Encontro
de Oração Inicial
____/
____/ ____
Do costume para
a convicção
At 2,42-47
Os
primeiros cristãos perseveravam:
- Na doutrina dos
Apóstolos: ensinamentos a partir da Palavra de Deus.
- Na unidade:
comunhão fraterna.
- Na Eucaristia:
partir do pão, fração do pão.
- E nas orações.
Esses
são os quatro pilares da Igreja. Neste temário vamos nos concentrar no primeiro
pilar, pois o que caracteriza a Igreja, antes de tudo, é a fé. O Catecismo da
Igreja Católica resume de modo claro: “Crer é um ato eclesial. A fé da Igreja
precede, gera, apoia e nutre a nossa fé. A Igreja é a Mãe de todos os crentes.
‘Ninguém pode dizer que tem Deus como Pai se não tiver a Igreja como Mãe’ (São
Cipriano)” (n. 181). “Portanto, a fé nasce na Igreja, conduz para ela e vive
nela. É importante recordar isto. Desde os primórdios a Igreja é o lugar da fé,
da transmissão da fé, o lugar no qual, pelo Batismo, nos imergimos no Mistério
Pascal da Morte e da Ressurreição de Cristo, que nos liberta da prisão do
pecado, nos doa a liberdade de filhos e nos introduz na comunhão com o Deus
trinitário. Ao mesmo tempo, estamos imersos na comunhão com os outros irmãos e
irmãs de fé, com o inteiro Corpo de Cristo, tirados do nosso isolamento. O
Concílio Vaticano II recorda: ‘Deus quis salvar e santificar os homens não
individualmente nem sem qualquer vínculo entre si, mas quis constituir com eles
um povo, que O reconhecesse na verdade e O servisse fielmente”. (Bento XVI)
Basta
nascer católico, crescer católico e morrer católico?
Sabemos
que o homem é influenciado pelo meio em que vive. Por influência cultural
aprendemos uma língua, incorporamos tradições, associamo-nos ao senso comum. A
criança, mesmo quando adotada, assimila os gestos e posturas dos familiares,
inclusive a entonação da voz e o modo de integragir com os outros.
Também
os costumes religiosos e os valores morais são passados de geração em geração,
de pais para filhos, e fincam raízes profundas nas pessoas. Esta influência,
com exceção das tradições intrinsecamente ruins, em si mesma, é boa. É até
necessária, pois precisamos de um aparato sócio-cultural que dê contexto e
cosmovisão à nossa existência.
Porém,
a fé não pode ser reduzida a um costume adquirido, a uma tradição familiar,
pois o fundamento da mesma transcende a própria história: DEUS.
A
fé deve ser uma convicção da razão enraizada no coração, nascida de um encontro
vivo e pessoal com Jesus Cristo. Mais que um costume adquirido, a fé de um
cristão adulto é convicção e opção que geram engajamento e compromisso com o
Reino de Deus.
Diante
das diversas investidas que partem de todos os lados, muitos católicos dizem
prontamente: “Nasci católico, cresci católico e vou morrer católico!” Quando
esta resposta nasce de uma convicção amadurecida na Meditação Orante da Palavra
de Deus e na Doutrina dos Apóstolos, ela manifesta um católico que conhece as
razões da sua fé e sabe o que Deus e a Igreja esperam de um católico
verdadeiro. Nada poderá destruí-lo. Sua vida cristã não foi construída sobre a
areia, mas sobre a mesma da rocha da fé professada por Pedro. Porém, quando é
uma resposta apenas por costumes adquiridos, é motivo de preocupação. Qualquer
vento contrário poderá abalar esta fé e gerar um grande estrago.
Conhecemos
muitos católicos “de costume” da zona rural que, ao morar na cidade grande,
afastaram-se da Igreja porque aí não encontraram o mesmo contexto cultural
recheado de catolicismo popular. Os costumes precisam de um contexto para
sobreviver. Em meio a dificuldades afetivas, crises financeiras e existenciais,
encontraram acolhimento e apoio em qualquer lugar que primeiro lhes apareceu.
Na maioria das vezes, essse lugar mina de cheio aquilo que eles tinham como
verdadeiro. Às vezes é um centro espírita, uma seita, uma escola ou até mesmo
uma organização atéia. Além do mais, muitos católicos não só se afastaram da
Igreja, mas se tornaram rígidos combatentes da mesma, julgando a sua ex-Igreja
Católica como sendo a culpada pelos seus muitos fracassos na vida. É a busca
covarde e psíquica de um “bodo expiatório” para despejar a culpa dos próprios
erros, mas é assim que muitas vezes acontece.
Ninguém
vence as crises que normalmente aparecem na vida de qualquer pessoa apenas com
costumes adquiridos, mesmo que estes sejam a tradição de toda uma família. A
realidade nos mostra que não é suficiente ser católico só porque nasceu
católico e cresceu como católico. Os costumes católicos recebidos da família em
si mesmos são bons, mas não são suficientes. O católico deve viver a sua fé
católica de modo adulto, com convicção e compromisso.
É
necessário sair do costume de ser católico para a convicção de ser católico. É
o Apóstolo Pedro quem nos exorta para dar as razões da nossa fé e esperança:
“Reconheçam de coração o Cristo, como Senhor, estando sempre prontos a dar a
razão de sua esperança a todo aqule que a pede a vocês, mas com bons modos, com
respeito e mantendo a consciência limpa.” (1Pd 3,15-16)
Dar
a “razão da nossa esperança” quer dizer mostrar o sentido e a veracidade da
nossa fé. A nossa fé não é cega, pois desta forma ela não seria luz, mas
escuridão.
Sabemos
que nos momentos difíceis, a primeira pessoa a quem devemos “dar a razão da
nossa esperança” somos nós mesmos. Nas profundezas da alma perguntamos com
sinceridade se a nossa fé tem sentido ou não. Nos autoquestionamos sobre e a
existência de Deus e se aquilo que Ele nos manda fazer ou deixar de fazer é
razoável ou não. E não nos conformamos com uma resposta qualquer, pois o que
está em jogo não é algo elementar, mas a nossa própria vida como um todo. A
pior crise é a crise da fé. Quando a fé entra em crise tudo o mais entra em
parafuso. Por isso, a fé pede uma resposta, ela busca a “razão da sua
esperança”.
Quando
um católico não consegue dar a razão da sua esperança para si mesmo ele, ou
passsa a viver um “cristianismo faz de conta”, ou abandona tudo por completo. É
um cristianismo de superfície, que não interfere em nada na sua vida, missão,
trabalho, decisões e comportamento. Por isso existem tantos católicos que o são
de nome, mas não de fato. Vivem num ateísmo prático. A fé que professam não
molda a sua existência e o seu modo de agir. Católicos que sequer vão à Igreja,
não meditam o Evangelho, não se comprometem com a causa do Reino, mas têm todo
tempo e atenção para o mundo, para o dinheiro e muitas outras coisas que se
contrapõem à Palavra de Deus. Quando um católico não tem razão para a sua
esperança, também perde a própria esperança e vive só para este mundo, para o
aqui e agora. Tudo isto é muito perigoso e frustrante.
Mas
o católico inserido no contexto da modernidade não precisa ter medo. Se o mundo
plural de hoje pede razões para tudo, temos razões de sobra acerca daquilo que
acreditamos e vivemos. Se pararmos para meditar, haveremos de compreender que
Deus sempre tem razão em tudo o que Ele fala e faz. E que a Doutrina da Igreja
Católica é totalmente fundamentada na Palavra de Deus.
Neste
temário da Revelação Divina vamos refletir sobre os fundamentos da nossa fé
católica tendo como pano de fundo o contexto da modernidade. Nosso desejo é
ajudar cada católico a ser um católico de convicção, pronto para dar as razões
da sua esperança e ser testemunha da Verdade, viver cada vez mais intensamente
a sua fé e fazer a diferença no mundo de hoje.
Os
primeiros cristãos perseveravam na Doutrina dos Apóstolos e por isso eram
centrados na Eucaristia, oravam com fervor, viviam em comunidade, eram
solidários, fraternos e missionários. Quanto mais conhecemos aquilo em que
acreditamos, mais amamos. E quanto mais amamos, mais obedecemos e praticamos
aqueilo em que acreditamos.
1ª Vivência ____/ ____/ ____
Mistagogia
1 Pedro 1,13-25; ou Salmo 4; ou João 14,15-26
Para
ser plenamente realizado o discípulo, uma vez salvo pela misericórdia de Deus,
precisa cooperar com o Espírito Santo através da ascese (mortificação,
penitências) e obediência da verdade (1Pd 1,5). Necessita ir crescendo na
“graça e no conhecimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pd 3,18),
por que Jesus mesmo é a Verdade que
liberta de todos os males: “Conhecereis a Verdade a Verdade vos libertará!” (Jo
8,32)
A
experiência do amor de Deus nos cura interiormente e nos concede a graça e a
paz. Porém, a Bíblia ensina que a mesma graça e paz também nos são concedidas
pelo conhecimento de Deus (1Pd 1,2), de modo que amor e verdade se complementam
na perfeição do homem novo. Uma pessoa curada pelo amor de Deus, mas que depois
não cresce no conhecimento de Deus, facilmente será envolvida por trevas e
voltará a ferir-se ou ser ferida, pois quem caminha na escuridão tropeça, cai e
se quebra. Muita gente faz uma profunda experiência do Espírito Santo, mas
depois para no meio do caminho ou se desvia pelo erro porque não prossegue no
conhecimento de Deus e da sua Palavra.
Por isso, Deus deseja ardentemente que todos os homens sejam salvos e
cheguem ao conhecimento da Verdade (1Tm 2,3-4). Deseja que o conhecimento da
Verdade se espalhe sobre toda terra (Is 11), todos sejam discípulos de Jesus,
tenham a paz e produzam muitos frutos (Is 54,13; Jo 15,1ss).
O
conhecimento e obediência a Verdade é fundamental dentro do projeto salvífico
de Deus porque “na sequência daquele misterioso pecado de origem, cometido por
instigação de Satanás, que é ‘mentiroso e pai da mentira’ (Jo 8, 44), o homem é
continuamente tentado a desviar o seu olhar do Deus vivo e verdadeiro para o
dirigir aos ídolos (cf. 1 Ts 1, 9), trocando ‘a verdade de Deus pela mentira’
(Rm 1, 25); então também a sua capacidade para conhecer a verdade fica
ofuscada, e enfraquecida a sua vontade para se submeter a ela. E assim,
abandonando-se ao relativismo e ao ceticismo (cf. Jo 18, 38), ele vai à procura
de uma ilusória liberdade fora da própria verdade”. (João Paulo II)
Mergulho
no Mistério
O
conhecimento da Verdade a que estamos nos referindo não é uma simples abstração
intelectual. Na Bíblia o conhecimento inclui, mas vai além do intelecto.
Envolve todo psiquismo e sentidos do homem, é místico, vivencial, transformador
e libertador. Conhecer é o mesmo que experimentar e saborear. Desta forma,
saber de Deus é antes de tudo, saborear Deus, experimentar Deus, mergulhar no
mistério de Deus. Como dizia o Salmista, “provai e vede como Deus é bom, feliz
o homem que nele se abriga!” (Sl 34,9) Desta forma, sendo experiência mística,
o conhecimento de Deus já é vida eterna que começa neste mundo e se prolonga
por toda eternidade: “Ora, a vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o
único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17,3).
Dadas
as considerações acima, no decorrer da Caminhada Discipular, vamos aprofundar o
conhecimento da Verdade na linha do que o Apóstolo Pedro dizia aos primeiros
cristãos: “O poder divino deu-nos tudo o que conduz à vida e à piedade, por
meio do conhecimento daquele que nos chamou com sua glória e mérito. Com elas
nos deu nos deu as maiores e mais valiosas promessas, para que por elas
participeis da natureza divina e escapeis da corrupção que habita no mundo pela
concupiscência. Portanto, não poupeis esforços para acrescentar à vossa fé a
virtude, à virtude o conhecimento, ao conhecimento o autodomínio, ao
autodomínio a paciência, à paciência a piedade, à piedade o afeto fraterno, ao
afeto fraterno o amor. Se possuirdes esses dons em abundância, não ficareis
inertes nem estéreis para conhecer o Senhor nosso Jesus Cristo. E quem não os
possui está cego e caminha às apalpadelas, esquecido de que o purificaram de
seus velhos pecados. Por isso, irmãos, esforçai-vos por consolidar vossa
vocação e eleição. Se agirdes assim, não tropeçareis; pelo contrário,
generosamente vos farão entrar no reino eterno do Senhor nosso e Salvador Jesus Cristo” (2Pd 1,3-11).
O
caminho para que o conhecimento de Deus não nos deixe inertes e nem estéreis é
o da mistagogia. Porque se for um conhecimento do tipo estudo seco, carnal e
frio de Deus, só por mera curiosidade ou especulação metafísica, de nada nos
servirá. Deus é um Mistério profundo de Amor e Verdade. Um verdadeiro oceano de
graça, luz e misericórdia. Mistagogia significa mergulhar neste Mistério
Infinito de Deus através da fé, da oração e da meditação. Quanto mais
mergulhamos, mais vamos conhecendo. Quanto mais conhecemos, mais temos a
conhecer. E neste mergulho nas profundezas de Deus, vamos sendo deificados,
agraciados e iluminados.
A
mistagogia faz a gente conhecer Deus experimentando-o, saboreando-o, amando-O e
sendo amado. Deus é glorificado e adorado. Nós somos restaurados, reintegrados
na nossa personalidade. Perdemo-nos no mistério infinito de Deus como homens
velhos e nos reencontramos neste mesmo Mistério como novas criaturas. A
mistagogia promove de modo muito profundo aquilo que os Homens da Bíblia
experimentaram na sua vida e que se tornou a força da sua convicção, fé e
perseverança na missão. Todos os homens da Bíblia eram mistagógicos.
A
mistagogia é um mergulho no Mistério profundo do Deus Uno e Trino. Mas também
acontece o contrário. Quando mergulhamos em Deus, o amamos e guardamos a sua
Palavra, Jesus, o Pai e o Espírito Santo também vêm e fazem de nós a sua
morada, o seu templo sagrado. Além de favorecer o mergulho em Deus, a
mistagogia também promove a inabitação trinitária. Mas do que nos conceder a
sua graça, o próprio Deus vem habitar o nosso coração. “Se alguém me ama,
guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a
nossa morada”. (Jo 14,23)
No
decorrer da Caminhada Discipular todos nossos encontros sempre serão
mistagógicos. Ou seja, tudo favorecerá o conhecimento vivencial e místico de
Deus: a ambientação, o altar, a sala ventilada e silenciosa, os equipamentos de
som, as músicas, a condução das orações, as pregações, partilhas e meditações da
Palavra, o modo como a Palavra será proclamada, o estudo dos Temários do DJC,
os vídeos, o clima de fraternidade, de paz e de alegria serena e tranquila, os
celulares desligados, etc Façamos a nossa parte tanto individualmente como
comunitariamente. Mergulhemos de corpo e alma, e Deus também irá fazer a parte
dele.
2ª
Vivência ____/ ____/ ____
Condições de
Possibilidade da
existência de Deus e
ateísmo no contexto da modernidade
Sabedoria 13,1-9; ou Salmo 14; ou Mateus
11,25-30
Atenção: este texto
é repleto de colocações filosóficas gerais. Não é necessário decorar tudo.
Basta ter uma visão geral, a qual poderá ser aprofundada posteriormente.
xxx
Deus
existe? Esta é a grande pergunta que emerge da consciência humana. Do mesmo
modo como o cérebro não consegue deixar de pensar, também não consegue
descartar a idéia de Deus. Nem os ateus! E isto já não seria uma prova da
existência de Deus ???
Indubitavelmente,
a religião surgiu quando o homem apareceu sobre a face da terra. O homem é
naturalmente um ser religioso. Prova disso é que todas as culturas possuíram ou
possuem algum tipo de religião. Desde o amanhecer da história, o homem
manifestou uma necessidade intrínseca de viver ligado ao Ser Superior que é o
grande “Mistério” que o envolve e dá sentido à sua existência, mas que ao mesmo
tempo interroga a sua consciência.
De
fato, Deus existe? A dimensão religiosa do homem não seria apenas o reflexo de
uma fase primitiva da evolução da humanidade? (Auguste Comte) Ou apenas uma
projeção dos sentimentos e dos ideais do homem num ser superior imaginário?
(Ludwig Feurbach) Ou mera expressão da mentalidade escravocrata a qual o homem
fraco se submeteu, de modo que para ser livre o homem deve matar Deus? (F.
Nietzche) Ou apenas uma sublimação de traumas oriundos da paternidade? (Sigmund
Freud) Sendo Deus uma ilusão, a religião não seria o ópio do povo? (Karl Marx)
Talvez você não se faça esses questionamentos conscientemente. Porém, em várias
circunstâncias da nossa vida, temos necessidade de dar as razões da nossa fé e
esperança, sobretudo para nós mesmos (1Pd 3,15). É próprio do homem se
perguntar pelo sentido e pela veracidade das coisas. Categoricamente, ninguém
gosta de ser enganado. Ninguém fia a sua vida numa mentira ou ilusão.
O
contexto da modernidade é prova mais que suficiente da religiosidade
constitutiva de todo ser humano. Mesmo os mais radicais não negam esta dimensão
humana, embora expliquem-na num plano meramente horizontal. Por isso falar da
“experiência de Deus pode parecer, atualmente, um anacronismo ou um desafio.
Anacronismo aos olhos de uma época que se proclama pós-teísta e na qual o
problema de Deus perde, aparentemente, sua especificidade teológica e admite
apenas uma formulação que se crê ‘honesta” quando articulada em termos
etnológicos, sociológicos, psicológicos ou mesmo políticos. Desafio ao
veredicto que parece aceito sem discussão em amplos setores da cultura
contemporânea e segundo o qual a assim chamada experiência de Deus não pode ser
senão a persistência ou a sobrevivência de uma ilusão.” (Henrique C. Lima Vaz)
Ante
os desafios da modernidade, sejam dos que vêm da mentalidade técnico-científica
materialista, sejam os promovidos pela própria religiosidade pragmatizada,
faz-se necessária uma resposta que possa ser discutida por todos mediante
argumentos racionais elaborados sobre a existência de Deus. Precisamos mostrar
a “sensatez” de pensar o emergir da existência humana como fenômeno na história
totalmente direcionado para o Ser, para Deus. Demonstrar a razão subjacente à
fé em Deus, “a razão da nossa esperança”, e à autêntica vivência da mesma.
Nossa primeira pretensão será trabalhar a experiência de Deus numa perspectiva
transcendental e, por ela, argumentar as razões da vida na fé e o substrato
humana da experiência do Deus Uno e Trino.
Quando
Deus se revelou a Moisés, fez questão de dizer o seu Nome: “EU SOU AQUELE QUE
SOU!” (Ex 3,14). Porém, vemos que mais do que um nome, como qualquer outra
realidade possui, o nome de Deus é uma afirmação sobre a essência dele mesmo,
realidade que ultrapassa a simples compreensão humana, porque Deus é sempre
maior do que a nossa razão. Porém, na própria formulação do seu Nome, o Deus de
Moisés, que é o mesmo Deus de Abraão, Isaac e Jacó, o Deus que se revela na
história e que é acolhido através da fé, já apontava para o desejo de também
querer dialogar com os filósofos e todos os homens de todos os tempos e
lugares. Porque todos foram criados por Ele à sua imagem e semelhança. Livre e
consciente, todo o homem pode fazer a experiência transcendental daquele que é
a fonte de todo ser e de toda a existência.
Diante
desta revelação do Nome Divino, os primeiros teólogos da Igreja perceberam logo
de início a importância do diálogo entre fé e filosofia ao ponto de acreditarem
que Platão, além da luz natural da razão, também era guiado pela luz divina.
Embora a sua filosofia não fosse uma revelação divina, Deus mesmo tinha
orientado a sua reflexão pelos caminhos da sua divina providência. “Não era o caso de ver aí uma espantosa
confirmação da unidade de fé e filosofia? Com efeito, a patrística viu
revelar-se aí a mais profunda unidade de pensamento e fé, de Platão e Moisés,
de espírito grego e bíblico. Sentiu tão completamente a identidade entre a
busca filosófica e a aceitação do que se lhe oferecia na fé de Israel, que chegou
a defender a tese de que Platão não seria capaz de chegar a semelhante
conhecimento por seus próprios recursos, tendo seguramente conhecido o Antigo
Testamento donde haurira suas idéias” (Joseph Ratzinger).
Diante
da revelação divina “EU SOU AQUELE QUE SOU!”, devemos dizer: “DEUS É AQUELE QUE
É!” Deus não precisou de um ser maior que Ele para existir e ser o que É, como
eu e você precisamos d’Ele para existir e ser o que somos. “A grandeza de Deus
supera todo conhecimento” (Jó 36,26). Deus é “Mais”, “Sempre Mais” que a nossa
compreensão. Ele não é uma “coisa” no tempo e no espaço que pode ser analisada
por diferentes ângulos, mas um “Mistério” que vai além da história e da
investigação empírica. Uma “coisa” é limitada. Deus é eterno e infinito. Por
isso falamos que Deus é um “Mistério”. Ele não é complexo nem confuso. Mas é ao
mesmo tempo tão grande, que quando mais o conhecemos, mas temos a conhecer.
Moisés conheceu Deus, mais um Deus que vai além de toda compreensão, um
mistério inesgotável. Por isso, dizia Santo Agostinho, “Deus não é (tanto) para
se compreendido, mas para ser adorado!” Este “Deus”, este “Mistério Profundo”,
o “Ser”, torna-se “Presença” na história e na experiência cotidiana de cada
homem.
A
experiência transcendental
do
“Mistério”
Nossa
razão pode não compreender totalmente o “Mistério” de Deus, mas também não pode
se enganar dizendo que Ele não existe, porque as evidências da sua existência
não podem ser descartadas. O próprio homem, nas profundezas do seu ser e nos
acontecimentos do dia-a-dia se depara com este “Ser Maior e Perfeito” que lhe
deu o ser. Quando menos esperamos, às vezes no nascimento do filho e às vezes
mesmo na hora de um ente querido, simplesmente sentimos a sua “Presença” que
nos enche de sentido e esperança. De fato, “é nele que somos, nos movemos e
existimos”(At ). Não podemos fugir da
sua “Presença”. Como experimentava o Salmista: “Para onde me afastarei de teu
alento? Para onde fugirei de tua presença? Se escalo o céu, aí tu estás; se me
deito no abismo, aí estás. Se eu disser: que a treva me sorva, e a luz se faça
noite ao meu redor, nem mesmo a escuridão é escura para ti, e a noite é clara
como o dia: treva ou luz são a mesma coisa.” (Sl 139,7s)
Sobre
o conhecimento de Deus Edward Schillebeeckx enfatiza que quando procuramos pôr
as mãos sobre ele, no sentido de analisá-lo como um objeto simplesmente no
mundo, é sempre o mundo finito que agarramos, e nunca Deus. Porém, justifica a
possibilidade de percebermos a existência de Deus a partir da nossa história: “Desde
o momento em que o homem tem a coragem de olhar deveras o mundo e a si mesmo
como um fato, como uma realidade ali lançada, como uma presença por si mesmo
inexplicável, nesta presença descobre o testemunho de uma outra Presença que se
revela obscuramente. Quando nos colocamos diante de nós mesmos e do mundo, não
como ‘homo faber’ ou como ‘homo economicus’, mas simplesmente como homem, e
aceitamos o testemunho espontâneo desta realidade, então descobrimos que
estamos inseridos no mistério mais profundo de uma realidade pessoal e
absoluta”, que chamamos de Deus.
Para
J. Maritain, o “conhecimento de Deus, antes de ser desenvolvido em
demonstrações lógicas e perfeitamente conceptualizadas, é em primeiro lugar e
acima de tudo, fruto da natural intuição da existência, e que se impõe ao nosso
espírito pela força imperativa dessa intuição”. A razão humana se aproxima de
Deus mediante um raciocínio natural. Não é uma “intuição” pura e nem um
raciocínio filosófico de feição técnica. Tal raciocínio é de “feição intuitiva”,
irresistivelmente sustentado e vitalizado, de um a outro extremo, pelo lampejo
intelectual da intuição da existência. E em parte alguma se acha implicado
qualquer problema, porque o poder esclarecedor dessa intuição se apodera do
espírito e o obriga a ver.
Este
conhecimento, que J. Maritain chama de natural, intuitivo ou pré-filosófico,
enquanto se diferencia da tentativa humana de sistematizar a intuição natural
da existência é, pois, um raciocínio com feição intuitiva, embebido na intuição
primordial da existência. Ele é muito mais profundo que “qualquer processo
lógico já elaborado”. A linguagem sobre Deus esbarra na própria limitação
humana de falar do Absoluto.
O
animal homem não tem espírito. Ele é espírito. O homem não tem corpo. Ele é
corpo. O corpo é a exteriorização do espírito na história e o espírito vai
sempre além da história, transcendendo-a. O homem tem matéria e é o único
animal sobre a face da terra que olha para o céu, em busca da fonte e do
sentido último da sua existência.
Ao
priorizar a experiência transcendental na sua reflexão sobre o conhecimento
natural de Deus, Karl Rahner, para quem o homem é o “ouvinte da palavra” e
lugar do encontro com Deus, conseguiu fundamentar seu discurso de forma
inovadora e convincente. Por experiência transcendental entende-se a “a
consciência subjetiva, atemática, necessária e insuprimível do sujeito que
conhece, que se faz presente conjuntamente a todo ato de conhecimento, e o seu
caráter ilimitado de abertura para a amplidão sem fim de toda realidade
possível” (K. Rahner).
Pelo
próprio ato de perguntar, do qual não pode excluir-se, o homem lança-se à
infinitude e já se percebe como ser de transcendência. Porém, ao estipular um
conhecimento sobre um ente particular, ele auto-afirma, mesmo que implicitamente,
uma pré-apreensão do Ser e demonstra que é espírito, é sujeito com “abertura
apriorística” para o Ser em geral. Esta
pré-apreensão tem respaldo na racionalidade. Trata-se de uma experiência onde o
Absoluto se torna presença inesgotável da experiência humana e o sujeito também
é absorvido por este Absoluto. Nossa experiência do “Mistério Absoluto” dá-se
dentro do mundo, da história, da contingência, “onde o conhecimento de algo, do
que é do que não é”, deparamo-nos com a amplitude da existência infinita que
nos envolve, no qual existimos e da qual não podemos fugir.
O
homem não pergunta só pelo ente, mas pelo ser do ente em questão e isto é
exemplificado de forma bem simples pela pergunta natural de todo espírito
humano: “O que é isto?” O homem pergunta pelo “uno”, um último fundamento do
real, pelo “ser” de todo ente concreto. Como não é possível alguém perguntar
pelo irreal ou pelo totalmente desconhecido, pois sequer teria condições de
formular a questão, conclui-se racionalmente que o homem possui uma
pré-comprensão do ser ou conhecimento preconceptual. O que é isto? É, na
verdade, Porque isto é isto? Quem deu o ser a isto? De onde veio isto? Ao
perguntar pelo “ser das coisas”, o homem tem uma pré-compreensão d’Aquele que É
por si mesmo, Deus. O homem pode não ter todas as respostas, mas tem perguntas
profundas e sérias no dia-a-dia que remetam a realidade do Ser, de Deus. “Sábio
é quem faz as perguntas. Uma boa pergunta já tem metade da resposta.” (A.
Einstein)
Como o homem pergunta pelo sentido último,
ele é ser transcendental que vai ao encontro das condições ontológicas que
existem no sujeito e que vai além do mundo simplesmente das coisas; é o
mediador de sentido, pois tudo só tem significância a partir da sua pergunta
universal e, por fim, pergunta e se direciona para algo que não é coisa no
mundo, embora seja a condição de sentido deste mundo e da história.
A
experiência transcendental, que se verifica em todo ato do sujeito cognoscente
e livre, aponta para um “Aonde” que lhe dá sentido, pois o homem sabe estar
voltado para o mistério, real e não ilusório, inefável, jamais capaz de ser
analisado completamente, pois desponta como sendo Absoluto e cujas respostas
alcançadas pelo conhecimento jamais esgotam o seu mistério. Este “Aonde” nós denominamos
de Deus. “Portanto este Aonde da transcendência, a um exame mais preciso, não é
em seu caráter misterioso conceito simplesmente contrário e evidente. Em nosso
conhecimento só é evidente para nós o
que em si se entende por si mesmo” (K. Rahner).
Perante
o “Mistério Presente” o homem sabe que ele próprio não é o Ser, mas procede
dele e depende dele, e que tudo mais tem sua origem nele. O ser não é o homem e tampouco seria o
“nada”, pois o “nada” não funda nada. Embora não possa dizer empiricamente o
que é o Ser, pois sempre pergunta por ele, sabe que este Ser, que é “mistério”
cognoscível mas que se mantém questionalidade, e que é o próprio fundamento de
sua existência. Pode perfeitamente ser reconhecido como sendo Deus, do qual tem
uma idéia,, mas que só sabe o “significado” do que seja este Deus na medida que
permite a sua transcendentalidade, situada além de tudo o que se possa
identificar objetivamente.
O
conhecimento de Deus é a posteriori, pois se dá mediante a experiência
transcendental. “Nosso conhecimento ou experiência transcendental tem de ser
chamado a posteriori à medida que toda experiência transcendental é medida por
encontro categorial com realidades concretas do nosso mundo, o mundo das coisas
e o mundo das pessoas” (K. Rahner).
A
experiência originária do “Mistério” é atemática, impossível de ser
conceituada, embora a realidade interponha a necessidade da linguagem, mas a
linguagem sobre o “Mistério” é sempre
mediadora (media duas realidades: Deus e o homem) e analógica. Da realidade
transcendental da experiência humana, as “provas” sobre Deus se tornam uma
questão secundária, pois o conhecimento filosófico é sempre uma tentativa
própria do espírito para abarcar o
“Mistério” a partir da história onde está inserido (do onde para o Aonde), mas
tentativa que nunca conseguirá deixar de “perguntar pelo ser” e que sempre terá
como ponto de partida a própria experiência transcendental que o remete para um
“Aonde”. Então, “uma prova teórica da existência de Deus somente visa,
portanto, transmitir consciência reflexa sobre o fato de que o homem em sua
existência espiritual tem que haver-se com Deus” (K. Rahner).
A
experiência humana de Deus não é sensível e nem intelectual, mas transcendental
e preconceptual. É claro que sentidos e inteligência não são excluídos da
experiência religiosa. Porém, a linguagem sobre Deus é sempre analógica. O
intelecto só se aproxima de Deus por meio de analogia. Deus é um mistério
permanente para o homem, e o homem “sabe” de Deus de forma que não sabe
propriamente “como sabe”.
A
experiência preconceptual de Deus é pois, operação do espírito com conhecimento
“tácito” ou preconceptual. Não se sente
Deus simplesmente, não o compreendemos totalmente, porém, experimentamos algo
de absoluto e de mistério em nossas vidas, que dá sentido à nossa existência, o
que chamamos de Deus. O ser humano tem a experiência do Mistério, o qual é o
que “volta-se para aquela dimensão da experiência humana que foge à compreensão
e o transcende completamente”. Por experimentar o Mistério em sua vida “o homem
é um ser transcendente na medida em que todo o seu conhecimento e toda a sua
atividade consciente fundamenta-se em uma pré-compreensão (Vorgriff) do ‘ser’
como tal, em conhecimento não temático, mas sempre presente, da infinitude da realidade”
(K. Rahner apud D. Edwards).
Perante
o “Mistério”, o homem confronta-se consigo mesmo e também luta com Ele, como
aconteceu com Jacó, aquele que venceu Deus, mais ao mesmo tempo foi vencido por
Ele. Jacó perguntou pelo seu Nome, querendo delimitá-Lo e manipulá-Lo. Deus não
lhe revelou. Mas ao mesmo tempo Jacó o agarrou até que conseguiu bênção e
tornou-se Israel, aquele que lutou com Deus, e venceu. Interessante como em
muitas passagens a revelação bíblica entra em sintonia com a ontologia, a filosofia
do ser. Isto demonstra para a razão que o Deus de Israel não é mito, ilusão ou
projeção humana. É o Ser, o Sentido Último da existência e a Grande Resposta
para a pergunta do homem transcendental. A luta de Jacó com Deus é também a
luta de todo ser humano com Ele. Deus se manifesta. O homem foi criado em
condição de escutá-lo, mas ferido pelo pecado em vez de adorá-Lo, quer
dominá-lo. Então Deus não lhe revela o seu nome e continua sendo um Mistério,
mais sempre presente. Um Mistério que se faz próximo e distante, um Mistério
que interroga a consciência humana mais ao mesmo tempo abençoa o homem. Vence o
homem, não se deixa dominar, mais ao mesmo tempo de seixa vencer pelo homem e o
abençoa, faz bem à sua vida. Teologicamente, antes do pecado original o homem
vivia na amizade direta com o Criador. O pecado trouxe um véu sobre os seus
olhos, sua mente e seu coração. No céu, no retorno ao paraíso, o homem voltará
a vê-lo face a face. Enquanto o homem é peregrino na história, Deus sempre vai
ser um “Mistério Profundo” que se dá a conhecer em parte, seja através da
experiência transcendental, seja através, sobretudo, da fé.
Porque
que Deus, o Ser, é “Presença” e ao mesmo tempo “Mistério Profundo” para o
homem? Porque o homem ainda tem as sequelas do pecado original, sua natureza
foi danificada, neste tempo escatológico a Graça de Deus ainda está no processo
de salvação e plena humanização e cristificação do seu ser. Evolução (Darwim)
rumo ao Ponto Ômega (Chardim)?. Por isso o homem já é capaz de Deus, e ao mesmo
tempo ainda não é capaz de Deus totalmente. “Já” e “ainda não”...
A
consciência
Nossa
consciência não é perceptível, mas ela é a realidade mais profunda do nosso
ser, corresponde ao nosso “eu” profundo. E dentro dela existem leis naturais,
princípios éticos e normas morais comuns a todos os seres humanos que não foram
colocadas ali por nós mesmos. Alguém as colocou e sabemos que devemos segui-las
(Rm 2,14-15). É a voz da consciência, a voz de Deus. Quando não a obedecemos,
sabemos que estamos indo contra a algo conatural ao nosso ser e que por isso
estamos errados. E quando uma pessoa sequer tem consciência de que tem uma
consciência a que deve obedecer, então isto é anormal, é doentio, é loucura,
própria, por exemplo, dos psicopatas.
Quem colocou essa “voz” dentro de nós foi um Ser Superior, e este ser é
Deus. Negar a consciência é negar o seu “eu” profundo e Aquele que o criou e
lhe dá diretrizes. Pela via da consciência, quem nega a Deus cai, portanto, em
contradição performativa, pois nega a si mesmo.
“A
emoção mais bela que podemos experimentar é o sentimento do mistério. É a
emoção fundamental que está no berço de toda a verdadeira arte e ciência.
Aquele que desconhece essa emoção, aquele que não consegue mais se maravilhar,
ficar arrebatado pela admiração, é como se estivesse morto; é uma vela que foi
apagada. Sentir que por trás de qualquer coisa que possa ser experimentada há
algo que nossa mente não consegue captar, algo cuja beleza e solenidade nos
atinge apenas indiretamente: essa é a religiosidade. Nesse sentido, e apenas
nesse sentido, sou devotamente religioso” (A. Einstein).
O
Ser e a Verdade
A
filosofia de Santo Tomás de Aquino é realista, é feita a partir da realidade
das coisas, não propriamente de idéias imaginadas pelo filósofo. É a filosofia
do Ser, da Verdade. Por isso o Papa Bento XV dizia: “Aprovamos e fazemos nosso
tudo que disseram Leão XIII e Pio X sobre a necessidade de seguir a doutrina de
S. Tomás. Nem os nossos predecessores nem nós temos que nos esforçar para
recomendar e ordenar outra filosofia, senão a que é segundo Cristo, e por isso
exigimos que nossos estudos filosóficos se façam em completo acordo com o
método e os princípios da filosofia de S. Tomás, porque nenhuma outra serve
para expor, defender vitoriosamente a verdade revelada”.
Santo
Tomás de Aquino, o Doutor Angélico tão amado pelo Magistério da Igreja, resumia
os seus profundos argumentos sobre a existência de Deus em cinco provas. Depois
poderemos aprofundá-las. Mas o que é comum a todas as provas, é que tudo conduz
a Deus, ao Ser. Negar a lógica da razão a partir do que se obeserva na
realidade é negar a própria realidade, o que é irracional.
1ª - A primeira
força ou o primeiro motor imóvel
O
movimento existe na extensão do universo. Além da evidência, hoje mais do que
nunca sabemos pela ciência que o universo está em expansão. Tudo que se move é
movido por outra força, ou motor. Não é lógico que haja um motor antecedido por
outro infinitamente. A lógica exige a existência de uma força primeira e
onipotente que coloca tudo em movimento, um primeiro motor que move sem ser
movido. Este primeiro motor é Deus.
2ª - A causa
primeira
No
universo e na história da humanidade toda causa é causada por outra causa.
Porém a nossa razão exige que é necessária uma primeira causa que não é
causada. Deus é a primeira causa, a Causa não causada.
3ª - O Ser
necessário
Todos
os seres, todas as criaturas, são finitos e contingentes (são e deixam de ser).
Se tudo fosse assim simplesmente, todos os seres deixariam de ser e, um dia,
nada mais do que existe existiria. O “nada” é absurdo. Logo, a existência dos
seres finitos e contingentes implica a existência do Ser Infinito, Absoluto e
Necessário, que é Deus. Deus Onipotente criou os seres, Deus continua mantendo
e Deus continua criando novos seres conforme lhe apraz.
4ª - O Ser
perfeitíssimo
Vemos
graus de perfeição nos seres finitos. Uns são melhores ou mais belos que
outros. Mas nenhum possui a perfeição absoluta. Sempre existe algo a desejar,
algo a melhorar. Porém, nossa razão aponta para a existência de um Ser
Sumamente Perfeito, em quem tudo já está bom, onde não existe nada para
melhorar. Este Ser que satisfaz a nossa idéia de perfeição e que também é a
referência para discernirmos os graus de perfeição dos seres finitos é Deus.
5°- A inteligência
ordenadora
Todos
os seres tendem para uma finalidade, para um fim. Este fim é justamente o que
dá sentido à existência dos seres finitos. Alcançar o fim, a finalidade, em vez
de frustração, significa realização. Por isso os seres não são guiados para a
sua finalidade específica por conta do acaso, mas por uma inteligência que
ordena tudo e os dirige. Este ser que ordena a natureza e dirige tudo para o
seu fim é Deus.
A
natureza
A
natureza, com todas as suas maravilhas que surpreendem infinitamente a nossa
inteligência e os nossos sentidos é uma prova incontestável de que Deus existe,
de que Ele é Bom e Todo-poderoso.
Como
uma obra de arte revela o artista e os raios solares remetem ao sol, a natureza
testemunha a existência de Deus (Sl 19,1; Sb 13,1-9; At 14,16). “Aquilo que é
possível conhecer de Deus, foi manifestado aos homens; e foi o próprio Deus
quem o manifestou. De fato, desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis
de Deus, tais como seu poder eterno e sua divindade, podem ser contempladas,
através da inteligência, nas obras que ele realizou” (Rm 1,19-20).
Diante
da evidência da natureza, Voltaire acreditava na existência de Deus, o “ser
necessário, eterno, supremo, inteligente”. “Deus existe como a coisa mais
verossímil que os homens podem pensar e a proposição contrária como uma das
mais absurdas” (Voltaire). Para Voltaire Deus é o grande Engenheiro ou Mecânico
do Universo: “Quando vejo um relógio cujo ponteiro marca as horas, disso
concluo que um ser inteligente montou as engrenagens desta máquina para que o
ponteiro marque as horas. Assim quando considero as engrenagens do corpo
humano, concluo que um ser inteligente montou os órgãos para serem recebidos e
nutridos por nove meses na matriz: que os olhos nos são dados para ver, às mãos
para segurar, e assim por diante”. "O mundo me intriga, e não posso
imaginar que este relógio exista e não haja relojoeiro."
Ateísmo
irracional e idolátrico
Vemos
que a experiência transcendental do homem, a beleza e a ordem da natureza, a
consciência e a razão humana nos mostram que Deus existe. Portanto, negar a
existência de Deus é negar a existência de si mesmo, é fugir da realidade, é
algo extremamente irracional. Negar a realidade é falta de razão, é loucura. “O
ateísmo é a opção mais irracional” (Francis Collins, cientista coordenador do
Projeto Genoma Humano). “São insensatos por natureza todos os que desconheceram
a Deus, e, através dos bens visíveis, não souberam conhecer Aquele que é, nem
reconhecer o Artista, considerando as suas obras” (Sab 13,1).
O
ateísmo nega a existência de Deus afirmando categoricamente a inexistência de
um Ser Supremo que chamou à existência os outros seres. Ao afirmarem isso, os
ateus caem no absurdo. A existência do Criador do Universo é a verdade mais
evidente entre todas as verdades, se bem que não existem várias verdades, mas
uma só, porque é uma só a realidade. Só não vê quem não quem enxergar... Contra
fatos não há argumentos. Nós mesmos somos prova da sua realidade inegável, cujo
mistério ultrapassa nossa razão, mas que se manifesta no nosso cotidiano em
verdadeiras experiências transcendentais.
Os
ateus preferem dizer que a existência dos seres é fruto do acaso, como se para
existir um acaso de tal porte não precisasse de premissas objetivas que
funcionassem como pressupostos para que o mesmo pudesse ocorrer na história. A
história, este tempo que a gente vive e este espaço que a gente ocupa não é uma
ilusão, é real. Não é fruto do caos, pois o caos não gera ordem. Não foi
principiada no nada, pois o nada não cria nada. No início de tudo, existe um
Ser Superior que criou tudo e permitiu a marcha da evolução e da civilização,
ate chegar até nós: Deus. É esta a história que tem sentido. Só o real tem
sentido. E o fundamento da realidade histórica é a fonte do próprio ser, o Ser.
Ele ultrapassa a história, pois é o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Mas a
história toda está contida n’Ele e somente n’Ele encontra sentido, pois “nele
somos, nos movemos e existimos” (At ).
Porém,
quando uma pessoa se fecha no seu mundinho de orgulho e autosuficiência, mesmo
olhando o mundo em volta não professa a crença no Deus que o criou. Todos
argumentos racionais são insuficientes para convencer uma pessoa que decidiu
não querer acreditar em Deus. É como se tivesse passado por uma lavagem
cerebral. Ou então porque, intransigente, não professa que acredita em Deus, porque
antes já desejou que Deus não exista e mesmo indo contra a realidade e a razão,
insiste em afirmar que ele não existe. Sobretudo no mundo de hoje quando em
alguns setores, para dizer que é inteligente, tem, que se proclamar ateu.
Idolatria,
fundada em uma noção errada de Deus, é o ato de adorar aquilo que não é Deus, é
reconhecer e cultuar falsos deuses... Por incrível que pareça, no fundo, todo
ateísmo é uma idolatria. O princípio é o mesmo: forçar a razão a não acreditar
no Deus Único e Verdadeiro cuja existência é evidente na nossa consciência, na
nossa experiência transcendental e nas obras que Ele criou. E coloca-se algo
para ocupar o lugar de Deus na própria vida, seja um astro do universo, a
natureza no seu conjunto, deuses inventados, demônios, coisas, valores,
ideologias ou o próprio homem, ou a si mesmo. A Bíblia não fala muito do
ateísmo, mas aborda a idolatria longamente, justamente por isso. Porque todo
ateísmo é idolatria. Os ateus não acreditam que Deus não existe. Apenas eles
desejam que ele não exista e decidem que ele não existe, mesmo tendo que fugir
da lógica da razão e beirar a loucura. Tiram o Deus verdadeiro e colocam deuses
falsos no seu lugar.
Ao
negar a existência de Deus, os ateus também negam o seu primeiro ato salvífico,
a nossa criação, a sua graça e a sua providência. Negar é não aceitar e
rejeitar, o que é muito pior, pois quem a Deus rejeita, abraça ídolos, sejam de
que tipos forem. E toda idolatria gera escravidão e morte, a curto, médio ou
longo prazo, seja na perspectiva individual ou coletiva. Porque a essência da
idolatria é colocar o Deus Verdadeiro no canto e viver como se ele não
existisse. Por isso que, na essência o ateísmo é uma idolatria: coloca-se Deus
de lado, mas os próprios ateus, mesmo que não o digam, têm os seus próprios
deuses, ritos, dogmas e crenças. Comte, por exemplo, depois de negar a
existência de Deus, no final do seu pensamento dizia que a Humanidade é o
próprio Deus e que os heróis da humanidade devem ser cultuados como santos.
Consequências
da incredulidade
Quando
uma pessoa diz que Deus não existe, no fundo, é porque deseja que ele não
exista. Porque não gostaria de viver a vida de acordo com a Vontade Superior, e
sim de acordo com a sua própria vontade. Quando diz que Deus não existe, é porque
gostaria de ser deus para si mesmo e não depender do Criador (pecado da
auto-suficiência), nem ter que obedecer ao Criador (pecado da desobediência) e
não ter que considerar o Criador (pecado do orgulho).
“O
conhecimento da existência de Deus está naturalmente infundido em todos. Logo,
a existência de Deus é por si evidente” (Santo Tomás de Aquino). Todas essas
evidências da existência de Deus são irrecusáveis, de modo que quem não
acredita em Deus não tem desculpa e peca contra o próprio Deus. Todo incrédulo
e todo idólatra nas profundezas do seu ser sabe que o Deus Verdadeiro existe.
Porém, não admite a sua existência porque a raiz do orgulho está fincada no seu
ser. É ver e não querer enxergar, é escutar e não querer ouvir, é sentir e não
querer experimentar, é trocar a verdade pela mentira e isso logicamente gera
muitas consequências negativas. Por isso não têm desculpa e são considerados
culpados: “O que se pode conhecer de Deus lhes é manifesto, já que Deus se
manifestou a eles. Desde a criação dom mundo, sua condição invisível, seu poder
e divindade eternos, se tornam acessíveis à razão para as criatura. Por isso,
não têm desculpa. Pois, embora conhecessem a Deus, não lhe deram glória nem
graças, mas se perderam em raciocínios vãos e sua mente ignorante ficou às
escuras. Alardeavam de sábios, resultaram néscios, trocaram a glória do Deus
incorruptível por imagens de homens corruptíveis, de aves, quadrúpedes e
répteis. Por isso, Deus os entregou a seus desejos imundos, que degradam seus
próprios corpos. Visto que mudaram a verdade de Deus pela mentira, veneraram e
adoraram a criatura em lugar do Criador – bendito seja ele para sempre, amém! –
por isso Deus os entregou a paixões vergonhosas. Suas mulheres substituíram as
relações naturais por outras antinaturais. O mesmo aconteceu com os homens:
deixando a relação natural com a mulher, arderam em desejo mútuo, cometendo
infâmias homens com homens e recebendo em sua pessoa a recompensa merecida por
seu extravio. E visto que não aprovaram reconhecer a Deus, Deus os entregou a
uma mente reprovada, para que fizessem o que não é devido. Estão cheios de
injustiça, maldade, cobiça, malignidade; estão cheios de inveja, homicídios,
discórdias, fraudes, perversão; são difamadores, caluniadores, inimigos de
Deus, soberbos, arrogantes, fanfarrões, criativos para o mal, rebeldes a seus
pais, sem juízo, desleiais, cruéis, sem piedade. E, embora conheçam a sentença
de Deus, que os que assim agem são réus de morte, não somente o praticam, mas
aprovam os que agem assim” (Rm 1,19-32).
(Ver também Sab 14,12.22-31)
O
coração tem razões
que
a razão desconhece!
Blaise
Pascal nasceu em 1623. Foi um brilhante cientista, matemático e filósofo. Criou
teoremas matemáticos que são usados ainda hoje. Com apenas 12 anos de idade
descobriu sozinho (!) que “a soma dos ângulos de um triângulo é igual a dois
ângulos retos”. Aos 14 anos, passou a participar das reuniões da atual Academia
Francesa das Ciências. Aos 18 anos, com o objetivo de ajudar o pai, inventou a
primeira máquina de calcular. Como a máquina de calcular pascalina foi a
precursora da informática, na década de 1960 deram o seu nome à linguagem de
programação dos computadores.
Todos
esses fatos históricos comprovam a inteligência, a praticidade e a atualidade
desse cientista francês. Porém, o mais interessante é que apesar de tanta
técnica e de tanta inteligência, foi um homem de fé que conseguiu entender que
também o coração tem razões que a própria razão não conhece. Deste modo, a
existência de Deus não passou despercebida na sua vida, conforme ele mesmo
testemunha a sua experiência pessoal da sarça ardente no ano de 1654:
Segunda-feira, 23
de Novembro, dia de são Clemente, papa mártir, e de outros no martirológio.
Vigília de São Crisógono, mártir, e de outros. Das dez horas e meia da noite,
mais ou menos, até cerca de meia-noite e meia. FOGO!
Deus de Abraão,
Deus de Isaac, Deus de Jacob e não dos filósofos e dos sábios.
Certeza, certeza,
sentimento, alegria, paz. Deus de Jesus Cristo. Deum meum et Deum vestrum (Meu
Deus e vosso Deus).
Esquecimento do
mundo e de tudo, menos de Deus. Não se encontra fora das vias ensinadas no
Evangelho.
Grandeza da alma
humana. Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu te conheci. Alegria,
alegria, alegria, lágrimas de alegria.
Eu me separei dEle.
Derliquerunt Me fontem aquae vivae (Abandonaram a Mim, fonte de água viva).
"Abandonar-me-ias vós, meu Deus?" Que eu não me separe dele pela
eternidade. A vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o Deus único e
verdadeiro e aquele que enviaste, Jesus Cristo.
Eu me afastei dele,
evitei-O, reneguei-O, crucifiquei-O. Que eu jamais me separe dEle. Não se
converta senão pelas vias ensinadas no evangelho.
Renúncia total e
doce. Submissão completa e Jesus Cristo e ao meu diretor.
Alegria eterna por
um dia de provação na terra. Non obliviar sermones tuos. Amen (Não me
esquecerei das tuas palavras. Amém)
Pascal
escreveu esse testemunho em uma cédula (Mémorial), que depois costurou no forro
da roupa, para nunca esquecer que o conhecimento de Deus vai além do intelecto,
passa pelo coração e é sempre experiencial. “Em oposição a um Deus totalmente
remergulhado no mundo da matemática, Pascal viveu a experiência da sarça
ardente, compreendendo que o Deus, que é a eterna geometria do cosmos, só pode
sê-lo por ser amor criador, por ser sarça ardente de onde soa um nome, com que
ele penetra no mundo do homem. Portanto, neste sentido existe a experiência de
que o Deus dos filósofos é todo diferente da imagem que eles dele fizeram, sem cessar
de ser o que eles constataram. Este Deus só se torna realmente conhecido,
quando compreendemos que, sendo a verdade por excelência e o fundamento de todo
o ser, é, inseparavelmente, o Deus da fé e o Deus dos homens” (Joseph
Ratzinger).
A
realidade “Deus”, pode ser focalizada somente por quem se incluir na
experiência com Deus – experiência que denominamos fé. Só entrando, consegue-se
saber; só participando da experiência, consegue-se perguntar; e só quem
pergunta, recebe resposta. Pascal exprimiu isto em seu famoso argumento da
aposta, com uma clareza quase monstruosa e com uma agudeza que chega a roçar as
raias do suportável. O debate com o parceiro incrédulo atingiu um ponto em que
ele reconhece dever decidir-se por Deus. Mas gostaria de evitar o salto, de
possuir uma clareza matemática:
"Não
existirá algum meio de iluminar a treva e suspender a incerteza do jogo?"
"Sim,
há um meio e mais de um: a Sagrada Escritura e todos os outros argumentos em
favor da religião".
"Mas,
tenho as mãos atadas, os lábios mudos... Meu feitio é assim, não posso crer.
Que fazer?"
"Então
você confessa que a impossibilidade de sua fé não se origina da razão; pelo
contrário: a razão conduz à fé; portanto, a sua recusa tem outro motivo. Por
isto não adianta convencê-lo mais ainda, mediante um amontoado de provas da
existência de Deus; antes de tudo, impõe-se que você combata as suas paixões.
Você deseja alcançar a fé e não conhece o caminho? Quer ficar curado da
descrença e não conhece o remédio? Aprenda daqueles que, outrora, foram
acossados por dúvidas, como você... Imite-lhes o proceder, faça tudo o que a fé
exige, como se já fosse crente. Frequente a Missa, use água benta, etc. Isto,
certamente, o fará humilde e o conduzirá à fé". (Joseph Ratzinger)
3ª Vivência ____/ ____/ ____
Revelação Divina
18:00h – Devoção
Mariana (para quem estiver na Sede do DJC)
18:30h –
Ambientação
19:00h – Oração
inicial (Em nome do Pai... louvor e súplica ao Espírito Santo... Até aqui pode
ser todos juntos)
19:30h – Palavra de
Deus (proclamação e partilha orante): Gênesis 12,1-9; ou Salmo 19; ou João
1,1-14
20:00h – Reflexão
Meditando
a própria experiência da nossa vida e contemplando a natureza, não temos
dúvida: a bondade e a existência de Deus são evidentes e racionais. “Os céus
proclamam a glória de Deus, o firmamento apregoa a atividade de suas mãos” (Sl
19,2). “Interroga... (Santo Agostinho).
Apesar
desta manifestação natural de Deus o homem tornou-se incapaz de encontrá-lo
sozinho. É verdade que nos inícios a criatura humana vivia na amizade do
Criador. Mas o pecado fez o homem virar as costas para ele, gerou a ignorância,
o sofrimento e a morte. Com o pecado nasceu a idolatria a qual é, por sua vez,
princípio, causa e fim de todo mal (Sb 14).
Sendo Deus a origem, o sustento e o sentido de toda criatura humana, não
conhecê-lo ou adorar algo no lugar dele, significa viver perdido, como um barco
em alto-mar numa noite escura sem bússola para orientar.
Incapaz
de conhecer a Deus por suas próprias capacidades, perdido em meio à ignorância
e trevas do mundo, o Bom Deus veio ao encontro do homem para falar de si mesmo
e manifestar o seu projeto de salvação para a humanidade. A esta vinda de Deus
ao homem para lhe revelar a verdade e iluminá-lo nós chamamos de Revelação
Divina. Deus revela a realidade e ao mesmo tempo Deus tira o véu de si mesmo,
aquilo que não deixava o homem enxergar com nitidez como acontecia no paraíso
antes do pecado original. Deus também tira as escamas dos olhos do homem, as mentiras
e ignorâncias do seu coração e da sua mente, as impurezas e todas as trevas que
lhe faziam ficar cego e míope. Toda Revelação Divina é, portanto, o recado, a
mensagem de Deus para a humanidade. É a sua Palavra de Vida que salva e
liberta.
Embora
as obras da natureza e outras vias demonstrem a existência de Deus, melhor e
mais infalível ainda é quando o próprio Deus entra na história da humanidade e
fala aos homens como a amigos (Ex 3; Jo 15,15; Br 3,18; DV 2). Deus se dá a
conhecer e convida o homem a viver em comunhão com Ele, para que o conheça cada
vez mais profundamente e seja cheio do seu amor e da sua graça.
Se
a idolatria é a origem de todo mal (e todo ateísmo é na verdade um tipo de
idolatria), o conhecimento de Deus é a justiça perfeita e o acatamento do seu
poder é a raiz da imortalidade (Sb 15,3). Quanto mais o conhecemos, mais o
amamos e compreendemos os seus ensinamentos que se tornam “lâmpada para os
nossos pés e luz para o nosso caminho” (Sl 119,105). Deus não se revelou, Deus
não tirou o véu de si mesmo e a escama dos olhos do homem porque necessitasse
aparecer, mas por necessidade do próprio homem se reencontrar na sua luz e
renascer no seu amor. Antes, o homem via, mas não enxergava; ouvia, mas não
escutava; caminhava, mas não encontrava a felicidade e a paz; lutava mais não
alcançava a liberdade; cultuava, mas não participava do verdadeiro culto de
adoração que todo universo faz ao Criador. Revelando-Se, Deus falou-lhe ao seu
coração e à razão, iluminou sua estrada e o segurou pela mão, como um Pai
conduz o filho pelas estradas da vida.
O
Deus de Abraão
se
revela salvando
Deus
se revelou, mas não foi só falando, pois não nos comunicamos apenas com
palavras, mas também através de gestos, símbolos, sinais e atitudes. Deus se
revelou salvando e salva revelando-se. Tudo começou com Abraão, o pai da fé.
O
primeiro conhecimento que Abraão teve de Deus foi natural, à luz da razão. A
partir da sua própria experiência de vida e dos pressupostos da criação, Abraão
fez um raciocínio lógico, não se perdeu em raciocínios vazios, concluiu acerca
da existência do Criador, rejeitou necessariamente todo tipo de ateísmo,
agnosticismo, henoteísmo e politeísmo, o glorificou e lhe deu graças. Pois,
como vimos, “as perfeições invisíveis de Deus, tais como o seu poder eterno e
sua divindade, podem ser contempladas, através da inteligência, nas obras que
ele realizou” (Rm 1,20).
Podemos
imaginar Abraão olhando para a sua experiência interior e ao mesmo tempo para a
beleza do universo e dizendo: “Tudo isso tem que ter um proprietário, tudo isso
tem que ter um Criador”. Então Deus se revelou a Ele dizendo: “Ei Abraão, Sou
Eu. Eu estou aqui!” Como a realidade objetiva de Deus é muito, mas muito maior
que a razão humana, Abraão não compreendeu totalmente o Deus único e
Verdadeiro. Mas a certeza da sua existência e de que Ele É o Bondoso Criador e
que se manifesta na nossa história, ele guardou no coração e teve fé. Esta fé
foi o começo de tudo. No decorrer da história do seu povo, e sempre na esteira
desta fé, Deus vai continuar se revelando gradualmente e o seu povo vai cada
vez compreendendo quem é Ele, também gradualmente.
Acatamento
reverencial, esta foi a primeira atitude de Abraão ao constatar a verdade da
existência de Deus. Não sufocou a verdade e nem se perdeu em raciocínios
vazios. Ver o rosto do Deus Único e Verdadeiro, louvá-lo e servi-lo, torna-se a
sua aspiração mais profunda. Porque, “dotada de uma alma espiritual, de
inteligência e de vontade, a pessoa humana é, desde a sua concepção, ordenada
para Deus e destinada à eterna bem-aventurança” (CIC 1711).
Para
Abraão Deus não é uma essência abstrata ou uma energia cósmica, mas uma
entidade viva, um ser pessoal. É Javé, “o Deus Altíssimo que criou o céu e a
terra” (Gn 14,22). Ele não se confunde com energia mental, nem com energia, nem
com os falsos deuses dos pagãos e tampouco com a natureza.
O
Deus Vivo e Verdadeiro de Abraão, que habita uma luz inacessível (1Tm 6,16), se
revela na criação e na história. Ele vem ao encontro do homem para salvá-lo.
Salvando, revela-se e o atrai para o seu amor. Como uma mãe se revela ao seu
filho como “sua mãe” amando-o e agindo em seu benefício, dando-lhe sua vida,
amamentando, protegendo, tratando das suas feridas, orientando, corrigindo
quando se faz necessário, abraçando com muita ternura, assim Deus também se
revela salvando e salva revelando-se. “Em virtude desta Revelação, Deus
invisível (cf. Cl 1,15; 1Tm 1,17), na riqueza do seu amor, fala aos homens como
a amigos (cf. Ex 33,11; Jo 15,14-15) e conversa com eles (cf. Br 3,38), para os convidar e admitir a
participarem de sua própria vida” (DV 2).
O
amor da mãe em ação é a revelação, é a palavra da mãe para o seu filho que ele
vai compreendendo desde os primeiros dias de sua vida. Assim Deus também se
revela e nos fala salvando-nos, amando-nos. O primeiro ato salvífico foi a
criação, quando Ele nos salvou do nada e chamou-nos à existência. Deus se
revelou primeiramente como Pai/Mãe Criador e como Deus Único e Verdadeiro.
Depois continuou salvando no decorrer da história e foi se revelando e falando
cada vez mais, apesar das infidelidades e ignorâncias dos homens.
Jesus,
a plenitude
da
Revelação Divina
A
experiência religiosa de Abraão motivada pela sinceridade do seu coração e sua
perseverança na verdadeira fé monoteísta foi o começo e a referência de toda
história da salvação que culminou em Jesus de Nazaré (Gn 12,1-4; 26,5; Gl; Hb).
Abraão foi o começo. Jesus é a Palavra definitiva do Pai. Tudo já está
revelado. Não aconteceu e nem acontecerá outra revelação como querem algumas
seitas modernas. Só resta mergulhar e conhecer cada vez mais o Deus de Abraão e
de Jesus e amá-lo com todo coração, alma, entendimento e força, e ao próximo
como a si mesmo (Dt 6,4-9; Mc 12,28-).
Jesus
é a plenitude da revelação de Deus para a humanidade, porque “muitas vezes e de
muitos modos Deus falou aos antepassados por meio dos profetas. No período
final em que estamos, falou a nós por meio do Filho. O Filho é a irradiação da
sua glória e nele Deus se expressou tal como é em si mesmo” (Hb 1,1-3).
Jesus
é a Palavra de Deus em pessoa. Nele, a Palavra se fez homem e habitou no meio
de nós (Jo 1,14). Quem vê Jesus, vê o
Pai e recebe o Espírito Santo. Quem o segue não caminha nas trevas porque
possui a Luz da Vida!
Sendo
Jesus a plenitude da Revelação de Deus, significa que tudo que Deus revelou
antes dele vir ao mundo, o que está escrito no Antigo Testamento, deve ser
entendido e interpretado em referência a ele. Houve um progresso na Revelação.
Deus foi se revelando gradualmente e o homem foi compreendendo cada vez mais
profundamente até chegar Jesus. Você não entende um filme no começo, mas só
quando chega ao final. O Antigo Testamento também só é entendido a partir do
Novo testamento. O Antigo Testamento, sob a pedagogia da Lei, preparou a vinda
do Salvador. O Novo testamento, sob a égide da Graça, realizou as promessas e
ilumina toda História da Salvação.
Jesus
não veio para abolir a Lei e os Profetas, mas para levá-la à perfeição,
concedendo aos seus discípulos o entendimento profundo de toda Revelação Divina
desde os tempos de Abraão (Lc 10,21-24; At 3,17-26; Hb 1,1; 1Pd 1,10-12) O
Salmista já dizia: “Na tua luz veremos a luz”. Jesus é a Luz de Deus que no faz
ver a grande Luz que também é o próprio Deus. Ele é o rosto divino do homem e o
rosto humano de Deus. Nele o homem se encontra e é iluminado. Quem o Vê, vê o
Pai porque ele e o Pai são UM. Por isso, apesar de ter vido 1.800 anos antes de
Cristo, diz a Bíblia que Abraão viu o dia de Cristo, o tempo que ele viria ao
mundo, e se alegrou. Abraão se alegrou porque Deus lhe ajudou a entender que
toda revelação que estava iniciando com ele ia culminar no Filho dele, Jesus de
Nazaré.
Sendo
Jesus a plenitude da Revelação Divina significa também que tudo o que o Pai
Celeste queria nos comunicar, Ele já nos comunicou. Tudo já foi dito na pessoa
de Jesus Cristo. Ele á Luz da Vida que veio ao mundo. Não existe outra Luz. Não
temos que esperar ou acreditar em outra revelação, como dizem os espíritas,
mórmons e adeptos de seitas da nova era.
Os apóstolos, fiéis ao mandamento de Cristo, guardaram os seus
ensinamentos e transmitiram sem nada mais a acrescentar. Eles não são a
Revelação, mas servos escolhidos para a sua transmissão (Gl 1,11-12; 1Jo
1,1-4).
Ainda
hoje na Igreja Católica, nenhuma aparição de Nossa Senhora é tida como uma nova
revelação, como por exemplo, a aparição de Nossa Senhora em Fátima. A Igreja
entende que a Mãe de Deus não traz uma nova revelação, mas é autorizada por
Jesus a vir a terra para relembrar justamente o que Ele já ensinou e está no
Evangelho e na Doutrina da Igreja. Em outras palavras, Nossa Senhora vem para
evangelizar, para lembrar a Palavra de Deus, que é Palavra de Salvação. Por
isso, no processo de discernimento se uma aparição é falsa ou verdadeira,
quando aquele que se diz vidente fala algo que vai contra a Revelação Divina, a
Igreja logo afirma que tal aparição é falsa e nem continua o processo de
discernimento. Porque para a Igreja, ela prefere deixar mil aparições de Nossa
Senhora no esquecimento do que afirmar que uma só seja verdadeira enquanto que
na verdade é falsa. Porque para Igreja, tudo que vai contra o Evangelho não vem
de Deus, é algo demoníaco.
Hoje,
mais do que nunca, quando existem muitas seitas espalhadas por aí e muitas
pessoas que dizem ter recebido aparições do céu, devemos renunciar todas as
falsas revelações e ensinamentos que queiram acrescentar algo ao Santo
Evangelho. A Revelação Divina, plenificada, centrada e encarnada em Jesus de
Nazaré, transmitida pelos Apóstolos e ensinada fielmente pela Igreja Católica é
a única norma normativa não normada da nossa fé. Existem grupos religiosos que
dizem ter recebido uma nova revelação, ou interpretam a Palavra de Deus
totalmente por fora da Doutrina dos Apóstolos. É necessário orar e vigiar, pois
“são pessoas que estão gerando confusão e querem deturpar o Evangelho de
Cristo!” (Gl 1,7).
4ª Vivência ____/ ____/ ____
Fé e razão
Provérbios 3,13-20; ou Salmo 119; ou João
14,1-14
Deus
se manifesta na natureza, mas só se revela na sua Palavra: Jesus Salvador. A
nossa resposta a esta revelação de Deus se dá através da fé. Quem acredita em
Jesus tem a vida eterna e também recebe a graça de nascer como filho de Deus,
porque não só passa saber sobre Deus, mas, sobretudo, coloca-se sob a sua
salvação. Não é um nascimento da carne nem da vontade humana, mas dom de Deus
(Jo 1). A fé em Jesus é necessária para salvação. Sem fé é impossível agradar a
Deus. Deus se revela para salvar e salva revelando-se. Por isso a fé na
revelação é simultaneamente passaporte para a salvação.
Sendo
a fé luz da vida, ela orienta para Deus e esclarece a realidade, porque o homem
anseia pela Verdade. “Encontrei muitos com desejos de enganar outros, mas não
encontrei ninguém que quisesse ser enganado” (Santo Agostinho).
Em
vez de ser cega, a fé acolhe tudo o que é verdadeiramente racional, uma vez que
a razão também é uma bênção de Deus para a criatura humana. “A fé e a razão
(fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano
se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do
homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de O conhecer a Ele,
para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si
próprio” (cf. Ex 33, 18; Sal 2726, 8-9; 6362, 2-3;Jo 14, 8; 1 Jo 3, 2) (João
Paulo II, Encíclica Fides et ratio).
Entre
fé e razão existe uma harmonia natural com muitos benefícios para toda
humanidade (Santo Tomás de Aquino). A razão, através da filosofia e da ciência,
ajuda o homem a compreender a dimensão natural e material, uma vez que este é o
seu campo específico de investigação. A fé, fundamentada na Palavra de Deus,
acolhe todo conhecimento produzido pela razão e o ilumina, ajudando-a a
transcender até onde ela não consegue ir, a realidade sobrenatural. A origem do
mundo, o sentido e o destino da vida, a personalidade de Deus só encontram
resposta satisfatória na fé. “Não há dúvida de que a inteligência humana é
capaz de encontrar uma resposta para a questão das origens. Com efeito, a
existência de Deus Criador pode ser conhecida com certeza pelas suas obras,
graças à luz da razão humana, mesmo que tal conhecimento muitas vezes seja
obscurecido e desfigurado pelo erro. E é por isso que a fé vem confirmar e
esclarecer a razão na compreensão exata desta verdade: ‘Pela fé, sabemos que o
mundo foi organizado pela palavra de Deus, de modo que o que se vê provém de
coisas invisíveis’” (Heb 11, 3) (CIC 286).
Na
história, a fé nasceu de mãos dadas com a razão. Foi assim desde os inícios.
Abraão sempre foi amigo da sabedoria (filósofo). Com coração sincero e desejo
ardente, lia o grande o livro da natureza e refletia a sua própria existência
(busca racional). Quando Deus se revelou, Ele acolheu a Palavra, acreditou,
obedeceu, confiou e esperou (fé), e tudo que buscava como que às apalpadelas,
tornou-se conhecido, foi esclarecido. Isto tudo é muito significativo. Sinal de
que, se somos filhos de Abraão na linhagem da fé, também devemos seguir o seu
exemplo no bom uso da razão que o Bondoso Criador nos concedeu. Isto faz com
que sejamos pessoas equilibradas, crentes humanos e coerentes.
Fé
que pensa, razão que crê
De
uma fé que pensa e uma razão que crê nasce a sabedoria, aquele conhecimento saboroso
gerado no coração do homem no decorrer da caminhada, simultaneamente, na teoria
e na prática, na oração e na reflexão, na meditação orante da Palavra de Deus e
nos estudos. O sábio sabe de Deus, saboreia Deus e enxerga com os olhos de
Deus. O sábio sabe bem viver. “Adquira a sabedoria, adquira a inteligência... O
princípio da sabedoria é adquirir sabedoria!” (Prov 4,5)
A
fé e a razão geram a sabedoria no coração pela graça do Espírito Santo. Somos
salvos pela sabedoria (Eclo 9,18). Ela amadurece o homem, arranca as escamas,
muda a mentalidade, alarga os horizontes, humaniza os sentimentos. Em tudo isso
o homem deve cooperar com Deus, fazer a sua parte, pois “a graça supõe a
natureza” (Santo Tomás de Aquino).
Sabedoria
para a vida
“Na
sabedoria há um espírito inteligente, santo, único, múltiplo, sutil, imóvel,
penetrante... Ela é reflexo da luz eterna, espelho nítido da atividade de Deus
e imagem da sua bondade” (Sab 7,22-26). “A sabedoria tudo sabe e tudo
compreende” (Sab 9,11), porque ela vem de Deus mediante a fé, a razão e se
aloja no coração.
A
título de exemplo, com muita sabedoria Abraão e seus descendentes fizeram uma
grande meditação sobre as questões fundamentais que surgem dentro do coração
humano, como o sentido da vida, a realidade do mal, a morte e a desordem
social. As respostas a estas perguntas constituem o que hoje conhecemos como os
onze primeiros capítulos do livro do Gênesis.
Com
as duas asas da fé e da razão, Abraão olhou para o passado com sabedoria para
compreender o presente e construir o futuro. Gênesis 1 a 11 possui um arcabouço
literário bem definido e o conteúdo sapiencial é muito profundo. “O Gênesis não
é mito, embora utilize expressões e referências míticas, desmitificando-as” (A.
Schokel).
Resumidamente,
pela fé e pela razão, portanto, com muita sabedoria, Abraão e seus descendentes
concluíram:
-
Tudo foi criado por Deus, inclusive o homem e a mulher (Gn 1 – 2,4a).
-
O mal entrou na história por tentação de Satanás e o pecado do homem (Gn 3).
-
Depois o mal foi se expandindo, destruindo a fraternidade familiar e fazendo da
natureza e da própria sociedade um caos: assassinato de Abel, dilúvio e torre
de Babel (Gn 4 – 11).
-
Protoevangelho: O Criador promete a salvação pela descendência da mulher (Gn
3,14).
Vemos
que a fé a razão juntas dão sábias respostas para a nossa vida. De modo que, na
presença de Deus, entendemos a sua vontade, sabemos como colocá-la em prática e
vivemos com dignidade junto com os nossos semelhantes.
Saber
pela fé e pela razão da vontade de Deus, do seu projeto nos ajuda a viver de
bem com a vida, a viver com dignidade, tanto individualmente como
coletivamente. A fé e a razão não são abstratas, mas muito consequentes. Elas
geram a sabedoria. Somo salvos pela sabedoria. De igual forma, a idolatria e a
incredulidade também são consequentes e causam muitos desastres. Por isso o
Inimigo investe tanto contra a fé, procura deturpar a razão, a consciência e a
moral. Porque ele sabe que desta forma destrói a humanidade e faz da sociedade
um inferno. Era o que São Paulo dizia: por causa da incredulidade deles, Deus
os entregou a sua ignorância e surgiram muitos males e vícios na sociedade (Rm
1).
Quando
Abraão e seus descendentes procuram as respostas para as questões levantadas
pela existência, eles também estão procurando os direcionamentos do Criador
para viverem de acordo com a dignidade própria do ser humano. Por isso, cada
conclusão se transforma automaticamente num imperativo moral, numa forma como
devem viver e agir. Ou seja:
-
Se tudo foi criado por Deus, inclusive o homem e a mulher (Gn 1 – 2,4a), isto
significa que devemos adorar o Criador, obedecê-Lo, agradecê-Lo e confiar no
seu amor, misericórdia e providência. Se Deus criou homem e a mulher, abençoou
a união dos dois e os constituiu como pais de família, quer dizer que o
matrimônio tem em vista a felicidade do casal e da família, que o matrimônio
verdadeiro só existe entre homem e mulher, que o matrimônio deve ser
respeitado, que fornicação, divórcio e adultério contrariam o seu projeto original.
-
Se o mal entrou na história por tentação de Satanás e o pecado do homem (Gn 3),
isto significa que devemos orar e vigiar para não ser enganado e cair em
tentação novamente, que o pecado ofende o coração de Deus e gera a morte.
-
Se o mal originado no pecado original foi se expandindo, destruindo a
fraternidade familiar e fazendo da natureza e da própria sociedade um caos
(assassinato de Abel, dilúvio e torre de Babel – Gn 4 – 11), então temos que
cooperar com Deus na restauração de tudo que ajudamos a estragar, não podemos
matar, não podemos ser corruptos e tampouco querer chegar ao céu, vencer na vida, prescindindo
da graça de Deus e confiando somente nas nossas próprias forças. Sem a graça de
Deus, a desgraça do pecado só aumenta.
-
Se o Criador é Bom, além de ser Justo, Ele também é Misericordioso. Por isso,
apesar do pecado original que gerou a morte e o mal no mundo, Deus nos
oferecerá uma segunda chance para que o pecado seja perdoado, o mal seja
definitivamente destruído e a morte ceda lugar à vida. Mas como nos criou
livres, então espera a nossa cooperação na nossa própria salvação. Precisamos
acreditar nele e nos colocar livre e conscientemente através da fé sob a graça
da salvação e todas as bênçãos que ela comporta.
Na
hora que Adão e Eva viraram as costas para Deus, vemos nisso um passo de
ateísmo irracional e idolátrico, veio a morte, o sofrimento, a discórdia, a
violência. O paraíso foi perdido. Desta forma, todas as vezes que não temos fé
e nem paramos para meditar que Deus tem sempre razão em tudo que faz, fala e
nos ordena fazer, também vamos entrando nas trevas da ignorância e adentrando
no lamaçal da morte. O ateísmo, a idolatria são muito prejudiciais, pois
afastando o homem de Deus, afasta-o da vida, da virtude, da salvação. O homem
fica à mercê do mal, dos demônios e de tudo o que não presta no mundo. Mas toda
vez que cultivamos a fé e colocamos a nossa razão para meditar, vamos nos
reencontrando na luz, sabemos caminhar e o que fazer. Somos salvos pela graça
de Deus. Como fé e razão são dons de Deus que unidas geram a sabedoria para a
nossa vida, somos salvos pela sabedoria.
É
triste ver uma pessoa que só vive na novela, a música que escuta é cheia de
baixaria, as conversas que tem com os amigos é de baixo calão, um livro que lê
é folhetim de nova era. É triste porque o mundinho dela se torna muito pequeno,
cheio de ignorância e não vai conseguir enxergar um palmo depois do nariz.
Nasce o orgulho. Pensa que sabe tudo e nem sabe que não sabe. Facilmente se
revolta contra Deus, contra Igreja, por que nada entende, nada compreende e a
sua luz na verdade são trevas. “O néscio pensa: Deus não existe. O Senhor
assoma no céu sobre os filhos de Adão, para ver se há alguém sensato que busque
a Deus. Corrompem-se, cometendo abominações, não há quem pratique o bem. Todos
se extraviam igualmente obstinado, não há um que aja bem, nem sequer um só” (Sl
14,1).
Deus
nos quer sábios, deseja que o busquemos pela fé e pela razão porque somente
desta forma nossa inteligência vai se aprofundando na Verdade e encontrado o
bem e a virtude. Quando ele é descartado pelo homem, tudo se esvai, porque sem
Deus a criatura se esvai (GS). A Sabedoria é um eflúvio do poder de Deus,
emanação puríssima da glória do Todo-Poderoso; por isso nada de impuro pode
nela insinuar-se. É reflexo da luz eterna, espelho nítido da atividade de Deus
e imagem de sua bondade (Sb 7,25-26). A sabedoria é mais bela que o sol, supera
todas as constelações. Comparada à luz do dia, sai ganhando, pois a luz cede
lugar à noite, ao passo que, sobre a Sabedoria o mal não prevalece (Sb
7,29-30). Enamorei-me de sua formosura (Sb 8,2).
5ª Vivência ____/ ____/ ____
Bíblia e
Tradição Apostólica
2 Tessalonicenses 2,13-17; ou Salmo 119;
ou Mateus 5,17-20
A
plenitude da Revelação Divina é Jesus de Nazaré (Hb 1,1-3). Jesus mesmo é a
Palavra de Deus em pessoa. Nele, a Palavra se fez homem e habitou no meio de
nós (Jo 1,14). Ele é o Verbo da Vida
contemplado pelos Apóstolos e por eles anunciado, para que todos tenham a mesma
alegria que eles tiveram (1Jo 1). Todas as Escrituras apontam para Cristo, de
modo que, como dizia São Jerônimo, desconhecer as Escrituras é desconhecer o
Cristo.
Depósito
da Fé
Através
da Revelação Divina centrada em Jesus Deus “quer que todos os homens sejam
salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Por isso, para que esta
Revelação não se perdesse, Deus providenciou que ela fosse conservada e
transmitida através de dois meios, primeiro a Tradição Apostólica e depois a
Bíblia. Desta maneira, “Deus dispôs com suma benignidade que aquelas coisas que
revelara para a salvação de todos os povos, permanecessem sempre íntegras e
fossem transmitidas a todas as gerações” (DV 7).
Só
existe uma Revelação Divina, ou seja, só existe uma Palavra de Deus. Mais a
mesma foi conservada e transmitida através de dois meios: A Sagrada Escritura e
a Sagrada Tradição Apostólica.
A
Sagrada Tradição Apostólica e a Bíblia Sagrada são, no seu conjunto, o “bom
depósito da fé” que deve ser guardado e acatado com reverência e respeito (1Tm
6,20; 2Tm 1,14), pois nas duas encontramos a única e eterna Palavra de Deus.
Estão estreitamente unidades entre si. “Promanam ambas da mesma fonte divina,
formam de certo um só todo e tendem para o mesmo fim” (DV 9).
A
Sagrada Escritura
A
Bíblia Sagrada, a Revelação Divina posta por escrito, via de regra, nasceu
assim: primeiro as Revelações e maravilhas de Deus misturadas nos
acontecimentos da vida do povo de Israel. Este povo foi celebrando e
transmitindo a sua experiência de Deus de pai para filho, de geração em
geração. Por fim, tudo foi sendo posto por escrito, sempre por inspiração e com
a assistência do Espírito Santo. Ao longo de séculos de história foram nascendo
os livros sagrados.
Um
exemplo bem claro de tudo isso, do modo como foram redigidos os livros da
Bíblia, encontramos no início do Evangelho de Jesus segundo Lucas. “Muitas
pessoas já tentaram escrever a história dos acontecimentos que se passaram
entre nós. Elas começaram do que nos foi transmitido por aqueles que, desde o
princípio, foram testemunhas oculares e ministros da palavra. Assim sendo, após
fazer um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio, também eu
decidi escrever para você uma narração bem ordenada, excelentíssimo Teófilo.
Desse modo, você poderá verificar a solidez dos ensinamentos que recebeu” (Lc
1,1-4). A forma como Lucas redigiu o Evangelho de Jesus não esconde nada. Ele
foi movido pelo Espírito Santo. Mas escreveu como pessoa humana, procurando
informar Teófilo, e depois todos os outros leitores, a fim de que pudessem
verificar a solidez dos ensinamentos que recebemos. Lucas fala que outras
pessoas tentaram escrever antes dele, que precisou fazer pesquisa de campo,
coletar informações orais, discernir e estudar cuidadosamente, juntá-las em um
mesmo texto etc Isto mostra que no cristianismo a Revelação vem de Deus, mas
com a participação do homem e dentro de um determinado contexto histórico. Hoje
acolhemos e aclamamos o Evangelho de Jesus segundo Lucas como Palavra de Deus,
como Palavra de Salvação. E de fato é. Mas a redação do Evangelho, como a de
todos os outros livros da Bíblia, não caiu pronta do céu. Foram pessoas de
carne e osso, membros de uma comunidade de fé e assistidas pelo Espírito Santo
que colocaram todos os seus talentos e esforços para pesquisar, conservar e
transmitir a Palavra de Deus. Mas tudo feito com muito amor, zelo e seriedade,
de modo que Lucas garantia a Teófilo: “Desse modo, você poderá verificar a
solidez dos ensinamentos que recebeu”.
Apesar
da simplicidade dos autores sagrados (hagiógrafos), as Sagradas Escrituras
comunicam a Palavra de Deus de um modo correto e seguro, pois além do zelo e da
seriedade dos escritores, “foram consignadas sob inspiração do Espírito Santo”
(DV 11). Por isso, elas “têm o poder de comunicar a sabedoria que conduz à
salvação pela fé em Jesus Cristo. Toda escritura é inspirada por Deus e útil
para instruir, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de
que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para toda boa obra” (2Tm
3,15-16).
A
Sagrada Tradição
Logicamente,
a Revelação de Deus não coube nos livros da Bíblia, sobretudo naqueles tempos
em que era muito mais difícil e dispendioso para se escrever do que nos dias
atuais. Prova disso é que Lucas começou a redação do Evangelho falando
diretamente para Teófilo como se faz numa carta a um amigo. Porque Teófilo era
rico e foi ele quem patrocinou o trabalho de pesquisa, viagens, pergaminhos,
tintas e todas despesas que Lucas teve que arcar para redigir o Evangelho de
Jesus com toda fidelidade e clareza.
O
evangelista João falou-nos desta realidade de que a Revelação de Deus em Jesus
é muito mais do que aquilo que eles conseguiram escrever. Ele reconhecia a sua
limitação e dizia: “Jesus realizou diante dos discípulos muitos outros sinais
que não estão escritos neste livro. Fez muitas outras coisas. Se fossem
escritas uma por uma, penso que não caberiam no mundo os livros que seriam
escritos” (Jo 20,30; 21,25). Isto demonstra que além da Palavra de Deus estar
na Bíblia, ela também se encontra na Tradição Apostólica, um conjunto de
ensinamentos, verdades, ritos e costumes que remontam aos apóstolos e ficaram
conservados na Igreja e por ela continuaram sendo repassados de geração em
geração até os dias de hoje sempre sob a assistência e guia do Espírito Santo. O
mesmo Espírito que auxiliou os escritores sagrados na redação dos livros da
Bíblia é o mesmo que ajudou a Igreja a conservar e transmitir os ensinamentos
que os apóstolos fizeram ou de viva voz, ou pelo modo como direcionaram as
comunidades cristãs, ou pelo modo como se comportavam diante de diversas
questões da vida. A Sagrada Tradição Apostólica também contém, portanto, a
Revelação Divina. Em outras palavras, a Palavra de Deus não está só na Bíblia,
mas também na Tradição Apostólica.
Esta
transmissão viva da Palavra de Deus, sempre realizada no mesmo Espírito que
inspirou a redação da Bíblia, é chamada de Tradição Apostólica enquanto
distinta da Sagrada Escritura, embora intimamente ligada a ela. Não existem
duas Revelações Divinas... Não existem duas Palavras de Deus... Existe uma só,
embora transmitida através de dois meios: um escrito e outro oral. Não podemos
rasgar a Bíblia e ficar só com as páginas que nos interessam, como fazem
algumas seitas. Da mesma forma, não podemos acolher a Palavra de Deus só pela
metade, ficando com a Bíblia e rejeitando a Tradição Apostólica. Ser fiel a
Deus, acolher a sua Revelação plenificada em Jesus, implica acolhê-la por
completo nos dois meios que Ele providenciou para que chegasse até nós. Por
meio da Tradição, a “Igreja em sua doutrina, vida e culto, perpétua e transmite
a todas as gerações tudo o que ela é, tudo o que crê” (CIC 78).
A
Bíblia está dentro
da
Tradição Apostólica
Esta
Tradição que contém a Palavra de Deus da mesma forma que a Bíblia Sagrada não é
uma tradição qualquer, mas uma tradição com T maiúsculo, que é diferente de
tradições eclesiais, teológicas ou devocionais que também surgem no decorrer da
história da Igreja. É uma Tradição que, como o nome já diz, vem dos apóstolos,
aqueles que foram escolhidos diretamente por Jesus para apascentar e confirmar
a sua Igreja na fé, ensinando tudo que Ele ensinou.
Jesus
mesmo iniciou a Tradição Apostólica quando disse: “Quem vos ouve, a mim ouve”
(Lc 10,16). “Ide e ensinai o Evangelho a todas as criaturas” (Mt 28,19).
Portanto, ao colocar em prática a ordem de Jesus, os Apóstolos iniciaram a
Tradição que Jesus quis que se perpetuasse na sua Igreja até a sua segunda
vinda. Devemos pois diferenciar sempre esta Tradição Apostólica, a que deve ser
OBRIGATORIAMENTE acolhida e respeitada por todos cristãos, de outras tradições
que nasceram na Igreja, para não gerar confusão. Embora outras tradições da
Igreja também devam ser respeitadas, pois não nasceram por acaso, elas não são
consideradas como depósito da Palavra de Deus como a Bíblia e a Tradição
Apostólica o são. Aliás, é sob a luz da grande Tradição Apostólica que estas
outras tradições eclesiais “podem ser mantidas, modificadas ou mesmo
abandonadas”.
Ao
bem da verdade, não é bem a Tradição Apostólica que está dentro da Bíblia, mas
a Bíblia é que está dentro da Tradição Apostólica. Jesus mesmo, apesar de ser a
Palavra de Deus em pessoa – ninguém melhor do que Ele para escrever a mensagem
de Deus – não escreveu nenhum livro da Bíblia. Ele revelou Deus pelo modo como falava
e agia. Depois que Jesus subiu para o céu, primeiro os Apóstolos transmitiram o
Evangelho oralmente, somente depois é que foram escrevendo cartas para as
comunidades por eles fundadas, para resolver problemas que surgiam ou para
lembrar pontos que tinham ensinado e que estavam caindo no esquecimento. Ou
seja, antes da Bíblia ser escrita, os primeiros cristãos já transmitiam de viva
voz para os novos convertidos aquilo que ouviram e viram Jesus falando e
fazendo. Os Apóstolos também já anunciavam o Evangelho da Salvação oralmente.
Eles não carregavam o Evangelho escrito no papel, mas gravado dentro da sua
mente e do seu coração. Além do mais, o ensino oral da Palavra de Deus não só
começou antes da redação dos livros da Bíblia, mas continuou após a conclusão
dos mesmos, pois todos os Apóstolos morreram evangelizando, dando o testemunho
da sua fé, mesmo sofrendo terríveis perseguições. E depois deles a transmissão
do Evangelho continuou através da Igreja que Jesus fundou e que passou a ser
pastoreada pelos sucessores dos Apóstolos, o Papa e os Bispos. Foi para
salvaguardar toda fidelidade na transmissão do Evangelho, sempre na esteira dos
Apóstolos, que a Igreja passou a se chamar de Igreja Católica APOSTÓLICA
Romana.
O
arco da Tradição Apostólica é, portanto, bem maior que a coleção dos livros da
Bíblia, e inclui todos eles. A Tradição começou com Jesus, continuou com os
Apóstolos, dentro dela os livros da Bíblia foram sendo escritos e permaneceu
inalterada na Igreja até os dias de hoje.
A
Tradição Apostólica conservada fielmente na Igreja, nos seus ritos, orações,
diretrizes, costumes e ensinamentos, nos liga diretamente a Jesus e aos
Apóstolos. A história, a catolicidade e a unidade da Igreja são a grande prova
desta verdade. Portanto, além de nos dar a conhecer a Palavra de Deus que não
foi consignada por escrito nas páginas da Bíblia, esta Tradição também nos
ajuda inclusive a discernir e separar quais livros são realmente inspirados,
chamados de canônicos, daqueles outros conhecidos como apócrifos, que foram
escritos como sendo Palavra de Deus, mas que não tinham o crivo nem de Jesus e
de nenhum dos seus Apóstolos. Se existisse um vazio entre nós e os Apóstolos,
se não existisse a Tradição Apostólica conservada na Igreja, hoje não
saberíamos que este livro que se chama Bíblia é mesmo a Palavra de Deus posta
por escrito.
“Foi
a Tradição Apostólica que fez a Igreja discernir que escritos deviam ser
enumerados na lista dos Livros Sagrados” (DV 8). De fato, apareceram muitos
livros apócrifos se intitulando como sendo Palavra de Deus escrita por algum
Apóstolo. Alguns cheios de heresias e mitos, sem veracidade. Apoiada na
Tradição, nos Concílios de Roma (382), Hipona (393) e Cartago (397) a Igreja
Católica fez a lista completa dos livros canônicos (canôn) e colocou
definitivamente de lado os livros falsos (apócrifos). A Bíblia que temos hoje
foi discernida pela Igreja, na força da autoridade que Jesus lhe concedeu,
tendo por base a Tradição dos Apóstolos e sob a luz do Espírito Santo. Podemos
dizer que só existe Bíblia hoje porque a Igreja Católica cumpriu com a sua
missão de conservar os ensinamentos dos Apóstolos e separar o joio do trigo, os
livros canônicos dos apócrifos. Por isso Santo Agostinho, o grande doutor dos
inícios do cristianismo, já dizia: “Eu não creria no Evangelho, se a isto não
me levasse a autoridade da Igreja Católica". Ele não estava dizendo que a
Igreja é maior que o Evangelho. Ele estava se referindo justamente ao fato de
que foi a Igreja quem esclareceu e estabeleceu quais escritos eram
verdadeiramente inspirados. Como foi a Igreja fundada por Jesus quem discerniu
quais eram os livros verdadeiramente inspirados por Deus, então ele os acolhia
com fé e veneração.
Junto
a este grande discernimento, a Igreja também teve a preocupação de fazer muitas
cópias fiéis dos originais da Bíblia escritos em pergaminhos. São Jerônimo,
para quem desconhecer as Escrituras era desconhecer a Cristo, prestou um grande
serviço traduzindo os livros bíblicos do hebraico, grego e aramaico para o
latim, que era a língua mais falada naquela época. Por isso que o Dia da Bíblia
é no dia de São Jerônimo, 30 de setembro, porque ele foi o grande servo da
Palavra de Deus.
Foi
a Igreja quem separou o joio do trigo, separando os livros canônicos dos
apócrifos... Mas este serviço da Igreja à Palavra de Deus continua nos dias de
hoje, sobretudo em duas linhas. A primeira é na tradução da Bíblia para a
língua de cada país. O tradutor de qualquer livro corre muito o risco de ser um
traidor do autor. Porém, quando se trata da Palavra de Deus, esse risco aumenta
ainda mais. Existem muitas seitas que fazem questão de traduzir a Bíblia de
modo errado, para que a fé seja fragmentada e a doutrina cristã seja destruída
na base, como fazem, por exemplo, as Testemunhas de Jeová. Por isso a Igreja
tem o cuidado de acompanhar cada Tradução da Bíblia e, após ter certeza de que
tal tradução é fiel aos textos originais, ela dá o seu “Imprimatur” através de
algum Bispo. Se você quiser saber que uma Bíblia foi traduzida sob o
acompanhamento da Igreja, basta verificar se ela possui o “Imprimatrur” nas
páginas iniciais, seguido da assinatura de algum Bispo. Isto é importante para
não ser enganado e nem vir a divulgar alguma Bíblia falsa inocentemente. Pode
acontecer que alguma Bíblia da Igreja não tenha esta costumeira palavra
“Imprimatur”, porque as vezes a palavra
é “Imprima-se” ou “Com Aprovação Eclesiástica”.
Outro
cuidado da Igreja nos dias atuais é continuar orientando os fiéis sobre livros
que são lançados como se fossem uma nova revelação ou continuidade do Evangelho
de Jesus. Por isso, devemos desconsiderar como sendo Palavra de Deus o
Evangelho Segundo o Espiritismo (de Alann Kardec) e o Livro dos Mórmons, além
de outros que aparecem nas prateleiras de tempos em tempos.
Em
tudo isso, vemos a mão da divina providência fazendo com que tudo acontecesse
para que o Evangelho da Salvação chegasse integralmente a todas as criaturas
espalhadas sobre a face da terra. Vemos que, tanto ontem como hoje, existe uma
ligação muito grande entre Palavra de Deus, Tradição Apostólica, Bíblia e
Igreja Católica, porque todas essas realidades encontram a sua nascente no
próprio Cristo Jesus e não poderia ser diferente. Vemos também que, mesmo
quando os protestantes renegam a Igreja e usam passagens soltas da Bíblia para
destruí-la, fazem isso usando justamente a Bíblia que, se não fosse pela
fidelidade da Igreja à sua missão ao longo da história, eles jamais teriam
conhecido e tampouco poderiam usá-la, mesmo que muitas vezes de forma errônea e
sem caridade.
A
Tradição Apostólica
confirmada
na Bíblia
Vemos
que a grande Tradição Apostólica confirma a veracidade da Bíblia como sendo
Palavra de Deus. Mas a Bíblia também confirma a autenticidade da Tradição
Apostólica. Elas estão intimamente ligadas estre si e, como vimos, formam um
único depósito da fé. “Por consequência, não é só da Escritura que a Igreja
tira a sua certeza, a respeito de todas as coisas reveladas. Ambas – Sagrada
Escritura e Sagrada Tradição Apostólica – devem portanto ser recebidas e
veneradas com igual afeto e piedade” (DV 9).
Além
do que João disse – “Jesus fez muitos outros milagres que não estão escritos
neste livro” – o que pressupõe que muitos feitos e ensinamentos de Jesus não
foram escritos, mas ficaram conservados na Tradição Oral, o Apóstolo Paulo
também falava da Tradição Apostólica e sua importância na carta que escreveu
aos Colossenses: “Irmãos, ficai firmes; guardai as tradições que vos ensinamos
oralmente ou por escrito” (Col 2,15). O mesmo apóstolo que condenava as
tradições humanas ou ideológicas que aprisionavam e desviavam da Verdade,
ensina que os cristãos colossenses deveriam guardar as tradições que ele e os
outros apóstolos ensinaram oralmente ou por escrito. Aqui ele estava se
referindo, portanto, sobre a Tradição Apostólica, que deve ser guardada, ou
seja, acolhida e respeitada como Palavra de Deus, como suprema regra de fé.
Sobre
a Bíblia confirmando a importância da Tradição Apostólica, na qual ela mesma
está incluída, podemos ler também: Jo 20,30-31; Jo 21,24-24; 1Cor 11,2; 1Tes
4,1-2; 1Tm 6,20; 2Tm 1,13-14; Tt 2,1; 2Jo 12; 3Jo 13 e 2Tm 2,2: “Timóteo, o que
você ouviu de mim na presença de muitas testemunhas, transmita-o a homens de
confiança que, por sua vez, estejam em grau de ensiná-lo a outros”.
O
fundamento da fé católica
Tudo
o que a Igreja Católica crê e ensina é fundamentado na Palavra de Deus (Bíblia
+ Tradição Apostólica). A nossa Igreja se submete a vontade Deus revelada na
sua Palavra, e nunca submete Deus à sua vontade. Este é o princípio que regra
toda vida e missão da nossa Igreja. A nossa Igreja é Católica, ou seja, é
conforme o TODO da Palavra de Deus. Em contraposição a nossa Igreja não é
herética, ou seja, ela não escolhe só o que lhe interessa. Igreja Católica
significa Universal, Completa, do TODO, não da metade. Somos Igreja, não seita.
Por
isso a nossa Bíblia Católica é completa. Possui todos os 72 livros aceitos ou
chancelados por Jesus e os Apóstolos. Não rasgamos sete livros e alguns
capítulos da Bíblia (Tobias, Judite, Sabedoria, Baruc, Eclesiástico, 1 e 2
Macabeus, Ester 10,4-16; Daniel 3,24-20; 13-14) como fazem os protestantes, e
nem inventamos novos livros sagrados, como fazem os Espíritas e os Mórmons.
De
igual forma, além da Bíblia Completa, seguimos tudo o que Deus revelou e que
chegou até nós oralmente através da Tradição Apostólica. Acolhemos, portanto,
todo o Depósito da Fé.
-
Foi dentro da Tradição Apostólica que a Igreja discerniu a lista dos livros
verdadeiramente inspirados (canônicos), colocou os falsos livros de lado
(apócrifos) e continua zelando pela fidelidade à Palavra de Deus, para que nada
seja perdido ao longo da história, mas ao mesmo tempo para que nada de errado
também seja acrescentado;
-
Foi e é dentro do grande arco da Tradição Apostólica que a nossa Igreja
interpreta fielmente a Bíblia Sagrada e ensina a Palavra de Deus para os seus
filhos, sobretudo no que se refere à fé e à moral;
-
Em continuidade com toda Tradição Apostólica, a Igreja Católica, sob o
pastoreio do sucessor de Pedro, batiza as crianças, celebra a Santa Missa
diariamente, zela pelo Sacramento do Matrimônio, venera a Virgem Maria
concebida sem a mancha do pecado original e assunta ao céu;
-
A partir dos princípios eternos da fé, a Igreja procura responder com sabedoria
aos novos desafios que vão surgindo na sociedade, sempre tendo em vista a
salvação do homem todo e de todos os homens, fiel à missão que Jesus lhe
confiou.
A
nossa Igreja é Católica, é Completa. A nossa Igreja não brinca de Palavra de
Deus, mas a venera e obedece. A nossa Igreja não inventa Deus, mas acolhe com
amor o Deus que se revela na sua Palavra. “É claro, portanto, que a Sagrada
Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja, segundo o sapientíssimo
plano de Deus, estão de tal maneira ligados e unidos que uma coisa sem as
outras não se mantém, mas juntas, cada uma a seu modo, sob a ação de um
Espírito Santo, colaboram eficazmente para a salvação das almas” (DV 10).
6ª
Vivência ____/ ____/ ____
Magistério da Igreja
1 Timóteo 3,14-16; ou Salmo 23; ou João
21,15-19
Para
contextualizar, iniciemos a reflexão sobre o Magistério da Igreja fazendo um
resumo do que estudamos nos encontros anteriores:
-
Historicamente, toda Revelação Divina começou com Abraão e na esteira dele
Isaac, Jacó e Moisés, os Sábios e os Profetas continuaram sendo “usados” pelo Espírito Santo para escutar e
comunicar a Palavra de Deus para o povo. A mesma fé de Abraão ia orientando a
caminhada do povo de Deus e, tendo por base esta fé, o mesmo povo ia escutando
e discernindo a Palavra de Deus.
-
Na plenitude dos tempos, a preparação do povo eleito culminou na pessoa de
Maria e Jesus então veio ao mundo para salvá-lo e iluminá-lo. “E a Palavra se
fez homem e habitou entre nós” (Jo 1,14). Tudo o que Deus quis falar para a
humanidade, falou-nos plenamente através do seu Filho, que por sua vez escolheu
os Apóstolos para dar início à sua Igreja e continuar a sua missão.
-
A exemplo de Jesus, os Apóstolos acolheram como Palavra de Deus todos os livros
do Antigo Testamento e continuaram ensinando-a, porém, sempre segundo a
interpretação do seu Mestre e Senhor, à luz da páscoa.
-
Este anúncio oral do Evangelho, de viva voz, é o começo da Tradição Apostólica.
Depois os Apóstolos colocaram por escrito parte daquilo que tinham aprendido de
Cristo e estavam anunciando, e assim foram surgindo os livros do Novo
Testamento, sobretudo os quatro Evangelhos.
-
Como nem tudo foi possível de ser colocado por escrito, muitas coisas que os
apóstolos ensinaram realmente ficou conservado na liturgia, nas orações e nos
costumes da Igreja. Toda esta transmissão da Palavra de Deus, desde os tempos
de Abraão até os Apóstolos de Jesus, seja oralmente, seja por escrito, é
Palavra de Deus que por sua vez é a regra suprema para todos os cristãos.
-
Ao conjunto de toda Revelação Divina conservada na Sagrada Escritura e na
Sagrada Tradição Apostólica damos o nome de Depósito da Fé.
-
No decorrer dos anos, tendo por base a Tradição vinda dos Apóstolos, a Igreja
discerniu o cânon da Bíblia, ou seja, a lista dos livros verdadeiramente
inspirados pelo Espírito Santo, colocando os apócrifos de lado.
-
Tudo o que a Igreja Católica crê e ensina é fundamentado na Palavra de Deus
(Bíblia + Tradição Apostólica). A nossa Igreja se submete a vontade Deus
revelada na sua Palavra, e nunca submete Deus à sua vontade. Este é o princípio
que regra toda vida e missão da nossa Igreja. A nossa Igreja é Católica, ou
seja, é conforme o TODO da Palavra de Deus. Em contraposição a nossa Igreja não
é herética, ou seja, ela não escolhe só o que lhe interessa. Igreja Católica
significa Universal, Completa, do TODO, não da metade. Somos Igreja, não seita.
-
A nossa Igreja é Católica, é Completa. A nossa Igreja não brinca de Palavra de
Deus, mas a venera e obedece. A nossa Igreja não inventa Deus, mas acolhe com
amor o Deus que se revela na sua Palavra. “É claro, portanto, que a Sagrada
Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja, segundo o sapientíssimo
plano de Deus, estão de tal maneira ligados e unidos que uma coisa sem as
outras não se mantém, mas juntas, cada uma a seu modo, sob a ação de um
Espírito Santo, colaboram eficazmente para a salvação das almas” (DV 10).
Que
isto fique gravado no seu coração: tudo na Igreja Católica está de acordo com a
Palavra de Deus. Toda doutrina da Igreja é fundamenta na Bíblia e na Tradição
Apostólica. O mesmo Deus que se revelou, providenciou a Bíblia e a Tradição
Apostólica. Mas também providenciou a sua Igreja, para que o ensino fosse
sempre fiel e nunca deturpado. O Deus Sábio sabia que no decorrer da história
iriam aparecer muitos falsos mestres e falsos profetas para desviar os seus
filhos, muitas vezes usando o seu nome em vão, dizendo coisas que Ele nunca
revelou. É claro que Deus, com a sua inteligência perfeitíssima haveria de
proteger os seus filhos do erro e da mentira de Satanás.
As
seitas desobedecem a vontade de Deus de três maneiras:
-
Rasgam a Bíblia. Ficam somente com os livros que lhes interessam;
-
Rejeitam a Tradição Apostólica;
-
Interpretam a Palavra de Deus à sua maneira, não do modo como Jesus ensinou e
os Apóstolos transmitiram. E o erro se espalha pelo mundo, quando um iludido
vai iludindo outro, quando falsificadores do Evangelho encantam pessoas com a
sua lábia e as conduzem cegamente para onde bem querem. Usam o nome de Deus em
vão. Ensinam coisas em nome dele que Ele mesmo jamais pensou em ensinar. Em
nome de Deus, ensina-se por aí tudo o que você possa imaginar: reencarnação,
comunicação com os mortos, racismo, aprovação do aborto, homossexualismo,
rejeição à Eucaristia, ao pastoreio do Papa, à divindade de Jesus Cristo e do
Espírito Santo etc
Porque
tanta rejeição ao conjunto da Palavra de Deus? Porque preferem ficar a com a
Revelação Divina só pela metade e a ainda interpretam de uma forma deturpada?
Isso porque eles querem agradar aos homens e não a Deus, tem os seus próprios
interesses e não os interesses de Deus, fazem a sua vontade em vez de se
adequarem à vontade de Deus.
Porque
existe uma raiva subjacente, uma cegueira de ódio contra tudo o que for ou
estiver relacionado com a Igreja Católica Apostólica Romana? Têm que ter algo a
dizer, para atrair, e ao mesmo tempo têm que ter algo para contradizer a Igreja
de Jesus, embora sobre falsas premissas. Eles sabem que acolher a Palavra de
Deus por completo e interpretá-la na mesma mentalidade de Jesus e dos
apóstolos, ou seja, na esteira da Tradição Apostólica, entre outras coisas,
deverão acatar que a Igreja Católica é a única fundada por Jesus e que, no
decorrer da história, nunca a sucessão apostólica foi perdida dentro dela. Cada
Papa é um sucessor legítimo de outro Papa até chegar a São Pedro. Cada bispo
católico não se fez bispo, como alguns bispos de seitas por aí se dizem bispos
por sua própria conta. Todo bispo católico foi sagrado por um outro bispo e
este por outro até chegar a algum dos apóstolos de Jesus. Então se verifica na
história da Igreja Católica, apesar de alguns erros cometidos por alguns de
seus membros, a providência de Deus em ação, o Espírito Santo sempre
conduzindo-a e socorrendo nos momentos mais difíceis, a doutrina sendo ensinada
com toda fidelidade como há dois mil anos atrás, a Palavra de Deus iluminando
as novas situações e desafios que vão surgindo na sociedade. Mas tudo isso sem
nunca a Igreja se desviar pelo erro. Maria é nossa Mãe, modelo e intercessora.
O Espírito Santo é alma da Igreja. De modo que as portas do inferno nunca irão
prevalecer sobre a Igreja de Jesus e no dia da segunda vinda de Cristo ela será
arrebatada para a glória da Jerusalém Celeste.
Acatar
o conjunto da Palavra de Deus por completo, implica reconhecer a Igreja
Católica como legítima e o Papa como Vigário de Cristo na terra, aquele cuja
missão primeira é apascentar as ovelhas de Jesus e confirmar os fiéis na fé. O
orgulho, a cegueira, a ignorância enraizada não deixa a pessoa acolher tudo
isso. Por isso, só pela graça de Deus que é amor e verdade um herético pode se
converter e acolher Jesus e a sua Igreja.
Fica
certo que respeitamos todas as pessoas, independentemente de religião, raça ou
nacionalidade. Porém, afirmar a verdade da Igreja Católica e a sua importância
é um dever e ao mesmo tempo uma grande alegria. Porque realmente é por causa da
Palavra de Deus quer amamos a Igreja. A Palavra confirma a Igreja Católica, e a
Igreja está a serviço da Palavra. Este nosso amor pela Palavra de Deus na sua
inteireza e pela autêntica Igreja de Jesus é um incentivo a mais para que os iludidos
abram os olhos e voltem para casa, pois a vontade de Cristo é que haja um só
rebanho e um só pastor.
A
Igreja de Jesus é a única que pode interpretar a Palavra de Deus, o Depósito da
Fé e ensinar com autoridade. Ela não é a verdade, mas aqui na terra ela é
coluna e sustentáculo da verdade.
xxx
São
atuais as exortações do Apóstolo Paulo sobrea importância da Doutrina Cristã:
-
“Ensine o que é conforme a sã doutrina” (Tt 2,1).
-
“O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns renegarão a fé, para
dar atenção a espíritos sedutores e a doutrinas demoníacas. Serão seduzidos por
homens hipócritas e mentirosos, que têm a própria consciência como que marcada
a ferro quente. Vigia a ti mesmo e a doutrina. Persevera nestas disposições porque,
assim fazendo, salvarás a ti mesmo e aos teus ouvintes” (1Tm 4,1-2.16).
Vemos
acima que o Apóstolo enfatiza a importância de não só perseverar na fé, mas
também na doutrina da fé. A fé, como tudo mais que existe de bom, pode ser
desviada do seu verdadeiro sentido. É pela fé que nos associamos a Jesus e nele
temos a salvação. Mas muitas vezes o Inimigo semeia joio no trigo e engana a
pessoa com heresias, apostasias, crendices e superstições. Por isso o cristão
deve permanecer na doutrina da fé, ser capaz de aconselhar a partir da mesma e
também refutar quando a contradizem (Tt 1,9).
Definitivamente,
não basta uma fé qualquer. Tem que ser a verdadeira fé cristã, que é sempre dom
do Espírito Santo, fundamentada na Palavra de Deus (Bíblia + Tradição Apostólica)
e confirmada pela Igreja. Muitos, por falta de doutrinação, abraçam qualquer fé
ou ideologia. Às vezes parece ser genuinamente cristã, mas na essência, o
conteúdo é anticristão e por isso não conduzem ao Deus único e Verdadeiro.
Quando o Anticristo se manifestar no final dos tempos, vamos perceber como ele
já estava usando esses erros na concretização do seu plano diabólico. É preciso
orar e vigiar, pois a “força oculta da iniquidade já está agindo... O Iníquo se
apresentará por força de Satanás, com todo tipo de milagres, sinais e falsos
prodígios; com todo tipo de fraudes iníquas para os que se perdem, porque não
aceitaram o amor à verdade para salvar-se” (2Tes 2,7ss).
Hoje
mais do que nunca existem muitas pessoas usando o Nome de Jesus para passar
ensinamentos que ele mesmo nunca ensinou. E muitos acabam acolhendo esses
ensinamentos e fazendo deles a norma da sua vida. Infelizmente, quem não
conhece a Doutrina da Fé, quem não ama a verdade é facilmente enganado e
desencaminhado. “Virá tempo em que alguns não suportarão a sã doutrina; pelo
contrário, segundo os seus próprios desejos, como que sentindo comichão nos
ouvidos, se rodearão de mestres. Desviarão os ouvidos da verdade, orientando-os
para as fábula” (2Tm 4,3).
É
neste sentido maior da Doutrina da Fé para o autêntico seguimento de Jesus que
entendemos a importância do Magistério da Igreja. Somente a Igreja tem
autoridade para interpretar e ensinar de modo seguro e oficial a Palavra de
Deus contida na Bíblia e na Tradição Apostólica. “O ofício de interpretar
autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente
ao Magistério da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo”.
O
Magistério da Igreja é formado pelo Papa e pelos bispos em comunhão com ele.
“Todavia, tal Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas a serviço dela,
não ensinando senão o que foi transmitido, no sentido de que, por mandato
divino, com a assistência do Espírito Santo, piamente ausculta aquela palavra,
santamente a guarda e propõe para ser crido como divinamente revelado”. “Fica,
portanto, claro que segundo o sapientíssimo plano divino, a Sagrada Tradição, a
Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja estão de tal modo entrelaçados e
unidos que um não tem consistência sem os outros, e que juntos, cada qual a seu
modo, sob a ação do mesmo Espírito Santo, contribuem eficazmente para a
salvação das almas” (CIC 84ss).
Vemos
a seriedade como a nossa Igreja trata a Palavra de Deus, a sua transmissão e o
seu ensino. Ela é o grande tesouro que Deus confiou e que a Igreja tem o prazer
de anunciar para toda humanidade. Por isso a Igreja zela a fé com tanto
cuidado, sistematiza toda uma doutrina decorrente da mesma, porque a fé é o
começo de toda vida cristã e a garanti de que a mesma vai ser plenamente
realizada na graça de Deus.
Todo
cristão pode e deve meditar a Palavra de Deus na sua oração pessoal e
comunitária, e ir vivendo de acordo com ela e praticando-a. Porém, o ensino
oficial, a sistematização da doutrina da fé a partir da Palavra de Deus, os
princípios e dogmas que são comuns a todos os católicos, somente a Igreja tem
autoridade para formular e propor aos fiéis. A nossa interpretação da Bíblia é
sempre dentro do horizonte maior da interpretação oficial da Igreja. A nossa fé
que professamos é sempre a fé da Igreja, a qual está resumida no Símbolo dos
Apóstolos (Credo). Diferente das seitas
que pregam a livre interpretação da Bíblia, a deturpam de todas as maneiras e
isto faz um estrago muito grande na vida das pessoas.
Os
protestantes querem a livre interpretação da Bíblia. Mas, por causa disso,
muitos já caíram em heresias e geraram terríveis sofrimentos e divisões no
Corpo Místico de Cristo. Não é por acaso que existem tantas seitas por aí, cada
qual com a “verdade” do seu fundador. Sabendo eles que só a Igreja Católica foi
fundada por Jesus e recebeu autoridade plena para ensinar em seu Nome, eles
falam numa só voz que o importante é Jesus e não a Igreja. Porém, ao mesmo
tempo que falam isso, fazem de tudo para que seus templos fiquem cheios e
brigam bastante entre si mesmos.
Mas
a Bíblia ensina que Jesus mesmo foi quem iniciou o Magistério da Igreja (Lc
10,16; Mt 16) e que nenhuma profecia da Escritura resulta de interpretação
particular” (2Pd 1,20). Ninguém pode interpretar a Bíblia a seu bel-prazer e
ensiná-la a outros como bem entende, desconsiderando toda Tradição Apostólica e
o Magistério da Igreja, ou, pior ainda, entrando em contradição com ela. Quem
faz isto é porque não obedece a vontade de Jesus. O Espírito quer inspirou a Bíblia
é o mesmo que continua orientando a Igreja na compreensão da Verdade e não pode
cair em contradição.
A
Palavra de Deus ensina que a Igreja Católica, a Igreja do Deus Vivo, é a
“coluna e o sustentáculo da verdade” (1Tm 3,15). Na Igreja, navegamos com
segurança rumo ao porto seguro do Reino de Deus. A barca de Jesus confiada a Pedro nunca vai
afundar e as porta do inferno nunca prevalecerão contra ela. Mesmo que não
compreendamos toda Palavra de Deus, porque ela é muito profunda, temos a Mãe
Igreja que nos orienta conforme a mesma e nunca vai deixar de nos orientar.
Confiemos em Deus, confiemos na sua Igreja e no seu Magistério, o Papa e os
bispos em comunhão com eles. Caminhemos de mãos dadas com a Mãe e nunca
erraremos o Caminho que conduz para a Verdade e a Vida. Ao mesmo tempo fiquemos
prevenidos para que o erro de homens sem princípios não nos arraste e percamos
a estabilidade (2Pd 3,16-18).
Orientações
de Santo Irineu no seu livro Contra as heresias (ano 202):
Ora,
todos esses hereges são de muito posteriores aos bispos, aos quais os Apóstolos
entregaram as Igrejas [particulares]… Necessariamente, pois, tais hereges,
cegos para a verdade, mudam sempre de direção e disseminam as doutrinas de modo
discordante e incoerente. Ao contrário, o caminho dos que pertencem à Igreja
cerca o universo inteiro e, possuindo a firme tradição dos apóstolos, faz-nos
ver que todos possuímos a mesma fé”.
Foi
inicialmente na Judéia que [os apóstolos] estabeleceram a fé em Jesus Cristo e
fundaram igrejas, partindo em seguida para o mundo inteiro a fim de anunciarem
a mesma doutrina e a mesma fé. Em todas as cidades iam fundando Igrejas das
quais, desde esse momento, as outras receberam o enxerto da fé, a semente da
doutrina, e ainda recebem cada dia para serem igrejas. É por isso mesmo que
sejam consideradas como apostólicas, na medida em que forem rebentos das igrejas
apostólicas.
É
necessário que tudo se
caracterize segundo a sua origem. Assim, essas igrejas, por numerosas e
grandes que pareçam, não são outra coisa que não a primitiva Igreja apostólica
da qual procedem. São todas primitivas, são todas apostólicas e todas uma
só. Para atestarem a sua
unidade, comunicam-se reciprocamente na
paz, trocam entre si o nome de irmãs, prestam-se mutuamente os deveres
da hospitalidade… Desde o momento
em que Jesus
Cristo, nosso Senhor, enviou os
apóstolos para pregarem, não se podem acolher
outros pregadores senão os que Cristo instituiu. “Pois ninguém
conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho tiver revelado.”
Nestas
condições, é claro que toda doutrina em acordo com a dessas igrejas
apostólicas, matrizes e fontes originárias da fé, deve ser considerada autêntica, pois contém o que tais
igrejas receberam dos apóstolos, os apóstolos de Cristo, e Cristo de Deus.
Os
primeiros cristãos diziam: “Ubi Petrus, ibi Ecclesia; ubi Ecclesia, ibi
Christus.” (Onde está Pedro está a Igreja, onde está a Igreja está Jesus
Cristo).
7ª Vivência ____/ ____/ ____
Jesus, autor e
consumador da fé
18:00h – Devoção
Mariana (para quem estiver na Sede do DJC)
18:30h –
Ambientação
19:00h – Oração
inicial (Em nome do Pai... louvor e súplica ao Espírito Santo... Até aqui pode
ser todos juntos)
19:30h – Palavra de
Deus (proclamação e partilha orante): Hebreus 12,1-3; ou Salmo 119; ou João
8,48-59
20:00h – Reflexão
Iniciamos
nosso estudo sobre a Revelação Divina considerando as condições de
possibilidade da existência de Deus e o ateísmo no contexto da modernidade.
Desta forma, a partir da experiência transcendental do homem como espírito na
história, como ser naturalmente aberto à Revelação de Deus, enumeramos vários
outros argumentos racionais sobre a existência de Deus. Embora de forma
resumida, falamos das provas da existência de Deus na consciência, nas leis e
obras da natureza e na própria história da humanidade. A partir desses
pressupostos, concluímos sobre a razoabilidade da existência de Deus e o
ateísmo como algo intrinsecamente irracional e idolátrico.
Depois
de considerar a experiência natural de Deus, passamos a refletir sobre a
Revelação Divina iniciada com Abraão e centrada e plenificada em Cristo Jesus,
ou seja, a experiência cristã de Deus. Deus vem ao encontro do homem e lhe fala
como a amigos. A Palavra de Deus foi conservada e transmitida através da
Sagrada Tradição Apostólica e da Sagrada Escritura. Uma só fonte: a Revelação
Divina. Mas dois meios de transmissão: A Tradição Apostólica e a Bíblia, sendo
que uma confirma a autenticidade da outra. Ambas formam um só Depósito da Fé
confiado por Jesus à sua Igreja e é donde ela tira toda certeza para aquilo que
crê, vive e ensina. Desta forma, toda Doutrina da Igreja Católica é
fundamentada na Palavra de Deus.
A
nossa resposta à Revelação Divina dá-se através da fé, que não se contrapõe à
razão. Mas inclusive acolhe tudo o que a razão pode lhe oferecer no
conhecimento da Verdade. De uma fé que pensa e uma razão que crê nasce a
sabedoria para a vida, porque somos salvos pela sabedoria.
Por
fim, refletimos sobre a importância, necessidade e atualidade do Magistério da
Igreja, que é um ministério eclesial a serviço da Palavra de Deus, formado pelo
Papa e pelos bispos em comunhão com ele. A Palavra de Deus interpretada de modo
individualista e subjetivista criou muitas heresias e seitas que espalham o
erro pelo mundo e prejudicam bastante no trabalho de evangelização da
humanidade. Por isso Jesus, na sua infinita sabedoria, fundou a Igreja Católica
Apostólica Romana para continuar a sua missão, falar em seu nome e ensinar a
sua doutrina de modo completo, correto e fiel.
O Papa e os bispos em comunhão com ele são os sucessores dos Apóstolos e
continuam a pastorear as ovelhas de Jesus. Os primeiros cristãos tinham
consciência desta vontade de Cristo ao longo da história, de modo que afirmavam
entre si: “Ubi Petrus, ibi Ecclesia; ubi Ecclesia, ibi Christus!” (Onde está
Pedro está a Igreja, onde está a Igreja está Jesus Cristo).
Na
primeira reflexão satisfazemos os anseios da modernidade, que só tem como
verdadeiro aquilo que pode ser provado pela razão. Porém, apesar de provarmos
racionalmente, mesmo que resumidamente, que Deus existe, não conseguimos dizer
que este Deus alcançado pela razão é o Deus Uno e Trino revelado por Jesus. A
razão conclui que Deus, o Ser Superior, existe. Mas, quem é este Deus? Por
isso, nosso intento agora é provar não que Deus existe, mas provar que o Deus
Único e Verdadeiro é o Deus revelado por Jesus. Nossa crença na existência de
Deus é fundamentada na razão. Já a nossa fé no Deus Uno e Trino, Pai, Filho e
Espírito Santo, o mesmo Deus de Abraão, Isaac e Jacó, o Deus de Israel, é fundamentada
em Jesus Cristo, “o autor e consumador da nossa fé” (Hb 11).
Jesus
Cristo é a pedra angular, ele é a plenitude da Revelação Divina. Porém, este
Jesus não seria um mito, uma lenda, um fantasma? Jesus não seria um mentiroso,
um charlatão ou até mesmo uma invenção dos primeiros cristãos? Jesus merece a
nossa credibilidade? A nossa fé cristã, com todas as suas implicações na nossa
cosmovisão e na nossa vida, é realmente razoável e consistente? Como estamos no
contexto da modernidade, vamos às ciências para responder, mesmo que
resumidamente, as questões que se levantam em torno da nossa fé.
O
Cristo da fé é
o
mesmo Jesus histórico
A
história é uma ciência. Como toda e qualquer ciência, ela possui os seus
métodos, fontes, faculdades, escolas e professores. Pois bem, para a ciência
histórica, Jesus Cristo e as suas biografias principais, os quatro Evangelhos,
são históricos e merecem toda nossa credibilidade.
Se
existe uma coisa que os primeiros cristãos fizeram questão de fazer desde os
inícios foi estabelecer com toda precisão daquela época que Jesus Cristo foi
realmente um acontecimento na história da humanidade. Por isso, desde o começo
se fez questão de informar o lugar e o tempo em que ele nasceu: na pequena
Belém, quando Herodes Magno era governador e César Augusto era o imperador
romano. Não existe uma precisão de dia, mês e ano, porque este não era costume
naquela época. Porém, o certo é que Jesus veio ao mundo num determinado momento
da história, que a Bíblia chama de “plenitude dos tempos”, “para que
recebêssemos a adoção filial” (Gl 4,4-5). Ele se fez acontecimento, fato
histórico, como vai lembrar Mateus, retomando a profecia de Isaías: “Uma virgem
conceberá e dará à luz um filho e seu nome será Emanuel, Deus Conosco” (Mt
1,18ss). Depois os evangelhos vão falar que Jesus foi morar em Nazaré após uma
estadia nas terras do Egito. Tendo cumprido com a sua missão, foi crucificado
em Jerusalém sob o procurador Pôncio Pilatos, durante o reinado do imperador
Tibério. Estas informações são suficientes para enquadrar um personagem na
história e livrá-lo da pecha de ser uma lenda que nasceu no meio do povo e que
depois foi crescendo e ganhando corpo no decorrer dos anos. Estas informações
históricas acerca de Cristo Jesus são suficientes para a ciência histórica
analisá-lo como um personagem real, muito mais do que outros grandes conhecidos
da antiguidade, como Aristóteles e Platão.
Os
quatro Evangelhos e outros escritos cristãos antigos, como as cartas paulinas,
as cartas joaninas e os Atos dos Apóstolos, todos eles são obras literárias
redigidas com todo rigor da época. Lucas nos fala sobre isso no início do seu
Evangelho de Jesus. A exege prova que todos foram escritos no máximo até 70
anos depois da morte de Jesus, por volta do ano 100. Os autores fizeram toda
uma pesquisa de campo a procura de informações acerca de Jesus e seus
ensinamentos junto as fontes autenticas, as testemunhas oculares, e depois
elaboraram a redação dentro de um só arco teológico. Apesar de que tolos eles
tenham se espalhado em lugares diferentes, obrigados pelas perseguições ou
pelas necessidades do trabalho de evangelização, apesar das dificuldades da
época, as informações dos evangelistas são muito próximas umas das outras. As
poucas divergências existentes são tão pequenas que quase não são percebidas.
Trata-se mais de ângulo ou perspectivas diferentes do que contradição de
informações propriamente ditas.
Nenhuma
pessoa antiga teve tantas obras falando a seu respeito como Jesus. E isto era
feito de forma espontânea, de modo que ninguém conseguia fazer as pessoas
calarem, tamanho foi o impacto do acontecimento Cristo.
Um
ponto que chama muito a atenção dos especialistas era o de que os evangelistas,
no seu desejo de serem fiéis aos acontecimentos que envolveram a vida de Jesus,
não escondiam dos seus relatos nem mesmo as brigas, fraquezas e ignorância dos
apóstolos, que eram as principais autoridades dos cristãos. Por questão de
honra, eles bem que poderiam ocultar agnus momentos mais difíceis. Mas não foi
assim que fizeram.
Além
do testemunho dos primeiros cristãos, temos também os de outros escritores que
não eram cristãos.
No
ano de 112, Plínio, conhecido como o Jovem, numa carta ao imperador romano,
Trajano, fala dos cristãos: "Todas as suas faltas ou todos os seus erros,
confessaram eles, resumir-se-iam a reunir-se habitualmente numa data fixa e a
cantar entre eles um hino a Cristo como se fosse um Deus".
O
historiador Tácito informa que após o próprio imperador Nero ter colocado fogo
em Roma no ano de 64, jogou a culpa nos cristãos para que o povo passasse a
odiá-los e persegui-los: "Nero considerou culpados e infligiu tormentos
àqueles que eram detestados pelas suas abominações e a quem a multidão chamava
cristãos. Este nome vem de Cristo, que foi entregue ao suplício no pontificado
de Tibério pelo procurador Pôncio Pilatos".
Suetónio,
por volta do ano 120, na sua obra Vida dos Doze Césares, faz de um certo
"Chrestus" o perturbações entre os judeus que habitavam em Roma em
48, no tempo do imperador Cláudio, que os teria expulsado.
Flávio
Josefo participou na "Guerra dos Judeus", entre os anos 66 a 70 nos
tempos dos imperadores Vespasiano e Tito. Conta a morte do apóstolo Tiago e
fala de Cristo. Shlomo Peres fez uma "versão mínima" da história
escrita por Flávio Josefo: "Nesse tempo vivia um sábio chamado Jesus.
Comportava-se de uma maneira correta e era estimado pela sua virtude. Muito
foram os que, tanto Judeus como pessoas de outras nações, se tornaram seus
discípulos. Pilatos condenou-o a ser crucificado e a morrer. Mas aqueles que se
tinham tornado seus discípulos não deixaram de seguir a sua doutrina. Contaram
que ele lhes tinha aparecido três dias depois da sua crucifixão e que estava
vivo. Provavelmente ele era o Messias sobre quem os profetas contaram tantas
maravilhas".
A
arqueologia também ajuda a comprovar a existência histórica de Jesus e a
autenticidade dos Evangelhos. Por exemplo, foram encontradas vestígios da
cidade de Nazaré, a piscina dos cinco pórticos, a piscina de Bethesda, o
Gabbatha (Jo 19,13), o nome de Pilatos gravado numa pedra com o seu título:
praefectus.
Tudo
isso demonstra a existência histórica de Jesus. E tudo com muito mais provas do
que em relação a outros grandes nomes. Porém, mesmo assim, por questões
ideológicas, há quem diga que Jesus nunca existiu e que tudo não passa de uma
grande invenção da Igreja para fundamentar a sua doutrina. Rousseau
dizia: "Conseguir
inventar ou criar a história de uma vida como a de Jesus seria um milagre maior
do que foi sua existência real." Napoleão, o temível conquistador da Europa,
escreveu em seu diário: "Com todos os meus exércitos e generais, por um
quarto de século não consegui subjugar nem um único continente. E esse Jesus,
sem a força das armas, vence povos e culturas por dois mil anos."
O historiador Kenneth
Scott Latourette afirmou:
"Quanto mais o tempo passa, mais óbvio se torna que Jesus, por sua
influência na história, viveu neste planeta a vida de maior significado para a
humanidade. E sua influência parece aumentar mais e mais". Como um mito
poderia ter um impacto tão grande na conjuntura da sociedade mundial? Como uma
Igreja fundada sobre uma invenção teria tanta força para forçar tanta gente e
países para acreditar na sua mentira e viver de acordo com ela? Uma igreja com
este poder não teria que ter sido ela mesma fundada por alguém maior que ela, e
por isso haveria de ser alguém real e não imaginário? O conhecido historiador H. G. Wells, “considerando a
grandeza de uma personalidade conforme os aspectos históricos” diz que Jesus
Cristo foi a pessoa que mais influenciou a humanidade.
O psiquiatra
e escritor brasileiro Augusto Cury, que escreveu toda uma coleção “que tem por
objetivo promover uma abordagem do lado psicológico e comportamental de Jesus
com aplicação nas diversas áreas do conhecimento humano”, conclui o seu árduo
estudo dando o seu testemunho:
Segundo
o próprio autor, ele mesmo teria sido um ateu convicto antes de empreender os
seus estudos sobre a análise psicológica de Jesus. Cury, anteriormente,
acreditava que Jesus nunca existiu e que suas biografias foram invenções
criadas pelos discípulos.
Augusto
Cury compartilha sua inclinação em estudar a personalidade de pessoas que
influenciaram a história e, por viver intrigado com a pessoa de Jesus, passou a
estudá-lo através dos quatro Evangelhos, concluindo ao final que uma
personalidade tão complexa assim jamais poderia ter sido inventada. Devido ao
empreendimento de suas pesquisas, Cury teria mudado o seu modo de pensar,
conforme ele mesmo conta no final do último livro da coleção: “Eu analisei a
inteligência de Cristo criticando, duvidando e investigando as quatro
biografias de Jesus, os evangelhos, em várias versões. Estudei as intenções
conscientes e inconscientes dos autores das suas quatro biografias. O primeiro
resultado é que descobri que o homem que dividiu a história não poderia ser
fruto de uma ficção humana. Ele não cabe no imaginário humano. Ele andou e
respirou nesta terra.” (O Mestre Inesquecível, Academia da Inteligência, pp.
249 – 250)
A
personalidade de Cristo
Tendo
contextualizado Jesus na história e demonstrado a autenticidade dos Evangelhos,
e por tabela a credibilidade de todos os outros livros da Bíblia, podemos agora
refletir sobre a sua personalidade.
Antes
de tudo, como vimos acima no testemunho do psiquiatra Augusto Cury, é possível
que a partir dos registros históricos, antropólogos, psicólogos e psiquiatras
tracem o perfil da personalidade de uma pessoa, sobretudo quando as informações
acerca da mesma provenham de diferentes fontes e diversos lugares. Os
cientistas coletam os dados e a partir dos pressupostos e da análise do
contexto histórico da época, fazem as suas conclusões. Isto acontece, por
exemplo, no que se refere a Adolf Hitler. Praticamente todos os cientistas concluem
que ele era um psicopata, uma mente doentia e fria que sabia convencer e com
mais frieza ainda colocava os seus macabros planos em ação.
As
conclusões acerca de A. Hitler são tão assustadoras e incontestáveis que quando
alguém traça um outro perfil da sua personalidade e concorda com a sua
ideologia nazista, tal pessoa ou é tida como doente, ou como pseudocientista ou
até mesmo como um grande perigo para a humanidade. Para que a maldade nazista
de Hitler não volte a acontecer, muitas nações taxam como crime qualquer defesa
do mesmo, diante da atrocidade histórica que o mesmo significou. Ou seja,
defender Hitler e o nazismo de forma livre e consciente, é o mesmo que dizer
que tudo que ele fez foi certo e que se alguém quisesse repetir não teria
nenhum problema moral e ético. Isto é um perigo, porque mentes rasas podem ser
incentivadas e realmente comecem a fazer o que Hitler fez. Por isso, defender
Hitler é um crime.
Equilíbrio
emocional
Quando
os cientistas sérios se debruçam sobre a personalidade de Jesus com todo rigor
da ciência, a primeira coisa que eles concluem é que nunca ninguém na história
da humanidade foi mais equilibrado no campo das emoções, dos sentimentos, dos
afetos e do amor como Jesus de Nazaré. Para a ciência Jesus é por excelência o
homem equilibrado emocionalmente, o homem da paz e do amor, o homem da vivência
correta da sexualidade, o homem sóbrio, pacífico, manso, humilde, mais ao mesmo
tempo sociável, crítico, seguro das suas decisões, mesmo quando estas
encontravam os mais diferentes tipo de adversários e dificuldades.
Jesus
sabia conciliar o amor ao próximo e ao mesmo tempo o cumprimento fiel da sua
missão.
Jesus
sabia conviver, ser amigo, dar atenção. Ele era misericordioso, não ficava
julgando e condenando, ao mesmo tempo que suas palavras provocavam uma reflexão
interior na vida dos ouvintes. Uns acolhiam e se convertiam. Outros se zangavam
e com mais ódio ainda procuravam formas para condená-lo e matá-lo.
O
equilíbrio emocional de Jesus, a sua paz e o seu amor incondicional se
manifestam no fato dele sempre acolher a todos indiscriminadamente, ricos ou
pobres, pessoas tidas como boas mas também aqueles que eram taxados como
pecadores públicos. Ele amava a todos antes que fosse amado. Ele toma a
iniciativa de amar, e pronto.
A
opção preferencial pelos pobres, que ele fez desde quando nasceu na manjedoura
de Belém, demonstra o quanto o seu amor era puro, verdadeiro e desinteressado.
Amava os pobres porque era digno de amor, eram seus irmãos, independentemente
de receber alguma ajuda ou recompensa financeira.
Era
um homem de compaixão. Movido por este nobre sentimento, era solidário, chorava
com quem estava passando dificuldade, ia ao encontro dos miseráveis,
evangelizava e servia as ovelhas, lhes dava pão e peixe para comer, porque
muitas vezes viviam desgarradas, feridas e desorientadas “como ovelhas que não
têm pastor”.
Um
homem paciente e misericordioso. Dava quantas oportunidades fossem necessárias.
Deixava de andar apressadamente para poder igualar os seus passos aos passos muitas
vezes inseguros e desconcatenados dos seus discípulos. Quantas vezes teve que
explicar a mesma coisa várias vezes porque seus discípulos não conseguiam se
livrar imediatamente da mentalidade do mundo e da ideologia dos fariseus!
Quanto teve de amar para conviver com Judas Iscariotes, pois sabia das suas
falsidades, mentiras e ganâncias. Jesus confiou em Judas. Não fpoi algo
faz-de-conta. Confiou mesmo, e depois lhe chamou para fazer parte do grupo dos
Doze. Como sofreu vendo alguém da sua intimidade arquitetando a sua morte. Mas
por amor, confiou e esperou que se convertesse. Infelizmente, Judas desprezou
tudo, traiu e entregou o melhor homem da humanidade para sofrer as atrocidades
dos pecados e maldades dos seus opositores. A convivência com Judas é a grande
prova do amor e do equilíbrio emocional de Jesus. É difícil suportar uma pessoa
doente e pecadora como aquele homem.
Mas
a grande prova mesmo dá-se na sua paixão e sacrifício na cruz. No momento que
mais precisava do apoio dos amigos, chegava a suar gotas de sangue, tamanha era
a sua angústia no Getsêmani, estes dormiam e não vigiavam com ele. Mas mesmo
assim, quando os soldados chegam acompanhados de Judas Iscariotes para
prendê-lo, ele manifesta sua identidade profunda e se entrega livremente para
beber o cálice da salvação da humanidade. Cura a orelha de Malco cortada pela
espada de Pedro. Durante a madrugada do injusto julgamento, quando Pedro lhe
nega por três vezes, ele olha para o seu amigo com muito amor e lhe perdoa
sinceramente. Pedro nunca mais se esqueceu daquele olhar que cura e liberta.
Quando a multidão ignorante, insuflada pela propaganda dos poderosos contra
ele, grita pela sua condenação e ao mesmo tempo pede a libertação de Barrabás,
ele permanece firme e sóbrio e perdoa. Já a caminho do Calvário, enfraquecido
pelos escárnios, humilhações, açoites e o peso da cruz, consola as mulheres que
foram lhe consolar. No alto do Calvário, salva Dimas, o ladrão arrependido, faz
de Maria, a sua querida e terna Mãe a Mãe dos seus discípulos e perdoa todos os
que estavam lhe causando tantas dores e sofrimentos. Quando qualquer outra
criatura humana, por amor que tivesse e pior mais equilibrada que fosse iria
esbravejar, gritar e amaldiçoar, ele perdoa e entrega a sua vida para remissão
dos pecadores.
Olhando
tudo isso, a ciência, mesmo sem uma perspectiva de fé, ninguém na terra mais
amou e foi mais equilibrado como Jesus. No meio do inferno que criaram em sua
volta ele permaneceu em paz e não perdeu o equilíbrio emocional e nem a
sanidade mental. Mesmo sem professar uma fé sobrenatural, a ciência faz a mesma
conclusão dos evangelistas : “Tendo amado os seus, amou-os até o fim!”
Isto
é conclusão da ciência a partir dos registros históricos de Jesus. Se Hitler
foi, por exemplo, um homem totalmente desequilibrado e mal, Jesus, por sua vez,
foi o homem mais equilibrado e sumamente bom!
Pensamento
revolucionário
A
filosofia é ciência no sentido que busca a verdade e dá respostas lógicas e
racionais às grandes questões da humanidade tendo por base um método de
conhecimento, pressupostos, argumentos e conclusões. De modo geral, a razão
filosófica favorece o progresso da humanidade, ajudando-a a não se limitar ao
que é experimentável, pois a realidade vai muito além do que é sensível.
Quem
pensa que filosofia é perda de tempo, é porque não consegue entender que quem
manda no mundo são os que pensam, que toda transformação social que atinge a
sociedade em geral, seja no campo da política, da economia, da cultura e mesmo
da tecnologia, antes começa na filosofia. Você se lembra do comunismo
materialista soviético? Antes da sua implantação, a ideologia que gerou a
revolução dos camponeses começou no pensamento socialista de K. Marx. Você sabe
o que significa o sistema capitalista, que vigora hoje no mundo inteiro, dos
Estados Unidos à China? Tudo começou na filosofia liberal bem antes da
Revolução Industrial na Inglaterra. Você está a par das mudanças de paradigmas
da sociedade atual, quando muitas coisas antes tidas como erradas
(homossexualismo, aborto, divórcio) agora são postas como certas e naturais?
Antes da mentalidade ir se enraizando e se transformando em leis civis, tudo
começou com os filósofos dos últimos 150 anos. No Brasil, por exemplo, quem
dizia que filosofia era perda de tempo eram os militares no período da
ditadura, lá pelos anos 60 e 70 do século XX. Mas eles não diziam isso
inocentemente. Muito pelo contrário, eles bem sabiam que a filosofia nas
escolas era tão importante, que com o seu ensino nas escolas públicas eles
estariam formando pessoas com consciência suficiente para não serem alienadas e
que iriam se articular pelos seus direitos.
Como
todos os outros cientistas, o filósofo não parte do zero quando se põe a
caminhar em busca da verdade do Ser e do sentido último da existência. Por
isso, é lógico que uma pessoa que se põe a refletir sobre a realidade, mergulhe
no conhecimento filosófico da humanidade que já foi cultivado e elaborado por
outras pessoas que lhe antecederam, quer ele venha a concordar com estes
pensadores, ou não. O importante é considerar o que já foi dito antes, desde
que isso tenha coerência, lógica, argumentação e sentido. Por isso que na
Filosofia existe uma disciplina que se chama História do Pensamento da
Humanidade, aonde os grande pensadores de cada período são estudados sobretudo
naquilo em que eles mais se destacaram. O Pensamento da Humanidade é a
consciência que a humanidade adquiriu de si mesma e da realidade ao longo de
séculos de reflexão e experimentação. A humanidade caminha por onde o
pensamento vai encaminhando-a. Por isso, quer as pessoas entendam ou não, quer
as pessoas queiram ou não, a filosofia que gesta o pensamento é tão importante
e sempre antecede as grandes mudanças e revoluções.
Jesus
não se preocupou em escrever livros e em sistematizar um pensamento filosófico.
Sua maior preocupação era revelar a Verdade libertadora e manifestar o Amor
salvífico de Deus para as pessoas. “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos
libertará”. E depois concluía: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida!” E
realizava a sua missão com palavras e atitudes, como Mestre que ensina com o
seu próprio modo de viver. Da vida e do ministério de Cristo emanava o seu
grande ensinamento, o seu pensamento, a sua mentalidade. Porém, Jesus não era
alienado, nem no que se refere às realidades espirituais e nem no que se refere
às realidades históricas da economia, da política e da sociedade.
Quando
os filósofos sérios, a partir dos registros históricos e com todo rigor da
razão, se põem a refletir sobre Jesus, eles concluem que foi um homem portador
de uma inteligência extraordinária, muito superior à de qualquer outra pessoa
que já viveu na terra, mesmo os principais filósofos que se destacaram na
História do Pensamento.
A
inteligência de Cristo se manifesta na sabedoria e na praticidade com que ele
lidava com as pessoas no seu dia-a-dia, mesmo quando tais pessoas criavam
situações difíceis, verdadeiras armadilhas para lhe colocar na parede e ter
provas para condená-lo diante das autoridades do império ou para torná-lo
desacreditado pelas pessoas simples do povo. Literalmente, Jesus era tão
inteligente e tão rápido, que quando seus opositores iam, ele já estava
voltando. Um dia lhe perguntaram se era lícito pagar o imposto ao Império. Se
falasse que não, cometeria crime e seria preso e condenado à morte. Mas a sua
hora ainda não tinha chegado. Se falasse que sim, agradaria às autoridades, mas
ganharia o ódio dos concidadãos judeus, que nutriam grande raiva contra o
Império e seus agentes fiscais, os coletores, porque eram muito explorados
através dos impostos e dos poucos serviços públicos que recebiam em troca.
Então Jesus pede uma moeda, pergunta de quem é a face impressa na mesma, ao que
respondem que é do imperador César. Ele responde então com sabedoria: “Dai a
César o que é de César e a Deus o que é de Deus!” Com esta resposta tão sábia,
nem cometeu crime, nem desagradou seus concidadãos e ainda colocou seus
opositores num verdadeiro vexame popular.
Outra
vez lhe trouxeram uma mulher flagrada em adultério. Pela lei de então deveria
ser apedrejada até a morte. Logo de início Jesus se perguntou em silêncio: “Só
trouxeram a mulher. Onde está o homem?” E se pôs a escrever no chão os pecados
de todos os acusadores. Depois disse: “Quem não tiver pecado que jogue a
primeira pedra!” Todos foram saindo um após a outro, a começar pelos mais
velhos. Olhou para a mulher com muito amor e lhe disse: “Filha, eu também não
te condeno. Vá e não peques mais!” Com muita sabedoria, Jesus revela a
misericórdia de Deus, tira a máscara das leis hipócritas, mas ao mesmo tempo
perdoa a pecadora e condena o pecado: “Vá e não peque mais!”
O
cientista A. Harnack, o chefe do racionalismo alemão, diz no seu livro Dos
Wesen des christentums: “A grandeza e a força da pregação de Jesus estão em que
ela é, ao mesmo tempo, tão simples e tão rica; tão simples, que está encerrada
em cada um dos pensamentos fundamentais por ele expressados, tão rico que cada
um dos seus pensamentos parece inesgotável, dando-nos a impressão de que jamais
chegamos ao fundo de suas sentenças e parábolas – Além disso – Pôs à luz, pela
primeira vez, o valor de cada alma humana e ninguém pode desfazer o que Ele
fez. Qualquer que seja a atitude que, diante de Jesus Cristo, se adote, não se
pode deixar de reconhecer que, na História, foi Ele quem elevou a Humanidade a
esta altura” (A. Harnack). De fato, além da grande inteligência do dia a dia,
Jesus revolucionou o pensamento da humanidade revelando o Deus Uno e Trino e a
dignidade de cada pessoa, ensinou uma nova forma de se relacionar com Deus, a
amar o próximo, a perdoar os inimigos, a viver a castidade e toda uma vida
virtuosa.
Jesus
iluminou o homem para si mesmo quando trouxe uma nova compreensão da dignidade
humana: todos são filhos de Deus, portanto, todos devem ser iguais perante a
lei, devem ter as mesmas oportunidade para viver, devem ser respeitados na sua
consciência e na sua liberdade. O pensamento de Cristo é a base da democracia
moderna.
O
pensamento de Cristo impactou milhares de homens e mulheres. A moral cristã se
enraizou nas culturas e promoveu a humanização, a civilização e o progresso dos
direitos humanos, dos hospitais e da própria ciência. Foi uma grande revolução.
Existe um antes e um depois de Cristo na história da humanidade. “O
cristianismo representa incontestavelmente o maior e mais feliz esforço até
agora realizado para elevar moralmente a humanidade” (Loisy).
Quando
a filosofia moral aborda a pessoa de Cristo, conclui facilmente que ele é um
homem sumamente correto, virtuoso e ético. Um humanista, um símbolo, o grande
modelo que todos devemos imitar para sermos plenamente realizados. “Curvo-me
diante de Jesus Cristo como diante da revelação divina do princípio supremo da
moralidade” (Goethe).
Conclusão
racionalista:
O
Homem Jesus é Deus
Para
a filosofia e para a ciência racionalista, o Jesus dos Evangelhos foi, com
todas as letras, um homem muito sábio e muito ético em toda a sua vida, em cada
palavra, em cada comportamento... Na conclusão de José A. de Laburu, depois de
aprofundados estudos científicos, psicológicos, filosóficos e teológicos, para
a ciência séria, que não nega os fatos e a verdade por conta de ideologias,
Jesus é:
-
“A pessoa histórica de superioridade máxima na Humanidade”;
-
“A inteligência mais sublime e mais profunda, da qual recebeu a Humanidade a
doutrina mais prática e mais bela, mais simples e mais rica em conteúdo, mais
consoladora e reabilitadora”;
-
“O homem-cume e a flor da Humanidade, que jamais terá quem a supere. O homem
com a consciência exata de sua dignidade sobre-humana aliada à simplicidade e à
lhaneza mais sincera”;
-
“A pessoa sem o mínimo desequilíbrio entre suas qualidades, todas sublimes, e
em que reina a máxima harmonia intelectual, afetiva, moral”;
-
“Aquele em quem se concentra tudo o que há de nobre, puro e elevado em nossa
natureza”;
-
“Por todas as sublimes, harmônicas e únicas qualidades que possui, a pedra
angular da Humanidade, cuja retirada sacudiria os alicerces do mundo da vida”;
-
O “máximo em sabedoria e moral, o máximo em retidão, o máximo em justiça, o máximo
em verdade”.
Dados
os pressupostos lançados pela ciência, façamos uma reflexão lógica e tiremos a
conclusão racional:
1
- Com a História comprovamos, demonstramos com provas racionais, que Jesus
existiu realmente e que os Evangelhos são autênticos.
2
- Com a filosofia e a ciência racionalista comprovamos que Jesus é o “máximo em
sabedoria e moral, o máximo em retidão, o máximo em justiça, o máximo em
verdade”. Ou seja, demonstramos com provas racionais, que Jesus é o Homem
Perfeito. Nele a nossa mente se satizfaz com a idéia de Perfeição. Nele tudo já
é o máximo, nada tem a melhorar. Em Jesus tudo já é perfeito. Ele é a
Perfeição, conclui a nossa razão.
3
– Com a teologia, demonstramos com provas racionais que Jesus Cristo, que é o
“máximo em sabedoria e moral, o máximo em retidão, o máximo em justiça, o
máximo em verdade”, o Homem Perfeito sempre disse que É Deus. Jesus sempre
disse que Ele é mais do que um profeta, mais do que um homem bom, mais do que
um homem ético, justo e honesto. Ele é mais do que sábio. Jesus sempre disse
que Ele é Deus. Que Ele é a Verdade e a Vida. Que Ele, por ser Deus, tem poder
para perdoar os pecados. Que Ele é um com o Pai. Que quem o vê, vê o Pai. Que
antes que Abraão existisse, Ele já existia, porque é Onipotente, Onisciente e
Onipressente.
“Antes
que Abraão existisse, EU SOU!”, disse Jesus diante dos judeus que, enfurecidos,
recolheram pedras para apedrejá-lo, pois com esta afirmação estava dizendo que
era Deus. Mas como ainda não tinha chegado a sua hora, Jesus se escondeu e saiu
do templo (Jo 8,58). Os Apóstolos foram compreendendo o recado de Jesus e
depois vão ensinar que Jesus é Deus, que Ele é o Senhor da nossa vida e merece
da nossa parte toda honra, glória, obediência e adoração. A divindade de Jesus
faz parte do núcleo central da mensagem do Evangelho. Negar a sua divindade é
negar todo o Evangelho da Salvação.
4
- Então, a conclusão final é esta: Se qualquer outro homem aparecesse dizendo
que era Deus, logo concluiríamos que tal homem seria louco, doente, mentiroso
ou charlatão. Porém, quem disse que era Deus, foi Jesus Cristo que, conforme
vimos, é o máximo de tudo de bom e completamente saudável do corpo, da alma, do
espírito e da mente. Quem disse que era Deus foi Jesus, o Homem Perfeito. Se
este Jesus dissesse que era Deus e de fato não fosse Deus, então Ele não seria
o máximo de tudo de bom, ele não seria Perfeito. Mas como comprovamos que Ele
de fato é o Homem Perfeito e que Ele disse que é Deus, então é porque realmente
Ele é Deus. Não podemos negar que Jesus é o Homem Perfeito, pois a filosofia e
a ciência racionalista afirmam esta verdade, da mesma forma como não podemos
negar que dois mais doiz são quatro. Não podemos negar que Jesus disse que é
Deus, pois a teologia afirma esta verdade a partir do estudo profundo da
Revelação Divina. Então, realmente, Jesus, o Homem Perfeiro, é Deus.
De
duas, uma: Ou acreditamos com a filosofia e a ciência que Jesus é o máximo de
tudo de bom e completamente saudável, que ele é o Homem Perfeito, e acreditamos
que Ele é Deus, porque Ele disse que era Deus. Ou não acreditamos que Jesus é o
máximo de tudo de bom e completamente saudável e também não acreditamos que Ele
é Deus. Portanto, Ele é mentiroso, charlatão ou doente. Não posso acreditar que
Jesus seja o máximo de tudo de bom e completamente saudável e não acreditar que
Ele é Deus, porque Ele disse que era Deus. Isto seria uma contradição
performativa, porque como posso acreditar que uma pessoa seja o máximo de tudo
de bom e completamente saudável se ela diz que é Deus, mas na verdade não é
Deus. Ele seria um mentiroso, e um mentiroso não poderia ser o máximo de tudo
de bom. Como usamos a razão, vemos claramente com a filsofia e a ciência que
Jesus é de fato o máximo de tudo de bom e que também é completamente saudável.
Então concluímos e testemunhamos com toda alegria e segurança que Jesus é Deus,
porque Ele disse que é Deus. Isto nos basta. Porque Aquele que diz ser Deus, é
o máximo de tudo de bom e completamente saudável, é o Hoem Perfeito. Ele tem
consciência profunda da sua natureza e disse que é Deus, que antes que Abraão
existe, Ele já existia.
5
- Por tudo isso, tanto tem sentido e fundamentação racional que Deus existe,
como também tem sentido e fundamentação racional de que Jesus é Deus. Desta
forma, crer em Jesus é racional. A nossa fé é fundamentada em Jesus. Ele é o
autor e consumador da nossa fé. Por tanto, a nossa fé não é cega, ela também é
racional. Diante de tantas provas e argumentações da História, da Filosofia, da
Ciência e da Teologia, não acreditar que Deus existe e que Jesus é o Deus único
e Verdeiro é algo irracional e conduz para a idolatria, para a cegueira, para a
escravidão da ignorância, para a insensatez. Já o acreditar em Jesus, além de
ser algo racional, conduz para a adoração, para a Verdade e a Vida.
xxx
Além
de tudo isso, Jesus realizou e continua realizando milagres que a Igreja
verifica com muito cuidado e prudência. Os milagres são intervenções de Deus
nas leis da natureza e na história para ajudar a nossa razão a ter fé, a
acreditar que Ele existe e de que Jesus é Deus. Também são as suas assinaturas
naquilo que a sua Igreja ensina como dogma ou verdade de fé. Por isso, se
apesar de tudo, uma pessoa ainda não acredita que Jesus é Deus, ele diz no
Evangelho: “Já que vocês não acreditam na minha palavra, acreditem ao menos
pelas obras que faço. Não tenham o coração
endurecido e a mente fechada. Acreditem em Deus, acreditem em mim também!”
Nas águas da piscina de Siloé (Jo 9) Jesus
curou um cego de nascença. O homem foi “mergulhando” cada vez mais e de pouco
em pouco, de claridade em claridade, vendo e experimentando tudo
o que aquele bom homem era (v.11), ele foi compreendendo que Jesus era mais que
um homem bom, era um profeta (v. 17). Depois que era mais que um profeta, era o
Cristo, o Enviado de Deus (v. 30). E por fim, que Jesus era Deus (v.38). Desta
forma, entregou completamente a sua vida a Jesus professando publicamente a sua
fé: “Creio, Senhor. E prostrou-se diante de Jesus”.
Mais
do que saber através das provas da natureza e conclusões da ciência e da
filosofia que Deus existe e de que o Deus único e Verdadeiro é Jesus, o mais
importante é professar a fé e prostrar-se em adoração diante da sua presença. O
estudo e as conclusões da nossa razão são importantes. Mas é através da fé e da
oração que a nossa vida é colocada na Graça do Senhor Jesus que se revelou
única e exclusivamente para que sejamos seus discípulos e tenhamos a vida em
plenitude. Pois o Pai Celeste é glorificado quando somos discípulos de Jesus e
produzimos muitos frutos.
8ª Vivência ____/ ____/ ____
Teofania
Gn 32,23-32
Apesar
da Palavra de Deus ser bem clara e objetiva, porque ela é a norma normativa não
normada da nossa fé – “Céus e terra passarão, mas as minhas palavras não
passarão” – a Revelação Divina alcança o sujeito na forma de experiência
mística. Com este tema da Teofania queremos ressaltar este aspecto vivencial da
Palavra de Deus que é muito presente na Bíblia Sagrada e em toda história da
Igreja.
xxx
A
partir dos pressupostos da criação Abraão fez um raciocínio lógico, não se
perdeu em raciocínios vazios, concluiu acerca da existência do Criador,
rejeitou necessariamente todo tipo de ateísmo, agnosticismo, henoteísmo e
politeísmo, o glorificou e lhe deu graças. Pois “as perfeições invisíveis de
Deus, tais como o seu poder eterno e sua divindade, podem ser contempladas,
através da inteligência, nas obras que ele realizou” (Rm 1,20).
Acatamento
reverencial, esta foi a primeira atitude de Abraão ao constatar a verdade da
existência de Deus. Não sufocou a verdade e nem se perdeu em raciocínios
vazios. Ver o rosto do Deus Único e Verdadeiro, louvá-lo e servi-lo, torna-se a
sua aspiração mais profunda. Porque, “dotada de uma alma espiritual, de
inteligência e de vontade, a pessoa humana é, desde a sua concepção, ordenada
para Deus e destinada à eterna bem-aventurança” (CIC 1711).
Deus
se revela salvando
Para
Abraão Deus não é uma essência abstrata, mas uma entidade viva. É Javé, “o Deus
Altíssimo que criou o céu e a terra” (Gn 14,22). Ele não se confunde com
energia mental, nem com energia cósmica, nem com os falsos deuses dos pagãos e
tampouco com a natureza.
O
Deus Vivo e Verdadeiro de Abraão, que habita uma luz inacessível (1Tm 6,16), é
um ser pessoal que se revela na criação e na história. Ele vem ao encontro do
homem para salvá-lo. Salvando, revela-se e o atrai para o seu amor. Como uma
mãe se revela ao seu filho como “sua mãe” amando-o e agindo em seu benefício,
dando-lhe a vida, amamentando, protegendo, tratando as feridas, orientando,
corrigindo quando se faz necessário, abraçando com muita ternura, assim Deus
também se revela salvando e salva revelando-se. “Em virtude desta Revelação,
Deus invisível (cf. Cl 1,15; 1Tm 1,17), na riqueza do seu amor, fala aos homens
como a amigos (cf. Ex 33,11; Jo 15,14-15) e conversa com eles (cf. Br 3,38), para os convidar e admitir a
participarem de sua própria vida” (DV 2).
O
amor da mãe em ação é a revelação, é a palavra da mãe para o seu filho que ele
vai compreendendo desde os primeiros dias de sua vida. Assim Deus também se
revela e nos fala salvando-nos, amando-nos. O primeiro ato salvífico foi a
criação quando nos salvou do nada e chamou-nos à existência. Deus se revelou
primeiramente como Pai/Mãe Criador e como Deus Único e Verdadeiro. Depois
continuou salvando no decorrer da história e foi se revelando e falando cada
vez mais, apesar das infidelidades e ignorâncias dos homens.
A
experiência religiosa de Abraão motivada pela sinceridade do seu coração e sua
perseverança na verdadeira fé monoteísta foi o começo e a referência de toda
história da salvação que culminou em Jesus de Nazaré (Gn 12,1-4; 26,5; Gl; Hb).
Abraão foi o começo. Jesus é a Palavra definitiva do Pai. Tudo já está
revelado. Não aconteceu e nem acontecerá outra revelação como querem algumas
seitas modernas. Só resta mergulhar e conhecer cada vez mais a Deus e amá-lo
com todo coração, alma, entendimento e força, e ao próximo como a si mesmo (Dt
6,4-9; Mc 12,28-).
Conhecimento
de Deus
“Conhecereis
a Verdade e a Verdade vos libertará!” (Jo 8,32)
Na
Bíblia o conhecimento vai além do intelecto, envolve todo psiquismo e sentidos
do homem e transforma a sua existência. É sempre a experiência de uma Presença.
Uma vez que envolve toda a vida, tal conhecimento só pode ser aceito e
obedecido pelo sujeito, visto que não lhe resta nenhuma dúvida de que aquilo
que experimentou (conheceu) é real e verdadeiro. Conhecer é o mesmo que
experimentar e saborear. Desta forma, saber de Deus é antes de tudo, saborear,
experimentar Deus. “Provai e vede como Deus é bom, feliz o homem que nele se
abriga” (Sl 34,9).
O
intelecto sozinho pode delirar e se enganar. Os sentidos e os sentimentos
também. Mas o conhecimento com o intelecto, o coração, o espírito e todas as
outras faculdades humanas, incluindo o tato, o paladar, a imaginação e a
linguagem é profundo e seguro, pois não se experimenta uma ilusão, somente o
que é real. Isto vale, sobretudo quando se trata do conhecimento de Deus, visto
que Ele veio ao encontro do homem justamente para se tornar acessível a Ele:
“Eu sou o Bom Pastor. Conheço minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem”
(Jo 10,14).
Sendo
experiência de uma Presença – Emanuel, Deus Conosco – o conhecimento de Deus já
é vida eterna que começa neste mundo e se prolonga por toda eternidade. Por
isso, para Jesus, tal conhecimento nunca pode ser negligenciado: “Ora, a vida
eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que
enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17,3).
Teofania
Nas
teofanias da Bíblia (sentido largo) temos a relação entre desejo natural de
Deus, revelação divina, conhecimento de Deus e vida espiritual. As mesmas
iluminam a nossa própria experiência de Deus, uma vez que, consignadas pelo
Espírito Santo nas Sagradas Escrituras, também são “norma normativa não
normada”.
A
narrativa das teofanias faz uso de símbolos. Apesar de terem sido “fatos
históricos”, as mesmas falam de encontros com o Eterno. Nem sempre é possível
narrar com conceitos o que vai além do físico e do natural. Se até o amor de um
casal de namorados precisa de metáforas para ser comunicado (meu docinho de
coco), quanto mais uma experiência de Deus.
Na
teofania o Deus que se revela na história da humanidade entra na história
particular da pessoa e se torna presença de salvação para ela. Na teofania a
Revelação Divina torna-se uma experiência mais pessoal (por isso o
antropomorfismo) que propicia um relacionamento mais amoroso e deificante entre
Criador e a criatura.
As
teofanias são dons da Divina Providência. Na Bíblia elas iam iluminando o
caminho da história da salvação. Sobretudo nos momentos mais difíceis, quando
os seus escolhidos estavam para desanimar, Deus se manifestava de uma forma
mais pessoal de tal modo que o conhecimento era aprofundado, a fé era
reavivada, as forças eram redobradas e a aliança era renovada. A teofania é
mais direcionada para a vida concreta do sujeito, sua vocação e missão. Lembremo-nos
de Abraão. Não poucas vezes Deus o visitou, sobretudo nos momentos mais
difíceis e de provação.
De
Jacó para Israel
Jacó
(Gn 25,19–36) nasceu agarrando o calcanhar de Esaú, já procurando lhe dá uma
rasteira e deixá-lo para trás. Daí o seu nome Jacó (ya’aqob) que significa
embusteiro, arteiro e trapaceiro. Esaú se tornou homem do campo, ao passo que
Jacó se tornou honrado beduíno, homem tranquilo morando sob tendas. O pecado
dele não eram os sonhos – é necessário sonhar – mas o modo como agia para
alcançá-los. Jacó era pobre de caráter e muito esperto para maquinar.
Oportunista
e determinado, Jacó passou na frente do primogênito. Conseguiu comprar o
direito de primogenitura de Esaú por apenas um pedaço de pão e um prato de
lentilhas, aproveitando-se de um momento quando ele estava “morrendo de fome”.
Depois, passando-se por seu irmão com muita esperteza e astúcia, enganou o seu
próprio pai Isaac, que já estava cego, fraco e idoso, e lhe roubou a bênção
patriarcal. Quando Esaú chegou para pedi-la foi tarde demais. Além disso, Jacó
também enganou o seu tio Labão.
Sem
querermos nos deter em nenhum juízo moral da cultura de então, porque de fato
Esaú foi muito ingênuo e Labão era muito esperto também, o certo é que a Bíblia
quer mostrar um Jacó muito materialista, oportunista e trapaceiro. Se fez isso
com seus familiares, quanto mais com os de fora... Mostrando a miséria de Jacó,
a Bíblia quer evidenciar o poder, a misericórdia e a fidelidade de Deus na
transformação de uma pessoa e no cumprimento da sua promessa. Inclusive que Ele
pode tirar bens até de males.
Jacó
fez o que fez com Esaú, mas sofreu as consequências. Seu irmão, depois da
bênção roubada, gritou de ódio e jurou matá-lo. O crime não compensa. O esperto
sempre se espeta... Fugindo de Esaú, Jacó parou em Luza quando a noite o
alcançou e foi dormir tendo uma pedra por travesseiro. Pedra dura aquela...
dormiu em cima do medo, insegurança, angústia e vícios. Era quase impossível
dormir daquele jeito, muito menos sonhar. Tudo estava para pesadelo. Mas Deus
providenciou que conseguisse dormir e então, sonhou. Sonhou vendo uma grande
escada que ligava o céu e a terra (figura de Jesus). No alto da escada, Javé.
Acordou, entendeu qual era a essência da religião do seu avô Abraão (ligar o
homem com Deus e ser porta do céu); que devia ser sábio, não esperto;
religioso, não materialista; crente, não supersticioso. Fez um altar em honra
de Javé e chamou aquele lugar de Betel (Casa de Deus).
Mesmo
assim a teofania de Betel não foi suficiente para lhe converter totalmente,
tomar logo posse da bênção, voltar para junto dos seus e viver com dignidade.
Seguiu viagem rumo ao seu destino incerto. Uma vez na casa de Labão, durante
vinte anos foi explorado, enganou e foi enganado. Mas no final, venceu em
esperteza o seu tio. Desviou boa parte das suas riquezas e por cima, ainda
levou duas filhas junto com ele.
Apesar
de ser um homenzinho torto, a semente da Palavra semeada por Isaac estava em
ação. O Deus de Abraão não estava morto. Por fim, depois de vinte anos, Jacó
decide voltar para Canaã, a Terra Santa, para reconhecer, confessar e reparar
os seus erros. Tinha conseguido muitos bens materiais, mas lhe faltava a bênção
de Deus para viver com dignidade.
No
regresso tremeu de medo quando soube que Esaú vinha ao seu encontro com mais de
quatrocentos homens para matá-lo. Orou com sinceridade em Maanaim (que
significa Acampamento de Deus) pedindo discernimento e proteção. Já não
confiava somente na sua esperteza, dinheiro e força... E decidiu fazer uma
vigília de oração. Travou um grande combate espiritual a noite inteira com um
homem misterioso. Foi o encontro decisivo que todo homem tem que ter com Deus.
“Deus mesmo provoca o homem à luta, à busca insatisfeita, ao esforço tenaz,
para abençoá-lo no final”.
Num
primeiro momento, o velho Jacó materialista lutava contra o homem misterioso,
como que, de repente, querendo voltar à velha mentalidade e às velhas maneiras
de agir. Vendo que não conseguia dominá-lo, o homem o feriu na coxa (no
orgulho) e Jacó ficou manco desde então.
Agora
humilhado, quando entendeu que aquele misterioso homem era Deus, Jacó o agarrou
com muita fé (mais determinação) e passou a lutar com Ele. Dizia que não o
soltaria até que fosse abençoado, conforme tinha prometido a Abraão (oração
insistente). Vendo que não conseguia mesmo se soltar, Deus se deixou vencer.
Mudou o seu nome para Israel, concedendo-lhe uma nova identidade e uma vida
nova, e o abençoou. Jacó perguntou por seu nome, mas Deus não lhe revelou. O
Deus que se deixa vencer pela fé e oração insistente, não se deixa manipular!
Ele vem ao encontro do homem para salvá-lo, mas não deixa de ser Deus! Jacó
entendeu tudo. Tomou posse da bênção e chamou aquele lugar de Fanuel (Rosto de
Deus), dizendo: “Eu vi a Deus face a face, e a minha alma foi salva”.
Abençoado,
Jacó se tornou uma bênção. Voltou para a sua terra como Israel (lutou com Deus,
com homens, com ele mesmo, e venceu). Reconciliou-se com os seus familiares e
viveu com dignidade. Continuava desta forma a história da salvação através da
descendência de Abraão, o povo de Israel. Um povo profundamente religioso cuja
aliança era exclusiva com Javé, o Deus Altíssimo (Gn 35,1-15).
20:30h – Caminhada
Discipular (Avisos, encaminhamentos)
As
teofanias são luzes na caminhada, e transformam para melhor. Deus sempre se
revela para salvar e salva se revelando. Que não tenhamos que passar vinte anos
para viver com dignidade. Tomemos logo posse da bênção ainda em Betel, a Casa
de Deus. Porém, antes tarde do que nunca! E nestes tempos de secularismo e Nova
Era, que a nossa experiência, por assim dizer, teofânica, de Deus ajude-nos a
também ser um povo verdadeiramente religioso, porque “feliz a nação cujo Deus é
o Senhor!”
O
estudo teológico é importante. Mas nada subistitui a oração!
9ª Vivência ____/ ____/ ____
Apologética
1Tm 1,1-6
Apologética
é a defesa da fé contra os erros e mentiras, em vista de uma ortodoxia que gera
toda uma ortopráxis cristã. Porque antes de tudo, o justo vive da fé. E a fé
não se contrapõe ao que é verdadeiramente cientifíco, ético e razoável. Porque
há uma só Verdade, e a Verdade não entra em contradição. Desta forma, a
Apologética busca a Verdade na Revelação Divina (Palavra de Deus), depositada
na Tradição Apostólica e na Bíblia Sagrada, a qual é, por sua vez, fielmente
ensinada pelo Magistério da Igreja (Papa e Bispos em comunhão com ele). Este
Magistério Eclesial é assistido pelo Espírito Santo, o Espírito da Verdade, e é
infalível quando ensina “ex catedra”.
O
certo é que Doutrina da Igreja é totalmente fundamentada na Palavra de Deus, de
modo que o católico tem segurança de que não é orientado pela Mãe Igreja ao
sabor das modas e ventos que sopram pra lá e pra cá, como biruta de aeroporto.
O vento que sopra na Igreja é o Espírito Santo e a conduz sempre no Caminho da
Verdade e da Vida. Quem está na Igreja Católica e a escuta e obedece, está
seguro, por que Jesus disse que quem escuta os seus Apóstolos, é a Ele mesmo
que estão escutando e que as portas do inferno e do erro nunca iriam prevalecer
sobre a sua Igreja. Jesus é a Verdade. A sua Igreja aqui na terra, assistida
pelo Espírito Santo, é coluna e sustentáculo da Verdade.
Cada
católico deve ser um apologeta e testemunha da Verdade (1Tm 1,3ss). Não para
ficar batendo boca, o que não produz nenhum fruto. Mas ser capaz de dar a razão
da sua esperança e o sentido da sua fé. Por amor, com calma, humildade e
convicção, ajudar tantos que foram iludidos e seduzidos pelo erro e pela
mentira a reencontrarem o Caminho da Verdade e da Vida e voltarem para casa. A
Igreja é mãe. Os filhos só são felizes e protegidos na casa da mãe.
Nova
apologética
Ninguém
pode amar o que não conhece. O Papa João Paulo II falava aos bispos das
Antilhas, em visita ad limina, aos 07 de Maio de 2002: “A exortação apostólica
Ecclesia in América afirma que ‘é necessário que os fieis passem de uma fé
rotineira (...) a uma fé consciente, vivida pessoalmente. A renovação na fé
será sempre o melhor caminho para conduzir todos a Verdade que é Cristo’. Por
isso é essencial desenvolver em vossas Igrejas uma nova apologética para vosso
povo, a fim de que compreenda o que ensina a Igreja e assim possa dar razão de
sua esperança (cf. 1Pd 3,15). Em um mundo aonde as pessoas estão submetidas a
uma contínua pressão cultural e ideológica dos meios de comunicação social e a
atitude agressivamente anti-católica de muitas seitas, é essencial que os
católicos conheçam o que ensina a Igreja, compreendam este ensinamento e
experimentem sua força libertadora. Sem esta compreensão, faltará a energia
espiritual necessária para a vida cristã e para a obra de evangelização. A
Igreja está chamada a proclamar uma Verdade absoluta e universal ao mundo numa
época em que em muitas culturas existe uma profunda incerteza sobre a
existência desta verdade. Por conseguinte a Igreja deve falar com as forças do
autêntico testemunho.
Ao
considerar o arraigar disto, o Papa Paulo IV identificou quatro qualidade que
denominou perspicuitas, lenitas, fiducia, prudentia,
ou seja, claridade, afabilidade, confiança e prudência
(cf. Ecclesiam Suam, 38).
Falar
com claridade significa que é preciso explicar de forma compreensível a verdade
da Revelação e os ensinamentos que provem da Igreja. O que ensinamos nem sempre
é imediatamente ou facilmente absorvido pelos homens de nosso tempo. Por isso,
temos de explicar e não somente repetir. Isto é o que queria dizer quando
afirmei que necessitamos de umas Nova Apologetica, adequada as exigências
atuais, que tenha presente que nossa tarefa consiste em ganhar almas, e não
vencer disputas; em livrar uma espécie de luta espiritual, não em
aprofundar-nos em controvérsias ideológicas; em reinvindicar e promover o Evangelho e não em
reinvindicar-nos e promover a nós mesmos.
Esta
apologética necessita respirar um espírito de afabilidade, humildade e
compaixão que compreende as angústias e os questionamentos do povo e ao mesmo
tempo, não cedem a uma dimensão sentimental do amor e compaixão de Cristo,
serapando-os da verdade. Sabemos que o amor de Cristo pode implicar grandes
exigências, precisamente porque estas não estão vinculadas ao sentimentalismo,
senão a única verdade que liberta (cf. Jo 8,32).
Falar
com confiança significa não perder nunca a vista da verdade absoluta e
universal revelada em Cristo e tampouco o fato de que essa é a verdade que
todos os homens aspiram, ainda que apareçam indiferentes, pertinaz ou hostil.
Falar
com sabedoria prática e com bom sentido é o que Paulo VI chama de prudência e
que São Gregório Magno considera uma virtude dos valentes (cf. Moralia, 22,1),
significa dar uma resposta clara aos que perguntan: "O que devemos
fazer?" (Lc 3,10-12-14). A grave responsabilidade de nosso ministério
manifesta-se aqui em todo seu exigente desafio. Devemos implorar diariamente a
luz do Espírito Santo, para falar segundo a sabedoria de Deus e não segundo a
do mundo, "para não se desvirtuar da cruz de Cristo" (I Cor 1,17).
O
Papa Paulo VI conclui afirmando que falar com perspicuitas, lenitas, fiducia,
prudentia "nos fará sabios, nos fará mestres" (ecclesiam suam, 38). E
isto é o que estamos chamados a ser sobetudo: mestres da verdade, implorando
sempre "a graça de ver a vida plena e a força para falar eficazmente
dela.” ( São Gregório Magno, Comentários sobre Ezequiel, I,11,16).
xxx
Meditação
Orante
da
Palavra de Deus
A
seguir, a título de exemplo, defenderemos ligeiramente algumas verdades de fé a
partir das Sagradas Escrituras e Tradição Apostólica. Repetimos que são apenas
exemplos. Depois poderemos completar a lista e aprofundar em outra
oportunidade.
1º
Dia:
Apologética
da Doutrina Católica
- Magistério da
Igreja ensina: A Doutrina da Igreja Católica é completa e completamente
fundamentada na Palavra de Deus, a qual está depositada na Bíblia e na Tradição
Apostólica, como meditamos anteriormente. Jesus fundou a sua Igreja para
ensinar a sua Palavra de forma completa e sem erro. Por isso ela é coluna e
sustentáculo da Verdade.
- Está escrito na
Bíblia Sagrada: Mt 16,18; 1Tm 3,15; Lc 10,16; Jo 21,15-19
- Tradição
Apostólica confirma: A Igreja Católica foi fundada por Jesus e conserva a
Bíblia desde os inícios. Se ela quisesse inventar alguma coisa contrária ao
ensino de Jesus, ela mesma poderia simplesmente ter rasgado páginas da Bíbia ou
acrescentado o que bem quisesse. Mas ela não fez assim. Conservou tudo e repassou
para as gerações seguintes, até chegar até nós. Os protestantes só tem uma
Bíblia porque a Igreja Catóica a conservou e repassou pra frente. Porém, eles
rasgam págianas da Bíblia e rejeitam alguns livros que até Jesus e os Apóstolos
utilizaram. Por isso a Bíblia protestante é incompleta. Não poucas vezes também
traduzem a Bíblia de forma errada para justificar suas heresias.
2º
Dia:
Apologética
do Batismo
- Magistério da
Igreja ensina : É o Sacramento da salvação. Todas pessoas precisam ser batizadas,
inclusive as crianças.
- Está escrito na
Bíblia Sagrada: At 2,38-39; At 16,33; At 18,8; 1Cor 1,16; Mt 28,19.
- Tradição
Apostólica confirma: Desde os tempos dos Apóstolos as crianças filhas de pais
cristãos já eram batizadas. Porque existia a garantia que seriam catequizadas
em casa. Criança é gente, e os Apóstolos foram obedientes à ordem de Jesus para
que batuizassem todas as gentes na graça da Santíssima Trindade.
3º
Dia:
Apologética
da Eucaristia:
- Magistério da
Igreja ensina: Os protestantes ensinam que a Eucaristia é só um símbolo, um pão
qualquer. A Igreja ensina que a Eucaristia não é um símbolo de Jesus, mas o
próprio Jesus presente com corpo, alma e divindade no Pão e no Vinho
Consagrados. É o Santíssimo Sacramento.
- Está escrito na
Bíblia Sagrada: Jo 6; Lc 22,1420; 1Cor 11,23-26
- Tradição
Apostólica confirma: Somente o sacerdote validamente ordenado por Bispo
validamente consagrado cou um sucessor dos Apóstolos pode consagradr o Pão e o
Vinho no Corpo e Sangue de Cristo.
4º
Dia:
Apologética
do Purgatório
- Magistério da
Igreja ensina: Os protestantes ensinam que é tolice rezar pelos mortos. Para a
Igreja Católica o purgatório é mais um sinal da misericórdia de Deus. Só pode
entrar no céu quem já está completamente puro. Mas normalmente uma pessoa morre
sem estar completamente pura, mesmo tendo sido um bom cristão e um bom cristão.
Deus tem compaixão, pois viu o seu desejo e o seu esforço e, em vez de condenar
ao inferno e consente com uma purificação final. Somente depois desta última
purificação, a pessoa pode entrar na alegria do céu. Jesus dizia queo único
pecado que não tem perdão nem neste mundo e nem no outro é o pecado contra o
Espírito Santo. Sinal de que alguns pecados que não foram perdoados neste
mundo, ainda podem ser pewrdoados no outro, no purgatório.
- Está escrito na
Bíblia Sagrada: Mt 5-25,26; 1Cor 3,13-15; 2Mac 12,42-45
- Tradição
Apostólica confirma: Desde os tempos dos Apóstolos os cristãos conservaram o
bom costume dos judeus de rezarem pelos mortos, na esperança da ressurreição.
5º
Dia:
Apologética
das Imagens
- Magistério da
Igreja ensina: Os católicos são acusados de idolatria. Para a nossa Igreja o
fiel cristão pode usar as imagens que representam Jesus, Nossa Senhora e os
Santos, porque Deus proíbe a criação de ídolos de adoração, mas não de imagens
religiosas. Prova é que o mesmo Deus que proibiu o seu povo a fazer ídolos de
adoração, permitiu fazer imagens que enfeitassem o Templo e ajudassem a criar
um ambiente de oração.
- Está escrito na
Bíblia Sagrada: Ex 25,18; Ex 20,4; Lv 26,1; Dt 7,25; Sl 97,7; Ex 25,17-22; Ex
37,7-9; Ex 41,18; Nm 21,8-9; 1Rs 6,23-29.32; 7,26-29.36; 1Rs 8,7; 1Cr 28,18-19;
2Cr 3,7,10-14; 5,8; 1Sm 4,4.
- Tradição
Apostólica confirma: Desde os tempos dos Apóstolos os artistas cristãos sempre
fizeram lembranças de Jesus, de Nossa Senhora e dos Santos Mártires que deram a
vida pela fé. Ainda hoje essas pintruras estão presentes nas Igrejas antigas e
nas catatumbas dos primeiros cristãos.
xxx
Seja você mesmo um cooperador
da verdade. Seja um apologeta! (3 João
8)
6º
Dia:
Apologética
da ...
- Magistério da
Igreja ensina:
- Está escrito na
Bíblia Sagrada:
- Tradição
Apostólica confirma: