No dia de aflição, minhas mãos buscam a Deus!
No salmo 77 o salmista nos faz rezar a partir dos momentos difíceis da
vida, naquela certeza da qual nos fala São Paulo: "Somos afligidos de
todos os lados, mas não vencidos!” (2Cor 4,8).
No meio das aflições somos levados a pensar que Deus nos esqueceu
(6-11):
Eu reflito sobre os tempos de outrora, *
e dos anos que passaram me recordo;
meu coração fica a pensar durante a noite, *
e de tanto meditar, eu me pergunto: –
Será que Deus vai rejeitar-nos para sempre? *
E nunca mais nos há de dar o seu favor?
Por acaso, seu amor foi esgotado? *
Sua promessa, afinal, terá falhado?
Será que Deus se esqueceu de ter piedade? *
Será que a ira lhe fechou o coração?
Eu confesso que é esta a minha dor: *
'A mão de Deus não é a mesma: está mudada!'
Porém, a sagrada recordação das maravilhas de Deus na nossa vida, na
história da humanidade e na natureza tem o poder de ressuscitar a nossa fé e
esperança, o que nos ajuda a vencer os momentos ruins e não afundamos no
desespero (12-21):
Mas, recordando os grandes feitos do passado, *
vossos prodígios eu relembro, ó Senhor;
eu medito sobre as vossas maravilhas *
e sobre as obras grandiosas que fizestes.
São santos, ó Senhor, vossos caminhos! *
Haverá deus que se compare ao nosso Deus?
Sois o Deus que operastes maravilhas, *
vosso poder manifestastes entre os povos.
Com vosso braço redimistes vosso povo, *
os filhos de Jacó e de José.
Quando as águas, ó Senhor,vos avistaram, *
elas tremeram e os abismos se agitaram
e as nuvens derramaram suas águas, †
a tempestade fez ouvir a sua voz, *
por todo lado se espalharam vossas flechas.
Ribombou a vossa voz entre trovões, †
vossos raios toda a terra iluminaram, *
a terra inteira estremeceu e se abalou.
Abriu-se em pleno mar vosso caminho †
e a vossa estrada, pelas águas mais profundas; *
mas ninguém viu os sinais dos vossos passos.
Como um rebanho conduzistes vosso povo *
e o guiastes por Moisés e Aarão.
É importante recordar as maravilhas de Deus na nossa vida pessoal,
familiar e comunitária. A fé não é um ato isolado como que se limitasse ao aqui
e agora e o resto não importa. Ela abarca o passado, o presente e o futuro.
Jesus, ao assumir a nossa natureza e condição humana, assumiu também
nossas dificuldades, dores, aflições e sofrimentos, menos o pecado. E nos
ensinou s superar tudo isso confiando no amor de Deus que nunca nos abandona, e
abandonando-nos em suas mãos.
É isto meus irmãos e irmãs: quando fazemos a sagrada recordação do amor
de Deus que nunca nos abandona, abandonamo-nos confiantemente nas suas mãos
como uma criança se joga sem nenhum medo nos braços do seu pai. É isto a fé: um
jogar-se nas mãos de Deus em meio às aflições.
Em meio às aflições nunca nos esqueçamos de Deus, porque Ele nunca se
esquece de nós! Como o salmista rezava: “No dia de aflição, minhas mãos buscam
a Deus!”
Como também rezava o Servo Sofredor, figura profética de Jesus Nosso
Senhor: "O Senhor é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo,
conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado!”
(Is 50,7)
No meio das aflições, recorde o amor de Deus que nunca lhe abandonou e
abandone-se em suas mãos: “No dia de aflição, minhas mãos buscam a Deus!”