão errados e eles é que estão certos. Fecham-se no seu mundinho e não escutam mais nada que mexa no seu orgulho a dois. Humildade, é colocar-se na presença de Deus, falar para Ele a história de cada um, as frustrações e decepções que tiveram, pedir perdão e dizer o quanto gostariam de poder casar, mas não podem. Então prometem que vão criar os filhos como cristãos, que vão ensinar o valor do matrimônio e da família para os casais mais novos e que quando puderem, também vão dar os passos para casar na Igreja e receber a bênção nupcial. Nesta humildade, de um lado abrem o coração para Deus e ao mesmo tempo não destroem a verdade revelada por Deus para o casal e para a família. Deus vê esta humildade e por caminhos que só Ele conhece com certeza vai abençoar este casal. A Igreja não pode validar um casamento de quem tem um impedimento para casar de novo. Mas a Igreja sabe que Deus tem outros caminhos para abençoar um casal humilde que, mesmo sem poder casar de novo, coloca-se na presença dele e com humildade acata a sua vontade e dá os passos que pode dar. Então, existe salvação para todos.
Quanto aos casais que casaram na Igreja, ótimo. Orem e vigiem para que o seu casamento seja um testemunho de vida para os outros casais e para vencer as tentações do divórcio e do adultério.
Quanto aos solteiros e casais de namorados, o caminho é este: castidade , namoro, noivado e por fim, o casamento. Tudo com oração, castidade, conhecimento recíproco, diálogo e fidelidade, desde os inícios!
Por fim, nada de heresia e ingratidão. Dizer que não se casa na Igreja porque muitos que casaram se separaram, é afirmar, mesmo que inocentemente, que aquilo que Deus deixou para a família é uma maldição. Esta heresia já é um desvio da vontade de Deus que vai incentivando outras pessoas e criando a cultura das famílias sem Deus, do adultério e do divórcio. Por isso, desde os inícios, oração e vigilância contra Satanás e suas obras. Nada de heresia e ingratidão para com o Bom Deus que pensou em tudo para que a humanidade seja feliz. Sobretudo, pensou e instituiu o matrimônio e a família desde os primórdios da história da humanidade. A bênção para o casal permaneceu mesmo após o pecado dos nossos primeiros pais, porque somente na bênção divina é que podemos recomeçar. Jesus veio e reafirmou a vontade do Pai Celeste contra todas as correntes contrárias e tentações dos corações endurecidos. Ele consagrou a família como Santuário da Vida com a sua presença para que, na graça do amor, seja cheia de paz, de saúde, felicidade e santidade para o casal e seus filhos.










7º Encontro ____/ ____/ ____

As virtudes humanas

Mt 5,33-37

A essência da observância dos Mandamentos da Lei de Deus é o amor. Concretamente, adoração a Deus, respeito e defesa do valor da vida humana e da família, de cada pessoa e de cada casal. Este é um grande testemunho para os dias de hoje. Para tanto, precisamos da força das virtudes para cooperar com Deus na garantia do futuro da humanidade.
Por isso, continuando o seu ensino sobre como observar com profundidade a Lei de Deus, que é norma normativa não normada para toda criatura humana, Jesus discorre sobre o valor da sinceridade, da fidelidade e da honestidade (Mt 5,33-37). Também fala sobre o valor do perdão, da não-violência, da solidariedade e da fortaleza (Mt 5,38-43). Por fim, enfatiza a virtude do amor ao próximo, inclusive do amor aos inimigos (Mt 5,43-47), para que sejam perfeitos como o Pai Celeste é perfeito (Mt 5,48). Em suma, Ele fala aos seus discípulos sobre as virtudes humanas que sempre devem ter na mente e no coração, pois “o fim duma vida virtuosa consiste em tornar-se semelhante a Deus”. “Tudo o que é verdadeiro, nobre e justo, tudo o que é puro, amável e de boa reputação, tudo o que é virtude e digno de louvor, isto deveis ter no pensamento.” (Fl 4,8)
No Sermão da Montanha Jesus semeia valores na alma dos discípulos. Estes valores, por sua vez, vão se encarnando e fermentando o coração, a mente e todo o ser. Eles vão se acostumando com os valores, vão exercitando e colocando em prática. Os valores vão se transformando em virtudes. Virtudes são forças interiores que edificam a pessoa, fazem bem a ela e ajudam-na a fazer o bem aos outros. Virtude é força. Uma pessoa virtuosa é cheia de força para o bem.
Os vícios, por sua vez, são maus hábitos adquiridos que se transforma em força de escravidão e destruição. Uma pessoa viciada é cheia de pseudovalores e escrava de forças malignas enraizadas no seu ser. Não existe escravidão pior do que a dos vícios, aquela enraizada dentro da própria pessoa.
Da mesma forma que as virtudes nascem dos valores fundados na Verdade, os vícios nascem dos falsos valores cultivados na mentira e na ignorância. Deus é a Verdade e a fonte dos valores e das virtudes. O Diabo é o Pai da Mentira que forja os falsos valores e os vícios. É necessário orar e vigiar sempre. Quando o Diabo não consegue se apoderar da vida de alguém, então ele vai semeando falsos valores e mentiras dentro desta pessoa, a fim de que fique viciada e por fim seja aprisionada, desviada e destruída.

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Para Jesus, a “virtude é uma disposição habitual e firme para praticar o bem. Permite à pessoa não somente praticar atos bons, mas dar o melhor de si mesma. A pessoa virtuosa tende para o bem com todas as suas forças sensíveis e espirituais; procura o bem e opta por ele em atos concretos (...) As virtudes humanas são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições habituais da inteligência e da vontade, que regulam os nossos atos, ordenam as nossas paixões e guiam o nosso procedimento segundo a razão e a fé. Conferem facilidade, domínio e alegria para se levar uma vida moralmente boa. Homem virtuoso é aquele que livremente pratica o bem (...) As virtudes morais são humanamente adquiridas. São os frutos e os germes de atos moralmente bons e dispõem todas as potencialidades do ser humano para comungar no amor divino.”  (CIC)

As virtudes cardeais

1805. Há quatro virtudes que desempenham um papel de charneira. Por isso, se chamam «cardeais»; todas as outras se agrupam em torno delas. São: a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança. «Se alguém ama a justiça, o fruto dos seus trabalhos são as virtudes, porque ela ensina a temperança e a prudência, a justiça e a fortaleza» (Sb 8, 7). Com estes ou outros nomes, estas virtudes são louvadas em numerosas passagens da Sagrada Escritura.

1806. A prudência é a virtude que dispõe a razão prática para discernir, em qualquer circunstância, o nosso verdadeiro bem e para escolher os justos meios de o atingir. «O homem prudente vigia os seus passos» (Pr 14, 15). «Sede ponderados e comedidos, para poderdes orar» (1 Pe 4, 7). A prudência é a «recta norma da acção», escreve São Tomás (62) seguindo Aristóteles. Não se confunde, nem com a timidez ou o medo, nem com a duplicidade ou dissimulação. É chamada «auriga virtutum – condutor das virtudes», porque guia as outras virtudes, indicando-lhes a regra e a medida. É a prudência que guia imediatamente o juízo da consciência. O homem prudente decide e ordena a sua conduta segundo este juízo. Graças a esta virtude, aplicamos sem erro os princípios morais aos casos particulares e ultrapassamos as dúvidas sobre o bem a fazer e o mal a evitar.

1807. A justiça é a virtude moral que consiste na constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido. A justiça para com Deus chama-se «virtude da religião». Para com os homens, a justiça leva a respeitar os direitos de cada qual e a estabelecer, nas relações humanas, a harmonia que promove a equidade em relação às pessoas e ao bem comum. O homem justo, tantas vezes evocado nos livros santos, distingue-se pela rectidão habitual dos seus pensamentos e da sua conduta para com o próximo. «Não cometerás injustiças nos julgamentos. Não favorecerás o pobre, nem serás complacente para com os poderosos. Julgarás o teu próximo com imparcialidade» (Lv 19, 15). «Senhores, dai aos vossos escravos o que é justo e equitativo, considerando que também vós tendes um Senhor no céu» (Cl 4, 1).

1808. A fortaleza é a virtude moral que, no meio das dificuldades, assegura a firmeza e a constância na prossecução do bem. Torna firme a decisão de resistir às tentações e de superar os obstáculos na vida moral. A virtude da fortaleza dá capacidade para vencer o medo, mesmo da morte, e enfrentar a provação e as perseguições. Dispõe a ir até à renúncia e ao sacrifício da própria vida, na defesa duma causa justa. «O Senhor é a minha fortaleza e a minha glória» (Sl 118, 14). «No mundo haveis de sofrer tribulações: mas tende coragem! Eu venci o mundo!» (Jo 16, 33).

1809. A temperança é a virtude moral que modera a atracção dos prazeres e proporciona o equilíbrio no uso dos bens criados. Assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos nos limites da honestidade. A pessoa temperante orienta para o bem os apetites sensíveis, guarda uma sã discrição e não se deixa arrastar pelas paixões do coração (63). A temperança é muitas vezes louvada no Antigo Testamento: «Não te deixes levar pelas tuas más inclinações e refreia os teus apetites» (Sir 18, 30). No Novo Testamento, é chamada «moderação», ou «sobriedade». Devemos «viver com moderação, justiça e piedade no mundo presente» (Tt 2, 12).
«Viver bem é amar a Deus de todo o coração, com toda a alma e com todo o proceder [...], de tal modo que se lhe dedica um amor incorrupto e íntegro (pela temperança), que mal algum poderá abalar (fortaleza), que a ninguém mais serve (justiça), que cuida de discernir todas as coisas para não se deixar surpreender pela astúcia e pela mentira (prudência)» (64).
As virtudes e a graça

1810. As virtudes humanas, adquiridas pela educação, por actos deliberados e por uma sempre renovada perseverança no esforço, são purificadas e elevadas pela graça divina. Com a ajuda de Deus, forjam o carácter e facilitam a prática do bem. O homem virtuoso sente-se feliz ao praticá-las.

1811. Não é fácil, ao homem ferido pelo pecado, manter o equilíbrio moral. O dom da salvação, que nos veio por Cristo, dá-nos a graça necessária para perseverar na busca das virtudes. Cada qual deve pedir constantemente esta graça de luz e de força, recorrer aos sacramentos, cooperar com o Espírito Santo e seguir os seus apelos a amar o bem e acautelar-se do mal.    (Catecismo da Igreja Católica)










8º Encontro ____/ ____/ ____

As virtudes teologais

Mt 5,38-42

Jesus ensinou os seus discípulos a viverem com dignidade segundo os Mandamentos de amor da Lei de Deus. Ensinou-os por exemplos e palavras a terem uma vida virtuosa. Para tanto, Deus mesmo concede as três grandes virtudes que sustentam e possibilitam todas as outras virtudes humanas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas é o amor.
Enquanto as virtudes humanas são adquiridas, as virtudes teologais são recebidas. Em última instância, o discípulo de Jesus não vive da ética, mas do poder e da graça de Deus. Por isso, sua lei não é a de Talião, a do olho por olho e do dente por dente. Sua mente não é vingativa e o seu coração é rancoroso. O discípulo de Jesus, pelo poder da Graça de Deus, é uma pessoa de fé, de esperança e de amor. 

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1812. As virtudes humanas radicam nas virtudes teologais, que adaptam as faculdades do homem à participação na natureza divina. De facto, as virtudes teologais referem-se directamente a Deus e dispõem os cristãos para viverem em relação com a Santíssima Trindade. Têm Deus Uno e Trino por origem, motivo e objecto.

1813. As virtudes teologais fundamentam, animam e caracterizam o agir moral do cristão, Informam e vivificam todas as virtudes morais. São infundidas por Deus na alma dos fiéis para os tornar capazes de proceder como filhos seus e assim merecerem a vida eterna. São o penhor da presença e da acção do Espírito Santo nas faculdades do ser humano. São três as virtudes teologais: fé, esperança e caridade.

A fé

1814. A fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que Ele nos disse e revelou e que a santa Igreja nos propõe para acreditarmos, porque Ele é a própria verdade. Pela fé, «o homem entrega-se total e livremente a Deus». E por isso, o crente procura conhecer e fazer a vontade de Deus. «O justo viverá pela fé» (Rm 1, 17). A fé viva «actua pela caridade» (Gl 5, 6).

1815. O dom da fé permanece naquele que não pecou contra ela. Mas, «sem obras, a fé está morta» (Tg 2, 26): privada da esperança e do amor, a fé não une plenamente o fiel a Cristo, nem faz dele um membro vivo do seu corpo.

1816. O discípulo de Cristo, não somente deve guardar a fé e viver dela, como ainda professá-la, dar firme testemunho dela e propagá-la: «Todos devem estar dispostos a confessar Cristo diante dos homens e a segui-Lo no caminho da cruz, no meio das perseguições que nunca faltam à Igreja». O serviço e testemunho da fé são requeridos para a salvação: «A todo aquele que me tiver reconhecido diante dos homens, também Eu o reconhecerei diante do meu Pai que está nos céus. Mas àquele que me tiver negado diante dos homens, também Eu o negarei diante do meu Pai que está nos céus» (Mt 10, 32-33).

A Esperança

1817. A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos o Reino dos céus e a vida eterna como nossa felicidade, pondo toda a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos, não nas nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo. «Conservemos firmemente a esperança que professamos, pois Aquele que fez a promessa é fiel» (Heb 10, 23). «O Espírito Santo, que Ele derramou abundantemente sobre nós, por meio de Jesus Cristo nosso Salvador, para que, justificados pela sua graça, nos tornássemos, em esperança, herdeiros da vida eterna» (Tt 3, 6-7).

1818. A virtude da esperança corresponde ao desejo de felicidade que Deus colocou no coração de todo o homem; assume as esperanças que inspiram as actividades dos homens, purifica-as e ordena-as para o Reino dos céus; protege contra o desânimo; sustenta no abatimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna. O ânimo que a esperança dá preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade.

1819. A esperança cristã retorna e realiza a esperança do povo eleito, que tem a sua origem e modelo na esperança de Abraão, o qual, em Isaac, foi cumulado das promessas de Deus e purificado pela provação do sacrifício. «Contra toda a esperança humana, Abraão teve esperança e acreditou. Por isso, tornou-se pai de muitas nações» (Rm 4, 18).

1820. A esperança cristã manifesta-se, desde o princípio da pregação de Jesus, no anúncio das bem-aventuranças. As bem-aventuranças elevam a nossa esperança para o céu, como nova tema prometida e traçam-lhe o caminho através das provações que aguardam os discípulos de Jesus. Mas, pelos méritos do mesmo Jesus Cristo e da sua paixão, Deus guarda-nos na «esperança que não engana» (Rm 5, 5). A esperança é «a âncora da alma, inabalável e segura» que penetra [...]«onde entrou Jesus como nosso precursor» (Heb 6, 19-20). É também uma arma que nos protege no combate da salvação: «Revistamo-nos com a couraça da fé e da caridade, com o capacete da esperança da salvação» (1 Ts 5, 8). Proporciona-nos alegria, mesmo no meio da provação: «alegres na esperança, pacientes na tribulação» (Rm 12, 12). Exprime-se e nutre-se na oração, particularmente na oração do Pai-Nosso, resumo de tudo o que a esperança nos faz desejar.

1821. Podemos, portanto, esperar a glória do céu prometida por Deus àqueles que O amam e fazem a sua vontade. Em todas as circunstâncias, cada qual deve esperar, com a graça de Deus, «permanecer firme até ao fim» e alcançar a alegria do céu, como eterna recompensa de Deus pelas boas obras realizadas com a graça de Cristo. É na esperança que a Igreja pede que «todos os homens se salvem» (1 Tm 2, 4) e ela própria aspira a ficar, na glória do céu, unida a Cristo, seu Esposo:
«Espera, espera, que não sabes quando virá o dia nem a hora. Vela com cuidado, que tudo passa com brevidade, embora o teu desejo faça o certo duvidoso e longo o tempo breve. Olha que quanto mais pelejares, mais mostrarás o amor que tens a teu Deus, e mais te regozijarás com teu Amado em gozo e deleite que não pode ter fim».

A Caridade

1822. A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas por Ele mesmo, e ao próximo como a nós mesmos, por amor de Deus.

1823. Jesus faz da caridade o mandamento novo. Amando os seus «até ao fim» (Jo 13, 1), manifesta o amor do Pai, que Ele próprio recebe. E os discípulos, amando-se uns aos outros, imitam o amor de Jesus, amor que eles recebem também em si. É por isso que Jesus diz: «Assim como o Pai Me amou, também Eu vos amei. Permanecei no meu amor» (Jo 15, 9). E ainda: «É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei» (Jo 15, 12).

1824. Fruto do Espírito e plenitude da Lei, a caridade guarda os mandamentos de Deus e do seu Cristo: «Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor» (Jo 15, 9-10).

1825. Cristo morreu por amor de nós, sendo nós ainda «inimigos» (Rm 5, 10). O Senhor pede-nos que, como Ele, amemos até os nossos inimigos, que nos façamos o próximo do mais afastado, que amemos as crianças e os pobres como a Ele próprio.

O apóstolo São Paulo deixou-nos um incomparável quadro da caridade: «A caridade é paciente, a caridade é benigna; não é invejosa, não é altiva nem orgulhosa; não é inconveniente, não procura o próprio interesse, não se imita, não guarda ressentimento, não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta» (1Cor 13, 4-7).

1826. Sem a caridade, diz ainda o Apóstolo, «nada sou». E tudo o que for privilégio, serviço, ou mesmo virtude..., se não tiver caridade «de nada me aproveita». A caridade é superior a todas as virtudes. É a primeira das virtudes teologais: «Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade» (1 Cor 13, 13).

1827. O exercício de todas as virtudes é animado e inspirado pela caridade. Esta é o «vínculo da perfeição» (Cl 3, 14) e a forma das virtudes: articula-as e ordena-as entre si; é a fonte e o termo da sua prática cristã. A caridade assegura e purifica a nossa capacidade humana de amar e eleva-a à perfeição sobrenatural do amor divino.

1828. A prática da vida moral animada pela caridade dá ao cristão a liberdade espiritual dos filhos de Deus. O cristão já não está diante de Deus como um escravo, com temor servil, nem como o mercenário à espera do salário, mas como um filho que corresponde ao amor «d'Aquele que nos amou primeiro» (1 Jo 4,19):

«Nós, ou nos desviamos do mal por temor do castigo e estamos na atitude do escravo, ou vivemos à espera da recompensa e parecemo-nos com os mercenários; ou, finalmente, é pelo bem em si e por amor d'Aquele que manda, que obedecemos [...], e então estamos na atitude própria dos filhos».

1829 Os frutos da caridade são: a alegria, a paz e a misericórdia; exige a prática do bem e a correcção fraterna; é benevolente; suscita a reciprocidade, é desinteressada e liberal: é amizade e comunhão:

«A consumação de todas as nossas obras é o amor. É nele que está o fim: é para a conquista dele que corremos; corremos para lá chegar e, uma vez chegados, é nele que descansamos».
(Catecismo da Igreja Católica)

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O nosso testemunho, para ser verdadeiro, deve ser real, deve ser concreto. Por isso, devemos testemunhar de diversos modos, onde estivermos, com quem estivermos e como pudermos.

Testemunho de fé

O cristão vive da fé. O nosso primeiro testemunho deve ser, portanto, o testemunho da fé, da nossa querida fé católica que é a rocha e o sentido da nossa vida.
Os primeiros cristãos deram a própria vida, mas não renegaram o Senhor Jesus e o Evangelho. O imperador romano até aceitava que as pessoas tivessem a sua religião, desde que somente ele fosse reconhecido como Senhor. Os pagãos facilmente o adoravam como Deus. Porém, para os cristãos, somente Jesus era o Senhor. Porque você vive de acordo com quem você adora. Os primeiros cristãos, vivos ou mortos, só pertenciam ao Senhor Jesus! O imperador não tolerava esta desobediência, condenava-os à morte e por cima ainda fazia um grande espetáculo público com a sua execução. Algumas pessoas até diziam para eles mentirem, para dizer que reconheciam o imperador como Senhor só para não morrer. Mesmo assim, seguravam a palavra até o fim e o sangue dos mártires da fé era semente de muitos novos cristãos. As pessoas viam aquela cena, o modo amoroso como eles entregavam a sua vida pela fé que professavam, eram tocadas profundamente e se convertiam. Se eles mentissem para não morrer, livravam a sua pele, mas o apostolado era enfraquecido, pois diante de tanto paganismo e ignorâncias, somente a luz do testemunho tinha força suficiente para resplandecer sobre as trevas e despertar para uma vida nova segundo o Evangelho de Cristo Jesus.
Hoje existe muita coisa errada empurrando as pessoas para a morte e para as trevas. Grandes ondas na sociedade geram um contexto de verdadeira pressão para que a pessoa não viva de acordo com a Palavra de Deus. Em alguns países vemos médicos sendo expulsos de hospitais por não quererem fazer aborto, cantores perdendo patrocínios culturais por não serem a favor do homossexualismo, gente sendo taxada como ridícula simplesmente porque não se enquadra em muitos tipos de baixarias, cristão sendo expulsos de sua terra e até mesmo assassinados por dizerem publicamente que Jesus é o Senhor da sua vida, instituições da Igreja sendo fechadas por não colocarem em prática algumas leis moralmente inaceitáveis. Existem verdadeira forças multinacionais interferindo nas políticas dos países para fazer prevalecer leis que vão contra a família, a vida e a moral. Desta forma, testemunhar a fé, simplesmente viver como cristão, perseverar no Evangelho, respeitando o diferente, porém sem perder a convicção cristã, é uma grande necessidade no contexto da modernidade. Em muitas situações, já que sequer podemos falar somente a força do testemunho terá força suficiente para apontar para a salvação e vida nova que só se encontram em Cristo Jesus. Se nos dias de hoje não tivermos cristãos que vivam realmente como cristãos, muitos irão se perder no paganismo reinante.
O homem moderno, mesmo sem saber, tem sede do testemunho de fé, da convicção profunda dos cristãos. Ela deve ser testemunhada com a vida sobretudo na família, dos pais para os filhos, dos filhos para os pais, dos irmãos entre si, da família para os vizinhos, de modo que a família seja uma verdadeira iniciadora e formadora na vida cristã. O discurso convence, o testemunho arrasta!

Testemunho de Esperança e Alegria

Deus nos criou para a felicidade. Por isso, um cristão triste é um triste cristão, porque não alcançou o fim para o qual foi criado, não está no caminho da vida em plenitude. É uma pessoa frustrada, arrasada, derrotada. Vive estagnada no pessimismo, na murmuração e sem ânimo para caminhar. Cristão assim não vive, está só vegetando. Sinal de que sua espiritualidade não está na videira que é Cristo Jesus. Dele é que recebemos a seiva do Espírito e com ele todas as proteínas, sais e energias espirituais para caminhar e vencer, apesar das dificuldades e problemas que normalmente aparecem na vida de qualquer pessoa. Somente Deus pode nos fazer viver em paz em meio à tempestade e depois vencê-la. Jesus diz para quem vive nele, por ele e com ele: “Coragem, eu venci, você comigo também vencerá!” Ter fé é colocar a âncora da esperança naquele que venceu e não passa. Isto gera segurança, perseverança, paz e alegria.
Mais do que gargalhadas, a alegria é um dom de Deus, é um estado de espírito que faz viver de bem com a vida, mesmo em meio a perseguições, incompreensões e dificuldades. Isto é fundamental para alcançar a felicidade. Neste vale de lágrimas, o Apóstolo Paulo nos diz: “Alegrai-vos no Senhor. Eu repito: Alegrai-vos!” Se assim não fizermos, na primeira dificuldade procuraremos compensações nas coisas do mundo. Em vez de paz, aumentaremos nossos vazios existenciais e a desolação nos sepultará na tristeza sem fim. Viver feliz com Cristo, orando, convivendo com os irmãos, procurando realmente seguir os seus mandamentos, este é o Caminho que conduz para a Verdade e a Vida. O cristão feliz aponta para Jesus, a verdadeira alegria da humanidade. Nele, as outras pessoas também vão ancorar a sua vida e viver de acordo com a sua Palavra. Tendo em vista tudo isso, depois vamos meditar sobre as oito bem-aventuranças, caminho de santidade, caminho de felicidade.

Testemunho de amor fraterno

No amor a Deus e ao próximo está contida toda Lei e os profetas (Mt 22,37-40; Rm 13,8-10). Por isso ele é o vínculo da perfeição. (Cl 3,14) e o sinal da vida nova (1Jo 3,14; 4,11).
O amor a Deus e ao próximo é testemunhado na prática. Hoje o testemunho de amor fraterno é fundamental para a construção da nova sociedade. Ser “irmão universal” é o grande dever de todo cristão. Trata-se de amar o outro, o próximo, apesar dos seus defeitos, limitações, antipatias e diferenças, mesmo que isso custe sacrifício. Este amor é um imperativo até mesmo para com aqueles que se fizeram nossos inimigos.
Ninguém tem a obrigação de ser amigo de todo mundo, mas tem o dever de ser irmão de todos, sem discriminação e sem exclusão. O amor fraterno é real quando somos capazes de acolher, de escutar, perdoar, de compartilhar as alegrias e tristezas, de fazer o bem sem olhar a quem...
Quando somos capazes de relações fraternas autênticas com o nosso próximo, libertando-nos dos fuxicos, mentiras, preconceitos, falsos testemunhos... Quando somos capazes de compartilhar do que somos e do que temos... Quando somos solidários e temos compaixão... Quando conseguimos viver como irmãos, fazemos a experiência de Deus e damos ao mundo o grande testemunho do amor que vence o ódio, a violência, a maldade e tanto sofrimento gerado pelo egoísmo, pela cobiça e pela mentira. Por isso Jesus dizia: “Se vocês tiverem amor uns para com os outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos!” (Jo 13,35).
Vemos no livro dos Atos dos Apóstolos que os primeiros cristãos colocaram em prática o mandamento de Cristo e ao vê-los, as pessoas diziam: “Vejam como eles se amam!” “E a cada dia o Senhor ia acrescentando novas pessoas à Igreja”.  Se de um lado o testemunho dos mártires era semente de novos cristãos, de outro, o testemunho de amor fraterno na comunidade de fé era fundamental para a perseverança de todos e para atração de novos convertidos. A evangelização no cristianismo primitivo era na força de muito sangue e de muito amor. Por isso nada conseguiu impedir o avanço do Evangelho.


















9º Encontro ____/ ____/ ____

Ser santo é
ser humano

Mt 5,43-48

No Evangelho segundo Mateus, após ensinar sobre as bem-aventuranças, a importância do testemunho e o verdadeiro sentido da observância da Lei de Deus, Jesus conclui a primeira parte do Sermão da Montanha com esta frase lapidar: “Portanto, sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês que está no céu.” (Mt 5,48) Que é o mesmo que dizer: “Sede santos como Deus é santo!” (Lv 19,2) Desta forma, o chamado à santidade é o grande chamado de Deus para cada discípulo de Jesus. “Visto que é Santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo o vosso agir!” (1Pd 1,15)
Ao meditarmos o projeto de Deus percebemos que todo ser humano deve ser santo como Ele é santo. E que ser santo é ser humano. Deus é Santo como Deus. O homem deve ser santo como homem. Pois Deus criou o homem bom, aliás, muito bom. Ser santo é viver esta bondade original que saiu com o selo de qualidade das mãos do Criador. Tudo que é verdadeiramente bom deve ser almejado e vivenciado pela criatura humana. Deste modo, o homem será bom como Deus é Bom.
Às vezes temos uma idéia errada de santidade que atrapalha muito a nossa caminhada cristã. É como se para sermos santos devêssemos ser anjos. Não. Devemos ser homens e então seremos santos. Todo santo do céu é um homem santo, que viveu na terra, peregrinou, discerniu a vontade de Deus, cumpriu com a sua missão, acolheu o Espírito Santo e viveu conforme este Espírito o iluminava e impulsionava. Quando pensamos que para ser santos devemos ser anjos, esquecendo ou negando a nossa humanidade com tudo o ela tem de bom, então nos perdemos nas ilusões, ingenuidades e idealismos. Perdemos tempo procurando fazer o que é impossível para nós e o que não corresponde à vontade de Deus, e deixamos de dar passos concretos no Caminho que é Cristo, nosso Salvador, Mestre e Senhor.
Para ser santos não precisamos ser anjos, como se pudéssemos ser desencarnados da história ou assexuados. Devemos viver a nossa humanidade em todas as suas dimensões: corpórea, psíquica, afetiva, sexual, intelectual, espiritual, social. E toda esta vivência deve ser no rumo da eternidade, mas só é possível no transcurso da história, ou seja, aqui e agora. Nesta empreitada, fomos salvos por Jesus e ungidos pelo seu Espírito. Por isso, se fizermos a opção fundamental de ser santo como Deus é Santo, nada poderá nos impedir. Jesus nos deu o exemplo a seguir. Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. O seu Espírito é a nossa força e esperança!
Ser santo não é querer ser deus. Esta foi a grande tentação do Maligno para Adão e Eva: “se comerdes da fruta sereis como deuses”. Deus é Santo como Deus. O homem deve ser santo como homem, portanto, em comunhão submissa com o seu Criador. Esta busca de querer ser deus é na verdade querer viver sem Deus, negando-lhe a obediência humilde e a gratidão fervorosa. Esta tentação do Maligno, “sereis como deuses”, se for praticada, gera no homem o orgulho. Daí vêm a ignorância, a auto-suficiência, o secularismo e todas as formas de ocultismos. Nós sabemos aonde o homem chega sozinho: ao fundo do poço, ao inferno.
Ser santo é ser semelhante a Deus. Viver a nossa vocação humana para o amor e para a liberdade. Ser santo é ser verdadeiramente humano, tal qual como Deus o criou e o chamou para viver no amor, por amor e para o Amor. “O amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” santifica-nos ao mesmo tempo que nos humaniza. Santificação é humanização. Santificação é obra da Graça restaurando numa pessoa a sua “imagem e semelhança com Deus” que foi ferida pelo pecado.
Quando nos abrimos para a Graça do Espírito Santo passamos a viver uma vida nova, de tal modo que o nosso humano liberta-se e abre-se para Deus. Deixamos o mundo e passamos a fazer parte da Igreja; peregrinamos na terra com o sentido do céu; caminhamos na história transcendendo para a eternidade.
É isto a santidade cristã: a vida humana vivida com amor e liberdade, na Graça Espírito Santo. Ser santo é ser humano ungido pelo Espírito Santo!
Deus é Amor. A santidade tem a medida e a intensidade deste Amor. O Amor é operativo através da caridade: oração, perdão, compreensão... A santidade tem a marca do amor. A santidade manifesta-se humildemente na vivência e na prática do amor humano, que é reflexo do amor divino. Por isso, na Oração Eucarística da Missa, ao recordarmos os santos, a Igreja lembra que “na terra eles amaram a Deus e aos irmãos.” Como a santidade tem a marca do amor, podemos “medi-la” não tanto pelas práticas religiosas (devoções, sacramentos, orações), que são meios de santificação e, portanto, extremamente necessárias.
Amar a Deus e ao próximo, como a si mesmo, é o maior mandamento revelado por Jesus. A prática deste mandamento do amor, inclusive do amor aos inimigos, torna o homem cada vez mais humano e semelhante a Deus.

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É notório que logo nas origens, quando Deus criou o universo e tudo o que ele contém, “modelou” o homem “à sua imagem e semelhança”. Mulher e homem os criou, em par de igualdade, com a mesma dignidade e a complementariedade da sexualidade.
Portanto, no ato da criação Deus escreveu no coração humano a sua vocação – ser semelhante ao Criador: santo, irrepreensível, transcendente, ou seja, capaz de ir além dos próprios limites da sua estrutura física, psicológica, cultural. Ir além da sua própria historicidade, no rumo da eternidade. Pois tudo nesta terra é muito pouco para preencher o ser humano. Seu coração é infinito. Só a eternidade pode satisfazê-lo. A vida na terra deve ser um começo da eternidade que nos espera.
Esta transcendentalidade caracteriza a liberdade humana. O homem livre tem a posse de si mesmo quando vai além, determinando e não sendo determinado por nada deste mundo: vícios, pessoas, ideologias ou objetos. Por isso a liberdade do homem só é possível em Deus. Só no Deus que o criou o homem consegue ser verdadeiramente homem.
A transcendentalidade natural, quando verdadeiramente exercida, já é espiritualidade. “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou.” “Onde está o Espírito do Senhor aí está a liberdade”.
A liberdade do homem deve ter a mesma extensão do amor. Caso contrário ela é transformada em libertinagem, que é o mau uso do dom da liberdade de um modo irresponsável. A vontade de Deus é que o amemos com todas as nossas forças, de toda a nossa alma, de todo nosso coração e com todo nosso entendimento e ao próximo como a nós mesmos. O amor sempre gera a responsabilidade. Portanto, a liberdade vivida no amor é responsável. Como dizia São Francisco de Assis: “Toda liberdade fora de Deus (Amor) é escravidão!”
Para ser feliz e plenamente realizado, o homem deve projetar-se nessa direção. Ser semelhante a Deus é a sua vocação. Porém, o Maligno, que sempre se contrapõe ao projeto de Deus, vai criando inúmeras formas para desencaminhar e destruir a criatura humana. Jesus advertiu que o Inimigo só veio para matar, mentir e destruir.
Hoje em dia, somos tentados a não formar a imagem de Deus em nós. Somos enganados e iludidos de tal modo que acabamos imitando o que o mundo oferece, e não Aquele que Deus apresenta como modelo para nossa imitação e seguimento: JESUS CRISTO.
Como o Maligno é o príncipe deste mundo, tudo que nos é oferecido tem a sua marca. Na medida que vamos absorvendo e praticando o que nos é oferecido, vamos cada vez mais ficando parecido com ele. Isto mesmo. Quando acolhemos e praticamos o que tem parte com o Maligno, cada vez mais ficamos parecidos com o próprio Maligno: cheios das trevas da ignorância, do ódio, da mentira, da ruindade. Tornamo-nos rancorosos, desobedientes a Deus, sem amor, escravos...
Obedecemos a quem imitamos. Isto é muito grave. Quando imitamos ao Maligno, não só nos parecemos com Ele, assumindo sua “imagem e semelhança”, mas passamos a obedecê-lo. “Vamos sempre nos assemelhando àquele a quem obedecemos, de quem gostamos muito. Até mesmo sem perceber, vamos reproduzindo suas atitudes, seu jeito de falar, seu jeito de vestir... Nós sempre imitamos quem obedecemos. Por isso quem obedece ao Inimigo acaba sempre reproduzindo suas atitudes e sua pedagogia” (Pe. Léo).
A obediência ao Maligno é desobediência a Deus. Os males não vêm porque desobedecemos a Deus, como se Ele fosse um terrível castigador e incapaz de perdoar infinitamente. É na obediência ao Maligno que encontramos a causa de todos os males que afligem a humanidade. A obediência ao Maligno é o pecado. E o pecado gera a morte. “O salário do pecado é a morte!”
Não devemos ficar surpreendidos quando vemos o homem moderno imitando jogadores de futebol, artistas de televisão, cantores, modelos ou outras personalidades públicas. Por isso que a sociedade está tão cheia de pseudovalores e sem referências. As crises que afligem o mundo moderno são manifestações das crises espiritual e moral. A decadência da modernidade começa na idolatria e culmina na mentalidade materialista (secularismo).
Imitar estas pessoas públicas significa na maioria das vezes fazer delas seus ídolos. Porém, nem sempre quem faz sucesso tem valores morais. E mesmo que tivessem, nunca deveriam ser tomadas como exemplos absolutos. Só Jesus é o Caminho. Mas o que acontece? Os fãs passam a pensar como os seus ídolos pensam e a agir como eles agem. Obedecem em tudo: no falar, no comportamento, na busca desenfreada pelo sucesso, no modo como eles vivenciam sua religiosidade, etc Os paradigmas do ter, do poder e do prazer, tão propagados pela mídia, passam a ser os paradigmas da população. Deste modo, as pessoas pensam mais em ter do que em ser. As relações humanas são subvertidas em relações de exploração e o amor é desvirtuado em pornografia, libertinagem, individualismo e hedonismo.
Os fãs dão tudo para o seu ídolo: tempo, dinheiro, consideração... a sua própria vida. No fim das contas, os ídolos nem os consideram, fogem da sua procura, permanecem no seu luxo, enquanto os seus obedientes imitadores vão sofrer a angústia, a falta de sentido, a realidade nua e crua. Na maioria das vezes, uma realidade de lama, o fundo do poço onde acabaram chegando pelo modo como viveram. Não poucas vezes, os próprios ídolos também chegam ao fundo do poço, pois são de “madeira e metal”, não são deuses, são incapazes de salvar a si mesmos.
Num programa de televisão, referindo-se ao ex-jogador de futebol Argentino, Maradona, um fã disse literalmente: “Precisamos de ídolos”. Não temos nada contra o Maradona como pessoa nem queremos culpá-lo pelo fanatismo em torno do seu nome. Na Argentina é tido como deus. Existem até os adeptos da religião de Maradona. Brincadeira ou não, esta “brincadeira” deve ser tomada a sério. O certo é que, nem Maradona, como nenhum outro ídolo, poderá preencher uma pessoa como só Deus pode preencher. E muitos trocam Deus pelos ídolos. Buscam ser a “imagem e semelhança” dos ídolos. Como por detrás de toda idolatria sempre está Satanás, é a ele que estão imitando e obedecendo. Por detrás desses fanatismos todos, existe um “mistério da iniqüidade” desviando o homem de Deus para conduzi-lo ao fundo do poço.
Deixando Deus de lado, não procurando ser semelhante a Ele, esquecendo o perfil de Cristo, o homem esquece a sua vocação, atrofia-se, torna-se cada vez mais desumano e morre (não-homem). Quantas pessoas vegetam sem Deus. Levam uma vida desumana na sepultura do ódio, da ignorância, dos vícios. Vegetam. Não vivem a vida verdadeira de um filho de Deus. Estão mortos. Sem a paz e sem a felicidade que só Deus pode conceder ao coração humano. Tais cadáveres precisam ser regenerados pelo Espírito Santo. Como os ossos ressequidos da visão profética de Daniel, necessitam do sopro de vitalidade do Espírito Santo que livra a vida da morte: ressurreição!
É importante meditarmos sobre as nossas origens porque aí encontramos o projeto original do Deus Criador para a nossa vida. Voltar às origens torna-se, então, um modo de discernirmos o melhor modo de viver o nosso hoje, tendo em vista a nossa plena realização humana e cristã.









10º Encontro ____/ ____/ ____

Autenticidade
e caráter

Mt 6,1

No Sermão da Montanha, ao apresentar o programa de vida dos seus discípulos, Jesus exorta-os à fé e à autenticidade. A justiça deles, ou seja, o modo como devem viver e praticar a Palavra de Deus, deve ser diferente do modo dos escribas e fariseus, pois eles são cheios de casuísmo e hipocrisia. Também devem viver diferentes dos pagãos, pois eles, por falta de fé e por sobra de superstições, vivem freneticamente em vãs preocupações e baixos ideais.  

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Naquele dia, naquela Montanha, estavam Bartolomeu e Judas Iscariotes... Sobre Bartolomeu, que é o mesmo que Natanael, ao vê-lo pela primeira vez (Jo 1,45-51), Jesus, que não enxerga a aparência, mas o coração, logo de início o elogiou, apontando uma virtude que todo ser humano deve ter: “Eis aí um israelita de verdade, um homem sem falsidade”. Um homem sem falsidade é um homem de palavra, de compromisso e responsabilidade. Um homem sincero, sem cera, com quem podemos lidar no dia-a-dia sem ficar pisando em casca de ovo, sem ficar deslizando. A falsidade não convive com a mentira, fuxico, fofoca e meias palavras. O homem verdadeiro não precisa ficar se escondendo nas suas intenções, ou no “disse-me-disse”, ou jurando por isto ou por aquilo. É responsável e sincero. O seu sim é sim e o seu não é não, porque ele sabe que tudo que vai além disso não é de Deus, mas do Maligno.
Interessante que Jesus não disse: “Eis aí um homem sem pecado”. Ele disse: “Eis um homem sem falsidade”. Porque, infelizmente, todos somos pecadores, e Bartolomeu também o era. Porém, apesar das suas fraquezas e limitações, Bartolomeu desejava realmente viver de acordo com a Palavra de Deus e se esforçava em praticá-la. Era autêntico no que se refere a manifestar suas opiniões, no modo como convivia na sociedade e almejava realmente crescer.
O falso é hipócrita. Tem muita máscara, sorriso alargado nos dentes e exagerados apertos de mãos. Tece elogios sem sentido, quando não opta em ser a palmatória do mundo. Porém, ele mesmo, não escuta o que diz ser o certo, não ama os outros gratuitamente, não se arrepende realmente dos seus pecados, não dá passos de verdade na perspectiva da perfeição.
Pecador, Jesus perdoa. Falsidade, ele perdoa também, desde que haja arrependimento de verdade. Pois na pessoa falsa até o arrependimento corre o risco de ser falso. É o que chamamos de remorso. Até Judas Iscariotes foi contemplado pela misericórdia de Jesus. Embora de tão falso e ganancioso que era - pois falsidade tem muito a ver com ganância e egoísmo - vivia desconfiado, foi cada vez mais perdendo a credibilidade junto aos seus. Enrolando-se na sua própria "mesquinhez", culminou na forca. Infelizmente, este é o destino de todo falso, caso não se arrependa de verdade: vai se isolando, todos o acolhem e o temem, mais não lhe dão credibilidade, até que se auto-eliminam em um processo espiritual e existencial de suicídio a longo prazo.
O nome de Bartolomeu, conforme vemos na profecia do Apocalipse, foi escrito em uma das colunas da Jerusalém Celeste. Sinal de que, apesar da sua concupiscência, deu passos no caminho das virtudes. Era um homem sem falsidade na terra, agora é um santo no céu.
Em suma, Bartolomeu cresceu nos bons costumes adquiridos, nas virtudes, que são verdadeiras forças interiores que vão se enraizando por dentro e conduzindo para o bem. Judas Iscariotes, infelizmente, foi se atrofiando cada vez mais nos vícios, que são forças negativas que escravizam a pessoa até destruí-la totalmente.
Virtudes (forças que edificam e cooperam com a Graça de Deus) e vícios (forças que escravizam e cooperam com Satanás) dependem muito do berço, da família, das influências, mas, sobretudo dos bons ou maus costumes que vamos adquirindo e das escolhas que vamos fazendo no decorrer da vida.

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O discípulo de Jesus não pode ser nem um falso hipócrita e nem pagão. Santidade e perfeição é viver com autenticidade e fé as relações com Deus, com o próximo e consigo mesmo. A atitude de fé fundamental ensinada por Jesus que interferirá em toda a sua existência cristã deve ser esta: “Em primeiro lugar busquem o reino de Deus e a sua justiça, e Deus dará a vocês, em acréscimo, todas essas coisas.” (Mt 6,33)
Buscar em primeiro lugar o reinado de Deus e tudo de bom nos será acrescentado. Nesta perspectiva, vamos ler e partilhar todo o capítulo 6 de Mateus,  perícope por perícope, e aprender a ser discípulos de fé e autenticidade segundo a mentalidade de Jesus.

- Relação com o próximo (Mt 6,2-4)

- Relação com Deus (Mt 6,5-6)

- O Pai Nosso (Mt 6,7-15)

- Relação consigo mesmo (Mt 6,16-18)

- A escolha fundamental (Mt 6,19-24)

- A busca fundamental (Mt 6,25-34)











11º Encontro ____/ ____/ ____

Os dons infusos

Mt 7,1-11

O Pai concede o Espírito Santo com os sete  Dons Infusos para a nossa santificação!

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Estes dons são graças de Deus e, só com nosso esforço, não podemos fazer com que cresçam e se desenvolvam. Necessitam de uma ação direta do Espírito Santo para podermos atuar dentro da virtude e perfeição cristã.
No Espírito Santo, Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, reside o Amor Supremo entre o Pai e o Filho. Foi pelo Divino Espírito Santo que Deus se encarnou no seio de Maria Santíssima, trazendo Jesus ao mundo para nossa salvação. Peçamos à Maria, esposa do Espírito Santo, que interceda por nós junto a Deus concedendo-nos a graça de recebermos os divinos dons, apesar de nossa indignidade, de nossa miséria. Nas Escrituras, o próprio Jesus quem nos recomenda: "Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto" (Mt 7,7s).

1. Fortaleza - Por essa virtude, Deus nos propicia a coragem necessária para enfrentarmos as tentações, vulnerabilidade diante das circunstâncias da vida e também firmeza de caráter nas perseguições e tribulações causadas por nosso testemunho cristão. Lembremo-nos que foi com muita coragem, com muito heroísmo, que os santos desprezaram as promessas, as blandícias e ameaças do mundo. Destes, muitos testemunharam a fé com o sacrifício da própria vida. O Espírito Santo lhes imprimiu o dom da Fortaleza e só isto explica a serenidade com que encontraram a morte! Que luta gloriosa não sustentaram! Agora gozam de perfeita paz, em união íntima com Jesus, de cuja glória participam. Também nós, havemos de combater diariamente para alcançar a coroa eterna. Vivemos num mundo cheio de perigos e tentações. A alma acha-se constantemente envolta nas tempestades de paixões revoltadas. Maus exemplos pululam e as inclinações do coração constantemente dirigem-se para o mal. Resistir a tudo isto requer em primeiro lugar muita oração, força de vontade e combate resoluto. Por esta virtude, a alma se fortalece para praticar toda a classe de atos heróicos, com invencível confiança em superar os maiores perigos e dificuldades com que nos deparamos diariamente. Nos ajuda a não cair nas tentações e ciladas do demônio.

2. Sabedoria - O sentido da sabedoria humana reside no reconhecimento da sabedoria eterna de Deus, Criador de todas as coisas que distribui seus dons conforme seus desígnios. Para alcançarmos a vida eterna devemos nos aliar a uma vida santa, de perfeito acordo com os mandamentos da lei de Deus e da Igreja. Nisto reside a verdadeira sabedoria que, como os demais, não é um dom que brota de baixo para cima, jamais será alcançada por esforço próprio. É um dom que vem do alto e flui através do Espírito Santo que rege a Igreja de Deus sobre a terra. Nos permite entender, experimentar e saborear as coisas divinas, para poder julgá-las retamente.

3. Ciência - Nos torna capazes de aperfeiçoar a inteligência, onde as verdades reveladas e as ciências humanas perdem a sua inerente complexibilidade. Nossas habilidades com as coisas acentuam-se progressivamente em determinadas áreas, conforme nossas inclinações culturais e científicas, sempre segundo os desígnios divinos, mesmo que não nos apercebamos disso. Todo o saber vem de Deus. Se temos talentos, deles não nos devemos orgulhar, porque de Deus é que os recebemos. Se o mundo nos admira, bate aplausos aos nossos trabalhos, a Deus é que pertence esta glória, a Deus, que é o doador de todos os bens.

4. Conselho - Permite à alma o reto discernimento e santas atitudes em determinadas circunstâncias. Nos ajuda a sermos bons conselheiros, guiando o irmão pelo caminho do bem. Hoje, mais do que nunca está em foco a educação da mocidade e todos reconhecem também a importância do ensino para a perfeita formação da criança. As dificuldades internas e externas, materiais e morais, muitas vezes passam pelo dom do Conselho, sem disto nos apercebermos. É uma responsabilidade, portanto, cumprir a vontade de Deus que destinou o homem para fins superiores, para a santidade. Para que possamos auxiliar o próximo com pureza e sinceridade de coração, devemos pedir a Deus este precioso dom, com o qual O glorificaremos aos mostrarmos ao irmão as lições temporais que levam ao caminho da salvação. É sob a influência deste ideal que a mãe ensina o filhinho a rezar, a praticar os primeiros atos das virtudes cristãs, da caridade, da obediência, da penitência, do amor ao próximo.

5. Entendimento - Torna nossa inteligência capaz de entender intuitivamente as verdades reveladas e naturais, de acordo com o fim sobrenatural que possuem. A aparente correlação não significa que quem possui a sabedoria, já traga consigo o entendimento por conseqüência (ou vice-versa). Existe uma clara distinção entre um e o outro. Para exemplificar: Há fiéis que entendem as contemplações do terço, mas o rezam por obrigação ou mecanicamente (Possuem o dom do entendimento). Há outros que, por sua simplicidade, nunca procuraram entender o seu significado, mas praticam sua reza com sabor, devoção e piedade, ignorando seu vasto sentido (possuem o dom da Sabedoria). Este exemplo, logicamente, se aplica às ciências naturais e divinas, logo ao nosso dia-a-dia. Não sendo um conseqüencia do outro, são distintamente preciosos e complementam-se mutuamente, nos fazem aproximar de Deus com todas as nossas forças, com toda a nossa devoção e inteligência e sensível percepção das coisas terrenas, que devem estar sempre direcionadas às coisas celestes.

6. Piedade - É uma graça de Deus na alma que proporciona salutares frutos de oração e práticas de piedade ensinadas pela Santa Igreja. Nos dias de hoje, considerando a população mundial, há poucas, muito poucas pessoas que acham prazer em serem devotas e piedosas; as poucas que o são, tornam-se geralmente alvo de desprezo ou escárneo de pessoas que tem outra compreensão da vida. Realmente, é grande a diferença que há entre um e outro modo de viver. Resta saber qual dos dois satisfaz mais à alma, qual dos dois mais consolo lhe dá na hora da morte, qual dos dois mais agrada a Deus. Não é difícil acertar a solução do problema. Num mundo materialista e distante de Deus, peçamos a graça da piedade, para que sejamos fervorosos no cumprimento das escrituras.

7. Temor de Deus - Teme a Deus quem procura praticar os seus mandamentos com sinceridade de coração. Como nos diz as Escritura, devemos buscar em primeiro lugar o reino de Deus, e o resto nos será dado por acréscimo. O mundo muitas vezes sufoca e obscurece o coração. Todas as vezes que transigências fizemos às tentações, com certeza desprezamos a Deus Nosso Senhor. Quantas vezes preferimos a causa dos bens miseráveis deste mundo e esquecemo-nos de Deus! Quantas vezes tememos mais a justiça dos homens do que a justiça de Deus! Santo Anastácio a este respeito dizia: "A quem devo temer mais, a um homem mortal ou a Deus, por quem foram criadas todas as coisas?". Não esqueçamos, portanto, de pedir ao Deus Espírito Santo a graça de estarmos em sintonia diária com os preceitos do Criador. Por este divino dom, torna-se Deus a pessoa mais importante em nossa vida, onde a alma docemente afasta-se do erro pelo temor em ofendê-Lo com nossos pecados.
Fábio Loretto












12º Encontro ____/ ____/ ____

Errar não é humano

Mt 7,12

Santificação e humanização não se contrapõem. Tem gente que pensa que os instintos egoístas são próprios da natureza humana. Não! Deus nos criou bons e nos chamou para viver esta bondade. Os instintos egoístas são paixões carnais, conseqüências do pecado original. A natureza humana ficou estragada, ferida e concupiscente, ou seja, tendente para o mal. Por isso que muitas vezes deixamos de fazer o bem que queremos e acabamos fazendo o mal que não queremos. E isto não nos deixa felizes, pois não coopera para a nossa verdadeira realização. Viver a nossa humanidade significa libertar-se dessas fraquezas carnais e transcender, vivendo a nossa vocação para o verdadeiro amor e verdadeira liberdade. Quando assim fazemos, estamos dando passos no sentido da nossa verdadeira humanização e, portanto, na perspectiva da nossa santificação.
Quanto mais humanos formos mais santos seremos. Mas é preciso saber bem o que seja homem. Ter cuidado para não pensar que as paixões carnais são próprias da nossa natureza e por isso seriam queridas pelo Criador. Deste modo, acabamos justificando nossos erros e atrofiamos na acomodação. Jesus Cristo se fez homem para revelar o homem ao próprio homem. Por isso Ele não pecou nunca, pois o pecado não é próprio do homem. O pecado não é constitutivo da natureza humana, mas um acidente incentivado pela tentação do Maligno. O pecado é desobediência à vontade de Deus e obediência ao Maligno. Por isso o pecado deixa tantas conseqüências negativas na humanidade. Imitando a Cristo em todas as circunstâncias históricas da nossa vida e seguindo o seu Evangelho, na Graça do Espírito Santo, vencemos o pecado, transcendemos os instintos egoístas e vamos vivendo a nossa verdadeira vocação para a santidade com toda nossa dignidade humana. Deste modo, todos os passos que damos nesta direção, já é ação do Espírito de Deus nos restaurando e nos recriando como criaturas novas em Cristo Jesus que nos salvou e redimiu.
Ser santo é ser humano. Quanto mais humanos formos, mais santos seremos: livres e amorosos. Esta é a nossa vocação!

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Da consciência da nossa vocação para a santidade emerge a necessidade da cura interior e conversão permanente. Por que, ao mesmo tempo, que vislumbramos a vontade de Deus para nós, também nos deparamos com a triste realidade de que temos muitos problemas psico-afetivos e pecados que nos fecham para a vivência do amor e rasgam a nossa liberdade.
Tudo isso por uma razão muito simples: o pecado, seja ele original ou pessoal, individual ou coletivo, é antes de tudo uma violência contra a própria pessoa. O pecado produz traumas psicológicos dentro do homem. Estes, por sua vez, enraízam-se e transformam-se facilmente em complexos de auto-suficiência, de inferioridade, de rejeição e de medo que vão incentivar e gerar novos pecados. Aí temos um verdadeiro círculo de escravidão que torna o homem cada vez mais dependente dos seus próprios pecados e sentimentos negativos. Um homem incapaz de amar e ser amado, está impossibilitado de ser feliz e plenamente realizado.
Como afirma São Tomás de Aquino: “A Graça supõe a natureza.” Ou seja, para crescermos na nossa vocação humana e sermos santos, precisamos ser curados de todos os traumas e ressentimentos. Nosso ser fragmentado e esfacelado pelas muitas pancadas traumatizantes precisa ser reintegrado para readquirir sua harmonia interior. A obra da nossa humanização e santificação é de Deus, mas exige a nossa participação, no sentido de que devemos cooperar com a sua Graça na cura da nossa natureza.
Jesus assumiu a nossa condição humana, menos o pecado, justamente porque o pecado não é humano. Sabemos que todo ser humano ferido pelo pecado original tornou-se concupiscente e peca, mas mesmo assim, pecar não é humano, errar não é humano. Se errar fosse humano, então o pecado não seria pecado e Jesus também, para nos assumir integralmente, Ele mesmo teria sido o primeiro a pecar. No livro do Eclesiástico o Senhor nos diz que nunca deu licença para ninguém pecar (Eclo 15,11-20). Pecamos, é claro. E quem disser que não tem pecado é mentiroso. Todos somos necessitados do perdão de Deus. Mas pecar não é humano. Deus não nos fez e não nos quer pecadores. O pecado é fruto do mal uso da liberdade, o pecado vai contra a lei natural escrita na consciência, o pecado nos faz errar o alvo da nossa plena realização conforme o projeto salvífico do Criador.
A consciência de que somos feridos pelo pecado original e concupiscentes, com fraqueza e tendência para o mal, nos torna vigilantes. A consciência que somos pecadores nos torna humildes. E a consciência de que errar não é humano nos coloca na perspectiva da superação e do combate, pois não podemos cruzar os braços, ir atrofiando e sempre justificando nossos erros, com aquele falso argumento de que errar seria humano.
A atitude principal para superarmos nossos pecados e sermos então plenamente realizados não é a de ser juiz do irmão. Como um pecador pode julgar um pecador? O julgamento a Deus pertence! Em vez de apontar o dedo, fuxicar e fofocar, o bom mesmo é se auto-acusar.  Tirar a trave do nosso olho para depois, com humildade, ajudar a tirar o cisco do olho do irmão, é isto o que nos ensina Jesus no Sermão da Montanha.
Uma vez humildes e reconhecendo os próprios pecados, pedir, procurar e bater na porta da Divina Misericórdia, e pedir as coisas boas ao Pai Celeste, o perdão, as bênçãos e as graças para viver com dignidade no seguimento de Jesus!

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Os sete pecados capitais

Os sete pecados capitais denominam-se dessa forma por originarem outros pecados. E ao contrário daquilo que certas denominações que se dizem cristãs afirmam, os pecados capitais possuem base bíblica e fazem parte do ensino moral cristão. São regras de libertação e não de aprisionamento do ser humano. Afinal, qual homem pode-se dizer livre quando na verdade é prisioneiro de suas próprias inclinações? E foi justamente para sermos homens e mulheres livres que Jesus foi sacrificado. Portanto, os pecados capitais são mais que hodiernos.

Origem

No século IV, são Gregório Magno e são João Cassiano definiram-nos como sete: orgulho, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e preguiça. Até hoje na Igreja existe um consenso doutrinal sobre essa classificação.
No cotidiano, o católico pode lembrar desses pecados no exame de consciência que faz ao preparar-se para o sacramento da confissão. Eles servem de fonte de identificação para o defeito dominante que determina os outros, chamado de pecado hegemônico.
Os pecados capitais vão além do nível individual. Iniciando no coração da pessoa, eles concentram-se em determinados ambientes, instalando-se em determinadas instituições. A corrupção nas esferas do poder público pode ser identificada com a avareza, que aniquila o interesse generoso e correto para o desenvolvimento e os cidadãos da nação, em prol de benefícios financeiros próprios. Na realidade urbana, o aumento da violência relaciona-se à ira e à gula, esta representada pelo uso de drogas.
São Pedro alerta aos primeiros cristãos: “vigiai e sede sóbrios”, fortalecendo o espírito a fim de evitar que os pecados capitais tomem conta da vida das pessoas. “Estudar e entender os pecados capitais é um grande proveito para o progresso espiritual e santidade do católico”, afirma Pe. Roberto Paz, assessor de comunicação da Arquidiocese de Porto Alegre. Segundo ele isso acontece quando a pessoa volta-se para práticas penitencias que levam às virtudes dos cristãos.
“Sem humildade ninguém incorpora nenhuma virtude”, afirma o sacerdote. Ele lembra santa Teresa D’Ávila que considerava a humildade como o chão das virtudes. “Qualquer virtude sem humildade cai, pois fica no ar sem ter em que se prender, assim ela não cresce, tão pouco se desenvolve.”
Na vida dos santos encontram-se inúmeras atitudes de humildade. São Francisco de Assis, por exemplo, possuía um desprendimento tão grande que chamava a pobreza de irmã. Caso encontrasse pelo caminho alguém com uma veste em piores condições que a roupa que usava, não hesitava um segundo em trocá-la com seu próximo mais carente.

O que são e quais são os pecados capitais?

Os pecados capitais são pecados "cabeças", princípios, pontos de partida de outros pecados. São sete: soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça. Os demais pecados por nós cometidos são sempre uma variação de um dos pecados capitais, ou ainda, uma combinação dos pecados capitais.

Que passagens bíblicas esclarecem a cada um dos pecados capitais?

1. Soberba: relativo ao nosso orgulho, onde nos achamos melhor que todo mundo, não respeitando o próximo e passando por cima de tudo e de todos. Você se torna o seu próprio Deus pois a glória de tudo o que você faz sempre vai para você mesmo. O seu umbigo passa a ser o centro do universo. (Eclo 10,15; Romanos 3,27; Gálatas 6,4; Mateus 18,3)

2. Avareza: relativo ao apego e ao amor ao dinheiro. O dinheiro passa a ser tudo para você e você acredita que com o dinheiro pode fazer tudo e comprar tudo, inclusive as pessoas. As pessoas passam a valer menos que seu dinheiro. Seu deus se torna o dinheiro. (Mt 6,24; 1Timóteo 6,10; Marcos 10,21-22; João 12,5-6)

3. Luxúria: relativo ao apego aos prazeres sexuais. Sua vida passa a girar em torno do sexo. Se você vê um homem/mulher já pensa em sexo. Como exemplo da luxúria podemos citar: o adultério (traição) e a fornicação (sexo no namoro ou sexo fora do casamento), cobiçar a mulher/homem do próximo, a masturbação, o homossexualismo e lesbianismo, a zoofilia (sexo com animais). (2Pedro 2,13; Levítico 18, 20.22; Êxodo 20,17; Mateus 5,27; 1Coríntios 6,15; Gênesis 38,9-10)

4. Ira: quando brigamos a qualquer momento e com qualquer pessoa mesmo sem ter motivo. Quando guardamos mágoa ou rancor por alguém e não perdoamos as 70x7 que Jesus nos manda. (Mt 5,22; 21,12; 23,27)

5. Gula: quando comemos até não agüentar mais, chegando até mesmo a passar mal. Quando já saciamos nossa fome mas comemos o bife do outro deixando-o sem comida. (Filipenses 3,19; Isaías 5,11)

6. Inveja: quando queremos ter algo igual só porque nosso próximo tem, trata-se do famoso olho gordo. Relativo a cobiça e a todo tipo de inveja, inveja da mulher, inveja das amizades, inveja do emprego, inveja dos bens materiais, etc. (Sabedoria 2,24; Gênesis 4,1-16; Mateus 10,42-43; 20,1-16; Gênesis 37,4; 1Samuel 18,6-16)

7. Preguiça: quando temos todo tempo do mundo a nossa disposição e mesmo assim deixamos de fazer as boas coisas em função de Deus e do próximo. (Eclesiástico 33,28-29; Provérbios 24,30-31; Ezequiel 16,49; Mt 20,6)

(Pe. Juarez de Castro)















12º Encontro ____/ ____/ ____

Do paganismo ao cristianismo

Mt 7,13-14

No Sermão da Montanha Jesus apresentou o caminho do Reino de Deus para os seus discípulos, a fim de que vivam a sua justiça e sejam plenamente realizados. A porta estreita do cristianismo conduz ao vasto paraíso, à vida eterna que já começa nesta terra e se prolonga por toda eternidade. É uma porta estreita porque para entrar no Reino temos que renunciar o que não é autenticamente humano, aquilo que não condiz com a nossa dignidade, liberdade e verdadeira felicidade. A porta do paganismo é larga, mas conduz ao inferno apertado e entrevado. Leva para a perdição, porque aquilo que não é inerente à nossa natureza humana, do jeito que Deus a criou, se não é tirado, vai se enraizando e gerando doenças e deformidades. O salário do pecado é a morte: morte existencial agora. Morte eterna junto a Satanás e seus demônios.
Aquele que é cristão não pode ser ao mesmo tempo pagão. Conhece-se um cristão pelo que é e pelo que faz. Por isso, nem todo aquele que diz “Senhor, Senhor” entrará no Reino do Céu, mas aquele que faz a vontade de Jesus.
Jesus deseja que os seus discípulos sejamos cristãos verdadeiros, seus irmãos e aliados na grande missão que veio realizar. Adiante, vamos refletir como os primeiros cristãos foram dóceis ao chamado de Cristo e como, juntos, realizaram uma verdadeira revolução na sociedade. Hoje, somos impelidos a ser testemunhas do Evangelho, sobretudo quando a onda do paganismo deseja fazer o contrário.

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A transformação da cananéia

Naquele tempo uma mulher cananéia foi ao encontro de Jesus porque sua filha estava sendo atormentada pelo demônio (Mt 15,21-28). Nas terras pagãs de Tiro e Sidônia não encontrara a paz e a libertação. Então foi à procura de Jesus, o Santo de Israel, de quem ouvira falar ser o Senhor e Salvador da humanidade.
Jesus veio para salvar primeiro as ovelhas perdidas da casa de Israel, o povo escolhido por Deus para preparar a salvação de toda humanidade(Gn 12,1-3). Por isso, ante a súplica da mulher, dizia que não era certo tirar o pão dos filhos e dá-lo aos cachorrinhos. Mas a mulher se prostrou em adoração e disse-lhe: “Sim, Senhor, é verdade: mas também os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos.” Deus tem o seu plano, mas a nossa oração pode alterá-lo quando ele assim o permitir para a nossa salvação. Então Jesus disse que a fé daquela mulher era grande e desde aquele dia a sua filha foi curada!
Mediante a fé e a oração, aquela mulher encontrou Jesus, vivenciou o seu amor, saiu das trevas para a luz, da bênção para a maldição. Ela como que se tornou o protótipo de todo um movimento que estava em franca ascensão há dois mil anos atrás: muita gente saindo do paganismo para o cristianismo. Tal movimento de conversão está subjacente no tratamento de Paulo aos cristãos da cidade de Roma: “Vós cristãos que vieram do paganismo!” (Rm 11,13). Ou seja: Vós que vieram do reino da ignorância para o reino da sabedoria, das trevas para a luz, do tormento para a paz em Jesus!



Os três “pês” do paganismo

Historicamente, paganismo passou a ser sinônimo de ignorância e de tudo aquilo que se contrapõe a Jesus, o Evangelho e sua Igreja, de modo direto ou indireto, de modo oculto ou explícito. Várias correntes ditas filosóficas, ideológicas, culturais ou religiosas, procedentes de várias localidades ou épocas da história são agrupadas como sendo de matriz pagã, por que têm em comum esta rejeição de Jesus como único Senhor e Salvador da humanidade e se põem mesmo em ação para superá-lo ou afastar as pessoas do seu reinado de salvação. Por isso é necessário muito discernimento, tendo em vista que normalmente elas estão bem embaladas ou emaranhadas entre si 
Por um bom período, o paganismo reinou na história da humanidade decaída desde o pecado original. O paganismo sempre possuiu três grandes “pês”:

1 - O P do politeísmo: o pessoal acreditava na existência de vários deuses. Era praticamente um deus para cada família. Do politeísmo decaiam facilmente na idolatria (adoração de ídolos) e no panteísmo (crença de que a natureza é deus). Porém, no culto aos falsos deuses ou seres da natureza os demônios é que são sempre cultuados. Eles sempre quiseram ser Deus. Como não o podem ser, então se escondem atrás dos falsos deuses inventados pelo homem ou por detrás do próprio homem que diz ser deus. Ainda não havia o conhecimento do Deus Único e Verdadeiro revelado por Jesus Cristo.

2 - O P da Poligamia: Era comum um homem com várias mulheres ou uma mulher com vários homens, embora o mais comum fosse mesmo a poligamia, um homem com várias mulheres. Da poligamia surgia uma verdadeira bagunça familiar, a paternidade irresponsável, a família deteriorada já na sua nascente. Tudo muito distante do plano original do Criador que desde o início sempre quis a família construída a partir da vida conjugal de um homem e uma mulher somente, alicerçados no seu amor e santificados na sua bênção. Com o cristianismo a família pensada por Deus foi supervalorizada e a união entre um cristão e uma cristã foi sacramentalizada de modo que na graça divina os dois nunca viessem a se separar.

3 - O P da Pornografia. Pornografia que na sua etimologia já significa algo superficial, sem profundidade, sem raiz, sem amor e, portanto, sem responsabilidade e compromisso de vida.  Seja a pornografia da libertinagem sexual, seja a pornografia da falta de valores e de virtudes, dos vícios, das baixarias e do sexo irresponsável. O paganismo sempre foi muito superficial. Jesus trouxe o amor, a verdadeira liberdade, o modo correto de ser homem e de viver a sexualidade/afetividade com profundidade e responsabilidade.

Apesar de um cristão ou outro ter fraquejado ao longo desses dois mil anos, no seu conjunto, o cristianismo, preparado pelo judaísmo, foi uma grande bênção para a humanidade. Com Jesus a luz brilhou no meio das trevas e a história da humanidade conheceu a revolução do amor, da verdade, do bem e da vida. E os pagãos que viviam famintos correram ao encontro de Cristo, como aquela cananéia do Evangelho e os cristãos de Roma.
Hoje assistimos verdadeiras forças mundiais procurando destruir o cristianismo para que o paganismo volte a reinar na sociedade. Tais forças neopagãs são encabeçadas, sobretudo, pelos meios de comunicação, seitas, empresas e pessoas que detêm muito poder, dinheiro ou prestígio popular. Em uma outra oportunidade vamos falar sobre quem são esses cavaleiros do paganismo. Porém, desde já, é necessário que cada discípulo de Jesus tenha discernimento e perceba o que está de acordo com o Evangelho e o que faz parte do paganismo.
Seitas de diversas origens pretendem re-infiltrar o politeísmo, fazendo crer que Deus são vários, que ele é energia cósmica da natureza, ou é mesmo a própria natureza... São forças que pretendem tirar a unicidade e a universalidade de Jesus e relativizá-lo, para que dele nos afastemos e passemos a ser presas fáceis de vãs ideologias e dos próprios demônios.
Além dessas idolatrias do tipo religiosas, devemos renunciar também aquelas mais secularizadas para com o dinheiro, poder político, jogadores de futebol, artistas e demais personalidades da sociedade. De igual forma, tais idolatrias também querem afastar de Jesus. Tem gente que vive mais para o dinheiro, algum político ou artista mais do que para Deus!
Voltando aos três “pês” do paganismo, a poligamia é cultivada já nos namoros à moda das novelas. Namoro hoje em dia é sinônimo de “ficar” e de “transa”. Transar é algo que deve ser praticado na hora que der vontade como se fosse semelhante aos dois irem passear na praia ou jantar em um restaurante. Namoro nesse estilo é caminho certo para a poligamia, prostituição e adultério. Casar na Igreja é algo ridicularizado e quando alguns casam é mais por uma questão social do que por um imperativo de fé. E quando se casam, o divórcio é tido como natural logo que um dos dois tiver vontade de partir pra outra ou quando surgir a primeira dificuldade. A poligamia no seu sentido largo mina o matrimônio e destrói a família.
A pornografia com toda sua superficialidade, perversidade e devassidão é vista às claras nas músicas, tipos de divertimento e entretenimento, na própria mentalidade da juventude de hoje em dia. As gangues, alto índice de viciados, falta de respeito para com os pais e professores, pichações, tudo isso apenas manifesta como a nova geração é superficial e rasteja em baixarias.
Os grandes representantes dos jovens são ídolos cuja vida caiu no vazio existencial e muitos até já cometeram suicídio. Hoje o certo vai sendo posto como errado e o errado como certo. O aborto, o homossexualismo, as voluptuosidades do mundo, a corrupção na política, o consumismo desenfreado, tudo isso vai sendo inculcado e afastando do verdadeiro amor e do verdadeiro sentido da vida.
Decididamente, e sem nenhum falso moralismo e muito menos com fanatismo, querem destruir o cristianismo e implantar o paganismo. Os cavaleiros do neopaganismo estão em ação, às ocultas, mas também às claras. E às vezes os cristãos, sem se darem conta, acabam ajudando na sua própria destruição. Sim, porque nos países onde o neopaganismo já está mais organizado e instalado, os cristãos estão sofrendo sanções, processos nos tribunais e perseguições de diversos tipos. Em países da Europa pais já foram processados porque não quiseram ensinar aos filhos que o homossexualismo é de acordo com a natureza! Em outros países, médicos cristãos já foram processados porque não quiseram abortar, escolas cristãs foram obrigadas a tirar o ensino religioso dos alunos. Tudo isso já está acontecendo, e muitos cristãos nem se dão conta e acabam ajudando (inocentemente???).
Naquele tempo, a cananéia e muitos cristãos de Roma saíram do paganismo para o cristianismo. Eles experimentaram na pele o que era viver na escuridão das trevas e na zona da morte, sob a influência constante dos demônios e seus obreiros. Hoje corremos o risco de ver cada vez mais o contrário: cristãos se tornando pagãos. Quanto mais a pessoa vive distante de Jesus, mais os demônios têm poder sobre ela. E quanto mais se aproxima, mais os demônios são enfraquecidos. O paganismo sempre foi um prato cheio para a ação dos demônios. Se o povo de hoje se tornar cada vez mais pagão, cada vez mais os demônios vão atormentar as pessoas, as famílias e a sociedade em geral.
Em Apocalipse 13, diante do emaranhado da sociedade de então, João identificava o Anticristo de um modo simbólico através do número 666. Era simbólico, mais com respaldo na realidade. Todos entendiam que ele estava se referindo ao Imperador Nero, um verdadeiro demônio encarnado. Mas ao mesmo tempo, todos entendiam que outros Neros haveriam de surgir em outros lugares e momentos da história.
Se pegarmos os três “pês” do paganismo e virarmos pra baixo e às avessas, teremos três “seis”: PPP = 666. Fazemos esta interpretação de um modo livre, não exegético, aportuguesando os números. Existe aí uma coincidência que também tem seu sentido. Todos que promovem o politeísmo, a poligamia e a pornografia colocam-se a serviço do paganismo e dos demônios e por isso recebem a sua marca na testa. Só o arrependimento e a conversão podem apagar esta marca. Na segunda vinda de Cristo, quem possuí-la não poderá entrar no Reino do Céu. Por isso, também devemos olhar para nós mesmos e para nossa família com humildade e sinceridade e ver se não estamos recebendo esta mesma marca.
Não aconselhamos ninguém a ficar tagarelando e brigando. O único caminho é vivenciar sempre as quatro dimensões da vida cristã-batismal (espiritualidade, testemunho, apostolado e eclesialidade), pescar e formar discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo e ajudar na construção da cultura cristã onde estiver, com quem estiver e como puder.
Os adeptos do neopaganismo se dão de corpo e à alma: têm tempo, convidam, divulgam o que acreditam, ajudam financeiramente. Nós, discípulos e discípulas de Nosso Senhor Jesus Cristo, para a sua glória e salvação da humanidade, não podemos ficar de braços cruzados e devemos fazer muito mais, pois a causa é nobre. E a nossa grande missão hoje, antes de fazer qualquer coisa, é ser discípulo de Jesus. A nossa primeira missão é o nosso testemunho de vida cristã. O discurso convence, mas é o testemunho que arrasta a pessoa para Jesus.









13º Encontro ____/ ____/ ____

Frutos do Espírito – I:
Amor, alegria e paz

Mt 7,15-20

“Os frutos do Espírito são perfeições que o Espírito Santo forma em nós como primícias da glória eterna” (CIC, § 1832). Os frutos do Espírito são gerados em cada um de nós e não apenas dados. Eles pressupõem uma caminhada discipular, manifestam-se a partir da nossa conversão. Eles revelam aquilo que somos e não apenas o que fazemos. “Os que pertencem a Cristo crucificaram os instintos egoístas junto com suas paixões e desejos” (Gl 5, 24). É por meio deles que testemunhamos a nossa pertença ao Ressuscitado, tornamo-nos testemunhos vivos do próprio Cristo que vive em nós.
Os frutos nos permitem assumir cada vez mais as atitudes de verdadeiros discípulos de Cristo, tornando-nos mais semelhantes a Ele e, por conseqüência, também ao Pai. E ainda nos fazem experimentar já aqui na terra a santidade e felicidade, que viveremos plenamente diante da eterna presença do Bom Deus.
Todos aqueles que fizeram uma experiência com o Ressuscitado, ou seja, que viveram sua primeira conversão precisam estar abertos à ação do Espírito Santo para que Ele possa ir gerando dentro de cada discípulo os frutos da vida nova em Cristo. Frutos estes que formados no interior de cada pessoa a modelará de acordo com o caráter do próprio Jesus, ajudando-a.
O Apóstolo Paulo enumera doze frutos do Espírito Santo na sua Epístola aos Gálatas: "O fruto do espírito é a caridade (amor), a alegria, a paz, a paciência, a longanimidade, a bondade, a benignidade, a mansidão, a fidelidade, a modéstia, a continência, a castidade" (Gl 5, 22-23 – Tradução da Vulgata).
“Santo Tomás de Aquino considera adequada essa enumeração paulina, explicando que "todos os atos dos dons e das virtudes podem, com certa conveniência, ser reduzidos a esses frutos". Ele classifica os frutos enumerados pelo Apóstolo “conforme os diferentes modos pelos quais o Espírito Santo procede conosco”.
A mente humana, esclarece o Doutor Angélico, “deve estar ordenada em si mesma, em relação ao que está ao seu lado e em relação ao que lhe é inferior. Os três primeiros frutos do Espírito Santo - caridade, alegria e paz - ordenam a alma em si mesma em relação ao bem, enquanto a paciência e longanimidade o fazem em relação ao mal".

Amor

São Paulo ao apresentar os frutos do Espírito coloca como o primeiro da lista o amor, pois é o amor o fundamento de tudo, nele é que todas as coisas são geradas. Todos os demais frutos nascem a partir do amor e todas as obras somente terão eficácia se forem realizadas no amor.
Pelo amor fomos criados e nele é que somos redimidos, pois o próprio “Deus é amor” (1 Jo 4,8.16). Tendo a humanidade sido criada à imagem e semelhança de Deus e assim chamada a viver em comunhão plena com Ele, e depois perdendo essa comunhão por causa do pecado, ela também perde a capacidade de amar, distancia-se da sua essência que é o próprio Amor. Entretanto, Deus que é a personificação do amor intervém através de Seu filho unigênito Jesus Cristo e por meio de Sua doação total nós somos perdoados e convocados a viver com Ele, por Ele e Nele.
Sendo Deus amor e nos amando incondicionalmente, indo além de todas as nossas fraquezas, perdoando sempre e nos restabelecendo a dignidade de sermos Seus filhos amados por meio da entrega de Seu Filho, Ele também nos convida a amarmo-nos da mesma maneira que Ele nos ama e assim permanecer no Seu amor (Jo 15, 9-12). Como Deus não nos pede nada sem que antes nos dê todas as condições para realizá-lo, “o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm5,5). Por nós mesmos não somos capazes de amar como o próprio Deus, pois ainda temos em nós as marcas do pecado. Por isso o próprio Espírito de Deus, a terceira pessoa da Santíssima Trindade, vem em nosso auxílio, ajudando-nos a sermos em Deus e a deixarmos que Deus seja em nós para que através de nossa entrega Ele também possa atingir a outros com o Seu Amor.
Precisamos amar, é isto que o Bom Deus nos pede. Amar é dar a própria vida. E dar a vida é renunciá-la e entregá-la gratuitamente como o próprio Jesus o fez. Devemos estar dispostos a mostrar ao mundo com atitudes (testemunho) que o amor de Deus em nós, convida-nos a viver como irmãos e a sermos sempre mais amor uns para com os outros. “E acima de tudo, vistam-se de amor, que é o laço da perfeição” (Cl 3, 14)
Portanto, renunciemos a nós mesmos e a toda obra da carne e supliquemos ao Espírito Santo que Ele gere em nós os frutos da vida nova em Cristo para que todos sejam imitadores de Deus, como filhos queridos. Vivam no amor, assim como Cristo nos amou, e se entregou a Deus por nós, como oferta e vítima, como perfume agradável” (Ef 5, 1-2).

Alegria

“Não se deixe dominar pela tristeza, nem se aflija com preocupações. A alegria do coração é vida para o homem, e a satisfação lhe prolonga a vida.” (Eclo 30, 21-22)
Hoje na vida moderna, instantânea e superficial em que vivemos as pessoas estão a buscar a alegria. E isso não é algo contrário ao projeto do Bom Deus, o problema está no fato de que as pessoas confundem a verdadeira alegria com a euforia, procurando nos locais errados aquilo que somente encontrarão em seu interior, pois é nele que o Senhor habita. “Alma buscar-te-ás em Mim, a Mim buscar-me-ás em ti” (São João da Cruz).
Por isso, precisamos primeiro diferenciar a alegria da euforia. A euforia é uma alegria intensa e passageira que depende de um ou vários fatores exteriores para acontecer, vem de fora para dentro e, por vir do exterior para o interior, gera dependência e, por conseqüência, doenças, vícios. Já a alegria, independe dos fatores exteriores, ela brota de dentro porque é fruto do Espírito que habita o nosso coração. Ela nasce da nossa intimidade com o Senhor. Não precisamos de motivos externos para sermos alegres, para além das circunstâncias está a nossa alegria.
Somos alegres no Senhor. Nossa alegria não depende de fatores exteriores e nem sequer depende apenas de nós mesmos. E nesse sentido, ela é, como todos os frutos do Espírito, superior a qualquer manifestação emocional ou psicológica que possamos vivenciar. Ela não deriva do ser humano, mas vem diretamente do Espírito de Deus. E não está ligada unicamente aos benefícios que recebemos do Senhor (ou seja, não somos alegres porque recebemos determinada graça ou bênção do Senhor), mas somos alegres com a própria presença d’Ele. Em outras palavras, basta que estejamos com o Senhor para que encontremos a verdadeira alegria. Basta a presença do Senhor para encher o nosso coração da santa alegria. Pois, como já dizia um grande santo: “a busca pelo Senhor é a busca da alegria, o encontro com o Senhor é a própria alegria”.
No entanto, os frutos do Espírito são gerados dentro de uma caminhada discipular. Não é possível ser alegre ou ter no interior do coração qualquer fruto do Espírito sem antes abrir um espaço para se encontrar com o Senhor, para estar em Sua presença. É preciso buscar o Senhor e estar com Ele para que seja gerada em nosso interior a alegria que vem do alto. Assim, a nossa alegria provém do Senhor, mas depende da nossa disponibilidade em acolhê-la e cultivá-la a fim de que ela permaneça em nós. “O Senhor dá as suas graças a quem quer e também a quem melhor se dispõe” (Santa Teresa de Jesus).  O próprio Jesus ao orientar os discípulos para a tão árdua missão de evangelizar lembra que eles devem permanecer unidos a Ele no amor e finaliza dizendo: “Eu disse isso a vocês para que minha alegria esteja em vocês, e alegria de vocês seja completa.” (Jo 15, 11)
 “Não se deixe dominar pela tristeza, nem se aflija com preocupações” (Eclo 30, 21). Dificuldades, medos, angústias, dores, sofrimentos, problemas sempre encontraremos em nossa caminhada nesta terra de exílio. Entretanto, a nossa alegria não consiste em estar livre dessas coisas, mas em saber que em todas estas situações o Senhor está conosco e nos assegura: vocês “não perderão nem um só fio de cabelo” (Lc 21, 18). A confiança e a esperança que vem da certeza de que Deus nos ama e cuida de nós mantém em nosso coração a alegria mesmo em meio às tribulações, pois não é em nossas forças que esperamos, é no Senhor que esperamos. Há uma relação direta da alegria com o amor, somos alegres estando com Aquele que amamos e que sabemos que nos ama. E não precisamos buscá-lo fora de nós como o mundo nos incita a fazer ao nos apresentar os grandes momentos de euforia: festas, bebedeiras, drogas, sexo desregrado, etc.
A alegria que é fruto do Espírito Santo não se encontra no barulho, na agitação, nas inquietações, mas no silêncio do próprio coração. Ela supera qualquer conflito, tribulação, preocupações porque está acima de todas estas coisas. Sua existência depende exclusivamente do Espírito Santo que a gera no coração humano dentro da caminhada discipular como primícia, antecipação do céu. Essa alegria vinda do Espírito é apenas uma pequena amostra da alegria que viveremos para sempre na eternidade.
“Um exemplo muito palpável de quem superou a dor e o sofrimento e desfilou serenidade e alegria interior foi Maria a mãe de Jesus. Ela teve seu coração transpassado várias vezes pela lança do sofrimento, mas não se deixou abater pela tristeza e a desesperança. Maria se manteve de pé, firme e confiante naquele que dá sentido aos nossos sofrimentos” (Marcelo Pereira).
Ser alegre não é viver de euforismos. Mas estar com Deus no silêncio, na calma, na quietude, alegrando-nos com a Presença do Amado e deixando que Ele vá nos moldando conforme sua vontade e completando cada dia mais a nossa alegria, pois a verdadeira alegria permanece mesmo depois que a agitação acaba.
“Nada te perturbe, nada te espante. Tudo passa. Deus não muda. A esperança tudo alcança. Quem tem Deus nada lhe falta. Só Deus basta” (Teresa de Jesus). Deixemos que o Senhor seja a alegria do nosso coração. Contagiemos o mundo com a verdadeira alegria. E em meio às lutas diárias tenhamos a convicção de que a alegria do Senhor será sempre a nossa força!

Paz

"Mas a perfeição da alegria é a paz", afirma o Doutor Angélico. E isto sob dois aspectos: "Primeiro, quanto ao repouso das perturbações exteriores, pois não pode desfrutar perfeitamente do bem amado o que é perturbado por outros nessa fruição". E, segundo, "no sentido que ela acalma a instabilidade dos desejos, pois não goza da alegria perfeita quem não se satisfaz com o objeto que o alegra".
Assim diz Javé, o redentor de você, o Santo de Israel: Eu sou Javé, o seu Deus, que ensino você para o seu bem e o guio pelo caminho que você deve seguir. Se você tivesse obedecido aos meus mandamentos, sua paz seria como rio e sua justiça como ondas do mar” (Is 48,18-19).
Quando pensamos na palavra PAZ lembramos logo daquilo que nos parece ser o seu oposto: a guerra. Mas, “a paz não é somente ausência de guerra e não se limita a garantir o equilíbrio das forças adversas”(CIC, 2304). Ela vai além disso, remete-se a “todo e qualquer bem, humano e divino”(Carlo Maria Martini). É por isso que, em Isaías, vemos “o fruto da justiça será a paz. De fato, o trabalho da justiça resultará em tranquilidade e segurança permanentes”.
A paz é assegurada à medida que garantimos tudo o que é necessário a uma vida plena, tanto zelando pela dimensão humana de cada pessoa quanto por sua dimensão espiritual. Em várias curas que o próprio Jesus realiza, Ele diz: vai em paz. E isso ressalta para nós que aquela pessoa já foi agraciada com o bem de que necessitava e depois já poderia gozar a paz. Foi-lhe restituído um bem essencial.
Na realidade moderna em que vivemos as pessoas estão sempre a buscar a paz. Passeatas são feitas em nome da paz, discursos e mais discursos realizados para criar uma cultura de paz, pessoas se desesperam, angustiam-se, entregam-se à depressão porque estão inquietas consigo mesmas, já não conseguem lhe dar com os próprios dilemas interiores e os conflitos que vem do exterior as sufocam e as afastam delas mesmas.
Alguns podem até colocar a necessidade de se retirar os conflitos para alcançar o shalom(paz, em hebraico). Entretanto, não basta a ausência de conflitos internos ou externos para que se possa viver a paz, o Shalom do Pai. Como todos os frutos do Espírito Santo, a paz é gerada dentro de uma caminhada discipular, “é a riqueza que o Espírito derrama sobre os que a acolhem” (Carlo M. Martini).
A paz nos remete a harmonia com Deus, conosco e com os nossos semelhantes. Primeiramente, o homem precisa estar em harmonia, em comunhão com Deus do qual lhe vem todos os bens. É preciso estar em conformidade com a vontade do Senhor, partilhar de Seu projeto salvífico. “Se você tivesse obedecido aos meus mandamentos, sua paz seria como rio”(Is 48, 18). As inquietações, as angústias chegam até nós porque nos distanciamos do Sumo Bem, não obedecemos aos mandamentos do Senhor, os quais são a nossa vida.
Distantes do Senhor não conseguimos reconhecer quem somos e nos perdemos no meio das coisas que o mundo nos disponibiliza. Não conseguimos mais olhar para Deus, envergonhamo-nos ou, simplesmente, o ignoramos. Não nos permitimos ser amados por Ele e, assim, nossa paz interior da lugar à inquietude, pois “nosso coração está inquieto enquanto não repousa em Ti” (Santo Agostinho).
Sem a graça do Senhor já não conseguimos lidar com os nossos conflitos interiores, amenizá-los e, daí, acabamos por trazer ao exterior aquilo que deveria ser trabalhado interiormente. Não podendo lidar consigo mesmo, o ser humano já não consegue encontrar no outro um semelhante. O outro é tão estranho para ele quanto este o é para si mesmo. E aqui está aberto o espaço para a inimizade, o ódio, a ira e todo tipo de discórdia. O homem já não consegue amar os seus irmãos, a fraternidade já não existe, não se respeita a dignidade da pessoa humana, perde-se a tranqüilidade. A paz social deixa de existir.
Isto nos lembra o homem que vivia no paraíso e convivia face a face com o Bom Deus, deliciando-se com sua doce companhia e tendo em mãos todos os bens de que necessitava para viver harmoniosamente. Vivia em paz com Deus, consigo mesmo, com a natureza e com o seu semelhante. Porém, o pecado da desobediência o afastou desse estado de graça. E ele passou a sofrer as angústias e inquietações resultantes de seu afastamento daquele que era o seu Tudo, o Sumo Bem. E longe dele já não tem todas as condições que precisa para viver plenamente: perdeu a sua paz.
Mas Deus é amor misericordioso e infinito, quer restaurar nossas vidas e nos devolver a paz. Eis que entrega seu Filho para nos resgatar da miséria em que nos encontrávamos. “Porque nasceu para nós um menino, um filho nos foi dado: sobre o seu ombro está o manto real, e ele se chama ‘Conselheiro Maravilhoso’, ‘Deus Forte’, ‘Pai para sempre’, ‘Príncipe da Paz”(Is 9,5). Jesus “é nossa paz”(Ef 2, 14). Ao nos reconciliar com Deus, ele garante para nós a Sua Paz que vai além da ausência dos conflitos, restabelece a nossa relação com o Pai. “A paz que eu dou para vocês não é a paz que o mundo dá. Não fiquem perturbados e não tenham medo” (Jo 14, 27).
Deus restitui a nossa paz e nos convida a sermos promotores da paz! (2 Cor 13,11)














14º Encontro ____/ ____/ ____

Frutos do Espírito - II:
Paciência e
Longanimidade

 Mt 7,15-20

“Depois de considerar os frutos do Espírito Santo que ordenam a mente para o bem, vejamos aqueles que a levam a atuar de forma correta perante a adversidade: a paciência e a longanimidade. O primeiro nos torna inalteráveis ante os males iminentes; o segundo, imperturbáveis com a prolongada espera dos bens, dado que a privação destes já é um mal”.

Paciência

“O Senhor não demora em cumprir o que prometeu, como alguns pensam, achando que há demora; é que Deus tem paciência com vocês, porque não quer que ninguém se perca, mas que todos cheguem a se converter. Considerem que a paciência de Deus tem em vista a nossa salvação”(2 Pd 3, 9.15).
“Tu, porém, nosso Deus, és bom e fiel, és paciente e governas tudo com misericórdia”(Sb 15,1). A paciência é atitude divina. Deus é o primeiro a ser paciente. Ele, que tem sede de nós, tem esperado pacientemente que nos voltemos a Ele, pois tem em vista a nossa salvação. Deus é paciente por excelência, “amor que não se cansa de amar” e de esperar. Mesmo que estejamos distantes d’Ele, ainda assim, espera as nossas demoras.
A paciência está diretamente ligada à perseverança e, principalmente, a uma certeza firme de que Deus está no controle de tudo. Devemos ser pacientes porque sabemos que para além das situações vivenciadas por cada um de nós, há um Deus cuidando de nós.
Em todas as dimensões de nossa vida encontraremos adversidades, situações que escaparão ao nosso controle. E claro, em cada situação seremos nós os responsáveis pela maneira como responderemos a ela. Precisamos perceber que Deus controla aquilo que não podemos controlar. Não tomemos para nós as cargas que só o Senhor pode carregar.
Somos inclinados a querer controlar totalmente todas as situações, como se elas dependessem apenas de nossa vontade para se concretizarem e se não conseguimos o que pretendíamos nos frustramos, e fechamos qualquer espaço para o crescimento da paciência. Suponhamos que você espere a visita de um amigo muito querido, está tudo certo que ele virá e você o aguarda ansiosamente. Mas ele viria de ônibus e uma greve paralisou o trânsito. Estava tudo acertado entre vocês, mas o amigo não conseguiu chegar. E agora, o que fazer? Há fatores independentes de nossas atitudes influenciando os eventos de nossa existência.
Paciência também é estar preparado para lidar com os imprevistos que a nossa vida diária certamente trará. Por mais calculistas que formos sempre as situações irão além das nossas frágeis capacidades humanas. Por que isso acontece? Não somos senhores das circunstâncias que nos envolvem. Só Jesus Cristo é o Senhor de tudo e é n’Ele que devemos colocar toda a nossa confiança, certos de que nada acontece sem o seu consentimento e “que tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus”(Rm 8,28).
Entretanto, a nossa sociedade não nos convida a sermos pacientes. A vida frenética que levamos nos exige apenas eficiência. Tudo deve ser realizado o mais rápido possível. É preciso produzir mais em menos tempo. As comidas são instantâneas, com apenas um click resolvemos várias coisas no mundo virtual(internet). E quando nos deparamos com as situações do cotidiano não conseguimos mais esperar. Os cinco minutos de preparação daquele macarrão instantâneo passam a ser uma eternidade. Estamos sendo moldados para a impaciência. Não aprendemos a lidar com imprevistos e desapontamentos, agimos com ira ao sermos contrariados, não conseguimos lidar com as dores, frustrações ou sofrimentos como sendo coisas passageiras, não percebemos que a partir de uma situação dolorosa Deus pode transformar a nossa existência.
Cultivar o fruto da paciência é fundamental para a nossa perseverança na caminhada discipular. Se não formos pacientes não chegaremos até o final. Estaremos sempre sofrendo com as demoras das pessoas, suas maneiras de agir, e até com as demoras de Deus porque nem sempre o tempo de d’Ele é igual ao nosso. E aí o que faremos? Poderemos ser pacientes e continuar caminhando, ou com a mão posta no arado olhar para trás e desistir do Caminho. É nas tribulações que se aprenderá a paciência. Aprendamos a perder o tempo necessário ao nosso crescimento e daqueles que estão ao nosso lado. A formação humana e a santidade levam uma vida inteira, sempre estaremos em direção a algo que jamais alcançaremos aqui.
É a paciência que nos permitirá perseverar no Caminho escolhido apesar das adversidades. Ela nos fará suportar os pesos do dia-a-dia, não que tenhamos forças sozinhos para isso, mas porque sabemos que não estamos abandonados nesse percurso. Jesus foi paciente durante toda a jornada que o levou até a cruz, sofreu muito, mas sabia que o Pai estava no controle de tudo. Assim, imitemos ao Senhor.
Como todos os outros frutos do Espírito, a paciência somente será  gerada em nós se dermos espaço para isso. É preciso permanecer unido à videira, permanecer em Cristo. Meditação da Palavra e eucaristia são vitais para nossa sobrevivência como discípulos. Os frutos nos fazem cada vez mais parecidos com Jesus, ou seja, pelos frutos cultivados em nós as pessoas verão que somos de Cristo.
Deus cuida de nós! Sejamos pacientes, Ele está no controle de tudo! Deixemos que Ele vá onde não podemos ir. Apenas permaneçamos em Sua Presença e o Espírito Santo conduzirá.

Longanimidade

“Pela longanimidade, o Espírito Santo nos leva a aguardar com equanimidade, sem queixas nem amargura, os bens que esperamos de Deus, do próximo e de nós mesmos. Não se trata de uma espera passiva e preguiçosa, mas sim de uma manifestação de coragem que se estende no tempo, de uma dilatada esperança que nos faz fortes de alma nas delongas espirituais.
Frutos de longanimidade vemos em abundância na vida de Santa Mônica, durante os muitos anos em que receava pela salvação eterna do filho Agostinho, transviado na imoralidade e na heresia. Sem nunca esmorecer na confiança, rezava persistentemente pela sua conversão.
Deus, comprazido em contemplar nessa mãe exemplar os frutos que Ele mesmo semeara, deu-lhe a honra sublime de ter o filho elevado à condição de um dos grandes luminares da Santa Igreja”. (Flávio Roberto Lorenzato Fugiyama)










15º Encontro ____/ ____/ ____

Frutos do Espírito - III
Bondade, Benignidade, Mansidão e Fidelidade

Mt 7,15-20

“Depois de bem disposta a mente em relação a si mesma, cumpre ajustá-la em relação ao que lhe está ao redor: o próximo. Isto se dá, em primeiro lugar, pela bondade, isto é, pela "vontade de agir bem". “Por efeito de nossa união com Deus, somos compelidos pelo Espírito Santificador a beneficiar os outros. Nossa alma como que se dilata e expande, a ponto de nos converter, de certa forma, em amor. Pois, "como o carvão ou a barra de aço, em si mesmos negros e frios, se tornam brilhantes e ardentes como o fogo, assim a alma imersa nesse braseiro de amor que é o Espírito Santo se torna semelhante em todas as coisas ao divino Espírito". Jesus nos deixou registrado o paradigma dessa bondade na parábola do filho pródigo” (cf. Lc 15, 11-32).

Bondade

“Outrora vocês eram trevas, mas agora são luz no Senhor. Por isso, comportem-se como filhos da luz. O fruto da luz consiste em toda bondade, justiça e verdade” (Ef 5, 8-9).
Deus é a própria bondade. E toda a criação reflete essa qualidade d’Ele. Não apenas o homem, mas todo o universo reflete essa bondade originária. “Originada da bondade divina, a criação participa desta bondade: ‘E Deus viu que isto era bom... muito bom’(Gn 1, 4.10.12.18.21.31).” (CIC 299).
A partir daí podemos afirmar que por natureza, o ser humano é bom. Ele é obra da criação divina e como tal participante da bondade do Criador. No entanto, enquanto esta bondade no Senhor é completa, perfeita, no ser humano ela está num processo de realização. A bondade “é criada ‘em estado de caminhada’ (in statu viae) para uma perfeição última a ser atingida, para a qual Deus a destinou” (CIC 302). Essa bondade de Deus em nós nos faz desejar ser bons como Ele. E como não conseguimos isso sozinhos, o Espírito Santo vem em nosso auxílio e gera em nós esse fruto.
Podemos encontrar inúmeros significados para a palavra “bom”. Dentre eles, porém, um melhor se adéqua a nossa reflexão. Assim, bom é o “que tem todas as qualidades adequadas à sua natureza ou função” (Dicionário Aurélio). Em outras palavras, quanto mais nos tornamos aquilo que Deus deseja que sejamos mais nos tornamos bondosos.  Quanto mais deixamos Deus ser em nós, mais ainda refletiremos em nosso ser a Sua bondade infinita. Surge aí a necessidade de meditarmos na bondade do Senhor e esperar que ela adentre em nosso interior.
A bondade de Deus o leva a criar o universo e a nós. Essa mesma bondade também cuida da própria criação e envia o Salvador para libertá-la do lamaçal do pecado. “A bondade é, portanto, a prerrogativa daquele que se compraz em fazer por primeiro o bem, em suscitar sempre e somente o bem ao seu redor” (Carlo Maria Martini). Assim, ser bondoso implica se lançar e agir, procurando fazer o bem, pois é assim que o próprio Deus vem fazendo conosco desde a criação.
Ser bondoso exige atitudes concretas. Não apenas bons sentimentos. E exige ainda que o sejamos com todas as pessoas da mesma maneira que o Senhor. Não podemos privar ninguém de receber a nossa bondade, ou melhor, a bondade de Deus, da qual somos participantes. As outras pessoas, amigas ou inimigas, são tão indignas do Senhor quanto nós o somos. E mesmo assim Deus insiste em agir bondosamente conosco. Então, por que não o faríamos com os irmãos?
É preciso primeiro reconhecer a bondade de Deus para poder agir com bondade. Reconheçamos que “sem Deus não podemos ter sequer um bom pensamento” quanto mais termos ações eficazes. Esse reconhecimento nos leva a suplicar mais a graça do Espírito Santo e a nos lançarmos por inteiro na direção do outro. Leva-nos a nos desprendermos e sairmos ao encontro do outro, auxiliando-o sem buscar recompensas com isso.
Gratuidade é pressuposto da própria bondade. Todo o valor das nossas ações se perde quando colocamos um preço a ser pago por elas. A bondade de Deus para conosco além de ser infinita é totalmente gratuita. Ele nada exige de nós para ser bom conosco. E nossas ações devem glorificar ao Senhor, refletindo adequadamente a imagem do Bom Deus para toda a humanidade. Sua bondade deve ser proclamada através de nossas ações. Que o universo inteiro proclame: “Agradeçam a Javé, porque ele é bom, porque o seu amor é para sempre” (Sl 106,1).
A vida de Jesus é permeada de atos de bondade. Curas, libertações, acolhidas, transformações realizadas na vida de muitos que o seguiam e, principalmente, naqueles que escolheu para glorificar o Pai por meio d’Ele. E, a vida de todos aqueles que caminharam com Ele até os dias atuais não têm deixado de proclamar a suprema bondade do Pai. Assim, abramos o coração e meditemos na bondade do Senhor e rezemos suplicando ao Espírito Santo que gere em nós esse fruto divino a fim de O glorificarmos e atingirmos um dia o estado de perfeição a que Ele nos convoca.

Benignidade

“O fruto da benignidade se distingue ao da bondade por já ser, não só um querer, mas um praticar efetivo do bem. Aqui o carvão ou a barra de aço do exemplo anterior não apenas brilham e ardem, mas queimam e inflamam.
Por isso "chamam-se benignos aqueles a quem o ‘fogo bom' do amor se inflama em favor do próximo".
Modelo desse amor que "se inflama em favor do próximo" foi São Vicente de Paulo. Pedia insistentemente a Deus que lhe desse um espírito benigno; e conseguiu, com a ajuda da graça, domar seu temperamento seco e bilioso, tornando- se cortês e afável. Transformou-se a ponto de se lhe tornar natural uma polidez de trato maravilhosa, com palavras sempre amáveis para todo tipo de pessoas.”

Mansidão

“Uma terceira disposição da mente ao ordenarse em relação ao próximo é a mansidão, pela qual refreamos a ira e suportamos com serenidade de espírito os males infligidos pelos outros.
Santa Teresinha do Menino Jesus nos dá belíssimos exemplos de mansidão perante impulsos de irritação, ensinando-nos a praticar esta virtude na vida cotidiana.
Eis um deles: Estando um dia as freiras trabalhando na lavanderia conventual, constituída por grandes tanques comunitários, aconteceu de uma irmã, por falta de atenção, lançar sobre a Santa uma chuva de água com sabão. Como é natural, isso lhe provocou um ímpeto de indignação. Mas, acalmada pela brandura do Espírito Santo, logo se conteve, recorrendo ao piedoso subterfúgio de imaginar que o Menino Jesus estava brincando com ela... esborrifando-lhe água e sabão. (Flávio Roberto Lorenzato Fugiyama)

Fidelidade

“Como último fruto de nosso bom relacionamento com o próximo, temos a fidelidade, que nos faz "manter a palavra dada, as obrigações assumidas, os contratos estipulados".
A fidelidade complementa a mansidão no sentido de que, se esta nos leva a não prejudicar o próximo pela ira, aquela nos conduz a não fraudá-lo nem enganá-lo. Ora, "isso é a fé, tomada no sentido de fidelidade", afirma São Tomás. "E se a tomarmos como fé em Deus, então o homem por ela se ordena ao que lhe é superior, ou seja, dispõe- se a submeter seu intelecto a Deus e, por consequência, tudo o que possui".  (Flávio Roberto Lorenzato Fugiyama)









16º Encontro ____/ ____/ ____

Frutos do Espírito - IV:
Modéstia e castidade

Mt 7,15-20


Modéstia

“Por fim, após ordenar-se a mente em face do que lhe está em volta, cumpre fazê-lo quanto ao que lhe é inferior, e isto se dá em primeiro lugar pela modéstia, "observando o comedimento em tudo o que diz e faz".
Esta virtude mantém nossos olhos, lábios, risos, movimentos, enfim, toda a nossa pessoa, sem excluir nossos trajes, nos justos limites "que correspondem a seu estado, habilidade e fortuna". Santo Agostinho recomenda particular cuidado com a modéstia exterior, que tanto pode edificar quanto escandalizar os que nos rodeiam.
Note-se que a afirmação do Bispo de Hipona não deve ser interpretada num sentido exclusivamente negativo. A modéstia exterior inclui também o dever positivo de revestirse das roupas, gestos e atitudes próprias a edificar o próximo e dar glória a Deus.
Lê-se na vida de São Francisco de Assis um episódio que ilustra quanto o cumprimento desse dever pode produzir nas almas um efeito equivalente ou talvez maior que o de um sermão. Certa vez, ele convidou um frade, seu discípulo, a acompanhálo: - Irmão, vamos fazer uma pregação - disse-lhe.
Após percorrerem a cidade em silêncio, São Francisco retomou o caminho do convento. Sem entender o que se passava, o frade perguntou: - Mas, meu pai, não dissestes que íamos fazer uma pregação? Aqui estamos de volta, e não proferimos uma só palavra... E o sermão? - Já o fizemos. Não percebes que a vista de dois religiosos andando pelas ruas com estas vestimentas e em atitude de recolhimento vale tanto quanto um sermão? - respondeu o Santo.

Continência e Castidade (domínio de si)

Também em relação ao que lhe é inferior - isto é, às paixões - ordenam o homem a Continência e a Castidade.
Segundo São Tomás, elas se distinguem uma da outra "quer porque a castidade nos refreia em relação ao que é ilícito, e a continência ao que é lícito, quer porque a pessoa continente sofre as concupiscências, mas não se deixa arrastar por elas, enquanto o casto nem as sofre e muito menos as segue". Com efeito, a alma que produz o fruto da castidade torna-se realmente angélica. Muito ao contrário dos tormentos interiores de agitação e ansiedade, nos quais vive quem se entrega às paixões desordenadas, o casto já antegoza o Céu na terra.
A continência, a seu lado, "robustece a vontade para resistir às concupiscências desordenadas muito veementes"; portanto, indica um freio, enquanto a pessoa abstém-se de obedecer às paixões. Ela, assim, prepara a alma para essa castidade, pois "os que fazem tudo quanto é permitido acabarão por fazer o que não é permitido".

Espírito de Amor e intercessão de Maria
Qual navio batido pelas ondas na procela, a alma sente neste vale de lágrimas os falaciosos atrativos da carne, convidando-a ao naufrágio.
Muito bem exprime São Paulo essa difícil situação: "Sinto, porém, nos meus membros outra lei, que luta contra a lei do meu espírito e me prende à lei do pecado, que está nos meus membros. Homem infeliz que sou! Quem me livrará deste corpo que me acarreta a morte?" (Rm 7, 23-24).
Mas, aos olhos do bravo navegante que, em vez de desanimar, ergue a vista à busca da salvação, sempre está a brilhar um farol: "A lei do Espírito de Vida me libertou, em Jesus Cristo, da lei do pecado e da morte.
O que era impossível à lei, visto que a carne a tornava impotente, Deus o fez" (Rm 8, 2-3).
Dada a nossa natural insuficiência, agravada pelas consequências do pecado original, torna-se indispensável o auxílio divino para completarmos a árdua corrida rumo à eterna bem-aventurança. E o Espírito de Amor vem sempre em socorro da nossa fraqueza, com suas graças e dons. Ele não cessa de interceder por nós "com gemidos inefáveis" (Rm 8, 26) e ainda nos dá como medianeira e advogada sua Fidelíssima Esposa.
Saibamos recorrer sempre a Ela. Pois a poderosa intercessão de Maria Santíssima é a via mais segura para transformar graminhas estéreis em frondosas árvores carregadas de frutos. (Flávio Roberto Lorenzato Fugiyama)











17º Encontro ____/ ____/ ____

Disciplina Cristã

Mt 7,21-29

Cheio de autoridade, como um Novo Moisés, Jesus conclui o Sermão da Montanha exortando os seus discípulos para a prática de tudo aquilo que acabara de ensinar, desde as bem-aventuranças e todos os imperativos e virtudes da moral cristã. Quem pratica a sua Palavra, é prudente, pois constrói a casa da sua vida sobre a rocha. Os ventos podem soprar forte, mas a casa não cairá. Quem escuta, mas não pratica, é sem juízo, pois constrói a sua existência sobre a areia. Mais cedo ou mais tarde, tudo ruirá, sobretudo nos momentos de crises, provações e tentações que acontecem normalmente na vida de qualquer pessoa.
Como praticar a Palavra de Deus para ser plenamente realizado? Jesus não diz que deve ser tudo de uma vez. Quando nos disciplinamos, organizamos a nossa vida e a nossa caminhada. De modo que vamos tendo tempo para cada coisa importante e sob a luz do Espírito Santo vamos dando passos rumo à perfeição.  A pessoa prudente é disciplinada. A pessoa sem juízo é indisciplinada.

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Descendo cada vez mais para o concreto da nossa existência cristã, considerando nossa historicidade, a realidade do tempo que vivemos e o espaço que ocupamos, em meio às mais diferentes circunstâncias que nos circundam (amizade, namoro, família, trabalho, lazer, doença, escola, alegria, tristeza, paz, tumulto, deserto, multidão, provação, tentação, vitória, derrota, calma, pressa, silêncio, barulho, etc), não dá para crescer como discípulo de Jesus, segui-lo de fato e não só de intenção, sem uma boa disciplina pessoal e comunitária. E como o Discípulo de Jesus normalmente não é um monge enclausurado, então sua disciplina deve levar em conta a sua secularidade.
A vida por si só já é cheia de surpresas e contra-tempos. Se não nos auto-disciplinarmos, então tudo vira uma bagunça só e o pior, Satanás se aproveita de tudo isso e provoca o caos. Somos católicos, não caóticos, por isso a disciplina é de fundamental importância para crescermos de fato e não só de intenção. A disciplina organiza os nossos passos, fazendo com que tudo o que realizamos esteja concatenado entre si na forma de uma única Caminhada Discipular. Sem disciplina é como se aquilo que fazemos aqui não tenha nada a ver com aquilo que fazemos acolá. Podemos até dizer que não temos disciplina porque nossa vida é cheia de improvisos e muitas ocupações. Mas é justamente por isso que a disciplina se faz tão necessária, para que não corramos o risco de correr pra todo lado e não fazer nada, e pior ainda, não ser nada.
A disciplina tem a ver com a nossa vida pessoal, familiar e comunitária. Deus nos livrou do nada quando nos chamou à existência. O diabo quer fazer da nossa vida um nada e por isso tenta tanto para que não tenhamos disciplina. Se olharmos para a nossa própria experiência, haveremos de perceber facilmente que todas as vezes que nos atrofiamos e deixamos de frutificar, tanto individualmente como comunitariamente, foi justamente quando a desordem prevaleceu. Ninguém pode justificar que não tem tempo para a oração pessoal, para a MOPD, para dar a contribuição fiel porque está tudo muito apertado, tanto o tempo como o dinheiro. A disciplina é justamente para isso. Para favorecer tempo e recurso para aquilo que julgamos de grande importância. A gente sempre tem para aquilo que de fato amamos!
Ao criar o universo e tudo o que ele contém, inclusive nós, Deus colocou ordem no caos. Na verdade Deus disciplinou o caos e daí veio a criação. Ainda hoje a natureza nos fala da disciplina. Existe um ciclo natural ordenado nas quatro estações do ano, na órbita dos astros, na perpetuação das espécies e assim por diante. É a partir desta ordem natural, com um tempo e um espaço para cada coisa que surge a diversidade da vida e a beleza da natureza. Sim, a ordem e a disciplina são a base da diversidade e da beleza natural. O contrário seria o caos. Da mesma forma deve haver ordem na nossa vida pessoal, familiar e comunitária. A quem tenha medo de disciplina porque isto atrapalharia o “viver de bem com a vida”. Muito pelo contrário. Sem disciplina só há sujeira, feiúra, stress, desnutrição, poeira, fedor, muitos gastos e poucos avanços, impontualidade, reuniões marcadas e desmarcadas repentinamente, etc Não existe pessoa ou instituição que sobreviva sem disciplina!
É por isso que no nosso DJC existe uma Agenda da Caminhada Discipular e nela estão contidos alguns encontros e reuniões importantes que nunca podem ser alterados, como reuniões dos conselhos, Encontros de Aliança, reuniões do Corpo de Apostolado Local, etc. Flexibilidade só com discernimento sério e mesmo assim a exceção nunca pode virar regra. É para garantir a ordem e a metodologia básica da caminhada discipular pessoal e comunitária. Tudo no DJC, tudo mesmo, sempre é visto como um passo de uma única caminhada discipular e assim sempre deve ser considerado, preparado e vivenciado. Até os momentos de lazer, por incrível que pareça, fazem parte de um todo. A partir daí, vai acontecendo o crescimento pessoal e comunitário. Isto é tão importante que até o nosso Estatuto protegem essas datas importantes. O Método de Evangelização e Acompanhamento de Discípulos (MEAD) está na essência do DJC porque o discípulo não cresce com o tempo, mas caminhando com disciplina.
A disciplina ajuda o discípulo a crescer no decorrer da caminhada discipular. Na prática, ela ajuda a pessoa a caminhar com sentido na vida e com as próprias pernas, o que é um grande auxílio nos momentos das crises existenciais que toda pessoa acaba atravessando mais cedo ou mais tarde. Também, com disciplina, cresce-se na fé cristã verdadeira, que não é embasada nos sentimentos e emoções, mas na opção fundamental por Jesus. O discípulo não deve ir pra Missa e pro Siloé, por exemplo, só quando tem vontade, mas vai mesmo contra a sua vontade pessoal, pois nem sempre nossa vontade está correspondendo com a vontade de Deus. E não existe liberdade maior quando se vai além da própria escravidão que uma vontade carnal acaba gerando no interior da pessoa. A prática da disciplina nos amadurece ao ponto de sermos senhores da nossa vontade, e não ela da gente. Com disciplina cresce-se na virtude e liberta-se dos vícios, pois da mesma forma que a virtude é um bom hábito adquirido, o vício também vai se enraizando processualmente à medida que a pessoa não vai fazendo por onde crescer no bom e verdadeiro. Com disciplina existe o crescimento na sobriedade, na castidade, no auto-domínio, na cura interior e assim por diante. Todos os métodos de ajuda para dependentes de álcool, de drogas, de sexo colocam a disciplina como o passo fundamental a ser cumprido. O respeito para com a disciplina comum favorece que o DJC se articule com facilidade e evangelize com eficácia, “como um exército em ordem de batalha”.
É claro que nem sempre precisamos “andar na linha”, mas isto nunca pode ser entendido como brechinha para o pecado ou que a exceção acabe destronando a regra e anulando a disciplina. Às vezes precisamos de um tempo para estar de acordo com a ventania, se não a gente também não agüenta tanto compromisso todo dia e em todo local. Mas que a disciplina é fundamental, isto nós estamos vendo que é, e Satanás não gosta nada dela. Já vi muita gente passar o tempo e não crescer nada, vai se atrofiando, faz de tudo e não faz nada, gasta recursos sem eficácia, só porque não considera a disciplina. Depois desanima, fica frustrado e desiste da caminhada. Sem disciplina, a gente é um patinho, coitado. Na vida é assim: acaba pagando, o pato. Por isso, cuidado. Orai e vigiai. Não basta só boa vontade. A disciplina é extremamente necessária. Também para os estudos, para a profissão, para os relacionamentos.
Falar de disciplina significa falar de reavivamento e desenvolvimento integral da vida cristã-batismal e por isso ela não pode ser um apêndice da nossa caminhada discipular, visto que ela não é algo de secundário no plano de Deus. Numa experiência de oração profunda(Agosto de 2000), tendo em vista o meu próprio crescimento, mas também o acompanhamento do nosso Discipulado de Jesus Cristo, o Senhor Jesus presente na Eucaristia revelou-me a sua vontade para nós através de locução interior iluminada por este texto de Provérbios 4,10-26:

Meu filho, escute e receba os meus conselhos, e eles multiplicarão os anos de sua vida. Estou lhe mostrando o caminho da sabedoria e guiando você pelas trilhas da retidão.
Ao caminhar, seus passos não vão se embaraçar e, ao correr, você não tropeçará.
Agarre-se à disciplina, e não a solte, pratique a disciplina, porque ela é a sua vida.
Não ande pela trilha dos injustos, nem pise no caminho dos maus.
Evite esse caminho, e não o atravesse. Afaste-se dele, e siga em frente.
Os injustos não dormem sem ter feito o mal; perdem o sono, enquanto não fazem alguém tropeçar.
Comem a maldade como pão e bebem a violência como vinho.
Mas a trilha dos justos brilha como aurora, e vai clareando até nascer o dia.
O caminho dos injustos é tenebroso, e eles não sabem no que irão tropeçar.
Meu filho, esteja atento às minhas palavras e dê ouvidos aos meus conselhos.
Nunca os perca de vista e guarde-os no seu coração, pois eles são vida para quem os encontra e saúde para o seu corpo.
Acima de tudo, guarde o seu coração, porque dele brota a vida. Afaste-se da boca enganosa e fique longe dos lábios falsos.
Que seus olhos olhem para frente e seu olhar se dirija para diante.
Fique atento às trilhas aonde você coloca os pés, e que todos os seus caminhos sejam firmes.
Não se desvie nem para a direita, nem para a esquerda, e afaste do mal os seus passos.
“Agarre-se à disciplina, e não a solte, pratique a disciplina, porque ela é a sua vida”, é o que nos exorta a Palavra de Deus. Agarrar-se, praticar, são palavras que nos dizem o quanto a disciplina é necessária para a nossa vida cristã. Sem decair em algum tipo de psicose, o que seria fixação e dependência doentia de costumes e horários, devemos estar com a disciplina em mãos e nos esforçando em praticá-la nas mais diferentes circunstâncias da nossa vida. Desta forma, até os momentos de lazer, quando o que prevalece é o lúdico, a confraternização e descontração, devem ser previstos na nossa disciplina. Por isso é que se diz, a disciplina é a nossa vida.
Para vivermos como discípulos de Jesus precisamos ser disciplinados. Quando nos disciplinamos, estamos escolhendo e criando meios para crescer no nosso objetivo principal que é viver plenamente em Jesus Cristo, como os ramos estão ligados ao tronco da vinha(Jo 15,1-17). Vejamos bem. Longe de ser escravidão, vida disciplinada é liberdade, pois a própria auto-disciplina requer consciência e escolhas. E a prática da disciplina por si só vai amadurecendo a pessoa, colocando-a no controle das situações e tornando-a mais senhora dos seus atos e mais forte diante das tentações e vícios. Quem não tem disciplina, vive à mercê do que os outros dizem e pensam, bem como não tem sobriedade, nem equilíbrio e nem auto-domínio. Os vícios ganham muita força quando encontram a indisciplina.
Não podemos ser ingênuos. Uma vida disciplinada requer objetivo, ascese e perseverança. São Paulo nos lembra que se os atletas se submetem a um grande sacrifício para ganhar um prêmio perecível, quanto mais nós não devemos nos esforçar para ganhar a vida em abundância. E lembrava que por isso, ele mesmo não corria à toa, dando golpes ao vento, mas treinava e se submetia quando necessário para também ganhar a vida eterna por ele anunciada. “Para que não aconteça que, depois de proclamar aos outros, eu seja desclassificado”(1Cor 9,24-27).

“Teremos nós um objetivo claro na vida? Para os atletas cujo objetivo é a obtenção da medalha olímpica todo o resto é secundário. A maneira de comer, dormir, estudar e treinar, tudo é determinado por esse objetivo claro.
Isto é tão verdade na vida espiritual, como o é na vida dos desportistas de competição. Sem um objetivo definido, estaremos sempre distraídos e gastaremos as nossas energias em coisas secundárias. (...)
Não é fácil manter os olhos fixos na vida eterna, especialmente num mundo que continua a dizer-nos que há coisas mais imediatas e urgentes em que concentrar a atenção. Raramente há um dia que não distraia a nossa atenção da meta e faça-a perecer vaga e nebulosa. Mas, mesmo assim, sabemos por experiência que, sem um objetivo claro, a nossa vida se fragmenta em muitas tarefas e obrigações que nos esvaziam e nos deixam com uma sensação de exaustão e inutilidade.
Como manter então o objetivo claro, como fixar o nosso olhar no prêmio? Através da disciplina da oração; a disciplina que nos ajuda a trazer Deus de volta, para o centro da nossa vida, quantas vezes for preciso. Mesmo assim continuaremos a cair em distrações, continuaremos constantemente ocupados com muitos assuntos urgentes, mas, quando programamos um pouco de tempo e espaço para voltar para Deus que nos oferece a vida eterna, gradualmente chegamos à conclusão de que as muitas coisas que temos que fazer, dizer ou repetir já não nos distraem, mas, em vez disso, nos conduzem para mais perto da nossa meta. É importante, no entanto, que a nossa meta seja clara. A oração mantém a meta clara e se, porventura, o objetivo se tornar vago, a oração volta a dar-lhe definição” (Henri J. M. Nouwem).

“Agarre-se à disciplina, e não a solte, pratique a disciplina, porque ela é a sua vida”, é o que nos exortava a Palavra de Deus. Sabemos que a nossa vida é uma só e pluridimenssional. Desta forma, a fé, que é o fundamento da nossa vida cristã, tem a ver com todas as outras realidades que a compõem. De tal forma que nossa disciplina cristã não pode ser só vertical, deve ser também horizontal. Iluminada pela fé e tendo em vista nossa plena realização, nossa disciplina deve incluir, dentro das quatro dimensões fundamentais da vida cristã-batismal, nossos relacionamentos, profissão, estudos, etc
Deste modo, precisamos disciplinar a nossa ESPIRITUALIDADE. Vejamos alguns exemplos: horário e ambiente favorável para Meditação Orante da Bíblia, Adoração Eucarística, estabelecer qual será a leitura espiritual que vai fazer, devoção a Nossa Senhora, confissão, Santa Missa, retiro de espiritualidade.
Mas na linha do que falávamos acima, a espiritualidade abarca nossa humanidade. Por isso, disciplinar também a alimentação, higiene do corpo, limpeza da casa, do carro, do local de trabalho. Disciplinar o cotidiano, os relacionamentos. O que fazer no campo dos estudos, da vocação e da profissão? Zelo para com os bens materiais, uso correto do dinheiro, etc
A disciplina da Espiritualidade requer realismo. Um Discípulo de Jesus normalmente não é um monge, mas um cristão que vive na secularidade a partir da sua fé e fidelidade a Deus. Por isso, sem perder o ideal e o específico da nossa vocação e missão como DJC, nem querer de mais aquilo que é impossível (frustração), e nem querer de menos que o que realmente é possível (relaxamento, atrofiamento).
Disciplinar o TESTEMUNHO: o que vou estabelecer para crescer no meu testemunho cristão no meio da sociedade? Qual o vício ou defeito que devo eliminar no meu comportamento? Quais os frutos de santidade que deverei cultivar e suplicar ao Espírito Santo? Como estão minhas palavras, gestos e vestuário? etc
Ser testemunha de Jesus requer mística interior, palavras e exemplos. Mais do que fazer, trata-se de ser "sal da terra e luz do mundo", a fim de que, como dizia Jesus, nossa luz brilhe e os homens glorifiquem o Pai Celeste por tudo que tem feito na nossa vida pessoal e comunitária (Mt 5). Nunca nos esqueçamos que temos o "dever luminoso" de ser cristão todo tempo e em todos os lugares, sem ter vergonha de Jesus e do seu Evangelho dentro da Igreja e da sociedade em geral: família, escola, festa, trabalho, etc Mas ter o cuidado para não ficar apontando para os outros, pois isto nos faria esquecer da veracidade do nosso testemunho e facilmente nos faria cair no farisaímo e hipocrisia. Ser cristão simplesmente, com palavras e exemplos, com alegria, fé e amor, fermentando a massa e deixando Deus ir realizando a sua obra atrvaés de nós. As palavras convencem, mas o testemunho é que arrasta!
Disciplinar o APOSTOLADO: Além do meu testemunho de vida cristã, o que farei para pescar um novo discípulo para Jesus de modo explícito e sistemático? Em que preciso crescer para ser um bom evangelizador? Quais são os carismas que devo suplicar ao Espírito Santo? Como posso ajudar o DJC a evangelizar e acompanhar discípulos? Poderia ajudar nas Visitas de Evangelização e Famílias em Oração pelas casas e praças ao menos uma vez por mês? Posso receber fichas para convidar pessoas para o Reavivamento no Espírito Santo? Somos tentados à acomodação: não fazer nada, não se comprometer com nada. São Paulo dizia: "Ai de mim se eu não evangelizar!" Nosso Senhor Jesus Cristi nos envia em missão para que todos os povos sejam seus discípulos (Mt 28,19). Nem todo discípulo tem o chamado de Deus para ser um Discípulo Servidor. Mas todo Discípulos deve ser um Missionário, aonde estiver, com quem estiver e como puder. O apostolado missionário está estreitamente vinculado à opção fundamental. Porém existe outra tentação: o ativismo. Fazer, fazer, fazer... mas sem ter tempo para rezar e nem preocupação com o mínimo de testemunho e crescimento pessoal. Outra tentação também é pegar muito serviço e depois não ter tempo para mais nada. Depois vem o desânimo, a frustração e a pessoa joga tudo para o alto. Por isso, vivenciemos o apostolado missionário com realismo e mística, sabendo que somos um corpo e cada membro faz a sua parte.
Disciplinar a ECLESIALIDADE: Vou viver sempre em comunhão com a minha Igreja, obediente ao Papa e ao Bispo da minha diocese. Vou viver a minha Identidade DJC no seio da Igreja, contribuindo com o nosso carisma no trabalho de evangelização. Vou reservar um tempo precioso para a minha caminhada cristã no DJC. Vou rezar e obedecer aos Acompanhantes e demais pessoas que me ajudam na Caminhada Discipular. Vou ajudar financeiramente no trabalho de evangelização. Vou viver sempre em sintonia com a fé católica e o carisma do DJC... A vivência da eclesialidade livra nossa espiritualidade dos erros, orienta o nosso testemunho e interage com o nosso apostolado. A Igreja e o DJC são o nosso "habitat natural". Fora deste ambiente que Deus nos concedeu, ficamos sem terra nos pés e como peixe fora do aquário. Satanás não consegue destruir uma pessoa que vive nesta atmosfera divina na terra. O Sopro da Vida continua a nos reavivar e encontramos apoio humano e espiritual para continuar a Caminhada Discipular. 
A sua disciplina é muito importante para o seu crescimento humano e espiritual. É com disciplina que escutamos a Palavra de Deus, a colocamos em prática e vamos construindo a casa da nossa vida sobre a rocha firme no decorrer da caminhada! ” 











Encontro Conclusivo
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Dimensão do
Testemunho


A Palavra de Deus é Espírito e Vida                        
                  
- “Vossa palavra é uma lâmpada que ilumina meus passos, uma luz em meu caminho!” (Sl 118,105)

Luz: aquilo que brilha nos olhos e dissipa as trevas da escuridão

Lâmpada para meus passos: Meditação da Bíblia de cada dia

Luz no meu caminho: opção fundamental por Jesus, O Caminho                       

- Esta Palavra que é Luz é Jesus                       
Por isso quando Ele veio ao mundo Isaías vai dizer:                       

1. O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz.2. Vós suscitais um grande regozijo, provocais uma imensa alegria; rejubilam-se diante de vós como na alegria da colheita, como exultam na partilha dos despojos.3. Porque o jugo que pesava sobre ele, a coleira de seu ombro e a vara do feitor, vós os quebrastes, como no dia de Madiã.4. Porque todo calçado que se traz na batalha, e todo manto manchado de sangue serão lançados ao fogo e tornar-se-ão presa das chamas;5. porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz. (Isaías, Capítulo 9)
           
E Mateus confirma que Jesus é a realização dessa profecia:
15. A terra de Zabulon e de Neftali, região vizinha ao mar, a terra além do Jordão, a Galiléia dos gentios,16. este povo, que jazia nas trevas, viu resplandecer uma grande luz; e surgiu uma aurora para os que jaziam na região sombria da morte (Is 9,1).17. Desde então, Jesus começou a pregar: Fazei penitência, pois o Reino dos céus está próximo.   (Mateus 4)

E Lucas também confirma:
67. Zacarias, seu pai, ficou cheio do Espírito Santo e profetizou, nestes termos:68. Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e resgatou o seu povo,69. e suscitou-nos um poderoso Salvador, na casa de Davi, seu servo70. (como havia anunciado, desde os primeiros tempos, mediante os seus santos profetas),71. para nos livrar dos nossos inimigos e das mãos de todos os que nos odeiam.72. Assim exerce a sua misericórdia com nossos pais, e se recorda de sua santa aliança,73. segundo o juramento que fez a nosso pai Abraão: de nos conceder que, sem temor,74. libertados de mãos inimigas, possamos servi-lo75. em santidade e justiça, em sua presença, todos os dias da nossa vida.76. E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor e lhe prepararás o caminho,77. para dar ao seu povo conhecer a salvação, pelo perdão dos pecados.78. Graças à ternura e misericórdia de nosso Deus, que nos vai trazer do alto a visita do Sol nascente,79. que há de iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz.                        (Lc 1)

João 1,14 dá a proposição teológica que de fato Jesus é Palavra de Deus: “E o Verbo se fez carne e habitou no meio de nós!”                    

E também em João 1 Jesus e chamado de luz:
1. No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus.3. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito.4. Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens.5. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.  (Jo 1)                     

E na sua primeira carta João enfatiza que Jesus, o Verbo da Vida, é Luz e nele não há treva alguma:
1. O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos olhos, o que temos contemplado e as nossas mãos têm apalpado no tocante ao Verbo da vida -2. porque a vida se manifestou, e nós a temos visto; damos testemunho e vos anunciamos a vida eterna, que estava no Pai e que se nos manifestou -,3. o que vimos e ouvimos nós vos anunciamos, para que também vós tenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo.4. Escrevemo-vos estas coisas para que a vossa alegria seja completa.5. A nova que dele temos ouvido e vos anunciamos é esta: Deus é luz e nele não há treva alguma.  (1Jo 1)


- Vemos pois que a Palavra de Deus é Jesus e que Ele é a nossa Luz
Luz eficaz
Luz que dissipa as trevas, cura da cegueira, liberta da escravidão                       

Porque?                       
Porquê é Palavra daquele que é o Criador de tudo e Senhor da natureza
Para quem nada é impossível

Amós, Capítulo: 5
8. (Aquele que criou as Plêiades e o Órion, aquele que muda as trevas em aurora e transforma o dia em noite, que chama as águas do mar e as derrama sobre a face da terra, seu nome é o Senhor.                       

- E Jesus diz que sua Palavra é Espirito e Vida
É mais do que Tradição ou Livro impresso
É Espírito e Vida
São João, Capítulo: 6
63. O espírito é que vivifica, a carne de nada serve. As palavras que vos tenho dito são espírito e vida.

E São Pedro professa a fé nele
68. Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.                       

- Palavra de Deus portanto
Tem poder para edificar-nos (At 30,32)
e salvar-nos (Tg 1,21)                       

Nossa parte é escutar e praticar a Palavra de Deus
Shemá, Israel! (Dt 6)

A Palavra de Deus nos forma para a vida cristã e para o testemunho cristão. É Luz que ao refletir em nós chega nos outros.